A importância do sujeito na comunicação
Pedro Azevedo
Na comunicação, o sujeito é mais importante que o objecto (assunto). Torna-se por isso importante saber viajar até ao filtro do(s) interlocutor(es). A cultura portuguesa é conflitual, não confronta no imediato. As coisas vão ficando por dizer até que há uma explosão. Da mesma forma (perdoe-se a imagem) que quem não espreme uma borbulha pode acabar com um furúnculo putrefacto, quem não ataca os problemas - e aqui houve um conflito inicial latente com certas franjas de Sportinguistas que passou a manifesto, independentemente da má vontade dessa oposição, pela forma inábil como Varandas foi pondo todas as responsabilidades na sua herança (nunca reconhecendo alguns méritos), em vez de encerrar o assunto (o passado não se pode mudar, o futuro sim) e caminhar para a frente - e passa a vida a queixar-se dos seus interlocutores (no caso, os sócios do Sporting) é especialista em criar conflitos, transformando assim um confronto de opiniões numa guerra. No caso concreto actual, vis-a-vis a desastrosa - não sou muito de adjectivos, mas as coisas são o que são - preparação desta época desportiva, o que Frederico Varandas deveria ter feito desde o início era mostrar que sabia escutar, procurando entender a mensagem e perceber o que lhe estavam a transmitir. Após isso, então sim, acusar a recepção do estado de espírito dos seus interlocutores, valorizando-os dessa forma, mostrando empaticamente que percebeu, tomou boa nota do que lhe transmitiram, aprendeu com os erros e vai procurar corrigir.
Quando um presidente de um enorme clube decide comunicar à sua gente, deve fazê-lo com abertura e eficácia. Como tal, deve renunciar à necessidade quase doentia de mostrar que tem razão, a qual ontem se assemelhou a uma atitude infantil e birrenta, certamente não a forma ideal de procurar a absolvição junto dos Sportinguistas que o contestam, hoje em número bem maior do que aquele grupo mais ortodoxo de defesa do ex-presidente que durante algum tempo, curiosamente, lhe serviu de seguro de vida (estratégia de visão curta, interessante do ponto de vista da preservação pessoal mas lesiva para o clube) para manter os moderados do seu lado. Ao escolher esse caminho de defesa, a que adicionou um tom sempre recriminativo para com os Sportinguistas (facto que não ocorre pela primeira vez), Varandas mostrou que não os valoriza, e isso, mais do que um erro de comunicação, expôs um traço de personalidade que não augura nada de bom para o futuro.