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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

28
Fev21

Tudo ao molho e fé em Deus

Matheus contra a burocracia


Pedro Azevedo

Tenho vindo aqui a escrever em inúmeras ocasiões que o maior mérito (e são vários) que deve ser creditado a Rúben Amorim é ter feito com que o todo seja maior que a soma das partes. Não sei se Vos parece pouco, mas esta ideia do colectivo, quando comparada com a dos nossos adversários, a mim afigura-se como muito boa. Vejam, por exemplo, o caso do FC Porto: ontem à noite, no Dragão, eles tinham dois Sérgios. Tal presumivelmente configuraria um Sérgio ao quadrado. Só que não, eles empataram-se, não remaram para o mesmo lado, extremaram posições entre a soberba de um e a humildade do outro, enfim anularam-se. Senão vejamos: no final do jogo, enquanto o Oliveira, cheio de fanfarronice, altaneiramente se arvorava em finalista vencido da Champions, ele que no único ano (dos 12 que leva como profissional do clube) em que o Porto conseguiu chegar a uns quartos-de-final da prova milionária estava emprestado ao PAOK, o Conceição, muito comedido, não se queixou de não ter o Garrido, o Martins dos Santos ou mesmo toda a família Calheiros por atacado a apitar, antes pelo contrário ter-lhe-ia modestamente bastado o silvo do Soares Dias para que um sorriso lhe iluminasse a face. Ora, está bom de ver, com esta divergência de postura não há colectivo que resista. Depois não se venham queixar de outrém. Basta! Organizem-se, por favor.

 

Não se pense porém que o Porto jogou apenas contra si próprio, do outro lado estava um Sporting apostado em não deixar jogar o Porto do Conceição e em jogar contra o Porto do Oliveira. Para não deixar jogar o primeiro, o Rúben Amorim meteu o João Mário desde início a esconder a bola, a arrefecer o jogo e os colegas mais jovens de forma a que a tensão não lhes induzisse uma expiração mais forte dentro da própria área que levasse homens reconhecidamente franzinos como o Taremi ou o Marega a caírem para o lado como tordos. Já para jogar contra o segundo, o Rúben fez entrar o Matheus Nunes. Foi remédio santo, a tal ponto que os portistas ainda não devem estar refeitos do susto que apanharam. Estava o Porto meter a carne toda no assador e logo teve que pensar duas vezes antes de entrar em aventuras que lhe poderiam ter custado uma severa indigestão...

 

Parafraseando o grande Gabriel Alves, o jogo não foi bom nem mau, antes pelo contrário. Em comprimento, a maior parte do tempo jogou-se em 40 metros, o que talvez tivesse recomendado transferir a partida para uma quadra de futsal no topo de uma montanha, evitando-se assim o restante tempo ingloriamente perdido pelas equipas no patético esforço de tentar meter a bola por cima das defesas contrárias. (Era pô-los ribanceira acima e abaixo a procurarem a bola perdida para verem o que é bom para a tosse.) É que com tanto tráfego concentrado em tão pouco espaço, nem a circunvalação lhes valeu, até pela desinspiração de quem utilizou essas duas faixas de rodagem. Deste modo, o jogo ficou condenado a resolver-se por quem conseguisse romper o cerco no meio. O Porto tentou, mas também aí a perna esquerda de Taremi não esteve em consonância com a sua direita, anulando-se ambas e inviabilizando um golo cantado. Que culpa temos nós disso? O Sporting procurou-o também num raide em excesso de velocidade de Matheus Nunes, o único alta cilindrada que se mostrou capaz de acelerar em zona urbana, tão cheia de urbanidade que foi uma enfadonhice quase todo o tempo. A bola saiu a tirar tinta à barra. Nada mais houve a registar. O Porto diz que teve mais 4 oportunidades? Sim, o Sérgio Oliveira perdeu uma boa oportunidade de estar calado, o Conceição deixou passar a oportunidade de pedir mais 13 penáltis até ao final do campeonato e ainda houve duas bicicletas do Taremi que a esta hora ainda devem estar a circular no Freixo. O que houve, sim, foi aproximações à baliza. E dessas o Sporting também teve, com Matheus Nunes como denominador comum: primeiro, a flectir para dentro e rematar contra Mbemba; depois, a driblar 3 numa cabina telefónica com o seu "M Turn" e a servir Pote na área; finalmente, após tirar dois adversários do caminho com uma simulação e servir Jovane na esquerda para um contra-ataque perigoso.

 

No fim do jogo não foram só os Sérgios que falaram. O Amorim também falou. E disse qualquer coisa, o que em si não é de todo de estranhar. Disse, por exemplo, que após uma jornada em que o segundo classificado previsivelmente encurtará a distância para o primeiro não se pode afirmar que o título está mais perto. Fez bem. É que uma coisa é termos 10 ou 9 pontos de avanço, outra é ignorarmos que há ainda 39 pontos em disputa e vários jogos complicados pelo caminho, pelo que o que a matemática nos diz é que apenas cerca de 25% do trabalho está feito. Como tal, o resto precisa de ser confirmado. Jogo a jogo.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Matheus Nunes. Eu sei, jogou pouco tempo. Mas jogou muito, todas as suas acções tiveram um toque de brilhantismo e o Olimpo do futebol para mim ainda é reservado àqueles poucos que conseguem desequilibrar. Belíssimas exibições também de João Mário, Palhinha, Coates, Feddal e Adán, todos num plano superior ao dos restantes.  

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(Imagem: A Bola)

26
Fev21

Quintana


Pedro Azevedo

Morreu Alfredo Quintana, guarda-redes do FC Porto e da Selecção Nacional de andebol. "Kingtana", como era conhecido no meio, foi um astro das balizas, um muro onde frequentemente esbarravam as pretensões das equipas adversárias, o nosso Sporting incluído. Os seus cerca de 2m de altura e extrema flexibilidade marcaram uma época no andebol nacional e internacional, período em que Portugal conseguiu os seus melhores resultados de sempre em europeus (6º) e mundiais (10º). 

 

Aos adversários nunca desejamos sequer uma lesão, queremos, isso sim, que se mantenham sempre a grande nível para que assim os nossos se possam também superar e melhorar. Imagine-se então o que se sente num caso extremo como este. Não há palavras que possam descrever isto, ainda mais ocorrendo num atleta controlado recorrentemente por cardiologistas, traumatologistas, ortopedistas, especialistas em medicina de recuperação, nutricionistas, etc. Tudo concorrendo para nos mostrar o quão ténue é a chama da vida.  

 

À família do Alfredo Quintana, aos seus amigos, ao FC Porto e ao universo do andebol em particular envio daqui o meu sentido pesar pelo desaparecimento de uma das mais insígnes figuras que algum dia pisaram um pavilhão em Portugal, ciente de que a memória dos seus feitos permanecerá na mente de todos nós. 

 

O blogue permanecerá com o título a preto durante o dia de hoje em sinal de respeito para com tão grande jogador que precocemente nos deixou. RIP. 

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26
Fev21

Ortega y Gasset


Pedro Azevedo

"O Homem é o Homem e as suas circunstâncias." - Ortega y Gasset

 

Depois dos ditirambos - cânticos como "Vamos arrasar" ou "Jogar o triplo" a enquadrar a coreografia da dança eleitoral  - que marcaram a apresentação de Jesus no Benfica, assistimos agora à deterioração progressiva da sua liderança, provavelmente sacrificada pela soberba com que se tentou rebeliar contra as forças do destino. Um argumento que parece extraído de uma Tragédia Grega, ou não tivesse tudo começado em Salónica (PAOK) e continuado ontem em Atenas, local onde JJ não resistiu a invocar os elogios que recebeu do "Ortega" do Arsenal. 

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25
Fev21

Ranking GAP


Pedro Azevedo

Nesta temporada de 2020/2021, o Sporting disputou até agora 28 jogos - 20 para o Campeonato Nacional, 2 para a Liga Europa, 3 para a Taça de Portugal e 3 para a Taça da Liga -, obtendo 23 vitórias (82,1%), 3 empates (10,7%) e 2 derrotas (7,1%), com 59 golos marcados (média de 2,11 golos/jogo) e 18 golos sofridos (0,64 golos/jogo).

 

Individualmente, Rúben Amorim mantém o 3º lugar no Top 5 da exclusiva lista de treinadores do Sporting com maior percentagem de vitórias. Numa altura em que já realizou 39 jogos pelo clube em diversas competições, Rúben apresenta um registo de 74,4% de vitórias (29 em 39) em todos os jogos, superando homens como o húngaro József Szabó e o tri-campeão Randolph Galloway. O líder continua a ser o também inglês Robert Kelly (79,2%), seguido por Cândido de Oliveira (75,3%), por Amorim, pelo húngaro Alexander Peics (73, 1%) e József Szabó (72, 2%).

 

A nível individual, eis os resultados (estatísticas de golo):

 

1) Ranking GAP (medalheiro): Pedro Gonçalves (14,3,6), N. Santos (7,9,0), Jovane (6,2,1);

2) MVP: Pedro Gonçalves (54 pontos), Nuno Santos (39), Jovane e Porro (23); 

3) Influência: Pedro Gonçalves (23 contribuições), N. Santos (16) e Porro (12);

4) Goleador: Pedro Gonçalves (14 golos), Nuno Santos (7) e Jovane (6);

5) Assistências: Nuno Santos (9), Pote, Porro e Feddal (3).

