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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

29
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Once upon a time in the West Ham


Pedro Azevedo

Com a vitória sobre o... Vitória, o Sporting ficou muito perto do título de campeão nacional. A instabilidade anterior à entrada de Amorim em Alvalade pareceu longínqua no tempo e definitivamente erradicada, com os resultados tinha chegado a famosa tranquilidade com sotaquezinho espanhol (língua do nosso grande capitão Coates) que no passado, entre outros méritos,  até normalizara o risco ao meio do Paulo Bento. Até que aconteceu segunda-feira, não um dia a seguir a Domingo semelhante a outros 51 que ocorrem durante 1 ano, mas aquele em que Rúben Amorim apanhou um avião (o avião criou imediato desassossego, se tivesse sido visto em Tires a andar de bicicleta ou trotinete saberíamos que não iria longe). A caminho de Londres. Para ir tratar de presuntos, na zona oeste da capital inglesa. Confesso que não entendi o empolamento. Quer dizer, já todos conhecíamos a ambição europeia de Amorim, mas o meu receio foi que ele se tivesse metido num vôo para Estrasburgo, à boleia de ser cabeça de lista da AD para o parlamento europeu. Porque o mandato é de 5 anos. Mas não, felizmente não, tal como o Montenegro, eu confundi alhos com Bugalhos: o Amorim só tinha ido a Londres. E sobre o assunto não adianta serrar mais presunto (há um campeonato para vencer). Ainda se fosse um Pata Negra talvez valesse a pena, mas assim...

 

Bom, mas isso foi na segunda-feira, hoje o Sporting jogava no Dragão (Oeste por faroeste, antes o último, ainda por explorar). Pelo que lá fomos nós à procura do Henry Fonda e de outros mauzões, só que o Fonda já havia sido mandado para casa por uma multidão em repúdio através de um escrutínio popular. Como o Mau estava de fora, tomou-lhe o lugar o Vilão-Boas (mas isso é um outro filme). Não tivemos Bronson, o que (não) foi uma gaita, mas Cardinal(e) não estava na linha, o que deu para revitar distrações. Assim, ninguém ficou de beiço caído... Sem Bronson, o herói foi Gyokeres. Amorim ainda deu 60 minutos de avanço ao Porto, facto de que agora deverá estar arrependido. Foi um erro, uma asneira, ter Inácio fora de posição e uma ala esquerda coxa, assim como a ida de Diomande (desastrado) a jogo. Só que Gyokeres foi para dentro de campo, Quaresma também, Nuno Santos entrou à hora de jogo, todas as peças finalmente encaixaram e o Sporting melhorou imediatamente. Até lá, valeram Hjulmand e Coates, que evitaram o naufrágio e deram fôlego a Amorim para corrigir aquilo que estava errado. 

 

O jogo e a semana resumem-se numa frase/interrogação de William Blake: "Como saberes o que é suficiente, se não souberes o que é demais?". Amorim pisou o risco, teve uma dose dupla de aprendizagem e crê-se que tenha compreendido a lição. Ora, lição rima com campeão. E Portimão, cidade do próximo clube que nos visita. É para ganhar, claro, qual a dúvida? Somos o Sporting, a Oeste nada de novo...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Viktor Gyokeres

 

P.S. Força, meu capitão! As melhoras, Manuel Fernandes, e que no Marquês celebremos também a sua recuperação. 

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22
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Todos à Praça da Figueira


Pedro Azevedo

No dia seguinte ao do Benfica ter sido eliminado da Liga Europa pelo Marselha, o jornal A Bola, na sua edição on-line, fazia manchete com a notícia de que os encarnados haviam sido o clube português que mais pontos obtivera na Europa nos últimos 5 anos (não se pode deixar cair o Benfica, nem que para tal seja preciso recorrer ao jogo da malha ou ao chinquilho). Ou seja, quem ingenuamente pensou que o Benfica havia perdido, afinal veio a deparar-se com mais um retumbante êxito das águias (ou como um êxito pela porta pequena das competições europeias pode ser também um grande êxito em si mesmo). Pensei nisso na antecâmara do jogo contra o Vitória e de como um potencial triunfo nosso seria sempre infrutífero porque certamente o Marquês já estará reservado para a comemoração do quinquénio europeu benfiquista. [Acho que a isto se chama A Bola passar o lustro (meia-década) ao Benfica.]

