Possibilidade de desenvolvimento do nosso jogo
Pedro Azevedo
Uma equipa que pratique um futebol atacante como a do Sporting está na maior parte do tempo instalada no meio campo adversário. Ora, atendendo a que habitualmente um campo tem as dimensões de 110 m/70m - considerando que a linha defensiva estará posicionada um pouco atrás do grande círculo, o ponta de lança andará nas imediações da grande área contrária e os laterais/alas abrirão em largura - , então na maior parte do tempo a equipa ocupará um espaço de 45 metros de comprimento e 70 metros de largura.
Com bola, o Sporting de Ruben Amorim ocupa 4 linhas, guarda-redes excluído. Existe uma primeira linha defensiva de 3 centrais, uma segunda que compreende dois médios centrais e dois laterais/alas, dois avançados interiores como enganche e um ponta de lança. Ora, fazendo as contas, supondo que a distância entre todas as linhas é uniforme, teremos uma distância entre linhas igual a 15 metros, o que é superior àquilo que seria unanimemente recomendável para praticar um futebol posicional (à volta de 10m). Acresce que é possível ver à vista desarmada que médios centro e centrais estão demasiado próximos, o que faz com que o espaço compreendido entre os médios centro e os dois enganches ascenda por vezes a 20/25 metros, o que, ou inibe o passe e engasga o nosso jogo (lateralizações), ou acaba por estar na origem da perda de tantos passes, ambas as situações contribuindo para piorar a qualidade do nosso jogo. Se a isso adicionarmos a falta de conhecimento por parte de Plata daquilo que é requerido a um interior e as características individuais de dois enganches que pensam muito mais como avançados do que como médios (acelerando e não temporizando), fica explicada a razão pela qual tantas vezes a solução de recurso para os médios é colocar a bola directa em Sporar. Tal permite também perceber porque habitualmente a circulação de bola do Sporting é em "U", procurando parcerias entre os laterais/alas e os interiores por detrás do ponta de lança que essencialmente têm características de extremos e acabam por procurar muitas vezes a bola junto às linhas laterais.
Uma solução para este problema, que se poderá vir a manifestar de forma nefasta nos resultados contra equipas mais evoluídas, poderia passar pelo recurso a mais uma linha no meio campo. Existem duas possibilidades de colocação dessa nova linha no terreno, mas só um jogador ideal para a ocupar: Francisco Geraldes. A meu ver, ambas as possibilidades trazem vantagens, todavia uma delas poderá incluir inconvenientes. A primeira possibilidade passaria por Chico substituir Plata, recuando um pouco face a Jovane, assumindo-se mais como um médio atacante do que como um enganche de Sporar, dando uma componente mais cerebral ao nosso futebol. O senão desta alternativa é a equipa poder perder alguma capacidade de explosão na frente. A segunda possibilidade, aquela em que mais acredito, envolveria a saída de um dos médios centro actuais e a criação de uma linha à frente onde actuaria Geraldes. A ideia seria haver uma clara definição entre as posições "6" e a "8", o que ajudaria o nosso jogo interior a desenvolver-se mais. Acresce que, com 3 centrais atrás, me parece excessiva a utilização de dois médios a par na linha imediatamente à frente, situação que leva muitas vezes a um engarrafamento na saída de bola e cria até indefinição sobre quem atacar a bola no processo defensivo (vidé o segundo golo, de carambola, do Vitória de Guimarães). Com 5 linhas, o espaçamento entre sectores seria mais próximo do ideal (11,25m) e a equipa poderia ligar muito melhor e variar mais o seu jogo ofensivo, incluindo aí as entradas frontais do "8" que hoje em dia não temos. Por outro lado, aquando da perda de bola a equipa estaria muito mais inteligentemente disposta no terreno para a recuperar rapidamente, não dando espaço entrelinhas nem permitindo transições. (A grande vantagem para mim deste 3-4-3, ou 3-4-2-1, ou 5-4-1 quando sem bola, é a possível inclusão de Geraldes como "8", algo que não seria tão credível num 4-3-3 onde ao "8" é pedido muito mais trabalho defensivo.)
Não sei o que Ruben Amorim pensará disto, porque no actual contexto da comunicação nos clubes portugueses poucas vezes há a possibilidade de questionar um treinador sobre o futebol jogado. Mas que gostaria de lhe perguntar como vê esta possibilidade de desenvolvimento do nosso jogo, lá isso gostaria.