 

Fazendo uma análise por sectores em termos de pontos MVP (golo=3; assistência=2; participação=1), teremos:

 

Pontas de Lança (total=55)TT (22), Sporar (20), Vietto (7), Pedro Marques (6)

(nota: TT também jogou como interior)

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Interiores (total=128)Pote (54), Nuno Santos (39), Jovane (23), Tabata (12)

(nota: Jovane também jogou como ponta de lança)

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Médios Centro (total=29)Matheus Nunes e João Mário (10), Palhinha (6) e Bragança (3)

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Laterais/Alas (total=39)Porro (23), Nuno Mendes (10), Plata (4), Antunes (2)

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Centrais (total=37)Coates (19), Feddal (11) e Gonçalo Inácio (7)

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Guarda-redes (total=2): Adán (2)

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Conclusões:

  • A posição de Interior contribui em acções de golo cerca de 2,3 vezes mais do que a posição de Ponta de Lança; A posição de Médio Centro tem menos preponderância nos nossos golos que a de Lateral/Ala e de Central, o que pode indicar que RA vê-os mais como um factor de equilíbrio defensivo, sendo os desequilíbrios ofensivos mormente produto da circulação em "U";
  • Porro tem números ofensivos superiores a qualquer ponta de lança;
  • Ordem de importância no golo: Interiores, Ponta de Lança, Laterais/Alas, Centrais, Médios Centro, Guarda-redes;
  • Um total de 20 jogadores já contribuiu para os golos leoninos. Dos utilizados, apenas Max, Neto, Quaresma, Borja, João Pereira, Paulinho e Matheus Reis ainda não tiveram preponderância nos golos marcados. 

 

Ranking GAP (Golos, Assistências, Participação decisiva em golo):

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24
Fev21

A Vida de "Chirola" Yazalde

Parte VI (última) - Até sempre, Chirola!


Pedro Azevedo

Após uma boa primeira época em França, nada faria supor que estaria iminente o seu regresso à Argentina. Inclusivé, Carmen acaba de dar à luz o único filho do casal, Gonzalo, em terras francesas. Yazalde tem uma vida estável, tranquila e confortável na Riviera Francesa, mas a ilusão de voltar a jogar um Mundial, ainda mais na Argentina (anfitriã do Mundial de 78), fá-lo esticar a corda e regressar a casa. Perde muito dinheiro (com contrato por mais dois anos, tem de pagar 500.000 dólares de valor de rescisão ao Marselha) no processo, mas no início de 77 (a meio da temporada em França) assina pelo Newell's Old Boys, um clube argentino da cidade de Rosário, 300 km a noroeste de Buenos Aires. 

 

Estreia-se pela sua nova equipa no Campeonato Nacional (hoje Clausura), competição que funcionava como segundo turno do campeonato argentino. O primeiro jogo é em Mar del Plata, contra o Círculo Deportivo. Fica em branco. Em 4 de Fevereiro, contra o San Martin de Tucumán, o primeiro golo. Mas não é só 1, são 3 de uma vez, um hat-trick. Acaba o ano com 7 golos. Reencontrado com a forma de jogar na Argentina, inicia o Metropolitano de 78 em grande forma. Logo a abrir, 2 golos ao Argentinos Juniors, a equipa de "El Pibe" Maradona, mago que tem em Yazalde um dos seus ídolos de criança. O Newell's vence por 3-0 e os dois craques tiram uma foto que um dia Maradona utilizará para homenagear nas redes sociais o seu ídolo (entretanto já falecido). Os golos voltam-lhe aos pares, marca a dobrar ao Colón, Chacarita e San Lorenzo. Acaba o primeiro turno do campeonato com 10 golos. Yazalde está novamente em grande, mas a tristeza por não ter sido incluído na convocatória de Menotti para o Mundial deixa-o inconsolável. Entra em depressão. Como se não bastasse, segundo Carmen, leva uma injecção contra a gripe e é contagiado com hepatite num tempo em que as seringas são muitas vezes reutilizadas. Começa a ter recorrentes problemas de fígado.  Na 2ª parte da época, disputada pós-Mundial, o Chirola só faz 4 golos. Mais animado, regressa em 79 com um bis ao Racing de Avellaneda, rival dos tempos em que esteve no Independiente. De seguida, um hat-trick ao Velez Sarsfield. Acaba 1979 com 14 golos marcados, o mesmo registo do ano anterior. Em 80 está em grande evidência no dérbi de Rosário, o Classico Rosarino, que põe em confronto "leprosos" (Newell's) e "canalhas" (Rosário Central). Marca por duas vezes e o Newell's vence por 3-0. Em finais de Outubro, volta a bisar. Desta vez contra o seu antigo clube, o Independiente. Um mês depois, faz 2 golos no espaço de 3 dias. A vítima é o "all mighty" River Plate. Acaba o ano com 13 golos, como um relógio suiço. Ainda faz uma perninha no Metropolitano de 81. São apenas 2 meses, o suficiente para se despedir com 6 golos. No total, são 54 pelo Newell's. Por fim, é visto em 82, num jogo pelo Huracán, mas é o canto do cisne. 

 

Terminada a carreira de futebolista, Yazalde assume funções no staff directivo do Huracán e chega até a treinar o clube durante um curto período de tempo. No Natal de 84 vem a Lisboa para apresentar Saucedo, compatriota que jogava no Equador. Entra em Alvalade, é recebido e saudado pela direcção presidida por João Rocha e regressa à Argentina. Nunca se esquecerá do Sporting, vivendo-o sempre com intensidade, fazendo fé nas próprias palavras de Carmen Yazalde. Carmen de quem se separa em 87, nunca porém se divorciando. E morre, em 97, a 18 de Junho, aos 51 anos. Conta Carmen ao "As": "o meu filho ligou-me pelas 6h30, mas quando cheguei já o Yazalde estava morto. Tinha vindo de jantar, sentiu-se indisposto. Não estava bem desde há 2 anos atrás, tinha uma úlcera perfurada e muitas hemorrogias internas". 

 

Um Homem só verdadeiramente morre quando já não existe ninguém para o lembrar. Assim, estou em crer que Yazalde viverá enquanto existir pelo menos 1 Sportinguista, logo eternamente (assim o espero). Para a história ficarão essencialmente os seus 50 golos em 73/74 (apenas 35 jogos) - 46 dos quais, no campeonato, valer-lhe-iam a Bota de Ouro - , marca só muitos anos mais tarde batida por outro "leproso" (Messi) e por um jogador da Formação do Sporting (Ronaldo). Não digam que não há coincidências...

 

P.S. Termino hoje, no dia em que se perfazem 50 anos desde a data em que Yazalde se estreou em Alvalade, este ciclo de Posts sobre a vida de Héctor Yazalde. Uma homenagem ao Chirola em que procurei trazer alguns novos, ou pouco divulgados, dados sobre a sua carreira desportiva e vida fora das quatro linhas. Foram 6 capítulos escritos com amor, ciente do impacto (não querendo desvalorizar a importante acção do meu pai) que o meu 1º ídolo teve na minha decisão de ser do Sporting. Era algo que um dia teria de fazer, assim como que uma espécie de chamamento, eu que me estreei na blogosfera exactamente a escrever sobre Yazalde. Ficará em arquivo, espero que vivo, deste blogue enquanto acervo da vida deste enorme futebolista que tão bem serviu o nosso Sporting. Nunca se esqueçam que, tal como as nossas referências, princípios ou valores, as pessoas só morrem verdadeiramente se nos esquecermos delas. 

 

Obrigado, Yazalde!

 

Bibliografia: Esquadrão Imortal (site brasileiro); Jornal AS (Espanha, artigo de Topo López); Puntal Villa María (jornal argentino); En Una Baldosa (site argentino); Cápsulas de Carreño (site colombiano); Clarin (jornal argentino); Infobae (site de notícias argentino propriedade de Daniel Hadad), Bifana Bifana (blog, Inglaterra); OM4ever.com (blog de apoiantes do Marselha); Entrevista de Rui Miguel Tovar a Carmen Yazalde; WikiSporting. O meu agradecimento especial ao Francisco Navarro. 

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24
Fev21

O feitiço do tempo


Pedro Azevedo

O Leitor atente no seguinte exercício: se pudesse marcar 1 golo, 1 golo apenas, que alterasse o desfecho final conhecido de 1 jogo e isso fizesse toda a diferença na nossa centenária história futebolística, que jogo escolheria para esse efeito? Eu marcaria ao Casino, lá em Salzburgo. Passaríamos a eliminatória, o Robson não seria despedido e o Cherbakov não teria o acidente (pelo menos naquele dia, ou por aquele motivo). 

23
Fev21

A Vida de "Chirola" Yazalde

Parte V - Sob o signo do bronze


Pedro Azevedo

Como tantas vezes na nossa história, após uma gloriosa época culminada com uma dobradinha nas provas nacionais e presença nas meias-finais da Taça dos Vencedores das Taças, a instabilidade regressa ao clube. Mário Lino e João Rocha têm opiniões distintas sobre a preparação da pré-época seguinte, a corda estica e acaba por partir pelo elo mais fraco. Lino ja nem está no banco na final da Taça, demitido na manhã desse jogo no hotel onde a equipa estagia. Osvaldo Silva, velha glória do clube, assume interinamente.

 

João Rocha tinha uma ideia para garantir a independência financeira do clube. Lança o projecto da SCP - Sociedade de Construções e Planeamento, o qual é aprovado em Março de 1974 pelo governo de então. Surge a Revolução e João Rocha vê-se obrigado a abrir mão do projecto. O PREC está aí e a convulsão política não ajuda à confiança na economia. Em contra-ciclo, Yazalde está em alta. Faz um bom Mundial, o Real Madrid pressente as dificuldades financeiras vividas em Portugal, de que o Sporting não é excepção, e faz uma proposta pelo avançado. São 27.000 contos (135.000 euros). Rocha hesita, mas decide fazer um esforço para manter o seu ponta de lança. Por isso quer ir no final da época aos EUA, onde pretende arrecadar algum dinheiro para o clube. Lino não está de acordo por pesar mais a fadiga dos jogadores e o efeito que isso terá no atraso de preparação da nova época. O treinador sai, o Sporting realiza 3 jogos nos EUA, 2 com o Porto, 1 com o Benfica de Newark, entre 30 de Junho e 7 de Julho de 74.