 

Ainda que ofuscado pela gloriosa gesta europeia lampiónica, o Sporting recebia o Vitória, em Alvalade, a fim de consolidar a sua pretensão ao título (menor, quando comparado com o quinquénio europeu escarlate, mas ainda assim um título). Com o seguinte dilema prévio: se, por um lado, ganhar ao Vitória era fundamental para mantermos a cadência, por outro, uma vitória em cima de Vitória parecia uma contradição nos termos. Pensei maduramente nisso e no que Amorim diria no balneário à sua equipa e cheguei à conclusão de que para saírmos vitoriosos contra o Vitória teríamos de nos disfarçar de vitorianos. O Amorim pensou o mesmo e fomos a jogo equipados de branco. O Álvaro Pacheco é que não foi na conversa de assumir o jogo à Sporting e começou por pôr as barbas de molho, definindo uma estratégia que passava por cautela e caldos de galinha. A quente, como o caldo era deles, esses primeiros 20 minutos não foram canja para nós, mas depois, mais a frio, o Bragança teve uma boa jogada e a equipa acertou o ritmo. Até que novo desequilíbrio causado pelo Bragança na área deu a oportunidade ao Pote de visar a baliza: o Pedro peyroteou com categoria e adiantámo-nos no marcador. E sobre o intervalo, o Gyokeres dilatou a vantagem após uma triangulação que envolveu também Bragança e Pote e fez lembrar o Sócrates, o Falcão, o Careca e o Escrete dos anos 80. Em sequência, o Álvaro foi pensativo para o balneário. Quer dizer, a boina, de griffe Yves Saint-Laurent, já de si lhe dá um certo ar de parisiense, intelectual, criando a imagem de um ser introspectivo, alternativo, um artista do Quartier Latin quiçá com influências de Rimbaud e Baudelaire, mas agora era a pressão dos números (e não da baguete esmagada debaixo do braço) que o fazia reflectir. Serviu de pouco, porque logo aos 4 minutos do reatamento o Gyokeres bisou. O sueco não voltaria porém a marcar, algo que já não faz há precisamente 41 minutos ou 2460 segundos, mais até se considerarmos o tempo que mediou desde que acabou o jogo e a hora a que entrego esta crónica. Pelo que, à falta de um saudoso Albarran que lhe dê o devido acento, se espera pelo menos que os jornais de mais logo continuem a pegar no tema desta imperdoável abstinência goleadora. [Na retina porém ficou um inacreditável slalom (gigante) do sueco, digno de um Stenmark ou Girardelli, que infelizmente acabou em derrapagem e queda (tipo Tomba) na hora da conclusão. Brutal! E a mostrar que, se cá nevasse, o Gyokeres faria por cá ski.]

 

E assim estamos cada vez mais perto do título. Com o Marquês tomado por um Benfica a reboque de uma imprensa amiga que seca tudo à volta, o melhor será mesmo o Sporting ir comemorar para a Praça da Figueira, assim a modos de recuperação de uma parábola célebre de Jesus Cristo (Mateus 21:18-21). Recordando-nos de que ao mesmo tempo que secou uma figueira, Jesus alertou os seus discípulos de que a fé pode mover montes até ao mar. Como a fé de um Sportinguista, que não só move montanhas como será sempre recompensada em milagres. [Só mesmo um milagre explica termos sobrevivido a ASD, Pinheiro, Godinho, Veríssimo e, pior(!), ao impacto negativo no PIB nacional produzido por a "instituição" não vencer.]

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pote. Bragança, em versão Telé Sant'Amorim, seria a minha segunda opção e os centrais estiveram muito bem. Gyokeres voltou aos golos e Trincão produziu uma assistência pelo segundo jogo consecutivo.

