O caminho
Pedro Azevedo
Tenho 3 filhos: um rapaz e duas meninas, mais concretamente. Uma das meninas é demasiado pequenina para ter visto o Sporting vencer. Os dois mais velhos eram também demasiado pequeninos na época para hoje terem qualquer recordação de um Sporting campeão. Quero, por isso, fazer a festa do título com eles. E depois repeti-la, uma e outra vez. Em casa, no Marquês, no estádio, em qualquer lado onde houver Sportinguistas à nossa volta que possamos abraçar. Mas, se não ganharmos durante mais uns anos, pelo menos que estejamos seguros da perenidade do clube e que continuemos a confiar no caminho seguido.
Se um presidente existe, chame-se ele João Rocha, Amado de Freitas, Jorge Gonçalves, Sousa Cintra, Santana Lopes, José Roquette, Dias da Cunha, Soares Franco, José Bettencourt, Godinho Lopes, Bruno Carvalho ou Frederico Varandas, é para fazer os sócios felizes. Não vejo o exercício do mandato presidencial de uma outra forma. Houve um tempo na minha vida em que me bastava ser do Sporting para ser feliz, sem precisar propriamente de qualquer outro motivo, algo que o poeta Carlos Drummond de Andrade dizia ser a mais autêntica forma de felicidade. Acontece que a minha ideia de Sporting é um todo. Por isso, se tenho um clube partido e não se faz o suficiente para o consertar, esse todo é menor. E isso não me pode deixar feliz. Ainda mais do que consertar, há que concertar uma estratégia que a todos envolva e galvanize. O clube deve viver para os Sportinguistas, não é concebível que sobreviva apesar dos Sportinguistas. Nessa situação, embora a base continue a ser de Sportinguistas, o expoente será menor, pelo que o Sporting enquanto potência valerá menos. Ora, eu serei sempre menos feliz como parte de um grupinho do que enquanto integrante de um Sporting uno e indivisível. Quer isso dizer que desejo um clube acrítico? Obviamente que não. Tenho bem resolvido na minha cabeça que não é a critica que divide, mas sim a incerteza quanto à resolução dos problemas. Na realidade, o ser humano sabe conviver com o bom e com o mau. Em ambas as circunstâncias, adapta-se. O que o ser humano não sabe é viver com a incerteza. Tal gera ansiedade, angústia, depressão. E cria ruído. Nesse sentido, o maior problema do Sporting actual não é a maior ou menor confiança no caminho seguido, é a falta de percepção de que caminho é esse, tão diferente parece ele ser na prática daquilo que foi previamente anunciado.