 

Sem treinador, o Sporting procura-o no estrangeiro. Curiosamente, é uma lenda do Real Madrid o escolhido. Trata-se de Alfredo Di Stefano, a "sieta rúbia", um antigo jogador que está para o Real Madrid e sua correlação de forças com o Barcelona como Eusébio está para o Benfica na sua disputa pela primazia no futebol com o Sporting. Yazalde é quem estabelece o primeiro contacto e apresenta João Rocha a Don Alfredo. Ao longos dos poucos dias em que o argentino naturalizado espanhol está em Portugal são vistos a jantar no Gambrinus, a relação entre eles é muito boa. Tanto assim é que quando Rocha e Di Stefano se incompatibilizam, Yazalde tenta pôr água na fervura e sai em defesa do treinador. Dinis e Dé são os primeiros a não gostar dos métodos do treinador, a derrota em Faro (o Estádio Padinha estava interditado) com o Olhanense, para a primeira jornada do campenato, é a gota de água que faz transbordar o copo. Di Stefano, que nesse jogo nem vai para o banco, acaba demitido por entre a acusação presidencial de ser um "turista mal-educado". O facto de insolitamente ainda não ter o contrato assinado ajuda ao desenlace. Osvaldo Silva volta a assumir, mas apesar de 1 golo de Yazalde o Sporting acaba eliminado das provas europeias pelo Saint Étienne, na primeira eliminatória da Taça dos Campeões (Champions). 

 

Se as coisas não começam bem, tardam a endireitar-se. Apesar de um empate encorajador nas Antas, à quinta jornada a equipa tem apenas 1 vitória. O resto são empates (2) e derrotas (após Olhanense, o Sporting perde em casa com o Guimarães). O Sporting consegue então alinhavar 3 vitórias consecutivas perante Atlético, União de Tomar e Farense. São 11-2 em golos, Yazalde marca 8, com direito a póquer aos alcantarenses e dois bis, um no Nabão, outro na recepção aos algarvios. No total, já leva 10 golos no campeonato (+1 na Europa), a fúria goleadora mantém-se. Vai-se destacando também socialmente: anda sempre com os bolsos cheios de moedas para dar aos meninos que o esperam na Porta 10A, sorteia os carros que lhe oferecem entre os colegas, chega até a comprar de volta um auto-rádio que lhe haviam roubado, a todos vai tocando com a sua humanidade. Voltando ao futebol, as coisas voltam a complicar-se no campeonato. Primeiro é um empate no Estádio do Mar, depois outro, em casa, com a CUF, finalmente nova divisão de pontos em Marvila. Pelo meio, duas vitórias tangenciais contra Espinho e Boavista, este último agora treinado por Pedroto que terminara o seu excelente ciclo em Setúbal. A insatisfação é geral, de forma que a 22 de Dezembro, quando o Sporting se desloca à Luz, é já Fernando Riera que está no banco. Riera começara por se destacar como jogador, tendo actuado pelo Chile na World Cup 50 disputada no Brasil. Como treinador, incia-se no Belenenses e quase é campeão. É o tal campeonato do golo de Martins, nas Salésias, que acaba por dar o título ao Benfica. Depois orienta o Chile no Campeonato do Mundo de 62. Leva a sua selecção até às meias-finais, pela frente tem o Brasil. Quer dizer, o Brasil sem Pelé, que se havia lesionado no 2º jogo da fase de grupos. Mas, se não há Pelé, está lá Garrincha. O "anjo das pernas tortas" marca 2, Vavá outros dois e o Chile (derrota por 4-2) tem de se contentar com o 3º lugar (vitória sobre a Jugoslávia). É depois campeão 3 vezes pelo Benfica, a última já depois de despedido. E vai a uma final dos Campeões perdida para o Milan. Treina também o Porto, em 72/73. É, portanto, um treinador com cartel aquele que acaba de chegar. O embate na Luz termina empatado e renasce a esperança de um futuro melhor. Yazalde, como não podia deixar de ser, aponta o nosso golo, o seu 12º na competição. Confirmando a retoma, o Sporting vence o Belenenses em novo dérbi lisboeta e a 1ª volta termina com melhores auspícios. 

 

O Sporting entra forte na 2ª volta e vinga-se com uma cabazada ao Olhanense. São sete-a-zero e o Chirola faz uma "manita". De seguida, visita a Coimbra onde a Académica mudara de sexo, e nova vitória (3-1). Mais um para a conta de Yazalde. A recuperação é depois testada contra o Porto. A expectativa é grande e os leões mostram estar no bom caminho: triunfo por 2-1 com golo decisivo de Yazalde e tudo. Mas, em Guimarães há empate sem golos e a margem de erro reduz-se para zero. O Sporting consegue então a sua melhor sequência de vitórias nesse campeonato, alinhando 5 triunfos consecutivos. Yazalde marca por 6 vezes, quatro delas aos "bebés" de Matosinhos. Estamos a meio de Março e o Sporting tem uma saída difícil ao Bessa. Os boavisteiros já estão a sentir o efeito Pedroto e lutam com o Guimarães pelo quarto lugar. Têm muito bons jogadores, como Alves, Salvador, Celso ou Mário João. O jogo corre-nos mal (derrota por 2-0) e é o adeus definitivo ao título. Restam-nos 5 jogos, 1 deles com o Benfica (novo empate 1-1). Yazalde marca por 5 vezes e volta a ganhar a Bola de Ouro para o melhor marcador do campeonato. 

 

Os leões terminam o campeonato sob o signo do bronze. O Sporting é 3º e é ainda eliminado pelo Boavista no prolongamento das meias-finais da Taça. Pedroto a ser Pedroto e a aplicar dois xeque-mates aos leões. Yazalde acaba a época com uns muito bons 37 golos (34 jogos). No campeonato marca 30 (26 jogos) e ganha a Bota de Prata europeia da France Football. O romeno Georgescu (33 golos) é o vencedor, Geels, holandês do Ajax, e Onnis, também argentino do Mónaco, dividem com Yazalde o prémio. Infelizmente, há um outro alinhamento de bronze no horizonte: a situação em Portugal deteriora-se, João Rocha não consegue aguentar por mais tempo o seu avançado e vende-o por 11 mil contos ao Marselha. Do bronze no campeonato para o bronze ao sol da Riviera Francesa, Yazalde transfere-se para o Marselha. São 126 golos em 131 jogos, 104 golos em 104 jogos de campeonato. Para o substituir em Alvalade, Manuel Fernandes, proveniente da CUF, outro ídolo leonino.

 

Em Marselha, a vida não corre mal a Yazalde. Socialmente, convive com Alan Delon e Jean Paul Belmondo, astros do cinema francês. Também com Carlos Monzón, seu compatriota e campeão do mundo de pesos médios (boxe). Vive num apartamento de 300m2 com uma vista impressionante, 3 piscinas, 2 courts de ténis, numa hora está na praia em Saint-Tropez ou viaja até Aix-en-Provence. O Mónaco é também um dos seus destinos favoritos. Em França, Yazalde dá largas à sua joie-de-vivre. Desportivamente a primeira época é salva pela conquista da Taça de França. No campeonato o Marselha é 9º classificado devido a uma série final terrível de 6 derrotas em 7 jogos. O treinador é Jules Zvunka e a equipa não tem grandes valores, exceptuando Trésor (defesa) e Yazalde. Coincidência, ou talvez não, a queda do Marselha acontece quando Yazalde se lesiona e perde 6 dos últimos 7 jogos. Nos 10 primeiros jogos do Olympique, 10 golos de Yazalde. Business as usual!  Termina o campeonato com 19 golos em 30 jogos disputados (o campeonato tem 38) e é o 6º melhor marcador, o 1º entre os marselheses. Se é influente no campeonato, na Taça torna-se providencial. Marca 3 golos, um dos quais na meia-final contra o Nancy, de Michel Platini. Na final, é eleito o "L'Homme du Match". No total, a época para Yazalde fica-se pelos 22 golos. Nada mal, considerando o nível da equipa e a lesão. A segunda temporada corre-lhe pior. Começa a época e rapidamente se lesiona. Regressa á equipa e marca os dois golos que garantem uma vitória em Sochaux (2-1) mas já estamos na 9ª jornada do campeonato. De seguida, bisa de novo com o Lille e é o canto do cisne. Yazalde só faz 12 jogos na Ligue 1, a sua cabeça está na Argentina e na promessa que alegadamente Júlio Grondona lhe terá feito - Carmen afirma-o parentoriamente, mas, embora muito influente no meio (o que em parte o justifica), Grondona só será presidente da AFA a partir de 79 -  de que se regressasse à Argentina estaria entre os seleccionados para o Mundial de 78. É tempo de terminar a aventura europeia de Yazalde, a sua terra natal espera-o de volta. Destino: o Newell's Old Boys. 

(Amanhã - Sexta e última parte: Até sempre, Chirola!)

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23
Fev21

Foco!


Pedro Azevedo

Eu sei que há quem pense que bater 3(?) vezes na Madeira neste momento inibirá as forças da natureza de se manifestarem contra nós sob a forma de um mau-olhado, mas talvez não fosse má ideia deixarmos de alimentar gratuitamente a "besta" e concentrarmo-nos naquilo que depende exclusivamente de nós. É que Sábado, pelas 20h30, há um Dragão com que lutar a fim de começar a libertar o futebol português do sistemático jugo dual a que tem estado sujeito de há tantos anos a esta parte. E, se por acaso o nosso São Jorge faltar à chamada, será fundamental conter os danos e sobreviver para os outros importantes desafios que teremos num futuro próximo. Mantendo o foco nos nossos jogos e não tirando os olhos da bola. Jogo a jogo. Sempre!

