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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

30
Mar24

Tudo ao molho e fé em Deus

A (mito)mania de falhar de cabeça


Pedro Azevedo

Se até Aquiles tinha um ponto fraco, não admira que Gyokeres, igualmente um herói da mitologia (neste caso, leonina), também o tenha. O "calcanhar de aquiles" do sueco é o jogo de cabeça. E não se manifesta só na área do adversário, onde porventura dará mais nas vistas, mas igualmente na nossa área: por duas vezes o Estrela colocou a bola na sua zona de acção, por duas vezes criou perigo. Uma deu golo, outra motivou uma boa defesa de Israel. Não é a primeira vez que acontece - assim de memória recordo-me, entre outros, de um golo do Gil Vicente em Alvalade e de outro do Portimonense em sua casa, ambos na sequência de bola parada - e deve ser urgentemente corrigido. Amorim, sem nomear jogadores, chamou a atenção para esse erro na conferência de imprensa e fê-lo bem, até porque de outro modo só ficaria na retina do adepto a saída fora de tempo do guarda-redes do Sporting. (Esclareço que não se trata só da forma como Gyokeres coloca a cabeça à bola, tem mais a ver com a falta de confiança neste gesto que o faz não antecipar os lances e atacar atempadamente a bola.)

Quer este arrazoado em cima pôr em causa o Gyokeres? Não, o sueco está tão ligado à nossa redenção e, quiçá, salvação (após um quarto lugar no campeonato que valeu a não presença na Champions desta temporada) que deve ser visto como um mito soteriológico: os 36 golos e 14 assistências, que o tornam o jogador na Europa com mais participações directas em golos, assim o demonstram. Ontem, Sexta-feira Santa, simplesmente absteve-se de comer de cebolada a carne toda picadinha do costume, mas o mais certo é ter guardado o apetite para a jornada dupla com o Benfica. A avaliar pelo estado em que fica após cada jejum, eu diria que estará em ponto de rebuçado nesse momento. Que então a fera se solte em todo o seu esplendor!...

 

Não é que a estrela de Gyokeres tenha empalidecido, simplesmente não esteve ao seu nível. Ou ao nível altíssimo a que nos habituou (mal, para o nosso bem), fazendo apenas um jogo satisfatório. Pelo que a vedeta de ontem foi o Trincão, uma espécie de Lázaro ressuscitado por contacto com o deus Gyokeres. Explorando inteligentemente tanto o espaço entre-linhas como o existente nas costas dos defesas do Estrela, o Trincão fez um grande jogo. A que só faltou um golo da sua parte, que até poderia ter acontecido num par de ocasiões. E se numa o guarda-redes adiou momentaneamente os seus intentos (Nuno Santos marcou na recarga), na outra teve tudo para facturar quando o Kialonda Gaspar preferiu apostar as fichas todas na sua possibilidade de falhar face à inevitabilidade de golo que resultaria de lhe fechar o espaço interior e permitir-lhe a cedência de bola a um desmarcado Gyokeres - uma questão típica de uma cadeira de cálculo de probabilidades.

Outros jogadores em destaque foram Daniel Bragança e Hidemasa Morita. Muita qualidade de passe têm estes dois, que descobriram inúmeras vezes colegas entre-linhas. Jogando muitas vezes de primeira, não se deixando encurralar pela pressão da linha média do Estrela, sempre uns décimos de segundo atrasada face à velocidade de pensamento e de execução do meio campo do Sporting. Na mesma onda verde, Inácio, entrado para o segundo tempo, foi outro jogador que procurou jogadores soltos no espaço interior, criando perigo para o Estrela. Bem também estiveram os centrais, com a rapidez de St Juste a sobrepor-se a alguns "passes para o hospital" (conhece como ninguém o caminho) que fez e deveria evitar a fim de que males maiores possam emergir como no golo do Estrela. Nuno Santos também esteve ao seu nível, mais regular do que Geny. E Paulinho marcou um golo numa bela execução de cabeça, além de ter procurado sempre que possível ser opção para a ligação de jogo com o ataque. 

