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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

10
Out19

A técnica


Pedro Azevedo

Em Portugal, há uma ideia que eu considero errada à volta do conceito de "técnica". Esta é muitas vezes confundida com habilidade, que não é exactamente a mesma coisa. Técnica é recepção, passe e remate, habilidade é finta, imprevisibilidade, malabarismo com bola. Durante muitos anos a selecção nacional foi considerada a campeã do futebol sem balizas, porque poucos jogadores portugueses mostravam qualidade na hora do remate. Um movimento que é natural para um futebolista italiano, alemão ou inglês, mas que não é assim tão comum no jogador criado em Portugal. Por exemplo, se olharmos para o panorama recente ou actual dos médios lusos, Maniche e Bruno Fernandes (vá lá, Pizzi) são um oásis num deserto de chutadores de fora da área, uma arma para contrariar defesas bem organizadas. Outra fraqueza que se nota, mesmo em jogadores internacionais, é na qualidade de recepção. A intensidade do futebol actual dá pouco tempo ao jogador, pelo que uma boa recepção é fundamental, especialmente se for orientada para o movimento seguinte que o atleta já tem pensado. Enquanto a recepção visa não perder tempo, o passe tem o objectivo de ganhar espaço, outra dificuldade dos tempos modernos. Nesse aspecto, há algo comum entre passe e finta, embora um bom passe geralmente dê menos hipótese a uma defesa de se recolocar no terreno, algo que só uma finta muito vertical iguala. 

 

Não se pense, no entanto, que há formas únicas de se atingir o sucesso. Olhando para os ícones históricos da nossa Formação verificamos que jogadores com perfil diferente tiveram sucesso. Por exemplo, Figo tinha passe, recepção imaculada e habilidade natural no 1x1, Futre possuia uma velocidade com bola que lhe permitia tornar letal a sua finta estonteante, Quaresma aliava qualidade de passe a partir das alas com muita inventividade e imprevisibilidade (gama de fintas e trivela), Nani tinha mais qualidade de remate que os restantes. De todos, Ronaldo é o "full package", o jogador que converteu habilidade natural em técnica útil, orientando o seu drible e passe (essencialmente curto) para uma acção decisiva, aliando-os a uma qualidade de recepção de bola e de remate fora do comum. 

 

De entre os mais recentes que têm passado pela Academia, Gelson será aquele em que se torna mais distintiva a diferença entre habilidade e técnica. Com algumas dificuldades na recepção e na orientação do seu drible, muitas das suas acções acabam por ser inconsequentes. Apesar de ter melhorado a verticalidade do seu jogo, estas fraquezas têm-no impedido de ascender a outro patamar. Já Matheus Pereira é um jogador diferente: menos explosivo no drible, orienta-o melhor para a acção que pretende executar a seguir, apoiado numa visão de jogo e recepção acima da média que lhe permitem exponenciar a sua qualidade de passe e de remate. Outro jogador que acompanho com interesse é Matheus Nunes, atleta que foi comprado ao Estoril em Janeiro. Faltar-lhe-ão mais acções perto da área contrária, produto de ter sido utilizado como "6" na temporada passada. Actualmente jogando como "8", Matheus tem podido mostrar qualidades na recepção e passe ímpares entre os jogadores da Formação. Quem tiver dúvidas vá ver a jogada decisiva na vitória sobre o Rio Ave (1-0) a contar para a Liga Revelação. 

 

Os campos tortuosos, a subir e a descer e cheios de irregularidades, do futebol de rua serviram durante anos como aprendizagem de recepção de bola. O Brasil foi o expoente máximo dessa base, ganhando durante anos com essa arma. Equipas como a de 70, ou mesmo a de 82, destacavam-se pela relação com bola ímpar da maioria dos seus jogadores. Como geralmente tinham sempre a bola, disfarçavam assim as insuficiências a nível físico, de intensidade e de posicionamento defensivo. No entanto, hoje em dia, salvo honrosas excepções, não é fácil notar diferenças entre jogadores brasileiros e europeus. O futebol globalizou-se e o Brasil começou a duvidar dos seus pontos fortes, procurando antes colmatar as suas lacunas, pelo que a maioria dos seus jogadores já não se destaca pela técnica especial que outrora se encontrava num Pelé, Tostão, Rivellino, Sócrates, Zico ou Falcão. Enfim, o futebol evoluiu, há cada vez maior uniformização táctica e menos diferenças entre as equipas, mais influência de treinadores e menos de jogadores, mas o que ainda vai produzindo a diferença é a capacidade invulgar de certos predestinados. E essa está sempre alicerçada em pensar e executar mais rápido, na velocidade e qualidade de execução, os dois factores essenciais no futebol moderno. 

2 comentários

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    Pedro Azevedo 11.10.2019

    Caro José Belo, por curiosidade, ontem vi o programa que Jesualdo Ferreira tem no Canal 11 e o professor às tantas disse que o futebol era tempo e espaço. Fiquei contente que o resultou de uma observação empírica seja com corroborado por um profissional que admiro.

    A selecção do Brasil de 82... Que nostalgia! Nunca esquecerei esse Mundial, o primeiro que vi a cores numa televisão acabadinha de comprar pelo meu pai. Esse Brasil era uma delicia. O Zico, Sócrates e Falcão colavam a bola no pé como muito bem diz, mas havia também a classe de Luisinho, as arrancadas dos laterais Leandro e Júnior, ambos muito bons de bola e a parada atômica do Eder - inesquecível aquele golo à União Soviética - , entre outros ( Dirceu e Paulo Isidoro estavam no banco, Careca lesionou-se às portas do Mundial). Mas não era só o Brasil, a França tinha um trio mágico no meio campo, com Giresse, Tigana e Platini ( a propósito, inusitado aquele episódio do Xeque do Kuwait), a Itália possuía Antognoni, Tardelli e Conti, havia ainda a Argentina de Maradona e Kempes, a Alemanha de Rummenigue e Littbarski, a Polónia ainda de Lato e Deyna e já com Boniek, entre outras. Considero esse o melhor Mundial de sempre.

    Muitas vezes os jogadores chegam aos seniores com lacunas técnicas grandes. Um clube como o Sporting precisava de ter alguém que servisse de última estação de desenvolvimento desses jovens jogadores, melhorando-os. Hoje em dia vejo idolatrar uns e tolerar outros jogadores que simplesmente não estão à altura de um clube como o Sporting. Francamente, para além de Bruno, Mathieu e Acuña, falta-nos aquela qualidade tipo de um jogador de um grande. Mas é o que temos...
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