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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

07
Mai20

Pergunta a Frederico Varandas


Pedro Azevedo

Segundo o que declarou em entrevista, Bruno Fernandes foi vendido por 65 milhões de euros (sic) e hoje valeria muito menos (20, 30 milhões...), narrativa que faz de si uma espécie de oráculo da catástrofe, capaz de antecipar e prever a ocorrência da Covid-19, tudo, certamente, mérito da sua gestão e nada atribuível ao factor sorte (que aceito também ser importante e não menosprezo) e a necessidades de tesouraria ou de prencher um défice de exploração (sem venda de jogadores) substancial. Nessa mesma linha de pensamento, atendendo a que na sua gerência o senhor gastou cerca de 50 milhões de euros na compra de 15 jogadores, a que acrescem salários anuais que decorrem da duração de cada contrato, perfazendo um investimento total que não andará longe dos 100 milhões de euros, gostaria de lhe perguntar quanto vale hoje esse investimento? 20, 30 milhões de euros? E, já agora, qual foi o custo de oportunidade de não ter havido aposta em mais jovens jogadores, tais como Domingos Duarte, Matheus Pereira, Mama Baldé (oferecido) ou Matheus Nunes (aquele que o senhor inclui num lote de jogadores com 17/18 anos e já completou 21 anos)? E dou de barato a compra de Ruben Amorim por 10 milhões de euros (mais 3 milhões de euros de salários anuais, segundo foi noticiado), treze dias antes da declaração do Estado de Emergência e menos de 1 semana antes da paragem da Primeira Liga, o que para um oráculo convenhamos que não foi uma grande profecia de curto-prazo. Venha então a tão propalada aposta na Formação (que apoio totalmente e espero não estar dependente nunca de conjunturas e ser estratégica). Pena é a qualidade superlativa que melhor a permitiria enquadrar já praticamente não estar entre nós, excepção feita a Mathieu e Acuña, após desnecessárias aquisições no mercado (que objectivamente não fazem a diferença face a jogadores da nossa Academia) nos terem obrigado a vender os melhores jogadores. Porque o Sporting nasceu para ganhar (tal como o Manchester United que contratou Bruno), não para ser um "trader" no mercado de jogadores de futebol. E ir ao mercado tem de ser cirúrgico (de cirurgião plástico) e obrigatoriamente significar acrescentar qualidade. Qualidade, não banalidade. 

 

P.S. Segundo comunicação oficial, Bruno Fernandes foi vendido por 55 milhões de euros mais cinco objectivos específicos de cinco milhões cada. Foi ainda paga uma comissão de 10% e há divergência de opinião sobre se a Sampdoria tem direito (ou não) a 10% do valor da transferência. 

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06
Mai20

Problemas que são soluções


Pedro Azevedo

Frederico Varandas vê um problema na previsível diminuição do valor das transferências (entrevista de hoje à SIC), porque estas actualmente representam cerca de 50% das receitas das SAD (como se isso fosse um modelo sustentável...). Ora, eu vejo isso como uma solução divina, na medida em que se o nosso presidente não tem a capacidade de fazer aquilo que tem de ser feito, então que as circunstâncias o obriguem a fazê-lo. A Sporting SAD não deve ser uma trader de jogadores, ela é tão só um instrumento criado por um clube que nasceu para ganhar. Para que tal aconteça e seja merecedor do lema do seu fundador - "tão grande como os maiores da Europa" - nada melhor do que um "back to basics". O clube tem de aprender a optimizar a sua Formação, formar uma equipa competitiva com recurso anual a 2-3 jogadores externos que tenham um impacto imediato, eliminar os desperdícios em banalidade e reorganizar-se para que daqui a 2-3 anos possa estar em condições de lutar de igual para igual com os outros 2 grandes. Algo que, aliás, já fará com 2 anos de atraso, a partir do momento em que ficou claro que estaria fora da Champions. Essa é a verdade que os Sportinguistas precisam de ouvir. E, já agora, citando Dadá Maravilha, um dos 5 avançados brasileiros com mais de 1000 golos na carreira, "não me venham com a problemática que eu tenha a solucionática". Tenham juízo! 

05
Mai20

Opinião: Nuno Saraiva


Pedro Azevedo

Num artigo de opinião no Record, Nuno Saraiva deixa algumas importantes pistas para o futuro. Aqui ficam excertos das principais ideias do nosso antigo director de comunicação:

 

  • "Há um único caminho possível em matéria de política desportiva e uma única estratégia de comunicação aceitável para enfrentar os próximos anos";
  • "A Formação do Sporting, na próxima época, tem de ser encarada por todos como uma oportunidade e nao como uma fatalidade";
  • "Mesmo não havendo petróleo, há talento em Alcochete. Se não apostarmos nele, jamais o conseguiremos comprovar";
  • "Em nossa casa, ou espalhados pelo mundo, temos ovos para somar à omelete de experiência de outros";
  • "Jogadores como Luís Maximiano (hoje titular indiscutível), João Palhinha, Francisco Geraldes, Daniel Bragança, Ivanildo Fernandes, Diogo Sousa, Rafael Barbosa, Leonardo Ruiz, Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio, Nuno Mendes, Matheus Nunes, Dimitar Mitrovski, Joelson Fernandes, Diogo Brás, Pedro Mendes ou Pedro Marques têm de ser vistos como o nosso investimento e os nossos maiores reforços";
  • "É fundamental regressar ao tempo pré-Academia, em que os miúdos eram bem tratados no centro de estágio que existia por baixo das bancadas do velhinho e saudoso Estádio José Alvalade, e em que os treinos aconteciam no pelado. Nesse tempo todos queriam jogar no Sporting e foi dessas fornadas que saíram os Cristianos, os Figos, os Futres, os Quaresmas ou os Nanis";
  • "Temos de voltar a formar homens e atletas de excepção. (...) Do que precisamos é de ter novos Aurélios";
  • "Seja quem for Presidente do Sporting Clube de Portugal não pode seguir uma política de comunicação que sirva para iludir e enganar os sócios e adeptos, com frases feitas e chavões mobilizadores. Não! O que é preciso, repito, é ter a coragem de falar VERDADE, por mais dura e dolorosa que ela seja";
  • "Aquilo que pode e deve ser prometido é trabalho, empenho, compromisso e esforço para atingir um objectivo que é o único que, realisticamente, pode ser atingido: assegurar um lugar na edição de 2021/22 da Champions";
  • "(...) Isto é o princípio de um caminho. Porque eu acredito que este clube é viável e que tem futuro".

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03
Mai20

Mudar de paradigma


Pedro Azevedo

Há um pecado original em toda a concepção do futebol do Sporting que passa pela ideia enraízada na SAD de que a venda de jogadores é uma actividade corrente e não extraordinária, algo que tem sido assumido tanto por Frederico Varandas como por Salgado Zenha. A forma como isso tem sido transmitido não se destina apenas a tirar relevo ao facto do défice de exploração sem venda de jogadores ser alarmante no cenário de progressivo enfraquecimento do valor do activo intangível (plantel), mas constitui essencialmente um erro conceptual que tem implicações negativas a vários níveis.

 

O objectivo de formar deve estar sempre acompanhado do objectivo de desenvolver. Ora, eu não consigo desenvolver algo que já vendi prematuramente. O objectivo do Sporting deve ser sempre o de ganhar campeonatos. São as vitórias na competição mais importante do calendário nacional que dão palmarés, prestígio nacional e internacional e garantem qualificações para a fase de grupos da Champions e concomitante aumento de proveitos (receitas). A vantagem de investirmos na Formação é virmos a ter jovens de qualidade no plantel. Essa base evita idas desnecessárias ao mercado que acarretam um custo de aquisição, comissão a agente do jogador e custos fixos anuais com salários, fiscalidade, seguros, etc. Como o custo de aquisição não entra pela totalidade na Demonstração de Resultados, mas sim em amortizações (o custo é dividido pelo número de anos de contrato), o impacto é relativamente reduzido o que parece motivar as transferências. Acontece porém que o custo anual entra na DR e cada má aquisição vai empolar os Custos com Pessoal e, por inerência, os Gastos Gerais. Outra coisa é o efeito em termos de tesouraria, que tem a ver com o prazo de pagamento acordado com o Fornecedor (clube vendedor), geralmente até 1 ano, onde o custo do salário mensal bruto também produz efeito. E quando não há dinheiro e se recorre ao financiamento, crescem os custos financeiros que também irão pesar no Resultado do exercício. 

