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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

12
Ago19

O amor é... por Joana Marques(*)


Pedro Azevedo

Há um Sporting que reside dentro de cada um. O último bastião do sportinguismo são as nossas memórias individuais. Elas são intemporais (ao ganharem vida deixam de estar datadas), incorruptíveis, inalienáveis. É a elas que recorro frequentemente perante conjunturas adversas, nomeadamente ao tempo em que era menino e como menino que era não tinha filtros nem preconceitos e absorvia como uma esponja tudo o que dissesse respeito ao Sporting que para mim era relevante: aquele que entrava em campo aos Domingos, não o dos gabinetes. Foi a pensar nessas memórias (e não na conjuntura) que pedi a autores consagrados da blogosfera que escrevessem sobre o seu Sporting. 

 

Hoje convido uma senhora, ou melhor (para que não fiquem dúvidas sobre a sua idade e jovialidade), uma menina, mulher, menina mulher, casada, mãe de 2 filhas e com outra a caminho, a Joana Marques. Há alguns meses atrás, mão amiga trouxe ao meu conhecimento a Joana. No seu blogue escrevera algo sobre o Sporting que eu deveria lêr, dizia o meu amigo. Li. E aquilo tocou-me. Tocou-me pelo estilo de escrita de cunho muito próprio e intimista, pela forma como os seus textos ganhavam vida com a sintaxe por via de uma invulgar e ousada disposição das frases (a indicar uma personalidade muito vincada), mas também (principalmente) pela forma como conseguira traduzir a sua paixão pelo nosso clube. Foi a primeira vez que li o "Feita de Sporting", que mais tarde vi traduzido pelo nosso marketing em "Feito de Sporting", que adicionava as conquistas aos sentimentos. Reli o texto e não esqueci. Não conhecendo a Joana, guardei em ficheiro na minha cabeça para memória futura. E a oportunidade de contacto surgiu com esta série "O amor é...".  Assim, sem mais delongas, esperando ter-lhe feito justiça (há sempre algum pudor e dá sempre um bocadinho de medo apresentar quem acabamos de "conhecer"), aqui fica o texto que a Joana nos escreveu por amor ao Sporting:

 

"Tenho 3 filhas.

Quando penso naquilo que quero para elas peço: saúde, felicidade..

…e que sejam do Sporting.

É por isso que nas noites de mais inspiração, em vez de lhes ler “a Branca de Neve e os 7 anões” lhes conto episódios vividos por mim. Com o Sporting.

Com a Alice e a Mariana ao meu colo e a Luísa dentro da minha barriga, começo devagarinho….

 

Era uma vez….

…há muito, muito tempo.

  1. No Alentejo.

Tinha 6 anos e passava as férias grandes em casa dos meus avós.

Eu, o meu irmão e uma carrada de primos rapazes.

Era levada da breca e tirava a paciência a tudo e a todos.

Era a mais nova.

Hiperactiva. Mimada.

Precisava de atenção e entretenimento constante.

Passávamos os dias a correr atrás do sol e regressávamos a casa ao anoitecer. Lanchávamos a fruta das árvores, bebíamos a água dos fontanários públicos e fazíamos amigos improváveis.

Não havia telemóveis. Toda a gente confiava em nós. Brincávamos como queríamos e onde queríamos.

Os meus pais e os meus tios visitavam-nos ao fim-de-semana. Ao sábado à noite passava um bom par de horas dentro da banheira. No dia seguinte a minha mãe levava-me à missa e não podia ir com aquelas pernas todas encardidas.

 

Os meus pais e os meus tios iam-se embora ao Domingo depois de almoço.

 

 

Um desses domingos. Saíram mais cedo.

Para grande alívio do meu avô.

O campeonato ia começar. O Sporting ia jogar.

Quando o Sporting jogava o mundo parava.

O meu avô, exigia silêncio e atenção.

Sentava-se no sofá da sala com a minha avó ao lado.

Nós sentávamo-nos “à chinês” ao redor do sofá.

Calados que nem ratos. À espera de novidades.

Mas…

….a minha fama era qualquer coisa!

O meu avô confiava no silêncio de todos excepto no meu. Vá se lá saber porquê… ;)

Enquanto sintonizava o rádio chamava-me!

- Joana!

Ficava direitinha e caladinha! Em sentido…

Também eu queria participar do momento.

O meu irmão dizia-me baixinho ao ouvido:

- Se te sentires aborrecida vai por aí tocar às campainhas!

Não fui!

O jogo começou.

Fiquei ali a alimentar o meu Sportinguismo.

O meu avô tinha o rádio ao ouvido.

Nervoso.

Pediu à minha avó ajuda divina.

A minha avó levantou-se e tirou a tampa de uma terrina que tinha em cima da mesa.

Tirou um terço e começou a rezar.

O meu irmão disse-me baixinho ao ouvido...

- A avó está a rezar a Deus para o Sporting ganhar!

 

O Sporting ganhou o jogo!

 O meu avô levantou-se.

Nós fomos atrás dele.

Entrou na adega. 

Saiu de lá com 4 foguetes. 

Lançou-os.

Para que toda a gente soubesse que o Sporting tinha ganho.

 

No fim de semana seguinte  os meus pais voltaram para nos ver e eu tinha uma coisa muito importante para lhes contar.

Mal saíram do carro! Gritei...

- Deus é do Sporting! Deus é do Sporting!

A minha mãe quase enfartou.

O meu pai riu desalmadamente.

Eu, acrescentei:

- O Sporting jogou, a avó rezou a Deus e o Sporting ganhou!!

Feliz da vida, acreditei que o Sporting ia ganhar para sempre.

Deus era do Sporting! Deus era do Sporting!

 

 

O Sporting foi desde o meu primeiro dia de vida o prolongamento da minha família, Alvalade o prolongamento da minha casa.

Actualmente, não sou crente mas tenho uma fé inabalável no meu Sporting.

Tudo pode falhar...

...menos o meu Sportinguismo!

Continuo a acreditar que o Sporting vai ganhar os jogos todos!

Nos ombros, tenho a responsabilidade de transmitir toda esta fé e esta memória às minhas filhas, para que daqui a 20 anos, sejam elas as convidadas a escrever um texto sobre o grande amor das nossas vidas!

 

Obrigada, Pedro!

Tão bom estar por aqui. 💚"

 

(*) Joana Marques, autora de "Kiosk da Joana"

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