Não tínhamos necessidade de sofrer tanto, mas Sporting sem sofrimento seria paradoxal e desafiaria todo o conhecimento que os Sportinguistas foram adquirindo ao longo de seis décadas de estudos epistemológicos baseados na verdade e no nosso sistema de crenças. Por falar em crenças, a de que seremos campeões vai crescendo jogo a jogo. Depois de ontem, ficaram a faltar oito. Mas só precisamos de ganhar sete. Ou seis, desde que vençamos o derby. Bom, mas isso será para depois, porque na terça teremos Taça. Na Luz. Haveria melhor palco para uma equipa tão eminentemente renascentista? Então, que o eminente seja iminente e a nossa fluidez de jogo ilumine o rectângulo de jogo sito em Carnide!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Trincão 

18
Mar24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Um Gyokeres 3 vezes ao dia contra a dor


Pedro Azevedo

Ao contrário do Futebol Clube, que é do Porto, e do Sport Lisboa, que é do bairro de Benfica (mas habita num condomínio de Red Passes em Carnide), o Sporting é de Portugal. À partida, um clube que é a bandeira de uma cidade iminentemente bairrista e outro que representa mesmo um bairro (ainda que muitíssimo populoso) - assim a modos como Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia - deveriam entregar-se a tarefas domésticas, deixando as actividades europeias para o clube que leva Portugal no nome. Todavia, o problema é mesmo esse: levando Portugal no nome, o Sporting europeu faz o mesmo que o estado português na Europa, isto é, saca fundos comunitários aos países mais ricos (só por ter entrado), para depois não desenvolver nada, e nos momentos mais delicados joga sempre à defesa. 

De regresso à frente interna, o Esgaio e o Matheus Reis foram substituídos pelo Geny e o Nuno Santos. Além de que o Paulinho jogou com o Gyokeres na frente. Poder-se-ia dizer que pusemos a carne toda no assador,  mas é melhor não (não vá o Arthur Cabral sentir-se atraído pela possibilidade de aqui também haver picanha).  

O jogo tinha acabado de começar, o que já de si é um oxímoro, quando se produziu outra figura de estilo, no caso um paradoxo. E em dose dupla: o Geny, que devia defender, não quis ceder um canto, e o Israel, que podia agarrar a bola ou simplesmente deixá-la correr, socou-a para o único sítio na grande área (metropolitana de Lisboa) onde havia um jogador do Boavista àquela hora. Em consequência, o Makouta inaugurou o marcador da exactíssima mesma forma artística com que domesticamente costumamos encaixar golos. (Os golos que nos marcam e alguns que nos anulam têm imensa arte.)

O golo do Boavista teve o condão de, em vez de desanimar, animar todos os nossos jogadores, especialmente o Morita e o Gyokeres. E se o Morita desenhou logo com génio 3 lances de golo, o Gyokeres foi o protagonista de um "E tudo o vento levou" que teria deixado os boavisteiros à beira de um ataque de nervos, se os seus músculos não estivessem já demasiado retesados de tanto terem sido solicitados em correrias (não há dúvida de que este Gyokeres é um Clark Gable louro ou mesmo um "Clark Gamble", tão boa foi a aposta do Sporting nele). E, se no primeiro golo, o sueco mostrou dotes de finalizador a um só toque, antecipando-se ao defesa, no seu segundo partiu-lhe os rins com acelerações, travagens com servo-freio e derrapagens suaves - para o acompanharem, além de fortes e velozes os nossos adversários precisam de fazer um curso de pilotagem no gelo -,  antes de despachar o tema da baliza com um balázio mortal. Depois, ainda voltou a marcar, de penálti, só para mostrar que o desperdício com o Young Boys foi a excepção que confirma a regra. Não ficaria contudo por aí, levando tudo à frente numa diagonal na direcção da linha de fundo, levantando depois a cabeça antes de executar uma Quaresmada de pé direito directinha para o pé esquerdo goleador do Nuno Santos. No resto do tempo, dedicou-se a amassar os defesas, como uma jibóia que vai enleando as suas presas até as asfixiar. (Pelo meio, o Paulinho marcou um golo acrobático e no fim bisou, de cabeça, que o sueco estica tanto o jogo e cria tal desordem que propicia oportunidades suficientes para o Paulinho cumprir com a sua quota comunitária de produtor de falhanços e ainda conseguir falhar uns falhanços e marcar.)