 

Mas, voltando à Formação, quando o presidente diz abertamente que a ideia é formar e vender está a laborar num erro. A ideia deve ser formar e ganhar, mesmo que recorrendo também ao mercado para se ir procurar a qualidade que pode faltar. Para além de que esta ideia errada cria na mente do jovem jogador a percepção e ansiedade de que pode vir a sair em breve. E quando essa expectativa sai gorada, acaba por pressionar a SAD no sentido de que o vendam, pois desde cedo, mais do que interiorizar como realização pessoal e profissional jogar na equipa principal do Sporting, projectou no seu imaginário a saída para o estrangeiro.. Não creio que tratar publicamente um jogador como mera mercadoria produza qualquer benefício em termos de Cultura Sporting, da nossa alma e identidade, pelo que deveremos repensar tudo isto. Caso contrário, os sócios e adeptos continuarão a queixar-se da pouca ligação afectiva dos jogadores ao clube, esquecendo-se que em muitas situações foi a nossa gestão, um acto nosso, que conduziu a isso. Sem olvidar que muitas vendas prematuras de pérolas da nossa Formação acontecem porque entretanto se gastou dinheiro desnecessariamente em jogadores que só vieram acrescentar à conta de exploração da SAD.

 

Finalizando, acredito num projecto sustentável com custos controlados, eliminação de gorduras estéreis e músculo proveniente de fibras jovens da nossa Formação e jogadores de qualidade indiscutível importados do mercado. O middle-market é a nossa ruína e deve ser erradicado. Não é sustentável gastar 50 milhões de euros num ano em 15 jogadores que não fazem objectivamente a diferença, quando se deveria cirurgicamente (mas com bisturi de cirurgião plástico e não de talhante) comprar 2-3 jogadores de 10 milhões de euros que efectivamente produziriam a diferença e transformariam a equipa para melhor. E ir ano a ano reforçando essa qualidade nos mesmos moldes, de forma a termos uma equipa competitiva e capaz de se bater de igual para igual com os nossos concorrentes no prazo de 2 anos e sem estrangulamentos de tesouraria. Menos quantidade e mais qualidade, menos desperdícios e mais atenção ao que formamos, evitando vender prematuramente jogadores que nos poderão dar outro rendimento (desportivo e financeiro) depois de convenientemente desenvolvidos, essa seria a minha solução. 

 

P.S. O Sporting nasceu com o objectivo do sucesso desportivo. Portanto, é sobre a política desportiva que temos de nos debruçar primeiramente. Resolvida esta, os resultados desportivos virão, as finanças ficarão equilibradas e a Cultura Sporting será restaurada. Isto não pode ser confundido de forma alguma com a ideia que o nosso negócio é compra/venda de jogadores, o que será quanto muito um meio, nunca um fim, e não deve ser o nosso "core business". O crescimento das receitas deve ser proveniente dos títulos, participações na Champions e da união que se conseguir criar na família leonina. Outro tipo de receitas devem sempre ser vistas como extraordinárias, por muito que o facto de estarmos num país periférico obrige a vender um ou outro jogador. Mas que tal decorra de ser bom para o jogador e para nós, não por estarmos em estado de urgência.

29
Abr20

Uma nova visão sobre o futebol europeu


Pedro Azevedo

Há uns tempos atrás falei-vos aqui sobre a minha visão para a reformulação dos campeonatos em Portugal, hoje gostaria de abordar aquilo que na minha opinião deve ser feito a nível das instâncias superiores do futebol europeu a fim de não se matar a galinha dos ovos de ouro. A nível do futebol, o que a situação pandémica a nível mundial trouxe à evidência foi que a maioria dos clubes não estava preparada para um choque sistémico. Na verdade, primeiro devido à conjugação da Lei Bosman com o fim da limitação do número de estrangeiros em diversos campeonatos europeus, depois devido ao novo modelo de distribuição de dinheiros da Champions, é público e notório que a assimetria entre clubes aumentou. E isso não se processou apenas entre os tradicionais clubes grandes e pequenos. Clubes outrora com grande história no panorama europeu, como o Ajax (o caso paradigmático do pequeno milagre da optimização da Formação conjugado com uma criteriosa acção no mercado que ainda lhe vai permitindo aparecer nos grandes palcos de quando em vez), PSV, Feijenoord, Anderlecht, Estrela Vermelha, Partizan, Steaua Bucareste, Celtic, Saint-Étienne ou os nossos Sporting, Benfica e Porto, são hoje pequeno peixe à mão dos novos tubarões do futebol europeu que curiosamente não são detidos por autóctones. Oligarcas russos e do médio e extremo oriente tomaram conta de clubes como o Chelsea, o Manchester City ou o Paris Saint Germain e dotaram-nos de orçamentos que até os colossos Real Madrid, Barcelona, Juventus, Milan ou Bayern Munchen têm dificuldade em acompanhar. Os clubes de países periféricos, que antigamente conseguiam manter por muitos anos os seus melhores jogadores e assim ser competitivos na Europa, transformaram-se em clubes que formam para vender ou, simplesmente, em interpostos de compra/venda de jogadores. De forma a serem mínimamente competitivos quase todos vivem acima das suas possibilidades, com enorme alavancagem dos custos face aos proveitos gerados. Ficam por isso muito dependentes das suas convicções sobre a Formação, ou do acerto (ou não) das escolhas no mercado de transferências. Logicamente, em casos em que a política desportiva é má, o caos fica iminente. Os empresários de jogadores lucram devido à rotação dos negócios; os clubes apenas sobrevivem, ligados à "máquina" e incapazes de respirarem por si. Tudo isto concorre para a pouca sustentabilidade do negócio do futebol, o qual precisa de ser repensado de uma forma que permita que se produza uma desalavancagem sem ainda maior perda de competitividade global de uma série de clubes que hoje em dia constituem uma classe média do futebol europeu e que a este são vitais pela dimensão social de adeptos e paixão que acarretam para o jogo. Simultaneamente, esta classe média europeia de clubes deve ser apoiada por mecanismos de compensação que lhe proporcionem proveitos de forma a protegê-la de uma desregulação, dir-se-ia selvagem, do sector que está a provocar grandes desequilíbrios. Eis portanto algumas ideias que deixo para discussão:

 

  1. Regra UEFA e das Ligas domésticas: os planteis só podem conter 20 jogadores. Isso trará imediatamente 2 benefícios: a) os clubes grandes não poderão secar o mercado e jogadores outrora inacessíveis poderão surgir em equipas médias; b) recurso obrigatório a jogadores da Formação (sub-21) para compôr o plantel;
  2. Regra de cada campeonato: limitação do número de estrangeiros por equipa (apesar da livre circulação comunitária, o exemplo inglês da Premier League mostra que se pode condicionar por determinados critérios a inscrição de jogadores estrangeiros) ;
  3. Regras de acesso à Fase de Grupos da Champions que não discriminem tão negativamente os campeonatos fora dos "Big Five";
  4. Nova distribuição de receitas da Champions. Tem havido muita pressão dos clubes grandes sobre a UEFA com a ameaça da Superliga Europeia. Mas os clubes grandes vão rapidamente entender que se secarem tudo à sua volta vão ficar sem o filão dos pequenos/médios clubes para os abastecer. Se só os clubes grandes resistirem, os custos inflacionar-se-ão e isso exponenciará a alavancagem até níveis que criarão um enorme risco de falência aquando de inversões de ciclo económico;
  5. Fundo de Sustentabilidade: a UEFA deverá aproveitar esta crise sanitária para promover um maior equilíbrio no futebol europeu, distribuindo mais dinheiro por federações europeias pertencentes a países de menor dimensão económica;
  6. Campeonatos periféricos europeus com melhores jogadores e equipas atrairão mais patrocinadores e um valor maior dos direitos centralizados de TV. 

 

Enfim, o espaço de um Post coaduna-se pouco com uma longa dissertação, pelo que hoje ficar-me-ei por aqui. Voltarei em breve com mais ideias para discussão. 