23
Fev21

Jogar à bola sem bola


Pedro Azevedo

Vejo muitos treinadores adversários a esfregar as meninges de preocupados com a forma como o Sporting joga. Aparentemente, segundo eles nas suas alocoções públicas, não há relação directa entre o que a nossa equipa produz e os resultados, pelo que a explicação para a derrota é sempre o erro individual, a falta de eficácia ou o azar dos seus jogadores. Ora, eu penso que é extremamente fácil tipificar a forma como o Sporting joga. E de condicionar, também. Basta tamponar os médios ao centro e fechar nas alas. O Gil fez isso. Porém, na minha modesta opinião, o segredo não está na forma como o Sporting joga, mas sim na forma como o Sporting joga... sem bola. A forma como leva o adversário para certos terrenos que lhe são desfavoráveis e escolhe onde, quando e como pressionar. E as movimentações dos vários jogadores envolvidos no processo de recuperação de bola/preparação da transição ou ataque rápido. Por isso, o mérito desta equipa do Sporting vai muito para além daquilo que joga e está mais associado àquilo que os jogadores correm. Não correndo por correr, à toa, mas correndo bem, com um propósito. Encurtando espaços rapidamente quando sem bola e alargando o campo, procurando o espaço, sempre que a bola é conquistada, o que exige sucessivos sprints e óptima condição física. E quando finalmente em posse ou ataque organizado, sabendo interpretar melhor do que os outros o seguinte princípio que tem previamente interiorizado: não é o jogador que tem a bola que determina o passe, mas sim aqueles que se desmarcam constantemente e oferecem linhas por onde a bola pode chegar. Não são princípios intangíveis, o que é difícil é ter jogadores com a disponibilidade para o jogo como aqueles que Rúben Amorim soube escolher. O mérito deve ser dado a quem o tem, nomeadamente a quem tem sabido traduzir complexidade em simplicidade. É que pode até parecer fácil, mas há muito trabalho por detrás deste Sporting versão 2020/21. 

PS: Se eu tiver pela frente um lateral direito com a bola nos pés e dificuldade em usar o pé esquerdo, vou dar-lhe o lado de dentro ou o de fora? Obviamente, atraio-o para dentro, pressionando-o a usar o pé menos bom de forma a perder a bola com um passe menos certeiro. É só um exemplo da complexidade de riqueza de soluções quando não temos a bola. É que muitas vezes a forma mais rápida de criar oportunidades de golo é entregar a bola ao adversário. Lá está, onde uns podem ver o início de um problema, outros estarão preparados para que seja uma solução.  

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22
Fev21

A Vida de "Chirola" Yazalde

Parte IV - Glória


Pedro Azevedo

Casado de fresco, Yazalde apresenta-se em Alvalade com estabilidade e motivação adicionais para a temporada de 73/74. Mário Lino, vencedor da Taça de Portugal, vê renovada a confiança em si e continua como treinador principal. Ao contrário das duas épocas anteriores, que começaram muito bem, o Sporting perde o primeiro jogo do campeonato. O adversário é o Vitória de Setúbal, que com José Maria Pedroto volta a ameaçar discutir o título. Uma derrota é sempre uma derrota, mas esta, tendo ocorrido no Bonfim, acaba por ser o presságio do que está para vir. Nem de propósito, Benfica e Porto perdem, respectivamente, no Bessa e em Belém. O Sporting inicia então uma sequência de 7 jogos consecutivos a vencer. E não são vitórias quaisquer, os leões marcam 31 golos e sofrem apenas 2: Boavista, Leixões, Farense e CUF levam "chapa 3", o Belenenses 4, o Oriental 7 e o Montijo é vergado em Alvalade com 8 golos sem resposta. Yazalde marca em todos esses jogos. No somatório, são 19(!) golos do "Chirola", meia-dúzia contra os montijenses, um póquer face ao Oriental. Segue-se um jogo nas Antas, o único que Yazalde não disputa nesse campeonato. Chico Faria faz de "Chirola" e o Sporting sai do Porto com um empate. Os leões estão definitivamente na corrida pelo título. 

 

A paragem não parece ter feito bem a Yazalde, que nos próximos dois jogos fica em branco. Um deles é na Luz, onde o Sporting perde por 2-0. Porém, rapidamente retoma a sua cadência goleadora: o Sporting vence os 4 jogos que faltam para completar a primeira volta e "Chirola" faz abanar as redes mais 8 vezes. A meio do campeonato, o Sporting lidera a classificação e Yazalde leva 27 golos(!), ficando em branco em apenas 4 jogos (1 ausente). 

 

No início da segunda volta, o Sporting vInga-se da derrota sofrida em Setúbal. Dois-a-um é o resultado e Yazalde marca o golo decisivo. O Chirola fica em branco no Bessa e o Sporting não vence um Boavista que continua a progredir. Estabelece-se então de novo um proporção directa entre os golos de Yazalde e a sina do Sporting: marca ao Leixões e ganhamos, não marca em Belém e o Sporting perde. Como consequência, Benfica e Vitória de Setúbal aproximam-se de novo com perigo. A resposta é concludente: o Sporting vence o Oriental por 8-0 com 5 golos do Chirola. Na baliza dos marvilistas estava Carlos Alberto Azevedo Cunha, Azevedo para o mundo do futebol, meu homónimo, sem parentesco conhecido com o grande João Azevedo (o Gato de Frankfurt e histórico guarda-redes do tempo dos 5 Violinos). A vitória é o prelúdio para uma sequência de 6 triunfos consecutivos e um score de 23-1 em golos. Yazalde divide as coisas: marca 5 ao Oriental, outros 5 nos restantes jogos. Pelo meio, o Sporting vence o Porto, em Alvalade, por 2-0. Nesse dia Yazalde fica de jejum, é o "Brinca n'areia" (Dinis) que bisa. Na 26ª jornada, o Sporting perde em casa com o Benfica por 3-5. Yazalde bisa, o primeiro memorável, com um salto de peixe que não foi do agrado de Zé Gato. Resultado: o guarda-redes encarnado sai ao intervalo e é substituído por Bento, um render da guarda. O jogo é a 31 de Março e Marcello Caetano está na tribuna. Recebe aí a sua última grande ovação (entre alguns apupos), a revolução está a chegar. Com a derrota, o campeonato fica tremido e a 4 dias do 25 de Abril a coisa piora com um empate em Aveiro. Há só agora 1 ponto a separar-nos de Benfica e 2 do Setúbal, é imprescindível ganharmos os 3 jogos que faltam para sermos campeões. 

 

O Sporting apanha a Revolução no regresso da RDA. Umas meias-finais da Taça dos Vencedores de Taças que terminam de forma totalmente desafortunada com um falhanço de baliza aberta de Tomé, que de outro modo nos teria conduzido à final. Cá o fado já havia sido semelhante: penálti falhado por Dinis, auto-golo de Manaca (sim, o infortúnio não lhe aconteceu só em Guimarães) e golo solitário de Chico. Feitas as contas, 1-1 em casa e 1-2 na Alemanha, o Sporting é eliminado pelo Magdeburgo. Yazalde, lesionado com uma micro-rotura, não joga nenhum dos encontros, os alemães de leste aproveitam e acabam por ganhar o troféu após vitória na final sobre o Milão. 

 

Se bem que não totalmente recuperado, Yazalde acede a jogar os 3 jogos decisivos para o campeonato. Primeiro, o Sporting vence em Coimbra os "estudantes" (3-1) e o Chirola faz 1 golo. A seguir, recepção ao Olhanense e uma goleada por 5-0 com 2 de Yazalde. É chegado então o dia do tudo ou nada. O Sporting tem apenas 1 ponto de avanço sobre o Benfica e estes têm vantagem no desempate directo. Desloca-se ao Barreiro, mais concretamente ao Campo D. Manuel de Mello, a fim de defrontar o Barreirense. Paralelamente, o Benfica vai a Setúbal. O Vitória está já afastado do título, a 3 pontos do Sporting. Pelo sim, pelo não, os adeptos Sportinguistas que vão ao Barreiro levam uma telefonia consigo, os jogos são para acompanhar com os olhos num lado e os ouvidos noutro. O Benfica está a vencer durante a maior parte do tempo, aumenta a ansiedade. Até que, em cima do intervalo, Baltazar adianta o Sporting no marcador. No fim, o Benfica empata (2-2), mas nem seria preciso porque o Sporting cumpre a sua obrigação, vence por 3-0, e sagra-se campeão nacional. É também o melhor ataque (96 golos) e a melhor defesa (21) do campeonato, uma limpeza! Yazalde marca o seu 46º no campeonato (média de 1,59 por jogo, semelhante aos números que marcaram a carreira de Peyroteo). No total, são 50 (35 jogos), contando com os 4 na Taça das Taças. [Por curiosidade e para avivar a memória de jogadores de um outro tempo, aqui ficam os melhores marcadores desse campeonato: 1º Yazalde, 46 golos; 2º Duda (Setúbal), 24; 3º Eusébio (Benfica), 16; 4º Jordão (Benfica), 15, 5º Abel (Porto), 15; 6º José Torres (Setúbal), 14; 7º Alemão (Beira Mar), 14; 8º Arnaldo (CUF), 13; 9º Paco Gonzalez (Belenenses), 13; 10º Ademir (Olhanense), 12; 11º Mirobaldo (Farense), 12; 12º Marco Aurélio (Porto), 11; 13º Vala (Académica), 11; 14º Nelson (Sporting), 11; 15º Custódio Pinto (Guimarães), 11; 16º Tito (Guimarães), 11; 17º Móia (Oriental), 10.]

 

Há ainda uma Taça de Portugal por disputar, mas Yazalde não estará disponível, ausente na Alemanha a tentar recuperar para o Campeonato do Mundo. Aliás, não fará qualquer um dos 5 jogos da competição e assim falhará a gloriosa final contra o Benfica, que parecia perdida, é salva por um golo tardio de Chico e finalmente vencida por outro de Marinho já no prolongamento. 