 

O Shakespeare dizia que lamentar no presente uma dor passada seria como criar uma nova dor e sofrer novamente. Ora, há dores que são passíveis de cura, especialmente havendo um Gyokeres no presente. Ou, melhor dizendo, de presente. Para todos os sócios, adeptos e simpatizantes do nosso Sporting. Por isso, não criamos novas dores, como o comprovam o Casa Pia (8-0, após a nossa derrota na Taça da Liga) e agora o Boavista (6-1), pelo que se eu fosse do Benfica, sabendo que tinha 2 desafios seguidos, dava já como perdido o jogo da Taça de Portugal. Just in case... 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Viktor Gyokeres. Menções honrosas: Morita e Bragança. Que jogo fez o Daniel! Futebol de toque, perfume exótico, espalhando classe por um relvado que foi tela de um cenário revivalista onde coabitam Redondo e o samba de 82, o Bragança encheu as medidas de quem gosta de futebol e sabe que jogar simples e bem é sempre o mais complicado.

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15
Mar24

Tudo ao molho e fé em Deus

Extraído o apêndice


Pedro Azevedo

Caro Leitor, a boa notícia que emerge da noite é que estamos quase-quase a concentrar-nos exclusivamente no campeonato nacional. Assim, o apêndice da Liga Europa já foi cortado ontem a fim de evitar uma peritriunfite (inflamação generalizada de vitorias) e as amígdalas da Taça não deverão resistir ao bisturi da Luz, pelo que Ruben Amorim poderá por fim cumprir o seu sonho de só ter de pensar na bicha solitária da Liga. É isso(!), se com o Mourinho aprendemos o que é a periodização táctica, agora com o Amorim percebemos o conceito de priorização tácita. Graças a este brilhante pensamento, o Sporting continuará a posicionar-se num bloco médio baixo no que à tabela periódica (para nós, uma constante) dos clubes europeus mais significativos diz respeito, vendo-se assim obrigado todos os anos a vender os seus melhores jogadores, enquanto os seus rivais com melhor ranking continuarão a ganhar valores milionários pela simples presença no Mundial de clubes. Não se preocupe porém o Leitor, porque para o ano há mais. Isto é, para a época que vem podemos continuar a fingir que ligamos à Europa. Sugiro até que antes dos jogos europeus se troque "O Mundo sabe que..." pelo irónico "Portugal na CEE", dos GNR, e o símbolo do leão por um pedregulho (de Sísifo), só para que não nos esqueçamos que lidamos com a Europa com o mesmo empenho que os nossos governantes tiveram o trabalho de lidar com as nossas agricultura e pescas no passado. 

 

Geralmente, depois de um jogo perdido, quem treine o Sporting vê-se na necessidade de conceder a derrota. Mas ontem não, foi a vitória de Ruben Amorim e da priorização tácita. E dos adeptos que ficam em êxtase quando veem o Sporting libertar-se de competições, o que leva à interrogação se nos querem sequer ver nesses certames. Será que podemos não nos inscrever? É proibido desistir a meio, se a coisa estiver a dar muito trabalho? A quem nos podemos queixar em caso de bullying? A ideia de fundo que estes entusiastas da derrota passam é que o plantel é curto para tanta competição. Nesse caso, um burro pensaria que a solução seria aumentar o plantel. Felizmente, temos inteligências raras em Alvalade que privilegiam planteis curtos para ser mais fácil gerir o balneário. Assim, ficamos com um balneário são... e zero títulos, Como na época passada, o que cumpre mais ou menos com o último lema conhecido do fundador, encontrado aqui há dias na etiqueta de um velho frasco de lixívia numa escavação ali ao pé do Lumiar: "Tão bons como os melhores balneários da Europa". Parabéns então ao Amorim por esta retumbante vitória. Com uma especial dedicatória ao Edwards e ao Paulinho, que tudo fizeram para  que este... êxito se confirmasse. (O St Juste ficou ligado aos 2 golos do adversário.)