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26
Abr20

Pior a emenda que o soneto


Pedro Azevedo

O diário desportivo O Jogo na sua edição de ontem diz, refugiando-se em fontes do Sporting, que a razão do não-pagamento de Ruben Amorim se deveu ao não-recebimento do valor da transferência de Bruno Fernandes. Segundo o jornal, o Sporting apenas receberá o dinheiro referente à venda de Bruno Fernandes em 2021, em 4 tranches de 13,75 M€. Ora, ciente disso a SAD terá tentado antecipar os 55 M€ de valor global da transferência, recorrendo a uma entidade financeira alemã para realizar a operação de factoring. Acontece, segundo ainda O Jogo, que devido ao Coronavírus, a entidade alemã terá recuado no seu propósito de realizar a operação, pretendendo agora apenas adiantar metade do valor.

 

Leio a notícia e fico aturdido. Em primeiro lugar, não é compreensível que uma sociedade que luta diariamente com problemas de tesouraria estabeleça um contrato de venda do seu jogador mais representativo em que os recebimentos ficam adiados para o ano seguinte (recentemente um diário desportivo garantia que em Março tínhamos recebido 13,75 M€ do Manchester). Aliás, não conheço uma operação de contornos semelhantes a este na actividade da SAD. Em segundo lugar, não se entende que tendo a transferência ocorrido em Janeiro a SAD não tenha concluído em tempo útil, antes do aparecimento do confinamento provocado pelo Covid-19, a operação de factoring (antecipação de receita), emergência acentuada pela decisão de contratar Ruben Amorim por 10 M€ (oficializado no dia 5 de Março). Recordo que o Estado de Emergência foi declarado em Portugal no dia 18 de Março. Em terceiro lugar, depois de após uma entrevista de Salgado Zenha ter ficado insolitamente a ideia de termos enganado o Manchester, fazendo-o pagar mais do que deveria por um grande jogador como Bruno Fernandes (com uma cláusula de rescisão de 100 M€), somos agora informados de que ao valor de 55 M€ deveríamos descontar os custos da antecipação desse proveito. 

 

Mais uma vez o dia-a-dia do Sporting parece envolto em meias-verdades. Esclarecimentos na primeira pessoa raramente existem, apontando os jornais quase sempre para fontes não identificadas ligadas ao clube quando se trata de justificar algum acto de gestão. No outro dia era a informação em A Bola de que tínhamos cortado 20 M€ em custos em 2 anos, algo que os R&C desmentem, ontem esta notícia de O Jogo que parece querer justificar o não pagamento da transferência de Ruben Amorim. É caso para dizer que tem sido pior a emenda que o soneto. Aguardemos pois pelo R&C de Março para sabermos mais sobre a transferência de Bruno Fernandes e vermos o que está inscrito na rúbrica de "Clientes" (Dívida de terceiros à SAD do Sporting).

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25
Abr20

Sporting no fio da navalha


Pedro Azevedo

Anda muita gente a viver da ilusão de ajudas estatais a pessoas e empresas que se expressarão pela emissão de dívida. O problema é que se as economias europeias não crescerem rapidamente, de uma forma que permita absorver o valor da dívida emitida, então os impostos vão continuar a crescer (a alternativa é a inflacção e as altas taxas de juro), reduzindo assim o valor da poupança. A dificuldade de entendimento europeu quanto à emissão dos Coronabonds (Eurobonds europeus de rating AAA) também não ajuda, na medida em que não havendo entendimento cada país ficará por sua conta e risco, ou seja, entregue ao seu rating soberano. Nesse sentido, apesar das compras de dívida da zona euro protagonizadas até agora pelo BCE (71 mil milhões de euros), os juros da dívida portuguesa a 10 anos já subiram cerca de 0,8% desde que começou a pandemia, ficando à consideração do Leitor quais seriam os níveis actuais da mesma caso o banco central europeu não estivesse a intervir no mercado.

 

Ora, é perante este condicionante externa ao seu negócio que o Sporting terá de viver nos próximos tempos, sabendo que qualquer emissão de obrigações terá um prémio de risco muito elevado e que dada a conjuntura não é de todo de esperar qualquer alívio da carga fiscal que incide sobre as remunerações dos jogadores de futebol, carga essa que ao ser uma das mais elevadas da Europa constitui um factor de desvantagem competitiva face a clubes de outras ligas. Mais, o Sporting chega a esta crise sanitária numa situação já crítica, com um défice de exploração anual praticamente equivalente ao valor do seu plantel, um desequilíbrio negativo muito grande entre custos e proveitos e amortizações de direitos económicos e custos financeiros a subirem, tudo produto de uma política desportiva cheia de equívocos e preconceitos. Acresce que será mais difícil no actual cenário anteciparem-se receitas de direitos de transmissões televisivas, não só por não haver jogos como também pelo custo financeiro associado a essa operação de factoring. 

 

Perante este cenário, a um sócio cabem duas opções: ou continua a deixar-se embalar por aquilo que uma CS desportiva muito pouco rigorosa na análise dos números vai difundindo e que quase se confunde com propaganda, ou deve exigir acções que vão ao encontro da redução substancial de despesa que há mais de 1 ano venho aqui dando como um imperativo, o que no actual contexto acredito que tenha de passar por um corte de cerca de 40 milhões de euros, entre Custos com Pessoal (actualmente em 68,5M€), Fornecimentos e Serviços Externos (14,6M€ em apenas 1 semestre de 19/20, nível record), Amortizações (perto de 30 milhões de euros) e Custos Financeiros (menos pressão de antecipação de receitas deve ajudar a limitar um valor de 7,7 milhões em apenas 1 semestre) e por uma austeridade na janela de mercado que contraste fortemente com a absoluta inconsciência das 15 contratações (quem escolheu estes jogadores e com que critérios?) definidas como cirúrgicas executadas pelo actual executivo em apenas 1 ano. E deixemo-nos de politiquices, Bruno Carvalho está lá atrás no passado e por muito que ainda sonhe ser uma solução não deve ser chamado à colação por antis ou prós como forma de sabotar a discussão sobre o óbvio ululante da actual situação dramática do Sporting que é o que deve estar no nosso foco. É hora de pensarmos primeiramente no Sporting e de fazermos aquilo que tem de ser feito. Pelo Sporting! Só assim poderemos em 2 ou 3 anos estar de novo aptos a lutar com os nossos rivais. Caso contrário, será o caos para o qual há tanto tempo venho aqui alertando. E neste momento as "odds" estão mais a favor deste. Por isso, aqui fica o meu último alerta. 

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16
Abr20

O canário na mina de carvão


Pedro Azevedo

Um velho costume dos mineiros consistia em transportar um canário numa gaiola para dentro de uma mina como forma de monitorização dos níveis de monóxido de carbono. Este sinal de alerta, embora muitas vezes radical de uma forma dramática para a pobre ave, permitia aos mineiros retirarem-se atempadamente perante um perigo iminente.

 

No Sporting, o canário na mina do carvão foi o défice de exploração da SAD. Mais, os sinais de ar rarefeito tornaram-se claros a partir do momento em que o valor do activo intangível (cotação do plantel) se aproximou vertiginosamente do prejuízo anual sem vendas de jogadores. 

 

Ontem, os sócios e adeptos do Sporting ficaram a saber que a SAD comprou um treinador no dia 5 de Março e não honrou o compromisso de pagamento de uma prestação ao clube vendedor a 6 de Março (dia seguinte). Esse treinador esteve no banco no dia 8 de Março, liderando oficiosamente a nossa equipa no jogo contra o Desportivo de Aves. É certo que mais tarde, a 18, foi anunciado o Estado de Emergência e isso até poderá ser apresentado como justificação para o não pagamento da moratória dessa primeira prestação de dívida que venceu no final desse mês, mas o que é que este incumprimento leonino (associado a outras medidas recentes) nos diz?

 

Bom, parece-me incontornável que isto vem corroborar o que escrevi aqui e aqui. O Sporting precisava de uma dieta em que a perda efectiva de peso resultasse da queima de gorduras, mantendo-se ou reforçando-se a estrutura muscular (jogadores de top). Em vez disso, o que aconteceu neste último ano e meio foi que o peso manteve-se, sendo que o músculo definhou (podia ter sido reforçado com fibras mais jovens) e as gorduras aumentaram. Em consequência disso, a nossa tonicidade muscular enfraqueceu-se, a flexibilidade diminuiu e as gorduras trouxeram problemas acrescidos de circulação que ameaçam condicionar a mobilidade e mesmo  pôr termo à nossa vida. 