 

O Sporting faz a dobradinha e Yazalde recupera a tempo do Mundial de 74. A campanha da Argentina não é famosa, eliminada na 2ª fase, mas o Chirola (nº 22) ainda marca dois golos ao Haiti. Entretanto, escrutinados todos os golos dos campeonatos europeus, Yazalde é o melhor marcador da Europa. E no Lido de Paris recebe a Bota de Ouro perante um Franz Beckenbauer que lhe diz ter a mulher mais bonita de todas as mulheres de jogadores de futebol. O segundo classificado é o austríaco Krankl (Rapid de Viena, mais tarde estrela do Barcelona), os terceiros, ex-aequo, são o também argentino Carlos Bianchi (jogador e futuro treinador de sucesso) e os alemães Jupp Heynckes (Borussia M'Gladbach) e Gerd Muller (o "Bomber", do Bayern de Munique). Que quinteto! Termina assim da melhor maneira uma temporada de glória. Para Yazalde e para o Sporting. 

(Amanhã: Sob o signo do bronze)

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21
Fev21

Tudo ao molho e fé em Deus

20.000 Léguas Submarinas


Pedro Azevedo

Caro Leitor, depois de superadas as batalhas da Choupana, Leiria, Bessa ou Barcelos, o Sporting saiu vitorioso de um novo confronto disputado debaixo de água. Com a fatalidade triunfante do costume, a despeito dos estrategas adversários andarem a esfregar abundantemente as meninges, o que leva uma pessoa às tantas a interrogar-se se o que lhe têm vindo a servir é a realidade ou se se trata apenas de mais um capítulo das 20.000 Léguas Submarinas do Júlio Verne reescrito por um jovem guionista chamado Rúben Amorim.

 

Bem sei, os nossos vizinhos andam há muito tempo a dizer que estão uma década à frente da concorrência, pelo que irmos buscar algo que foi originalmente escrito há mais de século e meio atrás soa a regresso ao passado. Só que Verne era um visionário, o que pressupõe que o cenário das 20.000 Léguas Submarinas fosse o futuro. Quer dizer, era o futuro em 1859, mas o mais extraordinário é que é o presente em 2021. E é também o futuro no presente, tantos são os elementos de juventude inseridos nesta ficção (ou será a realidade?).

 

Se isto me deixa confuso, imagine-se o sentimento que provoca à esmagadora maioria dos observadores. Estes, apostados em livrar Portugal da aberração estatística que tem vindo a ser esta temporada, dividem-se entre os que, aproveitando tanta água, lançam o canto de sereia destinado a nos fazer mudar de rumo e desconcentrar no meio de tanta adulação e os outros que, semana após semana, preferem ver em cada novo confrontante um Bayern de Munique. Estes últimos durante esta semana decretaram até um alerta amarelo, anunciando ao mundo a destreza portimonense nos momentos estratégicos. Foi debaixo desta onda de motivação que o Yellow Submarine do Professor Paulo "Aronnax" Sérgio zarpou da Praia da Rocha e seguiu com destino a Alvalade. 

 

A recebê-los estava o capitão Nemo Coates e o seu Náutilus, a versão verniano-amorinesca da arca de Noé que vem abrigando todos os Sportinguistas do dilúvio sempre pré-anunciado. Debaixo de água, isolando o ruído, Amorim encontrou no Náutilus a forma ideal de manter a tripulação leonina longe dos ecos que vêm de terra e extremamente concentrada. Ontem, tal voltou a ser absolutamente explícito. Noutros tempos, o simples facto de a armada confrontante ser liderada por um Beto e um Boa Morte seria pretexto mais do que suficiente para pensarmos tratar-se de um ataque fofinho e não hostil e relaxarmos até ao ponto do abalroamento fatal que invariavelmente nos deixaria a "andar (nadar) ó tio, ó tio" Ricciardi na (des)esperança de encontrar um salva-vidas. Mas agora não. Assim, mal avistámos o Yellow Submarine, enquanto Feddal, Inácio e Adán tratavam de executar as necessárias manobras de defesa e Santos se destacava pela hiperactividade habitual (energia nem sempre bem canalizada, mas capaz de contagiar quem o rodeia), logo lançámos o torpedo Palhinha contra eles. A refrega acabou por se resolver em poucos minutos, o que não deixou de ser um alívio para quem tanto tem sofrido de ansiedade, umas vezes real, outras vezes ficcionada após observadas as manobras de outros contendores. 

 

E assim vai prosseguindo a epopeia que tanto está a pôr em causa o sistema métrico por onde se mede o futebol português. Indiferentes às últimas décadas do nosso futebol, os jornalistas perguntam por que é que o Náutilus não emerge e se assume. Visto pelo nosso prisma, a coisa topa-se à légua...

 

Tenor "Tudo ao molho...": João Palhinha

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20
Fev21

A Vida de "Chirola" Yazalde

Parte III - A caminho da glória


Pedro Azevedo

Após 8 meses sem jogar, Yazalde tem a oportunidade de finalmente poder justificar a sua contratação pelo Sporting. É o início da época 71/72 e o treinador é Fernando Vaz, campeão em 70 e vencedor da Taça de Portugal em 71 pelo clube. Yazalde entusiasma na estreia com 3 golos ao Boavista. Na jornada seguinte, mais um golo, desta vez ao Barreirense. O ímpeto goleador vai continuando: faz abanar as redes do Leixões e do Vitória de Guimarães. À sexta jornada o Sporting tem 6 vitórias e Yazalde 6 golos. Se seis é o número da união perfeita, Alvalade está em delírio com a equipa e o seu avançado.

 

Subitamente, uma derrota, em Belém. Yazalde não marca e o Sporting perde. A equipa parece retomar um caminho virtuoso com vitórias sobre Farense e CUF e um empate nas Antas, mas é sol de pouca dura: um empate em Setúbal e uma derrota caseira com o Beira Mar dão pouco espaço de manobra, o desaire caseiro com o Benfica (0-3) põe fim às aspirações de ganhar o título. Yazalde, entre pequenas lesões e abaixamento de forma não é mais o mesmo, consequência porventura da falta de ritmo ocasionada por ter estado tanto tempo parado durante a temporada anterior. Até ao fim da época marcará apenas em mais 7 ocasiões, 3 golos para o campeonato e outros 4 na Taça das Taças. Nesta última acontece o caricato: após eliminar o Lyn, da Noruega (3 golos de Yazalde), o Sporting enfrenta o Glasgow Rangers. Primeiro, é derrotado na Escócia por 3-2. Em Alvalade, Yazalde inaugura o marcador. Mas, por cada golo que os leões marcam, os protestantes logo igualam. Perto do fim, Pedro Gomes faz o 3-2 e o jogo vai para prolongamento. Desta vez são os escoceses que se adiantam, mas Peres volta a colocar o Sporting na frente. Termina o prolongamento e o árbitro manda seguir com as penalidades. Damas defende por três vezes, é o herói da noite. Alvalade festeja a eliminação do Rangers. Por pouco tempo: ao acordarem de manhã, os adeptos tomam conhecimento que o árbitro falhou ao não cumprir com os novos regulamentos que prevêm que em caso de igualdade final prevaleçam os golos marcados fora. Ora, o Sporting fizera 2 em Glasgow e os escoceses 3 em Lisboa, o golo a mais, ainda que marcado no prolongamento, conta mesmo para desempatar a contenda a favor do Rangers.

 

A época não é menos frustrante: Fernando Vaz não resiste aos maus resultados e é despedido num processo com o seu quê de sinistro. Três vezes campeão pelo Sporting como adjunto de, respectivamente, Robert Kelly, Cândido de Oliveira e Randolph Galloway, Vaz havia ganho como treinador principal o campeonato e a taça, a última após goleada por 4-1 na final contra o eterno rival Benfica. Sai Vaz, entra Mário Lino, antes adjunto. Com o campeonato perdido (3º lugar) e já eliminado na Europa, Lino concentra-se na Taça de Portugal. E o Sporting vai à final, reeditando o duelo com o Benfica. Desta vez sem glória: derrota por 3-2. Yazalde fica em branco e termina da pior maneira uma temporada que pareceu auspiciosa. No total marca 13 em 28 jogos. Chico Faria faz 14 e Fernando Peres, o maestro, é o melhor marcador da equipa (16 golos). 

 

Se no plano futebolístico Yazalde ainda está a aquecer os motores, no amor as coisas vão de vento em popa. Assim, terminada a época, viaja com Camizé, futuramente dita Carmen, para a Argentina a fim de lhe apresentar a família e estar presente no casamento de Teté Coustarot, modelo e rainha de beleza do país das pampas.