É tal o desprezo que damos à Europa que nem se percebe o ênfase em sermos conhecidos internacionalmente como Sporting Clube de Portugal. Eu acho que até disfarçava se nos chamassem Sporting de Lisboa. Ou só Sporting, que podia ser confundido com o de Gijón (Astúrias) ou de Charleroi (Bélgica). Assim, como está, é que não, é impossível escondermo-nos. Sessenta anos após Alexandre Baptista (que recentemente nos deixou) e outros briosos leões terem trazido para Portugal a Taça dos Vencedores das Taças. Ultrapassando a Atalanta pelo meio (desta vez. quatro tentativas não foram suficientes para conseguirmos uma vitória). 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres. Ele e Hjulmand estão a anos-luz de todos os outros no poder físico e qualidade e constância da decisão. Menção honrosa para Franco Israel. Os restantes largaram a letargia a partir dos 10 minutos finais, o que significa que perderam 80 minutos num ritmo muito baixo para o padrão europeu. 

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12
Mar24

Tudo ao molho e fé em Deus

Agricultura desportiva


Pedro Azevedo

Tenho-me batido neste blogue por uma sã cultura desportiva e como a sua existência em Portugal poderia catapultar o nosso futebol para outro patamar, o que nada nem ninguém me preparou foi para o tema da agricultura desportiva. Ainda assim, procurarei em diante estar em conformidade com o que ocorreu ontem no campo das cebolas de Arouca, cidade onde o Sporting plantou as sementes do que se espera ser o título de campeão nacional. Tratando-se de um campo de cebolas, a colheita será lá para Maio, restando perceber se ao descascá-las vamos chorar de tristeza ou de alegria. Eu acredito na aleg(o)ria. E em comê-los (aos rivais) de cebolada. 

Na antecâmara do jogo só dava Arouca. Nas televisões falava-se de um trio, de ataque ou de cozinha (descasca da cebola), temível. De Jason, Mugica e até de Cristo, o que sem dúvida era coisa para meter muito respeito. Ademais, ter Cristo do lado de lá, sem já haver Jesus deste lado para empatar, deixava em aberto a possibilidade de um milagre arouquense de multiplicação dos golos. Enfim, segundo os sábios, a perspectiva para o Sporting não se afigurava nada católica. 


Consultado o Borda d'Agua, constatei ser Março o mês ideal para semear cebolas, o que contrariava a ideia original de que seria mau deslocar-nos agora a Arouca. O Amorim também olhou para o famoso almanaque e forneceu logo as sementes. Ora, se o objectivo com as cebolas é sacar-lhes o bolbo, no futebol a nossa meta é libertar a potência do nosso Volvo. A cavalo da tecnologia sueca, pois claro, ou não tivesse o Gyokeres nascido na pátria dos ABBA. Como o Gyokeres é o sol, com ele as culturas desenvolvem-se viçosas. Vai daí, começámos logo a facturar. 


Com o campo muito pesado, o Quaresma não podia usar a sua óptima progressão com bola e arriscava-se a perdê-la algumas vezes. Inteligente, o Amorim substituiu-o pelo Inácio. Assim começou o segundo tempo, período em que tivemos melhor controlo do jogo. Mas como o controlo é ilusório e o tempo caminhava para o fim, o receio de levarmos com uma batata, plantada ao acaso num campo de cebolas, avolumou-se. Eis então senão quando o Catamo esfregou a lâmpada e soltou o Geny(o). Com o 2-0, pudemos por fim respirar de alívio. Quer dizer, pudemos todos menos os nossos Vikings, que ainda agora estariam a semear se não os tivessem tirado do campo a tempo. Em consequência, o Hjulmand roubou uma bola, o Gyokeres a dividida e o esférico voltou ao dinamarquês para acabar dentro da baliza do Arouca. Mesmo a tempo do anúncio do furacão Chega, que virou tudo à direita (espero que a "desVentura" não prejudique as colheitas). Cá por mim, pedia já um subsídio (afinal, é de agricultura que falamos, não é verdade?). 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres