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18
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Romances de cordel escarlate


Pedro Azevedo

Caro Leitor, o drama, a tragédia, o horror é que o Gyokeres está em crise. Eu explico: o homem já não tem uma acção decisiva para golo desde as 20:35 de ontem, e essa longa espera ameaça ser capa nos jornais desportivos de hoje. Mas, para nós, adeptos, ontem foi mais um dia no escritório para o sueco: recebeu a bola de Nuno Santos, deixou-a rolar para tirar logo um adversário do caminho, atraiu outro para a bola antes de tocar para Trincão, abriu uma auto-estrada para este dar a Pote ao levar consigo um terceiro defesa para o espaço. O que queriam mais? Que o homem comprasse a totalidade da nossa dívida pública? Pelo que nas estatísticas figurará que marcou Pote e assistiu Trincão, mas o golo foi 60% do Gyokeres. 

 

Uma capa de desportivo alternativa de hoje (bastante mais possível) será o Gyokeres não peyrotear há 5 jogos. Vejo isso com muito bons olhos. Primeiro, porque, desses 5 jogos, o Sporting venceu 4+1, sendo o +1 um empate que soube a vitória (qualificação para a final da Taça). Em segundo, na medida em que arrefecerá um suposto interesse do Liverpool: depois da Sky Alemanha ter noticiado que os Reds haviam entrevistado Amorim, os media portugueses já estavam a esfregar as mãos de contentamento para informar que a Sky Azerbaijão acabara de anunciar a presença de Gyokeres (e Varandas, por inerência) em Anfield para um colóquio sobre venda(vai)s. Agora que se consolem com as notícias da Sky Nazaré sobre o famoso canhão Esgaio, se este tiver algum interesse (eu creio que não) em nos trocar para ir "vender o seu peixinho" para o cidade dos Beatles. Enfim, nesta mixórdia, razão tinham os Salada de Frutas quando cantaram: "Sky nevasse, fazia-se Sky ski".

Esta coisa das fontes é curiosa. Como o facto da Sky inglesa, tão perto do Liverpool, recorrer à sua filial alemã para dar a caixa de Amorim ter sido alegadamente entrevistado. Será que o treinador fez escala em Frankfurt para comprar umas salsichas? Ou, em alternativa, andarão os media a encher chouriços? Em todo o caso, não me pareceu nobre. Ou Nobre, tendo em atenção os artigos em questão. Pelo que nesta coisa de fontes eu só confio na Luminosa e na Pereira de Melo. E se for só para "dar troco" à malta, então escolho a de Trevi. 

Gosto tanto de ver destruir preconceitos quanto gosto de observar o Bragança jogar. Se ter pelo menos um bom pé e capacidade física são condições sine-qua-non para se ser um jogador profissional de futebol, a partir daí joga-se essencialmente com o cérebro, sendo esse o topo da pirâmide de satisfação de Maslow de como um adepto vê um jogador de futebol. Pelo que o nível que o Bragança vem exibindo não surpreende, como nunca surpreende ver a inteligência contagiar positivamente tudo o que a rodeia. O que surpreende, sim, é ver o Bragança contrariar a sentença de Einstein de que é mais fácil desintegrar um átomo do que destruir um preconceito, mas o Braganca até podia ser físico nuclear, se quisesse.

 

Menos artístico na acção, mas em modo omnipresente, apresentou-se o Hjulmand. Sobre ele, Hans Christian Andersen escreveria um conto de fadas, se ainda fosse vivo. O homem é um colosso, um digno sucessor de Holger Danske, não deixando porém de mostrar uma sensibilidade no campo digna do seu compatriota Kierkegaard quando este pronunciou: "A vida só pode ser compreendida olhando para trás, mas só pode ser vivida olhando para a frente". Assim é ele, no seu vai-vem, que dá organização e vida ao jogo do Sporting. E depois há ainda que falar de Quaresma: com Diomande em modo complicativo, com passes para o hospital e falta de velocidade para segurar o flanco direito, no primeiro tempo o Chiquinho cresceu para Chicão. Até que entrou o Quaresma e o Chicão ficou assim pequenino que nem um Chiquinho. Para caber na algibeira do calção do jovem leonino. E ver-se obrigado a mudar de flanco. Uma última palavra para o Trincão, que trabalhou muito ofensiva e defensivamente (o que ele cresceu nesse aspecto) e apenas teve o senão de ter permanecido 15 minutos a mais no terreno de jogo, esgotado, provavelmente devido à desconfiança de Amorim no rendimento defensivo de Edwards. 

