Em Portugal, o comentário futebolístico enferma muito de contaminação pelo resultado. A verdade é que foi o melhor jogo que a actual equipa do Sporting pode fazer. Num dia normal até teria dado para ganhar. Não deu porque no desporto, como na vida, a eficácia é determinante. Por muito que se valorize o trabalho, a transpiração necessita sempre do auxílio da inspiração para produzir resultados. Assim, apesar de ter querido mais ganhar que o seu adversário, o Sporting acabou por perder. E de forma justa, na medida em que no futebol ganha quem marca mais golos e o Porto fez mais um.
No futebol, a eficácia está dependente da concentração e da qualidade dos jogadores. Duas distrações defensivas leoninas resultaram em dois golos portistas, má definição em frente da baliza impediu o Sporting de materializar no marcador a sua superioridade em campo (Marchesin nem sequer foi chamado a defender em qualquer uma das seis ocasiões flagrantes de golo desperdiçadas pelo Sporting, o que atesta o demérito leonino na hora da concretização).
Ao contrário do que é habitual, não foi um jogo onde os médios tenham estado particularmente bem. Especialmente os volantes ("6") ou segundos volantes ("8"), que passaram um pouco ao lado do jogo. Doumbia e Danilo deram pouco ao jogo ofensivo das suas equipas e defensivamente foram apanhados demasiadas vezes desposicionados, Wendel e Uribe tiveram posse sem grande critério. Com Bruno Fernandes muito vigiado nas suas acções, encontrando apenas espaços por fora, acabaria por ser Nakajima a dar mais nas vistas, quebrando linhas com entradas em drible que desestabilizaram a linha média leonina.
Houve uma importante componente de estratégia por parte dos dois treinadores, a qual se materializou mais pelas movimentações na esquerda dos dois ataques: Sérgio procurando posicionar aí Marega para explorar as suas diagonais nas costas da defesa dos leões, Silas tentando aproveitar o balanço ofensivo de Acuña - o melhor jogador em campo - em contraponto com a menor propensão defensiva de Corona. No final, ambos os treinadores recolheram dividendos dessas apostas estratégicas. Adicionalmente, o Porto voltou a ser muito forte na bola parada, momento do jogo em que é a equipa mais forte do campeonato, tendo Soares resolvido na sequência de um pontapé de canto.
O Porto tinha 3 soluções atacantes no banco que o Sporting não possui. Aboubakar, Zé Luis ou Luis Diaz seriam titulares de caras no Sporting e nem sequer jogaram de início nos dragões. Tal possibilitou a Sérgio lançar o colombiano com acréscimo de rendimento global para toda a equipa, algo que Silas não conseguiu com a introdução de Jesé, Plata e Camacho.
Sendo certo que ambas as equipas precisavam de ganhar, Silas mostrou maior ambição do que Sérgio. No entanto, a vitória viria a cair no regaço do treinador portista sem que este tivesse feito muito para a merecer. Sérgio privilegiou sempre o controlo das operações à tentativa de desequílibrio e quando mexeu na sua equipa já o jogo poderia estar perdido se o Sporting tivesse minimamente aproveitado o ascendente que teve nos primeiros 25 minutos da segunda parte. Mas, em jogos deste tipo, quem tanto falha (ofensiva e defensivamente) fica sempre mais próximo de perder. Em resumo, mais do que o Porto ter ganho o jogo, o Sporting é que o perdeu.
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