 

No regresso conhece um novo treinador. É inglês e chama-se Ronnie Allen, antigo ponta de lança do WBA e dos "Three Lions" (as armas inseridas no escudo da selecção inglesa de futebol). A expectativa é grande, Allen vem com bom cartel de Bilbau onde conseguiu um segundo lugar na La Liga com o Athletic. A estreia no campeonato não poderia ser melhor: o Sporting desloca-se às Antas e ganha por 1-0. Marca Yazalde, "of course". Seguem-se vitórias tranquilas sobre União de Tomar, Farense e Vitória de Guimarães. Em todos esses jogos Yazalde factura, bisando mesmo contra os nabantinos. Quatro jornadas, quatro vitórias, Yazalde já leva 5 golos. Segue-se deslocação à Luz e derrocada: o Sporting perde por 4-1 (póquer de Eusébio). O golo solitário ainda assim é do Chirola. De seguida o Sporting ainda ganha ao Atlético e Yazalde lá faz o seu golito, marcando pelo 6º jogo consecutivo, mas um empate no Montijo inflama os ânimos e na recepção ao Leixões a casa vai abaixo. Estávamos no dia 29 de Outubro de 1972 e o Sporting jogava com os matosinhenses. Damas, a quem Allen deliberadamente havia atribuído culpas do massacre (6-1) na Escócia frente ao Hibernian (Taça das Taças), havia sido agredido por adeptos montijenses no jogo anterior e o ambiente estava quente. Para piorar, logo no início, o auxiliar dá fora de jogo a um ataque leixonense, mas o árbitro deixa seguir. Na sequência, assinala grande penalidade contra os leões. Damas defende, Carlos Lopes (assim se chamava o árbitro) manda repetir alegando que o guarda-redes se havia movimentado antes do tempo. O Leixões marca à segunda tentativa. Começam a chover pedras no relvado. O jogo pára por uns instantes e quando é reatado produz-se o caos: um jogador dos "bebés" corta para canto, o árbitro dá pontapé de baliza. Logo adeptos provenientes do peão, superior e central invadem o campo. Um deles tenta perfurar o árbitro com um guarda-chuva. Às tantas o árbitro é socado, cai no chão. Seguem-se pontapés, alguns na cabeça. Teme-se o pior. Num instinto, Carlos Alhinho corre e deita-se por cima do árbitro. Apanha também ele alguns pontapés. Depois vem Yazalde, conhecido pelo seu elevadíssimo fair-play, que replica o gesto do seu colega de equipa. Outros jogadores ocorrem, fazem um cordão de segurança e Carlos Lopes consegue escapar com vida. O incidente não escapa sem a punição devida e o Estádio José Alvalade fica interditado por 9 jogos. É o fim da picada, a equipa nunca mais se reencontra e termina o campeonato com a até aí pior classificação de sempre, um 5º lugar. 

 

A época é marcada pelo tumulto. Logo de início, Fernando Peres é suspenso pelo clube. Motivo: a defesa da honra de Fernando Vaz. Na Europa, Allen culpa publicamente Damas por 3 dos 6 golos sofridos na Escócia. O guarda-redes chega mesmo a ser agredido por adeptos no Montijo e na jornada seguinte produzem-se os incidentes acima descritos em Alvalade. Allen acaba por ser despedido em Abril, Lino volta a assumir a batuta. Sofridamente, com vitórias tangenciais sobre o mesmo Leixões e a CUF, o Sporting chega à final. Do outro lado, o Vitória de Setúbal, treinado por José Maria Pedroto, 3º classificado nesse campeonato depois de já ter feito sensação no ano anterior (2º). O Sporting acaba por ganhar a Taça após vencer por 3-2. Mário Lino garante o lugar de treinador principal para 73/74 e Yazalde vai de férias com 1 golo importante na final. No total da época faz 28 golos (38 jogos), 19 no campeonato, 7 na Taça, 1 na Europa, 1 na Taça de Honra.

 

De regresso á Argentina, Yazalde desposa Carmen. Dia 16 de Julho de 1973, a cerimónia tem lugar na Basílica María Auxiliadora y San Carlos, em Buenos Aires. Segue-se copo-d'água no Cafe Tabac, jantar a que faltaram metade dos convidados devido ao temporal que nesse dia se abateu sobre a capital argentina. Os noivos vão de lua-de-mel para Mar del Plata. Daí regressarão imediatamente para Lisboa, o Sporting iniciará a pré-época da temporada de 73/74. Estável, dentro e fora do campo, Yazalde está em crescendo. A esperança pinta-se de verde. Vem aí um ano inesquecível.

(Amanhã: Glória)

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19
Fev21

A Vida de "Chirola" Yazalde

Parte II - Yazalde em Lisboa


Pedro Azevedo

Disputado por Santos e Palmeiras do Brasil, Nacional de Montevidéu do Uruguai, Boca Juniors da Argentina e os europeus Lyon e Valência, os dotes negociais de Abraão Sorin viriam a ser providenciais para que o Sporting garantisse a sua contratação em Janeiro de 1971. Após acordar o pagamento de 3 500 contos (17 500 euros) ao clube argentino (mais 700 contos de prémio, ou "luvas" como se designava à época, para o jogador), o Sporting pediu a Yazalde para se juntar à comitiva leonina que se encontrava em digressão pela América do Sul. Estrear-se-ia então, de forma não oficial, em 25 de Janeiro, no Morumbi, num jogo contra o São Paulo, substituindo Chico Faria após o intervalo. Curiosamente, nessa ficha de jogo, do lado dos paulistas constava o nome de Pedro Rocha, grande jogador uruguaio com presença em 4 Mundiais de Futebol que mais tarde viria a ser treinador do Sporting. 

 

Chegou a Lisboa em 11 de Fevereiro, mas os primeiros tempos na capital portuguesa não foram fáceis a nível desportivo. Não podendo ser inscrito nessa temporada, restavam-lhe os jogos particulares para ir aparecendo. A sua apresentação em Alvalade ocorreria a 24 de Fevereiro desse mesmo mês, tendo sido convidados os franceses do Red Star para abrilhantar a festa. O Sporting ganhou por 3-0, mas o Chirola esteve longe de deslumbrar. Integrando uma linha avançada com Marinho, Chico e Lourenço, ficou a nu a falta de entrosamento com os seus companheiros. Aqui e ali, no entanto, deixou pinceladas de bom futebol. Enfastiado por não poder jogar oficialmente, Yazalde envolve-se na "movida" lisboeta por entre uns fados e tertúlias com a elite artística e cultural do país. Damas e Laranjeira são companheiros inseparáveis, os seus melhores amigos no Sporting. Com muito tempo disponível, as mulheres, muitas mulheres, passam também a ser uma companhia habitual na sua vida. Vivia então num pequeno apartamento na Avenida de Roma que se situava por cima do Centro Comercial Tutti Mundi, o terceiro "drugstore" por ordem cronológica a ser aberto em Portugal (o segundo em Lisboa), e Conchita Velasco, diva espanhola da época, actriz e cantora, sua vizinha, terá sido uma das suas conquistas. Até que conhece a mulher da sua vida: Maria do Carmo da Ressurreição de Deus, conhecida no meio artístico como Carmizé. O cupido foi Camilo de Oliveira, actor e fanático Sportinguista. Yazalde começa então a ser visto, noite após noite, na primeira fila do teatro de revista no Parque Meyer. Em exibição estava "Lisboa é sempre mulher" e do elenco constava Carmizé, actriz e modelo. Jantam pela primeira vez n' A Mexicana, saem com Camilo e sua mulher para uma noite de fados e iniciam então um relacionamento sério. Com outra tranquilidade e equilíbrio, chegou a altura de Yazalde voltar a jogar futebol.

 

Algum tempo havia passado até que finalmente a 12 de Setembro de 1971, 7 meses após a sua chegada a Alvalade, Yazalde estreia-se oficialmente pelo Sporting na primeira jornada do campeonato nacional de 71/72. O adversário é o Boavista, que inicia nessa temporada a metamorfose que o tornaria Boavistão. Com a voragem de recuperar o tempo perdido, ao Chirola bastam 5 minutos para marcar o seu primeiro golo pelo Sporting. Ainda faria mais dois, completando assim um "hat-trick", numa vitória leonina por 4-1. O pior havia ficado lá atrás e Yazalde preparava-se para encantar os Sportinguistas. O “anjo com cara de índio”, homem que nunca esqueceria as suas humildes origens e pela vida fora sempre evidenciará uma especial sensibilidade em relação a crianças pobres, iria finalmente a todos mostrar que, para si, o golo era, como um dia o classificou Dinis Machado (obrigado ao António F pela recordação), uma triunfante fatalidade. 

 

(Amanhã: A caminho da glória)

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18
Fev21

A Vida de "Chirola" Yazalde

Parte I - Da Villa Fiorito a Rei de Copas


Pedro Azevedo

Héctor Casimiro Yazalde nasceu em 29 de Maio de 1946 na Villa Fiorito, um pobre e degradado bairro de Lomas de Zamora, na periferia sul de Buenos Aires, onde 14 anos depois viria também ao mundo o génio Diego Armando Maradona, que aliás teve Yazalde como um dos seus grandes ídolos de infância. Começou a jogar à bola nas ruas da cidade argentina, onde com 13 anos já trabalhava, vendendo jornais, bananas e picando gelo. Como retribuição davam-lhe umas moeditas de cêntimos, apelidadas de "chirolas", o que lhe viria a valer uma alcunha para a vida. Desta forma pretendia ajudar os pais, Pedro e Petrona, e os 7 irmãos, mas o seu sonho era tornar-se profissional de futebol e jogar no Boca. 