 

Para somar à seca de golos de Gyokeres, o Sporting não vence desde sensivelmente as 22:00 de ontem. Pelo que até ao apito do árbitro para o início da recepção ao Vitória passarão exactamente 118 horas e 30 minutos desde a última vez que o Sporting ganhou. Com tanto tempo de hiato, não se poderá chamar a isto uma crise? E o Benfica, ganhará moral, agora que o Sporting além dos golos do Gyokeres perdeu também o joker de ter um jogo a mais? Enfim, boas questões para serem desenvolvidas na imprensa da manhã (ou manha).

 

Tenor "Tudo ao molho...": Daniel Bragança

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13
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Em terra de galos, o leão foi quem cantou cedo


Pedro Azevedo

Ontem, o Sporting jogou em Barcelos. A equipa está com uma óptima dinâmica, legiões de adeptos seguem-na para todo o lado e cheira muito a título. Mas um Sportinguista desconfia sempre e nunca está totalmente confiante antes de um jogo. Mesmo com 4-0 ao intervalo põe-se logo a pensar num cartão amarelo que resulte em suspensão ou numa expulsão. É como se os nossos jogos se escrevessem no céu e o guionista escolhido fosse especialmente trocista, começando os filmes em apoteose para que terminem em desgraça, só para que o espectador possa por momentos acalentar a expectativa de sucesso. Tem sido quase sempre assim nas últimas 4 décadas. Não foi porém  o caso de ontem à noite, ainda que muitos anos a virar frangos nos ensinem que jogos com o Gil possam sempre dar galo. Mas não, não desta vez, o Sporting foi muito superior, peyroteou cedo e em profusão foi acumulando mais golos, pelo que pôde descansar com bola no segundo tempo a fim de melhor preparar a ida a um Famalicão que se espera ter sido devidamente estafado pelo Porto esta tarde. Não sei por isso se esta equipa do Sporting improvisa com tanta categoria que dispensa guionista ou se este aproveitou o bom tempo e foi a banhos celestes, o que é certo é que pude assistir ao jogo com uma sensação que já não tinha desde os tempos em que o Paulo Bento esgotou a palavra: tranquilidade.  

Duas óptimas notícias da noite foram os reaparecimentos de Morita e de Trincão ao mais alto nível. Houve também a confirmação do Daniel Bragança (o lance em que ele recupera a bola e depois progride com ela e assiste magnificamente Trincão deveria ser mostrado em looping aos discípulos de São Tomé que insistem no preconceito e não querem perceber o óbvio). E o Quaresma regressou ao onze inicial. Sobre o Quaresma é preciso dizer que fez 15 jogos como titular a partir do momento em que jogou com o Porto. Desses 15 jogos, o Sporting venceu 12, empatou 2 e perdeu 1 (Braga, Taça da Liga), médias ligeiramente superiores às que a equipa tem esta época. E o Sporting, com ele desde o início, conseguiu 8 "clean sheets", só sofreu 8 golos no total e marcou 47, médias muito melhores que as da temporada. Ontem fez mais um jogo competente. Entretanto, o Gyokeres trocou os golos pelo bola na barra (ou no poste), o que é muito mais difícil, exige maior pontaria e deveria valer mais pontos. O homem pareceu abatido, ele que é quem geralmente abate os adversários, e o caso não é para menos e exige os maiores cuidados do nosso Departamento Médico: é que o excesso de ferro provoca hemocromatose e isso pode danificar órgãos importantes. Por falar em órgãos, eles hoje tocaram a rebate nas capelinhas do Dragão, a anunciar desastre. Ver o Porto acossado por Braga e Vitória não é bom para nós, pois obriga-o a dar tudo para ganhar ao Sporting. E nós já temos problemas de sobra: uma pessoa nem consegue desfrutar da expectativa do título com tanta notícia de vendas. A perspectiva é de ver o Amorim, o Gyokeres e o Paulinho (o técnico de equipamentos) a cantarem o "You'll never walk alone" e nós a caminharmos sozinhos. Pelo menos a avaliar pelo que os media dizem. Teremos ainda clube na segunda-feira? E, mais importante, na terça? Estou expectante e com os nervos em franja. Será que teremos 11 para Famalicão ou perderemos por falta de comparência? Irão todos para a cidade dos Beatles? Let it be? With a little help from my friends? Enfim, um desassossego...