 

Isto para mim é tão evidente que me custa a crer que não seja visível para todos. Entretanto, o tempo passa, o que deve ser feito permanece adiado e o clube/SAD continua em queda livre (o abismo já ficou lá atrás). A próxima paragem (e última) será o chão, uma aterragem forte ("hard landing") e desordenada, perfeitamente evitável se o bom senso tivesse prevalecido a partir do momento em que deixámos de nos qualificar para a Champions, e que se deverá materializar no momento em que deixarmos de conseguir cumprir com os compromissos salariais com o plantel. Alguém de boa fé, ou que saiba fazer contas, acreditará estar esse cenário longe no tempo? Mais do que nunca, o Sporting precisa de racionalidade, equilíbrio e bom senso.

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13
Abr20

Factura vs fartura


Pedro Azevedo

Diz o jornal A Bola que o Sporting facturou 155,45 M€ em vendas de jogadores, em ano e meio de actividade da Direcção presidida por Frederico Varandas. Pensei que era motivo suficiente de festejo e preparei-me para abrir uma Dom Pérignon que guardara para uma ocasião especial. No entretanto, fui dar uma vista de olhos aos Relatório e Contas de 2018/19 e do 1º semestre de 2019/20 à procura dos grandes lucros. Li, reli e concluí que o Resultado acumulado desses 2 exercícios tinha sido negativo em 5,049 M€. Para além disso, não só o Balanço como os indicadores disponíveis através do Transfermarket mostravam um enfraquecimento profundo do valor do plantel em igual período, mesmo considerando a aquisição de 14 novos jogadores. Lá voltou a Dom Pérignon à despensa...

 

P.S. Mesmo considerando a transferência de Bruno Fernandes, ocorrida em Janeiro de 2020, o valor total bruto de vendas acumulado desde 1 de Julho de 2018 é de 178,75 M€. O valor liquido das vendas (expurgado de gastos com transacções), incluindo a trf de Bruno Fernandes (comissão anunciada de 5,5 M€), é de 150,908 M€ (poderá faltar aqui outro valor recebido durante o mês de Janeiro de 2020 que perfaça os tais 155,45 M€ anunciados, o qual já será visível aquando da publicação do R&C de Março de 2020). Entre 1 de Julho de 2018 e 31 de Dezembro de 2019, o valor liquido das vendas de jogadores foi de 101,408 M€ e o bruto de 123,75 M€. Nesse ano e meio, a SAD apresentou um prejuízo acumulado de 5,049 M€.

01
Abr20

A contas com Mathieu


Pedro Azevedo

O Jogo diz que Varandas e Amorim queriam meia-dúzia de craques, mas o investimento deve encolher devido ao Coronavírus. Independentemente da ocorrência do Coronavírus, o facto de alguém ter pensado ser possível comprar 6 craques devia ser encarado como verdadeiramente perturbante, na medida em que demonstra total ausência de consciência da realidade das nossas contas. É preciso dizer a verdade aos Sportinguistas, e esta é que o Sporting precisará de vender quase todo o seu plantel se quiser ter um Resultado positivo no exercício de 2020/21, a não ser que da época desportiva resulte uma valorização exponencial perfeitamente inesperada de um jogador que desponte (a sua venda imediata para compôr as contas também seria demonstrativa de uma gestão por impulsos e longe daquilo que deveria ser uma política desportiva sustentável). Esta já era a situação antes do COVID-19 e não se vê como se pode alterar. E para contratarmos 1-2 jogadores de qualidade acima dos que cá estão, atletas na casa dos 10 milhões de euros, precisaremos primeiro de cortar cerca de 35/40 milhões de euros nos custos (25/30 milhões em custos com pessoal e 10 milhões em fornecimentos e serviços externos), o que significa que teremos de apostar na nossa Formação e nos jogadores que temos emprestados por aí se quisermos completar o plantel. Tudo o resto é fantasia. 

 

Depois da venda de Nani, Raphinha, Dost e Bruno Fernandes, obviamente que a qualidade média do plantel leonino decresceu. Para piorar a situação, as 15 contratações cirúrgicas tardam a demonstrar efectiva valia. São, como tal, no mínimo estranhas as notícias postas a circular em diversos orgãos de comunicação social que apontam para a saída de Jeremy Mathieu. O francês, conjuntamente com Marcos Acuña, compõe o dueto de melhores do Sporting, pelo que a sua perda enfraqueceria ainda mais a equipa. Além disso, não deve ser nos seus melhores jogadores que a SAD deverá cortar, mas sim em todos aqueles que não vão mostrando qualidade à altura dos pergaminhos desta enorme instituição. Mesmo a possibilidade de regresso de José Fonte faz pouco sentido: com que objectivo se trocaria um jogador de 36 anos por outro de 35 e menos rápido (independentemente da sua reconhecida qualidade), pagando ainda uma compensação aos franceses do Lille, clube que levou Rafael Leão sem nunca procurar um acordo com o Sporting? Eu gostaria muito de continuar a ver Mathieu a jogar por cá. E que no futuro pudesse integrar os nossos quadros técnicos ou dirigentes, também. Recupero, por isso, o conteúdo de um Post que escrevi em Novembro de 2019 sobre este gaulês:

 

"Na visão deste Sportinguista que Vos escreve o mundo divide-se em dois: a leste, a Muralha da China; a oeste, Monsieur Mathieu. 

 

Um incêndio numa sala de cinema? Ele já estaria lá fora. Um eléctrico com o freio desgovernado? Idém. Imperturbável, na maioria das situações Mathieu aproveita a sua experiência para antecipar os lances. Outras vezes especula descaradamente com o seu oponente directo: fazendo-se valer do seu ar de simpático ancião, convida o adversário a procurar a profundidade para no último momento mostrar-lhe uma velocidade incomum e desarmá-lo. Essa sua faceta hitchcockiana, de Mestre do Suspense, também pode ser vista quando avança resoluta e destemidamente pelo terreno, bola colada ao pé e face bem levantada. Aí torna-se um Mustang, um cavalo à solta, como se dentro dele ainda houvesse aquele menino traquina a impeli-lo a retornar à juventude. Só por isso já valeria o preço do bilhete (e os seus médios defensivos sempre aprendem alguma coisita). Un Grand Seigneur!"

 

P.S. Não se use agora o horrível drama do COVID-19 como desculpa para um gestão de casino. Olhando para o último R&C da SAD é perfeitamente identificável que o valor do plantel (Activos intangíveis) está ao nível do défice de exploração anual. Assim sendo...

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03
Mar20

Uma nau à deriva


Pedro Azevedo

Perdida no mar, sem instrumentos nem costa a bombordo que lhe permita sequer uma navegação à vista. Às tantas, tolhido pelo Sol, o capitão-mor da embarcação julga ver uma Ilha dos Amores, ou Amorins. Será certamente mais uma alucinação, semelhante a outras que já custaram as velas do navio. Sem forma de fugir à aguardada tempestade, em breve se perderão também os mastros. O naufrágio está iminente. Em terra, desprezando o que os ventos lhe dizem, o Almirante Alves filosofa sobre a nau catrineta de Almeida Garrett e sonha vê-la a seco, a varar. O povo? Cansado de ser comparado aos Velhos do Restelo, ao povo já falta a energia e a coragem para dar por finalizada a desventura. Mas ainda há quem resista e diga não. É preciso terminar com esta expedição!

 

P.S.1. Ler Eça explica muito bem o momento que se vive no Sporting. Em conversas particulares, existe quase unanimidade na avaliação que é feita ao trabalho desta Direcção. Contudo, ela continua a mover-se tal como a Terra de Galileu. O Sporting não pode ser mais uma Farsa de Aristófanes, é necessário que, com urbanidade e sempre tendo presente os valores do clube, nos manifestemos contra este caminho. Eu serei sempre solidário com o meu clube e os seus sócios. Todavia, não me peçam para, por omissão, ser cúmplice do caminho da desesperança. Por isso, aqui e agora, digo BASTA!