 

07
Mar24

Tudo ao molho e fé em Deus

A Xerazade que nos acuda


Pedro Azevedo

Em teoria, o Sporting olha para as competições de futebol em que participa como um homem muçulmano para as 4 mulheres com que pode casar. O Islão permite que um homem se case com até 4 mulheres, mediante algumas condições, nada obstando porém a que se case só com uma. Para o Sporting, as "mulheres" também são 4. Chamam-se elas Primeira Liga, Taça de Portugal, Taça da Liga e Liga Europa, o que em teoria configura relações potencialmente polígamas e com forte envolvência de ligas ("comme il faut") entre as competições em que participamos. Porém, na prática, Amorim tem uma ideia diferente e aposta as fichas quase todas na monogamia, consequência da priorização que faz da Primeira Liga (ou será Primeira Dama?). O anúncio surgiu na véspera do jogo com a Atalanta e logo me deixou perante uma questão na cabeça: se a Liga Europa não é prioritária, por que é que o descobrimos agora, após 8 jogos anteriores em que desgastámos os jogadores, quando o número de jogos de que presentemente necessitamos para vencer a competição é menor do que os que disputámos até ao momento? Seria como um homem namorar 8 anos uma mulher e depois, à medida que o casal começa a discutir o casamento, ele descobrir que afinal prioriza outra - porque deveria um muçulmano priorizar uma mulher, podendo ter quatro? Não faz sentido, pois não? Se é para "matar" todas as competições menos a Primeira Liga, por que razão nos inscrevemos nesses certames? É como se Amorim fosse o Rei Shariar e Xerazade a única hipótese de salvação da nossa presença na Europa League. Caso contrário, andaremos sempre nesta coisa de casamentos por conveniência, para que depois cada competição vá sendo eliminada em nome da nossa potencial vitória na Primeira Liga. 

Foi com este pensamento que ontem me sentei em frente do televisor para ver o jogo. Embora também me interessasse ver o dia de campanha eleitoral, o Sporting sempre terá a minha prioridade de agenda não-familiar, ainda que para o Sporting nem todas as competições em que entre sejam uma prioridade. O que me induziu novo pensamento e algumas questões a mim próprio: faz sentido o que é uma prioridade para mim, não priorizar competições onde intervém? Ou seja, devo priorizar quem não prioriza o que me é dado ver, o objecto da minha paixão? O que será o jantar? A resposta às 2 primeiras questões foi sim, que a paixão não se discute ou se subordina à reciprocidade. Quanto à terceira pergunta, ela não teve propriamente resposta imediata. Foi só um momento de associação de sinapses (o Paulinho acabara de inaugurar o marcador), em que a propósito do Islão me lembrei de Maomé e da sua aversão ao porco, assim a modos como uma garantia de que o repasto não seria composto por lombinhos, escalopes ou medalhões, podendo ser essa a suprema ironia de uma priorização pessoal minha em colisão com a priorização que metaforicamente criei para o meu clube. Perceberam? Eu também não (ao Amorim). 

Caro Leitor, a primeira parte também não foi prioritária para o Sporting. Como consequência, levámos 1 golo, duas bolas no ferro e o nosso guarda-redes defendeu três bolas muito difíceis. Estava eu a pensar nisso quando me lembrei que esta crónica acabara de entrar no clássico da geopolítica, na medida em que teria de compatibilizar Israel com a metáfora do homem islamita e não permitir que de algum desconchavo entre personagens surgisse uma Faixa de Gaza para onde os Leitores se refugiassem desta crónica. Regresso assim ao Israel para dizer que uma das suas paradas de ontem só tem comparação na defesa de Banks perante Pelé ou no milagre que Damas fez perante a Inglaterra em plena "catedral" de Wembley (Defesa do Século). É que defender uma bola que nos vai a fugir e, para mais, bate no chão pouco antes da linha de golo, é tarefa só ao alcance de alguns predestinados. Pelo que se o Israel deixar de ter hesitações a sair da baliza, como se fosse um condenado e esse caminho o levasse ao Corredor da Morte, então o que mostra entre os postes e a jogar com os pés é mais do que suficiente para vos dizer que temos homem. Se o afirmo com alegria em relação ao Israel, é com pesar que o comunico em relação ao Gyokeres. É que termos homem não nos basta, nomeadamente quando antes nos convencemos de ter um deus. Só que o sueco ontem mostrou um traço de humanidade. Cansou-se. Esgotou-se. E nós não estávamos habituados (ou estávamos simplesmente mal-habituados). 

