À procura do Qatar
Pedro Azevedo
A viagem à Irlanda para pouco mais serviu do que cumprir calendário, um sem-propósito que consistiu em contrariar a lenda e visitar os leprecons sem buscar o Pote de Ouro. Até porque, sabia-se antecipadamente, o Pote já era nosso, ficara em Alcochete, e em Alcochete permanecerá à hora em que defrontarmos a Sérvia, que podendo golear-se por 0-0 não vale a pena desperdiçar trunfos com quem faz do golo uma arte ao alcance de muito poucos. Agora os papéis invertem-se, mas com uma nuance: os sérvios vêm a Portugal, sim, mas deliberadamente à procura do pote de ouro. Pelo menos a julgar pelas declarações do presidente desta república balcânica, o senhor Alexandar Vucic, que prometeu dividir 1 milhão de euros pelos seus jogadores caso estes consigam a qualificação directa para o Qatar 2022. Ainda assim, para Portugal não será o tudo ou nada, até porque o empate garantirá o passaporte rumo ao próximo campeonato do mundo. Habituados que estamos a fazer contas até ao fim, isso poderá constituir uma vantagem para nós. É que podemos não ganhar muitos certames internacionais de selecções - ainda assim, os troféus do Campeonato da Europa de 2016 e da Liga das Nações de 2019, nossas únicas conquistas no escalão sénior, terão obrigatoriamente de ser creditados a Fernando Santos - , mas nas "olímpiadas da matemática" ninguém nos segura. Que Portugal siga em frente! (Em Ronaldo "we trust", e na desinspiração do Tadic, também.)
P.S. Alexandre Herculano já não é sede da Federação, mas com a Selecção há sempre espaço para lendas e narrativas. Do Pote de Ouro às goleadas por 0-0, a história vai-se fazendo. Ainda assim, longe vai o tempo das vitórias morais. Eu prefiro este tempo das vitórias amorais, no relvado.