Excrecências medonhas
Pedro Azevedo
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas pra dar
E enquanto alguns fazem figura
e sucumbem á batota
Chega a onde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada pra andar
Enquanto houver ventos e mar
Enquanto houver ventos e mar
O sistema é antigo e não poupa ninguém
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
A liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo" - A gente vai continuar (Jorge Palma)
Poderá haver quem goste deste tipo de coisas. Alguns até chamarão à colação a velha teoria de que a polémica é necessária e alimenta os seguidores do fenómeno futebolistico. Mas sejamos sérios: Vitor Catão e César Boaventura são a ponta do icebergue do estado em que mergulhou o futebol português. Sinais que parecem não incomodar as autoridades deste país, desde quem nos governa, passando pelo poder judiciário, até quem gere o nosso futebol.
Só há uma forma de parar isto: os amantes do futebol fazerem boicote aos jogos, não comparecendo nos estádios e não vendo as transmissões televisivas. Se o dinheiro à volta do futebol começar a minguar, os agentes envolvidos vão sentir o solo a fugir-lhes dos pés e serão obrigados a definir regras, cumpri-las e regenerarem-se. A alternativa é continuarmos a fingir que nada se passa, à espera de umas quantas vitórias à Pirro, o que nos tornará cúmplices de toda a situação. A dependência é uma besta, como diria o Jorge Palma, mas se esta é a "droga" que nos servem, então eu prefiro a "metadona" das modalidades ou a "ressaca" de uma cura de desintoxicação.