No segundo tempo voltámos a não conseguir impor o nosso jogo. Os inúmeros passes perdidos não permitiram que atingíssemos o ritmo certo a que estamos acostumados. O cansaço físico e mental de alguns jogadores limitou as linhas de passe, e sem desmarcações muitas bolas se perderam por falta de opções. Melhorámos porém na contabilidade do ferro, empatando 1-1. E até poderíamos ter ganho o jogo, o que não seria de todo justo, caso Geny tivesse levantado a cabeça e visto Gyokeres liberto ao segundo poste. Mas isso teria sido um cenário das mil e uma noites e a Xerazade não mora em Al Valade. 

Tenor "Tudo ao molho...": Eduardo Quaresma - à direita, à esquerda, a dobrar ao centro, a actuação de Quaresma foi uma parábola das melhores virtudes de cada partido que compõe o nosso espectro político quando se aproxima o tempo de reflexão após renhida campanha eleitoral. 

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05
Mar24

Tudo ao molho e fé em Deus

Um Domingo qualquer


Pedro Azevedo

Se há clube a quem o José Mota vende cara a derrota é o Sporting. Confesso que demorei anos a perceber a razão porque sistematicamente nos fazia a vida negra em Paços - o Rafael, que connosco pintava sempre a manta e curiosamente só teve sucesso por lá, ainda hoje me provoca suores frios -, mas um dia prestei atenção ao boné com que se apresentava em conferências de imprensa e fez-se-me luz, estava lá escarrapachada a resposta: a JCA Electrodomésticos deu-lhe de patrocínio uma varinha mágica. Só pode... No Leixões, substituiu o boné pela pinta de Beto (nosso antigo guarda-redes) e assim, fingindo-se um de nós, veio ganhar-nos a Alvalade. Em Setúbal já não foi Beto, mas sim Diego (o pai do Callai), o guardião. Resultado: perdemos de novo. E no Aves brindou-nos com uma versão sua de um romance do Camilo: o (J)amor de Perdição. Em troca, guardou a Taça para si. 

 

Com antecedentes assim, a que se podem somar as muitas dificuldades sentidas pela nossa equipa na primeira volta em Faro, é natural que eu tivesse pensado entrar para o jogo de ontem com um pé atrás. Quarenta e cinco minutos depois, enquanto ainda esperava pelo reboque que me levaria a viatura para a oficina, concluí que afinal entraria mesmo com os dois pés atrás(ados). Menos mal, o Flashscore dizia que estávamos a ganhar por 2-1... Sorri e fui à boleia ver o resto do jogo. A vantagem de certas contrariedades na nossa vida é que nos permitem relativizar as coisas. Por isso não sofri demasiado quando o Farense empatou ou o Paulinho entrou, embora este último seja a razão pela qual eu tenho uma fixação por mesas pé de galo, através das quais contacto com antepassados Sportinguistas que me falam do Peyroteo, do Vasques, do Martins, do Figueiredo ou do Yazalde. Ou contactava, porque agora o Gyokeres tira-me a ansiedade. [Sendo de Barcelos, aposto que o Paulinho sabe o que é um(a) pé (esquerdo) de galo.]