 

P.S.2. Hoje, amanhã, daqui a 2 anos, estarei sempre disponível para ajudar o meu clube a regressar a bom porto. Mas é preciso que todos se consciencializem que há caminhos tempestuosos que uma vez percorridos tornam o regresso à bonança muito mais complicado.

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02
Mar20

Uma oportunidade perdida


Pedro Azevedo

Ryan Gauld fez um hat-trick no Sábado pelo Farense, depois de ter bisado na semana anterior. Daniel Bragança e Rafael Barbosa marcaram pelo Estoril. Pedro Marques leva 8 golos nos últimos 4 jogos pelo Den Bosch. Matheus Pereira é líder das assistências no Championship, Mama Baldé é o melhor marcador do Dijon na Ligue 1, Domingos Duarte fez parte do 11 Revelação da La Liga para o jornal A Marca, Palhinha tem sido destaque no Braga e já venceu uma Taça da Liga, Leonardo Ruiz é um dos melhores marcadores da Segunda Liga. Para não falar do turco Demiral, contratado pela Juventus e titular nos últimos 7 jogos da equipa de Turim antes de uma lesão o ter deixado inactivo, período durante o qual remeteu para o banco uma contratação de 70 milhões de euros (De Ligt). 

 

A ideia da falta de qualidade da Formação não é provada pelos inúmeros factos. Qual então a razão que justificou esta opinião de Frederico Varandas? Preconceito? Motivos políticos? O que é certo é que a política desportiva assentou neste pressuposto e isso não só provocou o êxodo de vários jovens promissores que poderiam ter melhorado o rendimento desportivo da equipa e constituirem-se futuramente como importantes mais-valias para o clube como motivou uma ida ao mercado que se saldou por 15 jogadores contratados, cerca de 50 milhões de euros investidos, custos salariais desnecessários e incomportáveis para a realidade da SAD, aumento dos custos de financiamento devido à antecipação das receitas da NOS e subida da rúbrica de Fornecedores no Balanço para 56.7 milhões de euros, dos quais 50.7 milhões a pagar no curto-prazo (corrente, até 1 ano). O impacto total desta desastrosa política desportiva ainda está por fazer. Mas olhando para o R&C do 1º semestre de 2019/20 uma coisa é clara e inequívoca: durante o 2º trimestre da corrente época, o Sporting perdeu mais de 18 milhões de euros, facto absolutamente relevante atendendo a que este trimestre é o único que não é influenciado pelas janelas de transferências e reflecte verdadeiramente a realidade operacional da SAD. 

 

Aquando dos terríveis acontecimentos de Alcochete o Sporting tinha 9/10 jogadores de qualidade acima da média. Frederico Varandas herdou 6. Com o tempo foi vendendo quase todos, de Nani a Bruno Fernandes, passando por Raphinha e Dost. Sobram Mathieu e Acuña. Simultaneamente investindo em quantidade, à medida em que ia alienando a qualidade com o pretexto nalguns casos de contenção da despesa. Desperdiçando muito do potencial existente na Academia, subordinando-a à importanção de jogadores de classe média/baixa. Uma crise como a motivada por Alcochete teria sempre de ser encarada como uma ameaça à sustentabilidade do clube. Mas seria também uma oportunidade. Uma oportunidade de saneamento financeiro do clube, potenciando e optimizando os recursos disponíveis na nossa Formação através de uma abordagem transversal ao futebol. Infelizmente, tudo isto foi ingloriamente perdido em nome de uma política desportiva autista que promete vir a transformar o exercício de 2020/21 numa assustadora realidade do ponto de vista económico e financeiro. É impossível rever-me nisto, é impossível não temer o futuro perante isto. 

 

P.S. Agora, posteriormente às minhas críticas sobre os elevados custos do plantel face à sua qualidade e política desportiva em geral, um jornal visto como próximo da actual entourage leonina fala em maior critério na construção do plantel. É curioso e tomo a devida nota, até dado o actual estado das finanças leoninas e a sua debilíssima situação económica (vidé o deterioramento do Activo) que aqui apontei há pouco tempo atrás num artigo a que chamei "A realidade inconveniente". Após terem sido vendidos os anéis e não lapidados os diamantes da Formação. Por isso, candidamente, a Direcção leonina pretende agora que aceitemos os erros cometidos neste ano e meio como um estágio. Transmitindo que vai "emendar a mão", assim pedindo créditos para mais uma "volta". Quando há 6 meses atrás acusava os críticos da sua política desportiva de ignorantes em matéria de futebol e/ou desonestos intelectualmente enquanto destes zombava com o termo "contratações cirúrgicas". Mas alguém no seu perfeito juízo considera ter Frederico Varandas e seus pares condições para planear mais uma época desportiva? Os mandatos são para cumprir? Sim, em teoria. Na prática não, quando o bem maior, leia-se a perenidade da instituição, se sobrepuser. É que uma coisa é a solidariedade com os sócios e suas decisões e a democracia interna do clube, outra, bem diferente, é ser cúmplice e pelo silêncio caucionar um caminho que inevitavelmente conduzirá o Sporting ao abismo (se é que, numa versão não tão optimista, não nos encontramos já à beira do mesmo). 

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28
Fev20

As 4 Estações de "Vivaldi"


Pedro Azevedo

Verão = Marcel Keizer

Outono = Leonel Pontes

Inverno = Jorge Silas

Primavera = O próximo(*)

 

As 4 Estações de "Vivaldi", sendo "Vivaldi" = Produções Viana&Varandas Ld Inc.

 

(*) A RTP acaba de anunciar que Silas sairá após o jogo com o Famalicão. E ainda houve José Peseiro (herdado) e Tiago Fernandes...

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19
Fev20

A realidade inconveniente


Pedro Azevedo

O Sporting continua a gastar demasiado no futebol para os resultados desportivos que apresenta. Tal concorre para Resultados sem transacção de jogadores fortemente negativos. Eis os principais desequilíbrios verificados a nível da SAD, visíveis através do R&C anual referente à época 2018/19 (não significativamente alterados em 2019/20):

 

  • Resultados Operacionais sem transacção de jogadores negativos em 29 milhões de euros, consequência do lado dos Proveitos da não qualificação para a Champions e do lado dos Custos do não ajustamento dos Custos com Pessoal e dos Fornecimentos e Serviços Externos (FSEs) à nova realidade europeia;
  • Subida das Amortizações para um valor de 30,9 milhões de euros, por via da insuficiente aposta em jovens da Formação (Valor Bruto e Amortização zero) e da aquisição de demasiados jogadores;
  • Resultados Financeiros negativos em 10,4 milhões de euros, devido a um aumento dos custos de financiamento da dívida;
  • Somando estas 3 rúbricas, a Sporting SAD perde 70,3 milhões de euros;
  • Não havendo ajuste dos Custos aos Proveitos, mantendo-se este cenário, a SAD precisará de realizar vendas anuais de 70,3 milhões de euros para não apresentar prejuízos.

 

Olhando para este cenário, é óbvio para todos que a realidade está muito longe da desejada sustentabilidade. Acresce que os resultados desportivos não justificam de todo o investimento produzido (aquisição de jogadores) e os gastos gerais em que a SAD incorre anualmente. Tal resulta de uma política desportiva delirante (pardon my french), completamente desfasada dos constrangimentos financeiros da SAD e que privilegia a quantidade em detrimento da qualidade e ignora a Formação. Olhando para a Demonstração de Resultados é perfeitamente identificável o não ajuste dos Custos à quebra de Proveitos motivada pela exclusão da Champions, desequilíbrio que não se reflecte positivamente de nenhuma maneira no desempenho da principal equipa de futebol do clube. Sendo certo que a situação já estava descontrolada nos últimos tempos de Bruno Carvalho, por via de um aumento pronunciado dos custos (cerca de 75 milhões de euros em Custos Com Pessoal) e de investimento (63,7 milhões de euros em 17/18 divididos em diferentes R&C) que estava ainda assim suportado num lote de jogadores de qualidade mas que ficou em parte ameaçado com as rescisões, a não imediata reacção à perda de Proveitos e a Alcochete agudizou o problema. É difícil não pensar que se poderia fazer muito melhor gastando e investindo muito menos. Não são só os benchmarks (referências) de mercado (Braga, Rio Ave, Famalicão) que o indiciam, é também o passado. Por exemplo, se olharmos para a temporada de 2013/14 verificamos o seguinte (face à temporada anterior): corte nos FSEs de 4,3 milhões de euros, redução dos Custos com Pessoal em 16,6 milhões de euros, diminuição no valor das Amortizações em 11,3 milhões de euros devido a uma maior aposta na Formação e melhoria dos Resultados Financeiros em cerca de 3 milhões de euros (menos dívida e renegociação das taxas de juro), para além de menos 3 milhões de euros em provisões. Tudo isto concorreu para uma melhoria dos Resultados da SAD em 38,2 milhões de euros. E os resultados desportivos? Bom, passámos de um 7º lugar em 2012/13 para um 2º lugar (qualificação para a Champions) em 2013/14, demonstrativo de que se pode fazer melhor, de uma forma sustentável, mesmo gastando muito menos. 