 

Tentou a sua sorte no Racing e no Los Andes, mas o seu físico franzino e as sapatilhas esburacadas com que se apresentava nas captações não deixaram os técnicos da cantera desses clubes propriamente bem impressionados, pelo que a oportunidade continuou a passar-lhe ao lado. Até que surgiu o Piraña, um humilde clube que militava na quarta divisão argentina. Tinha 18 anos e finalmente poderia jogar futebol a nível federado. O momento era também de teste às suas reais capacidades, se falhasse ingressaria como mecânico na fábrica textil de Don Prieto. O Piraña havia sido fundado em 1942 como homenagem a Jaime "piraña" Sarlanga, um goleador do Boca do início da década de 40 (122 golos, um dos 5 maiores goleadores da história dos xeneize). O seu fundador, Alcides Solé, era um sonhador e um romântico. De forma que 3 dias apenas após o último jogo de Sarlanga pelo Boca decidira criar e registar o clube, convencendo todos à sua volta de que o nome era sonante e gracioso. Quando Yazalde chegou ao Parque de los Patricios, o clube só estava afiliado na federação argentina (AFA) há apenas 3 anos, por isso não tinha histórico significativo e encontrava-se nas profundezas das divisões inferiores argentinas. Na verdade, dificilmente se poderia chamar àquilo uma oportunidade, mas Yazalde não tinha outra e havia que tentar dar nas vistas o mais possível. E Yazalde aproveitou o que pôde, marcando 52 golos nos dois anos que passou no Piraña, o último dos quais no jogo decisivo que definia a promoção à 3ª divisão. Nessa final, disputada no estádio do Arsenal de Sarandí, clube fundado e presidido à época por Julio Grondona, futuramente presidente da AFA e vice-presidente da FIFA, do outro lado estava um clube de Avellaneda, o General Mitre, presidido por Pedro Iso. Acontece que Grondona e Iso já tinham acertado passar a desempenhar funções dirigentes no Independiente, o primeiro como presidente da comissão de futebol profissional do clube de Avellaneda. Apesar de Yazalde ter sido expulso aos 10 minutos dessa final, o golo que marcou e o requinte que mostrou deixaram impressionado Grondona, que logo convenceu o presidente Carlos Radrizzani a despender 1,8 milhões de pesos para o levar para o Independiente. Do nada, o Chirola dava um salto lunar na carreira. Tinha 21 anos e ia-se estrear na Primera A (primeira divisão da Argentina).

 

Estávamos em 1967 e o Rei de Copas, alcunha atribuída ao Independiente, o melhor clube argentino nas décadas de 60 e 70, disputava o Torneio Nacional (Clausura), o campeonato argentino que encerrava a época (na primeira fase da época ocorria o Torneo Metropolitano, hoje Apertura, podendo assim haver 2 campeões diferentes num ano). Entrando a todo o gás na competição. o Independiente cedo somou 8 vitórias consecutivas. A equipa era fortíssima e tinha um ataque de meter medo, formado por Bernao (o poeta da direita), "El Artillero" Artime, Tarabini e o polivalente Savoy, um canhoto de excelência. Mas Yazalde não se intimidou e estreou-se a marcar logo à 3ª jornada, obtendo o golo decisivo que permitiu ao "Rojo" (outro apodo) vencer no campo do Platense. Tomando-lhe o gosto e não acusando a pressão de quem vinha da 4ª divisão nem a adapatação à nova realidade, o Chirola iniciava sem ainda o saber um ciclo de 6 jogos consecutivos a marcar, obtendo logo de seguida um hat-trick na recepção ao Lanús e bisando frente ao Quilmes. A série não viria a ser interrompida sem novos golos ao Ferrocarril, Chaco e Mar de La Plata, perfazendo um total de 9 em apenas 6 jogos. No final, o Independiente, treinado pelo brasileiro Oswaldo Brandão, sagrar-se-ia campeão, com 12 vitórias, dois empates e apenas uma derrota (San Lorenzo, 1-3, golo do Chirola), e Yazalde seria o 2º melhor marcador da competição (10 golos), a apenas 1 golo do seu colega de equipa, Luis Artime, que viria a coroar-se como o melhor marcador. Continuando nesse transe de astronómico crescimento, no ano seguinte José María Minella convoca-o para a selecção argentina e chega a jogar pela Celeste no Maracanã num tanto quanto possível amistoso contra o Brasil. Nesse mesmo ano e no de 69 continua entre os melhores marcadores na Argentina, mas o título de campeão foge-lhe. Chega então o ano de 1970 e Yazalde volta a ganhar um campeonato argentino, desta vez o Metropolitano. O título teve tanto de glória como de dramatismo, com Independiente e River Plate a acabarem empatados em quase tudo, desde pontos (27) até à diferença de golos (18). Um campeonato que se assemelhou portanto ao célebre Campeonato do Pirolito ganho pelo Sporting ao Benfica, só que com Hector Yazalde a fazer as vezes de Fernando Peyroteo. O independiente acabaria por ser declarado vencedor devido ao terceiro critério de desempate, os golos marcados (43 contra 42 do River). Para chegar aí, o Rei de Copas teve de superar o rival Racing na última jornada. Com o jogo empatado a 2, viria a ser Yazalde a resolver nos minutos finais, assegurando a vitória no jogo e campeonato e obtendo o seu 12º golo da competição. Em consequência, seria eleito o Jogador do Ano (1970), distinção mais tarde também atribuída a craques como Passarella, Fillol, Kempes, Maradona (4 vezes), Francescoli, Riquelme, Tévez, Verón ou Messi.

 

Desperto sobre o valor de Yazalde, Abraão Sorin, dirigente do Sporting, iniciou então negociações pelo seu concurso. E em Janeiro de 1971, o Chirola assinava pelo nosso clube. Para trás haviam ficado 72 golos em 112 jogos realizados pelo Independiente de Avellaneda. Lisboa esperava-o. Antes, porém, uma despedida em beleza: a Argentina convida o Bayern de Munique, de Maier, Beckenbauer e Muller, e a 30 de Dezembro de 1970 vence os bávaros por 4-3. Yazalde bisa. Há também uma última homenagem: o histórico bandoneonista Ernesto Baffa compõe um tango a que chama "Para vos Chirola".

 

(Amanhã: Yazalde em Lisboa)   

hector yazalde 1,1.jpg

hector yazalde 1.4.jpgYazalde_(Independiente)_-_El_Gráfico_2651.jpg

17
Fev21

Ranking GAP


Pedro Azevedo

Nesta temporada de 2020/2021, o Sporting disputou até agora 27 jogos - 19 para o Campeonato Nacional, 2 para a Liga Europa, 3 para a Taça de Portugal e 3 para a Taça da Liga -, obtendo 22 vitórias (81,5%), 3 empates (11,1%) e 2 derrotas (7,4%), com 57 golos marcados (média de 2,11 golos/jogo) e 18 golos sofridos (0,67 golos/jogo).

 

Individualmente, Rúben Amorim subiu mais uma posição no Top 5 da exclusiva lista de treinadores do Sporting com maior percentagem de vitórias. Numa altura em que já realizou 38 jogos pelo clube em diversas competições, Rúben apresenta um registo de 73,7% de vitórias (28 em 38) em todos os jogos, superando homens como o húngaro József Szabó e o tri-campeão Randolph Galloway. O líder continua a ser o também inglês Robert Kelly (79,2%), seguido por Cândido de Oliveira (75,3%), por Amorim, pelo húngaro Alexander Peics (73, 1%) e József Szabó (72, 2%).

 

A nível individual, eis os resultados (estatísticas de golo):

 

1) Ranking GAP (medalheiro): Pedro Gonçalves (14,3,5), N. Santos (6,9,0), Jovane (6,2,1);

2) MVP: Pedro Gonçalves (53 pontos), Nuno Santos (36), Jovane e Porro (23); 

3) Influência: Pedro Gonçalves (22 contribuições), N. Santos (15), Porro (12);

4) Goleador: Pedro Gonçalves (14 golos), Jovane e N. Santos (6);

5) Assistências: Nuno Santos (9), Pote, Porro e Feddal (3).

 

Fazendo uma análise por sectores em termos de pontos MVP (golo=3; assistência=2; participação=1), teremos:

 

Pontas de Lança (total=55)TT (22), Sporar (20), Vietto (7), Pedro Marques (6)

(nota: TT também jogou como interior)

tt1.jpg

Interiores (total=123)Pote (53), Nuno Santos (36), Jovane (23), Tabata (12)

(nota: Jovane também jogou como ponta de lança)

pote3.jpeg

Médios Centro (total=29)Matheus Nunes e João Mário (10), Palhinha (6) e Bragança (3)

matheus nunes benfica.jpg

Laterais/Alas (total=39)Porro (23), Nuno Mendes (10), Plata (4), Antunes (2)

Pedro-Porro.jpg

Centrais (total=32)Coates (17), Feddal (8) e Gonçalo Inácio (7)

Coates.jpg

Guarda-redes (total=2): Adán (2)

adan1.jpg

Conclusões:

  • A posição de Interior contribui em acções de golo mais do dobro da posição de Ponta de Lança; A posição de Médio Centro tem menos preponderância nos nossos golos que a de Lateral/Ala e de Central, o que pode indicar que RA vê-os mais como um factor de equilíbrio defensivo, sendo os desequilíbrios ofensivos mormente produto da circulação em "U";
  • Porro tem números ofensivos superiores a qualquer ponta de lança;
  • Ordem de importância no golo: Interiores, Ponta de Lança, Laterais/Alas, Centrais, Médios Centro, Guarda-redes;
  • Um total de 20 jogadores já contribuiu para os golos leoninos. Dos utilizados, apenas Max, Neto, Quaresma, Borja, João Pereira, Paulinho e Matheus Reis ainda não tiveram preponderância nos golos marcados. 