 

Na minha teoria da relatividade da bola, não era preciso ser um Einstein para perceber que a massa do Esgaio se deslocava a uma velocidade que estava nos antípodas do quadrado da luz, o que como é óbvio transmitia uma energia muito abaixo do esperado, que não atraía o resto da equipa nem os nossos adeptos. Eis senão quando ele recebeu um passe do Edwards, avançou e deu de bandeja para o Pote, no que foi o golo da vitória. Dando razão a Auguste Comte quando dizia: "Na vida tudo é relativo, e esse é o único valor absoluto". E assim, aquele que muitas vezes ficou aquém, ontem foi além. Transcendeu-se. 


Se o jogo com o Farense já me tinha deixado intranquilo, o final de Domingo confirmou o mau momento de forma do nosso Sporting. O canário na mina do carvão que nos deu esse sinal foi o Benfica, que, apenas 3 dias após ter perdido connosco pela margem mínima, levou uma lição de mão-cheia no Dragão. Nada disto ocorreu por acaso, não se deixam acasos ao acaso numa instituição que move tantos apoios nos corredores do poder e suscita o interesse de tantos filantropos. Não, o intuito do Benfica foi desmoralizar-nos, dar-nos a entender que somos uns fracotes. Minando-nos por dentro, fazendo-nos dúvidar do nosso potencial. Para depois largarem a pele de cordeiro e mostrarem as garras de águia. Então o lateral esquerdo será lateral esquerdo e não central, o ponta de lança será ponta de lança e não ala e o Herr Schmidt será um treinador e não um tipo de investidor que deixa 40 milhões parados no banco. É claro que o "mastermind" disto tudo é o "regista" Rui Costa, um homem do Renascimento, ou não tivesse ele passado longos anos em Florença e outros tantos com o Vieira, este último um período de que não se lembra quase nada (o que já em si é como nascer de novo para a vida). Agora finalmente sem o homem dos pneus, não obstante não deixar de querer um Good Year. (Não lhe chamem pneumático, que o homem deixa logo de ser fleumático.) 

 

E é neste tom carregado, caro Leitor, que me preparo para terminar esta crónica. Porque esta coisa de ir à frente faz sempre um Sportinguista desconfiar. Sim, um Sportinguista tem medo de ser feliz, assumamos. E depois apanha-se com um ponto, que podem ser quatro, à frente, vê o Adán com a capoeira fechada e começa a achar que isto não pode ser real. Belisca-se, debate-se com a realidade nua e crua. Pelo que para reduzir a ansiedade eu pedia já para antecipar a ida ao Dragão para a próxima jornada. Para irmos jogar para o zero a zero, com humildade. Ou então para perdermos por menos de 5. Só assim conseguiremos desenvencilhar-nos da armadilha em que o Benfica nos meteu e fazê-los provar do seu próprio veneno. Uma e outra e uma outra vez. Até que o ninho da águia abane e de lá caia um ovo em quem se possa totalmente confiar como parceiro deste peculiar negócio chamado futebol português. Sporting!!!

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Tenor "Tudo ao molho...": Pote

01
Mar24

Tudo ao molho e fé em Deus

Morita e o Momento da Verdade


Pedro Azevedo

As crónicas dos jogos sucedem-se de sequela em sequela a uma velocidade furiosa, mas sem Michelle Rodriguez a quem recorrer em caso de conspícua falta de inspiração. A ansiedade do autor aumenta, temendo que um dia destes uma delas bata na trave como o Paul Walker e/ou desapareça no firmamento ao som do I'll Be Missing You, do Puff Daddy, Diddy ou Sean Combs (o homem muda de nome mais depressa do que o diabo da agulha esfrega o olho ao vinil). Tenho pesadelos e procuro o conforto do sindicato, mas descubro que este ainda não foi constituído por divergência de conceitos entre bloguers, blogueiros e bloguistas, o que põe em causa os direitos de autor de posts de receitas de tarte merengada, de desconto no pêssego em calda ou simplemente de contrariedades e ansiedades verificadas ao nível do pipi, entre outros eméritos candidatos a Pullitzer residentes nesta comunidade cujo potencial desaparecimento é temido como uma das terríveis ameaças que se perspectivam para o futuro da humanidade. Resignado, abrevio o tempo com um penteado à Vin Diesel e acelero teclado fora. Três são as rotações que a Terra promete sobre si própria até ao próximo jogo (Farense) e eu também preciso de dar umas quantas voltas à minha cachimónia para que entretanto me saia um texto minimamente em forma de assim-assim. 