 

Conclusão: qualquer pessoa minimamente experiente em "turnaround" de empresas saberá que a actual situação é insustentável e que a aposta na Formação conjugada com uma política desportiva que privilegie a qualidade em detrimento da quantidade é a única solução possível. Ora, perante isto, o investimento de 47 milhões de euros em 15 contratações cirúrgicas em apenas 1 ano tem de ser considerado irresponsável, porque não só veio afectar ainda mais negativamente os Resultados da Sociedade como também não se perspectiva que possa proporcionar mais-valias significativas no futuro que possibilitem a cobertura do défice de exploração da Sociedade. Adicionalmente, a troca constante de treinadores (5 durante o consulado de Frederico Varandas) também não tem proporcionado a estabilidade necessária que mitigue um pouco os erros cometidos nas janelas de transferências. Para além disso, é hoje absolutamente notório um enfraquecimento da qualidade média do plantel face ao momento em que Varandas assumiu a presidência do clube. Nani, Raphinha, Bas Dost e Bruno Fernandes já não estão entre nós, Matheus Pereira, Domingos Duarte, Mama Baldé ou Ryan Gauld, jovens que estavam numa linha de sucessão, também não. Perante tudo isto, torna-se complicado perspectivar como a SAD conseguirá viver a partir de 2020/21, nomeadamente sabendo-se que sem cortar na despesa terá um défice de cerca de 70 milhões de euros e poucos jogadores de qualidade para o cobrir. 

 

Epílogo: Se Alcochete foi uma Tragédia Grega, na minha opinião a gestão produzida na SAD durante esta temporada deve ser encarada como uma nova peripécia dessa mesma Tragédia. À exuberância irracional do posicionamento de Bruno Carvalho nos últimos meses da sua presidência seguiu-se o preconceito com a Formação e o deslumbramento ("fácil, fácil") da política desportiva, tudo isto concorrendo para a situação dramática que actualmente se vive, que consiste em resultados desportivos medíocres e numa situação económica (a financeira resolveu-se apenas para esta época) deplorável e em constante deterioração. É urgente parar isto!

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18
Fev20

Liga Europa - A hora de Jovane?


Pedro Azevedo

Absolutamente decisivo em 3 dos últimos 4 jogos do Sporting - um bracarense, em cima do risco de golo, evitou o pleno - , o que mais terá Jovane Cabral de fazer para merecer a titularidade? E não me refiro a 1 jogo para experimentar, mas sim a uma série que lhe proporcione a tranquilidade que tantas vezes tem sido dada a quem porventura não tem feito o suficiente para a merecer. Para que definitivamente não se enraíze a ideia de que Jovane só serve como arma secreta, algo que teria de ser visto como bizarro à luz da pólvora seca comummente usada como 1ª opção. 

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31
Jan20

Ó "Evaristo", tens cá disto?


Pedro Azevedo

Matheus Nunes marcou este golo hoje em Coimbra. Na semana passada, no Estoril, fez a prodigiosa assistência que se pode observar no vídeo em anexo. É caso para perguntar: Silas, há melhor que o Matheus no plantel principal? O nosso treinador lá vai dizendo que Matheus está quase, quase, mas a hora parece nunca mais chegar a este "Pátio das Cantigas" (o Jesé que o diga, sem aspas)... 

31
Jan20

O senhor dos anéis


Pedro Azevedo

Nani, Bas Dost, Raphinha, Domingos Duarte, Matheus Pereira, Bruno Fernandes (Acuña que se cuide...) OUT! Rosier, Ilori, Eduardo, Jesé, Fernando, Neto (tanto nervosismo...) IN!

 

Vão-se os anéis, ficam os dedos? De que mão?

 

P.S. Ponta de lança? O Pedro Mendes já está inscrito e há um rapaz no Varzim (Leonardo Ruíz) que é nosso e é só o melhor marcador da 2ª Liga. Por falar em emprestados, lembram-se do Daniel Bragança? A ideia não era sair a jogar de trás? 

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31
Jan20

Não digam que não avisei


Pedro Azevedo

Após os 12 788 espectadores que estiveram em Alvalade na última segunda feira terem vindo confirmar uma média de assistências significativamente inferior à de anos anteriores, ademais em jogo que já se previa poder ser de despedida de Bruno Fernandes, recupero aqui um Post de 30 de Junho de 2019 que aborda(va) questões como o preço dos bilhetes de época, a mobilização geral dos sócios através de uma comunicação eficaz, o défice de Cultura Sporting que está na origem da confusão que se produz entre sócio e cliente e a ausência de uma política destinada aos jovens que não passe só pela Bancada Sul. Não esquecendo que o momento da equipa de futebol, o dia da semana ou as condições meteorológicas (temas não abordados nesta reflexão) têm muita influência, aqui fica "Venha-viver-uma-experiência-radical - Um estádio às moscas":

 

"A Lei da Procura diz-nos genericamente que o preço e a procura estão inversamente relacionados. Quando o preço de um bem ou serviço sobe, o poder de compra diminui e os consumidores mudam para bens ou serviços mais baratos (efeito de substituição). Considerando o rendimento limitado, essa realocação de bens e serviços dependerá de preferências, restrições orçamentais e de escolhas, podendo ainda se dar o caso de o consumidor deixar simplesmente de consumir o tipo de bem ou serviço, especialmente se não for de primeira necessidade. 

 

Olhando para a última estatística disponível no site da Liga, verificamos que o Sporting teve uma média de 33 691 espectadores nos seus jogos em casa durante a temporada de 2018/19, o que corresponde a uma taxa de ocupação de 66,73%. Ora, não deixando de considerar que vários portadores de gamebox não compareceram a todos os jogos e que a taxa de ocupação não reflecte, como tal, o que foi realizado economicamente (apesar das "borlas" poderem compensar este valor), não deixa de ser notório que, em média, 1/3 do estádio não teve ocupação, com consequências óbvias em termos económicos, de apoio à equipa de futebol, na Cultura corporativa, identidade do clube, peso institucional, patrocínios, etc. Perante este cenário, dever-se-iam criar condições para que se aumentasse rapidamente a taxa de ocupação do estádio até à sua máxima capacidade, de forma a que, então sim, quando a optimização fosse atingida, se pudesse começar a manusear para cima a variável preço. Porém, a realidade da Gamebox 2019/20 demonstra o contrário, com particular incidência no sacrifício que é pedido às Famílias, por via do aumento significativo registado no escalão sub-11 (a que se pode acrescentar a realidade dos dias de hoje, em que os jovens ficam até mais tarde em casa dos pais e deles são dependentes até pelo menos terminarem os estudos universitários - por volta dos 23 anos - e entrarem na força laboral, o que aumenta os encargos das Famílias). 