 

Até terça! Se houver jogo. E crónica (para o caso do cronista também ir a caminho de Liverpool)...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Trincão

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07
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Geny ao volante do Chapa do título


Pedro Azevedo

O William Blake, que foi um poeta e filósofo importante do Século XVIII, escreveu um dia que há o conhecido, o desconhecido e no meio estão as portas da percepção. Com esta afirmação, o escocês pretendeu estabelecer uma fronteira entre a realidade e a sua percepção. Sendo certo que muito do que é conhecido é real, nem tudo o que é desconhecido só por isso deixa de ser real. Pelo que por vezes aquilo que algumas pessoas dão como real é apenas uma percepção que têm da realidade, não tendo necessáriamente de ser a realidade. Aliás, com a perda de independência de alguns media, os opinion makers enviezados e o spin da comunicação assente em agências, talvez nunca como hoje a realidade tenha estado tão longe da percepção que as pessoas fazem dela. 

 

Vem o arrazoado acima a propósito do Sporting-Benfica da noite passada. Na antecâmara do jogo, os analistas discutiam quem poderiam ser as figuras do derby. Do lado do Sporting falava-se de Pote, Gyokeres, Morita e Hjulmand, do Benfica emergiam Di Maria, Rafa, Aursnes e João Neves. Uma infinitésima parte eventualmente terá mencionado Daniel Bragança, ninguém (a não ser talvez em Moçambique) referiu Geny Catamo. No entanto, os dois foram decisivos para a vitória do Sporting. E no caso do Geny, mesmo em Moçambique, quem apostaria 1 cêntimo na probabilidade de este resolver o jogo com um remate de pé direito? Ninguém, porque a percepção das pessoas era de que ele só teria pé esquerdo e o direito só serviria para subir num Chapa. A realidade porém é que o Geny marcou com os dois pés. E deu o triunfo aos leões. Sendo que o golo do Benfica foi obtido por Bah, que até aí só tinha marcado um em toda a época, outro jogador improvável. Com o Bragança há mesmo uma dissonância entre a percepção e a realidade que vai muito além do mero cálculo probabilístico: o Dani é visto como um jogador macio, o que é uma reminiscência de um passado que não dá espaço para contemplar a natural evolução de qualquer ser humano. (Quando um actor como Ronald Reagan foi eleito como presidente dos EUA, as pessoas dividiram-se entre as que percepcionaram que a sua carreira anterior o havia ajudado nesse faz de conta essencial à política e os que acharam ainda mais extraordinário um actor canastrão se ter feito eleger para o cargo mais importante do mundo.)

 

A percepção dominante sobre Roger Schmidt também não deixa de ser surpreendente. Na época passada, durante muito tempo, o Benfica passou por cima dos seus adversários. Liderou a Liga desde o início até ao fim e chegou aos quartos da Champions. Além disso, a equipa sempre jogou um futebol vistoso. Mas o fim de temporada foi menos exuberante que o seu início e essa foi a imagem que permaneceu na cabeça das pessoas. Pelo que o treinador entrou pressionado nesta época e assim continua, entre acusações de mexer pouco na equipa e uma outra curiosamente conflitante com a primeira: a de que troca muito de ponta de lança. A verdade é que se mexeu pouco na equipa tal deveu-se a ter colocado quase sempre os melhores em campo. E se trocou muito de ponta de lança, está à vista de todos que nenhum dos pontas de lança dos encarnados é suficientemente bom. Sabendo-se que o treinador benfiquista não é totalmente responsável pelas aquisições, se calhar a percepção que os adeptos têm sobre o treinador deveria transferir-se para o presidente, mas na realidade é Schmidt quem paga as favas (que são verdes). 

