Nada é inevitável num clube
Pedro Azevedo
"There's no time but the present" or "there's no time like the present"?
O Sporting encontra-se num dilema: nem tem um modelo económico de negócio que lhe garanta a sustentabilidade financeira nem obtém resultados desportivos de acordo com a grandeza do clube e com o que gasta. A esse propósito devo já dizer que me interessa muito menos o resultado do próximo jogo do que a próxima geração proveniente da Academia (visto que a anterior a demos polemicamente por perdida). Do mesmo modo, também me interessa muito menos a próxima geração da Academia do que a próxima geração de sócios do Sporting.
A perenidade do clube é o que mais me importa neste momento. Pensei nisto ao observar que para além dos resultados desportivos serem desapontantes também não estamos a preparar de forma conveniente o futuro do clube, essencialmente por aquilo que tem sido na prática, e não em teoria, a fraca aposta em jovens na equipa principal. Mas isso, sendo mau, não é o pior. O que mais me preocupa quando olho para as últimas 3 décadas do clube e para o presente é vêr que em certos momentos tudo se apresentou perante os nossos olhos como inevitável. Ora, no meu entendimento, nada é inevitável, o importante é que mudemos de rumo.
Há muitos anos atrás, recebi uma guitarra como herança de um avô entretanto falecido. Ao longo dos anos, mais do que apenas usá-la, preocupei-me em preservá-la para a geração seguinte, a dos meus filhos. Dei um tratamento à madeira, pus-lhe cordas novas, afinei-a. E o ano passado ofereci-a à minha filha mais velha, não deixando de lhe dar a recomendação que aqui Vos deixo. Da mesma forma que o fazemos nas nossas vidas privadas, quem lidera um clube deve ter o cuidado de preservar um bem comum e de o fazer chegar em bom estado às gerações vindouras, preocupação esse que deve ser infinitamente superior ao privilégio de deter o poder no clube. É por isso também, pelo sentido de bem comum, que deve haver um reporte contínuo aos sócios, de forma a que estes possam percepcionar e avaliar o racional do que está a ser feito. Isso não demonstra só respeito pelos actuais sócios, mas também respeito por todos aqueles já desaparecidos que criaram o clube e o ajudaram a manter, por futuras gerações de sócios e, principalmente, pelo clube em si.
Se quem lidera começar a pensar mais na próxima geração do que na próxima eleição e se os sócios souberem acolher tal opção, rapidamente todos irão compreender que nada é inevitável e que, afinal, tudo é possível. O que é mais curioso nesta forma de vêr as coisas é que quem geralmente pensa mais no futuro do que no presente obtém os melhores resultados. E resultados sustentáveis, não revertíveis por uma daqueles desculpas esfarrapadas em que os menos bons gestores são férteis e que são elucidativas das suas "capacidades". Por isso, do que precisamos é de "sentido de estado" no Sporting. É que pequena política com o foco na perpectuação nos cargos já sabemos no que dá e nós queremos ter um futuro. E brilhante, por sinal. Sinal verde, claro.