 

Antes de mais, e com o estádio ocupado a apenas 2/3, não faz sentido os preços aumentarem. Isso quanto muito poderia em teoria fazer sentido se a subida do preço viesse acompanhada de um aumento de produção de lugares - o que num estádio de futebol é impossível dado que a sua capacidade é limitada (a não ser que fosse proposto cobrir o fosso com mais espaço de bancada) - , ou uma melhoria de produção de eventos, do tipo de uma presença na Champions, algo que infelizmente também não acontecerá. Adicionalmente, do ponto-de-vista político, é uma medida impopular, inoportuna e imprudente, o que julgo não carecer de explicação. Finalmente, analisando pelo prisma da Cultura sportinguista, oferece-me dizer o seguinte: vários anos de ausência de títulos relevantes produziram uma diminuição da militância, mas, curiosamente, não causaram erosão sensível na base de apoio de simpatizantes, adeptos e sócios, tendo estes últimos, inclusivé, vindo a aumentar nos últimos anos. Tal deveu-se em boa parte a um factor distintivo dos sportinguistas: a capacidade que os pais têm tido de passar o amor ao clube aos seus filhos, de uma forma estóica e resiliente, o que tem permitido manter o impacto social do clube. Ora, em minha opinião, esta subida de preços mais sentida no escalão sub-11 é contraproducente a vários níveis, na medida em que em vez de estimular o reforço da presença do agregado familiar no estádio (com consequências positivas até no ambiente nas bancadas, recuperando tempos idos e diversificando o entusiasmo por diferentes sectores do estádio) acabará por o mitigar, porque obrigará em muitos casos a um "downgrade" de lugares com o impacto que isso tem em termos de curva de satisfação e experiência Sporting e, finalmente, porque nalguns casos pais e filhos trocarão o lugar na bancada por um lugar no sofá junto ao televisor, por a taxa marginal de substituição de satisfação do progenitor não pressupor a vantagem de ir à bola com o filho em detrimento de abrir mão de lugares de Categoria 1/2, por exemplo.

 

Há quem use o argumento de que alguns sócios compravam gamebox em nome dos filhos e iam eles aos jogos. Krugman e Wells levantaram a questão de se saber se os indivíduos na busca do seu interesse próprio contribuiriam para o interesse da sociedade no seu conjunto e o caso referido parece indicar que não, mas isso são questões que se deverão resolver com regulação (no caso, fiscalização à entrada através de cores de cartões diferenciadas).

 

Gostaria de terminar, com um reparo ao folheto de promoção do Cartão Gamebox que me chegou às mãos ontem. Nele está contida uma relação explícita entre o amor ao clube e os números que marcam a relação, como se tudo o que conta pudesse ser contado. Há mesmo uma alusão à "dimensão do teu amor". Eu acho triste esta mensagem que poderá não ser muito bem recebida por quem seja sócio há pouco tempo, tenha gamebox há poucos anos, ou seja simplesmente um simpatizante, pois há aspectos que vão desde a distância geográfica, idade, doença, disponibidade profissional, situação financeira, entre outras, que são condicionantes mas em nada prejudicam o amor ao clube. Até estou perfeitamente à vontade dada a minha ligação longa de sócio e portador de gamebox, mas deixo aqui uma nota em jeito de conselho para quem queira ouvir: os sócios são o maior activo do clube. Estes são movidos pela paixão, independentemente das suas circustâncias pessoais. Pensem nisso, no que esses sócios podem dar ao clube e, em primeiro lugar, envolvam-nos no dia-a-dia através de uma Comunicação sóbria, elucidativa, inspiradora e virada para dentro. Depois, sim, um sócio feliz, o elo emocional, a compra por impulso trará o cliente, o qual mais facilmente visitará a Loja Verde se for ao estádio (e menos resistirá ao consumo perante um pedido expresso de uma criança). Ver as coisas ao contrário, no momento débil em que nos encontramos, em que precisamos de nos focar no que nos aproxima e não no que nos afasta, não é muito auspicioso.  

 

P.S. Seja como for, podendo haver quem legitimamente conteste o arrazoado que aqui deixo, creio que numa coisa estamos todos de acordo: este tipo de alteração de preços nunca deveria ter acontecido sem a explicação do seu "porquê". Infelizmente, no Século XXI, continuamos a ter empresas a comunicar o que fazem, como fazem, esquecendo-se da razão das coisas. É que o porquê das coisas é que cria a ligação emocional no sócio, quiçá cliente. No caso concreto, esta subida de preços deveria ter sido acompanhada de um discurso galvanizador do tipo do de Kennedy nas portas de Brandenburg, mas que simultaneamente mostrasse consciência (acusasse a recepção) do sacrifício que se está a pedir às pessoas.

P.S.1. O título deste texto é obviamente provocativo, única e exclusivamente com o propósito de fazer reflectir quem tem responsabilidades no clube. A minha renovação de gamebox será feita como habitualmente. E estou certo que a maioria dos portadores de gamebox tentará, consoante as suas possibilidades, se adaptar.

P.S.2. Um sub-23 (sub-11 também) que compre um lugar de época junto às claques (Categoria 6) gastará cerca de metade do que se acompanhar o seu pai num lugar de Categoria 1/2. Depois admirem-se. Dado todo o histórico recente, não deveríamos ter um Pelouro da Juventude que estudasse estas questões, que aumentasse a oferta aos nossos jovens em vez de a tornar mais redutora, mais própria de um "guetto"? O momento que o clube viveu muito recentemente não nos deveria prestar particular atenção ao segmento mais jovem?

P.S.3. Paralelamente, e atendendo às alterações demográficas em Lisboa, que trabalho está a ser desenvolvido para seduzir os milhares de residentes não-habituais (gamebox) e de turistas (bilhética jogo-a-jogo) com que esbarramos diariamente? Não faria sentido uma campanha de charme junto de embaixadas, consulados, câmaras do comércio, hóteis, etc?" 

29
Jan20

E depois do adeus


Pedro Azevedo

Bruno Fernandes está de saída para o Manchester United e a pergunta que se impõe é como será o futuro desportivo e financeiro do Sporting após a despedida do maiato. Se do ponto de vista desportivo há um óbvio enfraquecimento de qualidade, em termos financeiros a SAD dos leões deverá conseguir fechar a época 19/20 com um Resultado positivo. O problema coloca-se daí para diante. Com um défice estrutural nos Resultados (Operacionais+Amortizações) de cerca de 65 milhões de euros anuais, a SAD está obrigada no actual contexto a vender jogadores todos os anos para suprir esse "gap". O problema é que começa a faltar qualidade no plantel que o permita: Acuña, depois de Bruno o nosso jogador mais valioso, terá um valor de mercado de 20 milhões de euros e Mathieu, outro jogador de qualidade, já não tem um valor de mercado relevante devido à idade. Acresce que os jogadores contratados desde Janeiro de 2019 ainda não mostraram estar num patamar competitivo que lhes proporcione uma rápida valorização e os jovens da Academia não têm tido oportunidades significativas que lhes permitam desenvolver-se desportivamente e futuramente ver a sua cotação subir. Assim sendo, ficam mais expostos os erros cometidos nas janelas de transferência do ano passado onde investimos 40 milhões de euros que a valores de mercado actuais deverão valer seguramente menos. Como resolver então o problema estrutural não emagrecendo Custos com Pessoal (continuam a valores incomportáveis) e FSEs (a subir)? Vender toda a equipa não será solução...

 

P.S. Uma eventual não qualificação para as provas uefeiras só acentuará o problema.

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"E depois do amor

E depois de nós

O adeus...

O ficarmos sós"

21
Jan20

A causa das coisas(*)


Pedro Azevedo

Recupero aqui um Post escrito em 15 de Junho de 2019 que ainda me parece estar actual. Faço-o na expectativa de despertar consciências, na Direcção e sócios e adeptos do clube, na esperança de que num dia não tão longínquo possa ser perceptível que o Sporting tem um rumo, um timoneiro e umas velas equipadas para beneficiar do vento de popa trazido por um povo irredutível na sua resiliência que só necessita de ser orientado para soprar o seu sportinguismo na direcção certa. Aqui vai, então:

 

Como se depreende do título de um livro escrito por Miguel Esteves Cardoso que marcou a minha geração, nada acontece por acaso. Existem sempre causas que explicam as coisas. No caso do Sporting, a situação até é mais complexa: existem causas e coisas (como no livro do MEC), e é o não sermos fiéis às nossas causas que em parte justifica as coisas que nos acontecem. Confusos? Vou tentar explicar adiante. 