Cono é fácil criar uma percepção, logo os jornalistas acenaram com o facto - o drama, a tragédia, o horror - de o Gyokeres não marcar há 3 jogos. Ainda que a realidade nos mostre que este continua vivíssimo da silva, explorando o espaço e simultaneamente ligando o jogo como pivô como antes nenhum ponta de lança do Sporting, e que só por manifesto azar e sortilégio dos ferros não bisou no conjunto dos derbies. Pelo que temo que a realidade se venha rapidamente a impôr à força a esses jornalistas e o sueco continue a ser instrumental na nossa gesta com destino ao título. Busca que hoje foi conduzida por Geny, o geny(o) da Lâmpada (para contrapor ao génio do Pote) ao volante de um Chapa moçambicano, autocarro onde todos andam de mãos dadas para não saltarem fora. Como é o caso dos jogadores do Sporting no que diz respeito ao título. 

Tenor "Tudo ao molho...": Geny Catamo ("O Nambauane"), secundado por Daniel Bragança e o grande capitão Coates. No plano negativo, Morita apresentou-se fora da forma, sem arranque e aquele controlo das situações que o caracteriza, e Inácio esteve bastante mal, mostrando imensas dificuldades em parar um jogador alto, louro e percepcionando como tosco (Tengstedt) que ontem lhe deu água pela barba ao se posicionar sobre o lado esquerdo da defesa do Sporting. Matheus Reis uma vez mais foi induzido a marcar o adversário errado e deixou novamente Bah sozinho.

 

P.S. Os meus parabéns aos nossos Leitores Sol Carvalho e José Pimentel Teixeira (emérito bloguista e autor do recente "Torna-Viagem", livro que não devem deixar de comprar, à semelhança de "Quatro Desafios de Escrita!", do igualmente emérito bloguista e nosso Leitor José de Xã), que neste momento certamente sentir-se-ão duplamente satisfeitos pela vitória do Sporting e contribuição decisiva de um jovem moçambicano. Haverá festa rija em Moçambique e esse é um efeito que só o futebol proporciona e deveria ser aproveitado por clube e país.

 

P.S.2. A percepção da realidade que o Artur Soares Dias teve do soco do Di Maria no Pote foi menos violenta do que a percepção com que ficou de os Super Dragões alegadamente lhe poderem vandalizar a pastelaria depois de uma certa visita à Maia. Porém, na realidade, aparentemente só a primeira se verificou, o que demonstra que a percepção muitas vezes não corresponde à realidade (ainda que haja VARs que nem perante a realidade cumpram o protocolo, perguntando-se então qual a sua utilidade e se essa passa pela criação de uma realidade alternativa).

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03
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