 

Ranking GAP (Golos, Assistências, Participação decisiva em golo):

ranking gap 17022021.png

17
Fev21

Identidade e adaptação


Pedro Azevedo

Há essencialmente 3 equipas na Primeira Liga que vêm mantendo a sua identidade jogo após jogo. Curiosamente, ou talvez não, estão todas bem classificadas e a fazerem campeonatos acima das expectativas iniciais. Falo-vos obviamente do Sporting (1º), Braga (3º) e Paços de Ferreira (5º), equipas cujo desempenho tem muito o dedo dos seus treinadores. Outras vão mudando de sistema, procurando dessa forma ajustar-se ao adversário. É o caso do Benfica, que montou um Plano B no Dragão (entradas conjuntas de Nuno Tavares e de Grimaldo criaram indefinição nos portistas sobre quem era o lateral esquerdo) e um Plano B' (linha de 5 defesas, a atacar a 3 com Vertonghen encostado à esquerda, Grimaldo e Cervi no mesmo corredor) em Alvalade. Mais do que os resultados obtidos nesses 2 jogos, não me parece que os encarnados tenham beneficiado de alguma forma com essas duas semanas de trabalho que descaracterizaram o que vinham laborando até aí. Quinze dias de adaptação a adversários acabaram por resultar em menos duas semanas de afinação de rotinas, sem que antecipadamente fosse sequer prudente esperar (bem visível no jogo de Alvalade) que o escasso tempo de trabalho a treinar um sistema alternativo lhe permitisse estar ao nível de um rival que tem rotinas acumuladas de jogar sempre da mesma forma. Coincidentemente, desde o jogo do Dragão a equipa registou empates caseiros com Nacional e Guimarães e igual divisão de pontos na visita a Moreira de Cónegos, ou seja, perdeu mais pontos nesses jogos que nos confrontos com Porto e Sporting. Para não falar da derrota na Taça da Liga contra o Braga. Em sentido oposto, o Paços de Ferreira de Pepa joga sempre da mesma forma. Tal torna-o um alvo mais ou menos fácil para o Sporting, cujo sistema encaixa bem no dos pacenses, mas garante-lhe o mais importante: habituação, rotinas e ritmo de jogo que lhe permitem ser predominante no "campeonato dos pequenos". Além disso, a ausência de grandes mudanças estruturais não baralha os seus jogadores, que estão focados num sistema em que se sentem confortáveis e dele não abdicam em função de ocasionais 3 pontos. 

 

Outros casos há, como o Braga, onde desde o início a equipa vai alternando defesa a 3 com a 4, muitas vezes durante os próprios jogos. Treinando assim desde a pré-época, a equipa sabe perfeitamente como alterar posicionamentos aquando da mudança táctica. Já o Sporting tem um sistema mais rígido. Não se pense porém que por um sistema ser rígido não possam existir nuances e dinâmicas específicas. É o que ocorre no Sporting de Ruben Amorim quando Pote desce para pegar na batuta e a equipa ganha 3 médios no centro, ou o médio mais volante descola claramente do médio de contenção, ou Nuno Santos encosta mais à ala. Noutra situação, quando Matheus entrou contra o Braga (campeonato) como interior, o Sporting ganhou nessa posição um jogador com preocupações mais defensivas do que o habitual, com especial atenção ao fecho do nosso corredor direito aquando da perda da posse (e ainda viria marcar um golo nesse jogo). Há ainda um Plano B, que no papel se assemelha ao tradicional 3-4-2-1, mas que dadas as características dos jogadores na verdade é mais o revisitar do WM de Herbert Chapman (3-2-5). Tal pôde ser observado pela primeira e única vez até hoje aquando da recepção ao Gil Vicente, quando Nuno Santos e Tiago Tomás se encostaram nos corredores (saiu o central pela esquerda, Nuno Mendes passou para dentro e Porro foi substituído) e Pote, Jovane e Sporar fizeram as duas posições de interiores e a de ponta de lança. 

 

A classificação do campeonato parece dar razão a quem se mantém fiél às suas convicções. O que não quer dizer que um adversário que se adapte não seja potencialmente até mais perigoso para Sporting, Braga ou Paços de Ferreira. Foi aliás o caso recente do Gil Vicente, que sob o comando de Ricardo Soares é mais mutante do que era com Rio Almeida. O problema é que a seguir sofreu uma goleada em Portimão (4-1).

RA1.jpg

16
Fev21

Tudo ao molho e fé em Deus

O Phi do Amorim


Pedro Azevedo

Caro Leitor, quando esta semana um amigo me telefonou para saber se eu tinha conhecimento de um "fee" relacionado com o Rúben Amorim confesso que a coisa me soou a falta de assunto. Ainda assim, como agora está na moda a clarificação, procurei com disciplina esclarecer a situação, concluindo tudo não ter passado de uma daquelas situações de "lost in translation", embora sem a Scarlett Johansson  para abrilhantar. É que aquilo a que o meu amigo se referia era afinal ao homófono Phi de Rúben Amorim. Na verdade, eu já andava a cismar com o assunto, mas hoje descobri que as iniciais RA escondem a Razão Áurea que o arquitecto Rúben Amorim trouxe para Alvalade. Vou passar a explicar: Razão Áurea, ou Divina Proporção, é uma constante real algébrica que se pode observar na natureza. Crê-se até que foi primeiro utilizada por Phídeas, um escultor da antiguidade grega de cuja obra apenas resta a 1ª reedificação (pós devastação pelos persas) do famoso Partenon, situado na Acrópole de Atenas, em homenagem de quem a constante (1,618) ganhou o nome de "Phi".  A sua aplicação é recorrente na pintura, arquitectura, música e até nos mercados financeiros. Também é visível no corpo humano, onde por exemplo a distância do ombro à ponta dos dedos da mão é 1,618 vezes superior à medida entre o cotovelo e a ponta dos dedos da mão, bem como a altura de um indíviduo é 1,618 vezes superior à distância entre o seu umbigo e a planta dos seus pés. (Este último não é válido para treinadores d'arrasar, cujo umbigo presume-se estar ao nível, ou mesmo acima, da sua cabeça.) 

 

Por esta altura legitimamente perguntarão os Leitores: mas aonde é que está a ligação com o Sporting? Eu passo a explicar: no início desta época os especialistas davam-nos hipóteses O de discutir o campeonato, o nosso jogo nº 1 foi adiado devido a um surto de Covid que dizimou o plantel e, apesar de tudo isto, já dentro da segunda volta estamos na posição 1. Adicionalmente, por puro desespero, há quem sonhe em penalizar-nos com 2 pontos que acrescerão a outros 3 pontos correspondentes a derrota no jogo com o Benfica (ganhámos no campo, mas isso no futebol português nunca é uma verdade absoluta) por alegada utilização irregular do jogador Palhinha, sendo que esses dois pontos podem ainda ir até 5, segundo os regulamentos. Entretanto, à entrada desta jornada, o Porto estava a 8 pontos de distância e à saída o Benfica está a 13. Em Janeiro reforçámo-nos com o "21" (Paulinho) e vamos jogo a jogo até à última jornada (34). Finalmente, o Sporting leva 55 golos marcados em todas as competições nacionais. Ora, seguindo a ordem dos números, o que é que temos? O, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34 e 55, uma sequência de Fibonacci!!! [Fibonacci criou uma sequência em que cada número é equivalente à soma dos dois números anteriores e simultaneamente 1,618 vezes (o Phi) superior ao número anterior (à medida que vai tendendo para "n").]

 

Se Leonardo Da Vinci usou estas proporções em O Homem Vitruviano, Rúben Amorim é o homem que tornou "virtus" Viana e o arquitecto da Divina Proporção que reconstruiu um futebol leonino onde até as medidas ideais do relvado (110x68m) obedecem ao Phi. Com ele, as vitórias são uma constante. O sofrimento por vezes também, embora com o tempo tenhamos vindo a perceber que o objectivo é testar o bom funcionamento do desfibrilador e no fim ganhamos sempre. Outras vezes, como hoje, é um descanso e ficamos a pensar por que raio sofremos tanto de ansiedade após os empates dos nossos rivais. É que o jogo a jogo que o Rúben recomenda é só válido para os nossos jogos, e a este Paços já havíamos despachado por dois-a-zero na Capital do Móvel e por três-a-zero para a Taça. Lá está, a constante. Como constante é o uso de adágios populares que ilustram a nossa campanha esta época, desde o "não há duas sem três" até ao "candeia que vai à frente alumia duas vezes", este último capaz de arrasar quem pensou abrir caminho com(o) os lampiões e agora tem de ver pirilampos a triplicar no Seixal. (Jesus bem  foi pregando que desta vez é que era, mas os cónegos não pareceram estar de acordo.)

 

Jogo a jogo, passo a Paços, lá vamos ganhando e distanciando-nos dos nossos rivais. Além de isso nos alegrar, também ajuda a clarificar situações. Uma coisa a que aliás o Benfica se tem mostrado muito sensível, querendo por exemplo clarificar o caso Palhinha. Sempre disponível para quaisquer esclarecimentos, o Palhinha ontem deu o pontapé de saída para essa clarificação. E de uma forma que eu diria que só por pura ingratidão o nosso rival não reconhecerá, tal o importante contributo do nosso médio para a manutenção do seu quarto lugar. E assim terminou um jogo tranquilo que não me provocou picos de tensão. A única contrariedade foi mesmo aquele zumbido persistente nos meus ouvidos que ainda perdurava esta manhã, tantas foram as vezes que o árbitro meteu o apito à boca durante o jogo. Um tipo de dano colateral nada negligenciável quando se tem um Narciso a arbitrar um jogo de futebol...

 

Tenor "Tudo ao molho...": João Palhinha

palhinha3.jpg

14
Fev21

Jogo a jogo


Pedro Azevedo

Ok, o Porto não conseguiu o xeque-mate no xadrez boavisteiro e teve de se contentar com o empate quando a meio da partida a derrota chegou até a parecer inevitável, mas o Sporting deve-se preocupar somente consigo próprio! Tal decorre da vantagem adquirida até aqui, que nos deu o privilégio de não dependermos de terceiros. No entanto, sabemos que só 87 pontos nos garantirão automaticamente o ceptro mais desejado. Serão por isso, à cautela, necessárias mais 13 vitórias nos 16 jogos que ainda falta disputarmos, o que demonstra que ainda haverá que ultrapassar muitos obstáculos e o quão prematuro é o assumir de facilidades neste momento. Não esquecendo nunca que, se é verdade que cada nova vitória nossa vai minando o moral dos adversários, qualquer futuro deslize poderá ser interpretado como um sinal de fraqueza e ajudar a reanimar os rivais. Adiemos, por isso, o mais possível quaisquer eventuais revézes, concentrando-nos em vencer sempre o próximo jogo, a próxima final. E essa será segunda-feira, contra o Paços. E assim sucessivamente, jogo a jogo. No final far-se-ão as contas.  

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