 

Contextualizando, irei recorrer ao antigo presidente João Rocha. No seu tempo, a nossa causa era compreendida por todos. Era não só visível em teoria, mas também na prática. Falamos da aposta na Cidade Desportiva, no ecletismo do clube como forma de influência social e de prestígio nacional e internacional. Nesse tempo, só se gastava o que havia. O que não havia era Passivo, pelo que a maior ou menor qualidade da equipa de futebol reflectia o dinheiro disponível no início de cada época. Se era necessário reforçar outras modalidades, construir uma nova bancada onde anteriormente havia o peão, ou criar um novo pavilhão (Nave, por baixo da Bancada Nova) em virtude do desaparecimento do antigo (devido ao interface do metro), então já sabíamos que iríamos perder competitividade no futebol, pois as nossas fontes de financiamento eram essencialmente as quotizações dos sócios e os milhares de praticantes/pagantes de ginástica e natação. Ainda assim, num período (13 anos) que coincidiu com a afirmação do Sporting como maior potência desportiva nacional - creio que em 1980, o jornal A Bola atribuiu um prémio (Taça Stromp) ao clube mais eclético do país, baseado nas classificações obtidas por cada clube nas diferentes modalidades, que o Sporting venceu com mais pontos do que todos os outros clubes juntos - o Sporting ganhou 3 títulos de campeão nacional de futebol, a que juntou outras tantas Taças de Portugal e duas Supertaças, num total de 8 troféus conquistados no desporto-rei.

 

Sendo que o ecletismo era a bandeira de João Rocha, a Formação no futebol não era descurada. Pese as péssimas condições em termos de infra-estruturas (um campo pelado, face a 6/7 relvados que o benfica tinha junto ao estádio da Luz), o Sporting começou a produzir bons jogadores com alguma regularidade, essencialmente devido a um conjunto de treinadores/oheiros de eleição onde se destacavam Aurélio Pereira, César Nascimento e Osvaldo Silva. Foi assim que mais jogadores provenientes dos juniores começaram a aparecer na equipa principal. A uma primeira fornada composta por Freire, Ademar, Virgílio, Carlos Xavier, Mário Jorge e Pedro Venâncio, seguiu-se uma outra que incluía Paulo Futre, Litos e Fernando Mendes. 

 

Durante os anos que medearam entre a saída de João Rocha e o projecto Roquette, o Sporting foi progressivamente perdendo a sua hegemonia nas modalidades. Primeiro no basquetebol, que já vinha em queda desde os tempos de Rocha (secção suspensa em 82 e reactivada na 3ª divisão em 84), depois nas restantes. Em sentido contrário, a Formação de jogadores foi ganhando outra preponderância, surgindo uma nova geração de talentos composta por Figo, Peixe, Paulo Toreres, Poejo e Porfírio. Com a Nova Ordem, várias modalidades terminaram e a nossa causa passou a ser quase exclusivamente o futebol. Apenas andebol e atletismo se mantiveram, o primeiro por decisão dos sócios em referendo, o segundo devido ao prestígio do Professor Moniz Pereira, o qual ainda assim não foi suficiente para que o novo estádio contemplasse uma pista de atletismo. Não houve pista, mas houve fosso entre adeptos e equipa, literal e metafóricamente falando, algo que já se vinha agudizando desde a criação da sociedade anónima desportiva. A influência dos sócios foi trocada pela dos accionistas e os orçamentos começaram incrementalmente a contemplar capitais alheios provenientes de financiamentos bancários. 

 

A perda de protagonismo do ecletismo foi compensada pelo investimento na Formação. Mais especificamente na criação de infraestruturas que pudessem complementar o trabalho competente realizado por profissionais qualificados nos escalões mais jovens. Surgiu assim a Academia de Alcochete, obra de que Quaresma, Hugo Viana ou Ronaldo já praticamente não usufruiram. Nessa época, o Sporting procurava ter treinadores principais com um cunho formador, de forma a que melhor pudessem ser rendibilizados os talentos da Formação. Mirko Jozic e Lazlo Boloni são exemplos disso. 

 

Não deixa de ser curioso que as únicas duas vezes, em 40 anos, que o Sporting fez a dobradinha no futebol tenham ocorrido quando teve treinadores (Allison e Boloni) que apostavam na Formação. Pelo contrário, quando se tornou um interposto de jogadores trazidos por um Scouting duvidoso e se colocou nas mãos de empresários, o clube bateu no fundo. 

 

O primeiro mandato de Bruno Carvalho teve o mérito de ressuscitar a bandeira do ecletismo e de voltar a mobilizar os sócios. Compreendendo que a distância era um factor não difusor do sportinguismo, o pavilhão das modalidades foi construído. Durante um determinado período, os sócios foram vistos (correctamente!!) como o maior activo do clube e este foi reerguendo-se. Infelizmente, aos poucos, os contributos dos sócios começaram a ser vistos com desconfiança e a crítica construtiva vista como se partisse de uma oposição organizada, pelo que a liderança, até aí inspiradora, foi tornando-se mais e mais musculada. Até acontecer o que todos sabemos.

 

Todo este arrazoado serve para concluir que nem sempre fomos fiéis às nossas causas. Na minha opinião, a fidelidade a essas causas será determinante para o futuro do clube. Se o ecletismo gera influência social (uma forma de poder), associativismo e cultura de vitória, a Formação é essencial ao modelo de sustentabilidade. Como tal, qualquer tipo de tergiversão afastar-nos-á definitivamente do bom caminho. Por outro lado, o Sporting é um clube de sócios que tem de ser para os sócios. O presidente do clube existe para fazer felizes os sócios e para criar condições de perenidade do clube. Se não, qual seria o propósito da existência de um presidente e de um Conselho Directivo? Temos de ser claros e determinados na defesa das nossas causas, porque elas são os meios necessários à nossa prosperidade desportiva e financeira e à nossa força social. Por isso, temos de adequar a prática à teoria. Não basta dizer que se aposta na Formação, há que criar condições para que isso se materialize na equipa principal. E há que ter convicções: se a Formação nos últimos anos não foi boa, por que razão continuamos a renovar contratos com jogadores de 23/24 anos que nunca tiveram oportunidades? Se esses jogadores cumpriram um trajecto na extinta equipa B e ainda assim nunca tiveram hipóteses na equipa principal, por que razão defendemos tanto a existência dessa equipa? Se os actuais juniores não têm qualidade, porquê renovar-lhes o contrato? Se o treinador principal não aposta na Formação, qual a razão porque dizemos que o contratámos pelo seu perfil de formador? E qual a razão, perante cofres minguados, para continuarmos a comprar tantos jogadores que não façam a diferença? Um clube para os sócios não deve confundi-los. Deve, isso sim, ter uma mensagem clara e que faça sentido para todos. Uma mensagem que deve ser desprovida de politiquices e que elucide os sócios. Quanto aos sócios, estes devem colocar o clube acima de tudo. Às vezes olho para o Sporting e parece-me um partido político, cheio de prosélitos deste e daquele. Não se pode construir nada polarizando pela negativa, como também não se pode governar muito tempo escorado no anti-qualquer coisa, mas sim pela força de um projecto. As ideias, e sua implementação, têm de se traduzir no dia-a-dia do clube. O meio-caminho não é um caminho. Na vida, os atalhos saem sempre caros. A nossa história, recente e menos recente, assim o diz. Mas há uma vantagem muito grande em falhar: a aprendizagem que se recolhe. O erro é fundamental na vida. Por razões de insegurança, os portugueses repudiam o erro. Por isso, em Portugal, a culpa morre sempre solteira. Mas errar é bom (ao contrário da inacção, que é radical), nomeadamente se se traduzir em aprendizagem para o futuro. Agora, sermos autistas, não lermos os sinais, não analisarmos o processo, é ficarmos à espera que um dia os resultados nos mostrem como estávamos profundamente ilusionados. Porque, tal como ensina Kundera (adaptando à nossa realidade), é desta insustentável leveza do ser sportinguista que se faz o peso da nossa existência de muitos anos sem campeonatos e sem sustentabilidade. 

 

Não podemos continuar a sacrificar a próxima geração em função do próximo jogo. Não se pode adiar o inadiável em função de putativos resultados imediatos. O importante na vida é o processo. Os resultados podem disfarçar no curto-prazo a falta de estratégia. O problema é que quando os resultados deixam de aparecer ficamos com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Assim é o Sporting: a meio caminho entre a pesada herança e os 40 milhões de euros investidos num ano sob a presidência de Frederico Varandas. Gastando onde não se deve, acabamos sujeitos a ter de vender quem tem qualidade, enfraquecendo cada vez mais a equipa. Num ciclo não-virtuoso. A Formação? Segue dentro de momentos. Primeiro, um pequeno interregno para compromissos comerciais. 

 

(*) Republicação

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