As confissões de Schmidt


Pedro Azevedo

O futebol português tem várias tradições. Entre as que motivam um maior culto, destacam-se os xitos, quinhentinhos, cafés com leite, fruta e até mesmo as cavas em túneis. Outra tradição igualmente muito estimada, e do amplo conhecimento do seu treinador, é a de o Benfica, na hora do aperto, jogar contra 10. Ontem voltou a acontecer. O inusitado é que por uma vez tal não ocorreu por influência dos homens do apito. Não, foi mesmo o Sporting que foi a jogo com menos 1. Ou melhor, o Trincão autoexcluiu-se: enquanto os restantes 21 jogadores andavam à volta de uma bola, o Trincão andou aos toques em outra. Tal como o magala na tropa, sempre de passo trocado, sem nunca suspeitar que era o único que levava a bola errada. Por isso, não concordei com o Ruben Amorim quando no fim disse  que não tivemos jogo entre-linhas. Porque a bola chegou lá, a esse espaço, o problema é que tivemos um Trincão que voltou a ligar o complicómetro de 2023, que tudo aferrolhou, agrilhoou, fechou a cadeado. Em suma, foi um trincão, sim. Mas das Chaves do Areeiro. Ainda assim, o Amorim manteve-o 90 minutos em campo. Não por não ter visto o que todos vimos, mas por um "statement": como clube conservador que somos, connosco as tradições são para manter. E se não há uma "ajudazinha" dos árbitros ao rival, então dá-se um retoque do tipo Restaurador Olex, ou seja, uma bola só para o Trincão, para ele pôr os olhos no chão, não a passar a ninguém e acabar inevitavelmente por a perder, e finge-se que se joga naturalmente com 11. No fim, o orgulho: jogámos 90 minutos em inferioridade numérica na casa do rival e ainda assim sacámos um empate que valeu uma qualificação para o Jamor. Haveria melhor "mind game" ou factor mais desmoralizador para o adversário na antecâmara do match-point de Sábado? Claro que não. Mas, atenção: no Sábado temos de jogar com 11. Onze onde se pode incluir o Trincão. O de 2024, bem entendido, não o que ontem foi reviver o passado ao Estádio da Luz.

 

Por cada Trincão que cair, um Bragança se levantará. Foi com este mote, recriado do filósofo António Oliveira, que o Sporting se adaptou ao jogo e graças e ele não ficou apeado no intenso tráfego que se fez sentir ontem à noite na Segunda Circular. Porque foi o Daniel que assegurou os mínimos de circulação que evitaram a nossa morte por asfixia. Fornecendo o oxigénio que permitiu à equipa respirar e até ousar cortar a respiração ao adversário. Como no lance do segundo golo, quando encontrou Geny para o 1x1 contra Aursnes. Bem acompanhado pelo Hjulmand, que marcou um golo de bandeira e soube atrair a pressão nem sempre eficaz do Benfica para libertar companheiros sem oposição. Pelo que o problema surgiu a partir daí e não devido aos nossos meio-campistas. 

Se a solução tantas vezes testada a aprovada é pôr a bola em Gyokeres, não se entende porque deixámos tantas vezes o nosso melhor jogador sem bola. Mas com um interior adaptado como Paulinho, mais eficaz em tabelinhas perto da área, e outro, de espectro mais largo, completamente "fora dela", o sueco só apareceu na sequência de bolas perdidas a meio-campo ou de passes de longa distância como aquele em que St Juste o visou e acabou em golo. Ainda assim, na retina ficou aquela arrancada em que deixou dois pelo caminho e terminou com uma paulada na bola que a esta hora ainda deve estar a abanar o poste da baliza do Trubin. 

Não creio que as alterações ao intervalo tenham tido uma influência significativa na melhoria da nossa exibição ou sequer que a nossa exibição tenha melhorado por aí além. Até porque onde se deveria mexer não se mexeu, talvez por falta de confiança no Edwards actual (o de Bérgamo). E é preciso não esquecer que do outro lado não estavam 11 bidões. Não, havia um Rafa, um Di Maria, um Aursnes e, principalmente, um super João Neves. E o Schmidt, com a corda na garganta, confessou os seus pecados anteriores e desta vez ajudou a sua equipa. Pelo que o resultado do jogo, que não o da eliminatória, acabou por ser lisonjeiro, para tal contribuindo a elasticidade de Israel entre os postes, guarda-redes que curiosamente se sente melhor como um prisioneiro em solitária, enquadrado apenas por dois postes e uma barra, do que em cada saída precária. 


Quanto a Roger Schmidt, a Taça já se acabou, pelo que entre o campeonato e a Liga Europa que seja esta última a dar-lhe o balão de oxigénio de que precisa para ainda respirar. Assim saibamos nós ser competentes.

Tenor "Tudo ao molho...": Daniel Bragança

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