Tudo ao molho e fé em Deus
À margem do Lampionato Nacional
Pedro Azevedo
O Sporting fez mais um jogo para o seu campeonato. Por seu campeonato entenda-se um conjunto de jogos que se amontoam num determinado calendário a duas voltas onde todos os adversários se apresentam com 11 jogadores em campo. Bem sei, uma competição assim poderá ser considerada um pouco exótica para a maioria dos cidadãos deste país que torce por outro clube, mas é o que temos. Já o Benfica concorre numa prova à parte, o Lampionato Nacional. Diga-se de passagem que a coisa é bastante desigual, em forte prejuízo dos encarnados. Senão vejamos: se os doutores da bola afirmam convictamente que jogar contra 10 é mais difícil do que jogar contra 11, imaginem o que será jogar contra 9... E, depois, um a um, para aumentar ainda mais o grau de dificuldade, vão-se retirando jogadores de campo da equipa adversária até que fiquem reduzidos a 6 unidades, o que, como se sabe, torna impossível ao Benfica marcar mais golos e mostrar a sua superioridade. Tal é bastante injusto para os actuais pupilos de Jorge Jesus, mas ao mesmo tempo evoca na nossa memória colectiva as origens do futebol: haverá maior pureza do que uma competição que nos remete para as peladinhas da escola, onde havia guarda-redes avançado e tudo? Pois é, o Benfica pode estar 10 anos à frente da concorrência, mas o Lampionato é o seu contributo para o revivalismo do período da Idade da Pedra do futebol. Esbatendo diferenças e promovendo o equilíbrio, nem que para isso tenha de carregar o terrível "handicap" de começar os jogos com homens a mais em campo. Em nome da verdade desportiva, "what else"?
Ainda que participando numa competição diferente, o Sporting recebeu ao final de tarde de ontem o Tondela. Estranhamente, a Liga de Clubes não pugnou pelo adiamento do jogo em virtude dos tondelenses se apresentarem completos pelo que a partida realizou-se mesmo, o que com certeza não deixará de merecer parangonas pouco elogiosas nos principais periódicos internacionais. Até parece que já estou a ver um dos títulos: "Doze indomáveis patifes", estrelando os 11 beirões mais o presidente da Liga, com o Proença a fazer o personagem do Lee Marvin, mas com brilhantina e Restaurador Olex quanto baste (o futebol português, os seus "Restauradores" e os Amigos de Olex). Uma vergonha!
Esta coisa de ter 11 em campo complica a vida a qualquer equipa. É que há sempre homens a mais em campo, uns dispostos a tocar na bola de forma inadvertida, outros a não saber sair de cena na altura certa. Por isso vimos um tondelense isolar o Sarabia para o nosso primeiro golo e um outro a pôr em jogo o mesmo espanhol aquando do nosso segundo golo, no momento do passe de ruptura do Matheus Nunes (quão mais jogadores, maior a probabilidade de o adversário não estar em fora de jogo). O resto do jogo até foi entretido, com o antigo cérebro (Ayestaran) por detrás do Quique Flores a mostrar que sabe montar uma equipa de futebol. Mas ontem o Neto parecia ter asas e até o Murillo foi apanhar em excesso de velocidade, pelo que a coisa não passou da ameaça. Para piorar a vida aos beirões, o Paulinho marcou um golo - já não bastava aos tondelenses terem de jogar com onze, ainda levaram com um ponta de lança leonino a cumprir com o seu papel. Enfim, um "nonsense" completo...
Na próxima jornada iremos à Luz. À hora que Vos escrevo ainda não sei se o jogo contará para o Campeonato, Lampionato Nacional, ou até se se disputará. É que tanto poderá cair lã dos céus a dar um toque de Natal como a convocatória da omicron alterar os planos a muita gente. Em todo o caso, a Liga deverá dizer qualquer coisa o quanto antes. Ou não, e continuar em isolamento profilático. É que há precauções higiénicas que devem tomar-se para evitar o contágio no futebol.
Tenor "Tudo ao molho...": Luis Neto