 

Um jogo com o Benfica tem a vantagem de automaticamente resolver o problema da falta de assunto. Desde logo pelos casos e casinhos que o envolvem e quase sempre o prolongam bem para lá dos simples 90 minutos. Analisemos então um desses casos pela pena do humorista Duarte Gomes: o lance descreve-se brevemente por ter havido uma carga fora de tempo, simultanemente nas costas e numa perna, do João Neves sobre o Pote, que Fábio Veríssimo não sancionou. Tendo a falta ocorrido dentro da área do Benfica, logo deveria ter sido marcado um penálti. Mas o Duarte tem uma opinião  diferente: "Pedro Gonçalves, com a bola à sua mercê, direcionou a sua perna direita para o lado, para a trajetória de corrida de João Neves. O contacto - absolutamente evidente (NA: é Neves que toca em Pote e não o seu contrário) - não resultou de ação faltosa do médio encarnado, mas daquela opção do avançado do Sporting". Ou seja, para o inefável Duarte Gomes há uma lei que deve inibir um interveniente do jogo de se cruzar com outro numa esquina da área deste, especialmente se este último estiver a deslocar-se a grande velocidade. Já sobre a velocidade empregue ter sido impruente ou negligente, termos esses, sim, que constam das leis, nem uma palavra, ainda que o abalroamento tenha sido uma realidade. Acontece que 1 minuto depois o Pote marcou mesmo de verdade. E olhou para o Veríssimo como quem diz: "Karma is a bitch!". Estás a ver, Duarte? [O Duarte Gomes sabe bem do que fala, ele que um dia cismou interpor-se na trajectória da bola entre Ricardo Peres, adjunto de Paulo Bento no Sporting, e Rui Patrício, durante o aquecimento antes de um jogo, para depois imediatamente direccionar o seu corpo na direcção de Peres, promovendo o contacto (peitaça), terminando a sua acção a advertir o treinador de guarda-redes com um cartão amarelo perante a indignação geral de quem assistia a tão elucidativa lição de arbitragem.]

 

O Sporting ganhou o jogo no meio campo, produto da acção conjugada do requintado "Tsubasa" Morita e do sobrequalificado operário Hjulmand, que, quais Garrinchas de ocasião, meteram a dupla de Joões do Benfica no bolso. Pelo que a razão para a eliminatória ainda estar em aberto deve-se à má definição de Pote, Edwards e Geny, que desperdiçaram ingloriamente imensas jogadas promissoras. E se não fosse Gyokeres, que deixou Otamendi no passeio a anotar a matrícula do camião que o atropelou, poderíamos estar a lamentar um resultado muito aquém da exibição produzida. Porque a qualidade individual de Di Maria chegou a ameaçar sobrepor-se ao superior colectivo Sportinguista, mostrando à saciedade as vantagens de ter um fora de série. 


Evidenciando a vã ilusão do que é o controlo do jogo, em duas jogadas praticamente consecutivas o Benfica empatou. Fazendo pouco ou nada para tal, ou simplesmente, tendo Di Maria para tal. Mas se Diomande ficou a dormir no primeiro, o VAR estava bem acordado e viu a interferência do jogador benfiquista em fora de jogo que tapou a visão do nosso guarda-redes, Israel, que no fim comemorou com a Faixa de Ga(n)za situada na Superior, mostrando que o Sporting é de facto um clube diferente e cheio de sortilégios que nos aquecem e enriquecem a alma. 


Tempo ainda para Nuno Santos voltar a surpreender-nos com um Puskas, mas uma vez mais o galardão ficará adiado. Depois de uma letra, trivela e lob, agora foi um pontapé à Karaté Kid, mas o Momento da Verdade (também tinha um Morita) ficou adiado possivelmente para a segunda mão (ou demão, que a vitória de ontem foi o primário). 

Tenor "Tudo ao molho...": Hidemasa Morita 

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