Tudo ao molho e fé em Deus
Seguidores de Drucker
Pedro Azevedo
O economista e consultor de gestão Peter Drucker dizia que os resultados são obtidos através da exploração de oportunidades e não pela solução de problemas. E o Sporting levou a sua lição à letra: Trincão foi igual a si próprio, Esgaio idém, mas os leões globalmente fizeram um jogo sério e empenhado e souberam explorar bem a necessidade que o Sturm Graz tinha de ganhar o jogo a fim de se apurar para a Conference League sem ficar tão dependente do resultado do Rakow.
Num jogo aberto, Sporting e Sturm Graz alternaram o domínio durante o primeiro tempo, período onde o equilíbrio foi notório. Curiosamente, quem se desequilibrou foi o árbitro, que caiu, levantou-se e correu com a bota mais à mão até ter de finalmente parar o jogo para se calçar - uma lição para quem acha que não se consegue "descalçar a bota" da arbitragem. Em contra-ciclo, quem nunca fica "descalço" com Gyokeres em campo é o Sporting. Mas já lá vamos... Se logo a abrir o Sporting teve uma oportunidade por Nuno Santos, os austríacos replicaram com uma ocasião ainda mais clara através de um cabeceamento parado por Israel com muita fotogenia. Até que o Matheus Reis tabelou com o Nuno Santos, deixou um defesa com os olhos à Marty Feldman (Mel Brooks) e cruzou exemplarmente para o Gyokeres empurar de pé esquerdo para golo. Grande jogada! Depois, o Gyokeres desarmou um adversário no nosso meio campo e soltou um vendaval até às imediações da área austríaca, passando então ao Paulinho. Este, primeiro, temporizou e depois centrou para o sueco cabecear de forma cruzada, testemunhando o guarda-redes a voar em contra-pé e a bola a esbarrar contra o poste. O suficiente para o Gyokeres, que merecidamente foi descansar para o banco. Para segunda-feira a Protecção Civil anuncia mais vento forte e possibilidade de precipitação... de golos (mas com o Pepe em campo, o "mau tempo" já era garantido).
Se na primeira parte o jogo foi repartido, na etapa complementar o Sporting dominou por completo. O recém-entrado Morita contribuiu bastante para isso, na medida em que mostrou uma percentagem de sucesso no seu passe de primeira bem superior à de Hjulmand, o que melhorou a fluência do nosso jogo e nos permitiu ganhar tempo e encontrar espaços por onde ferir os austríacos. Além de que as suas características compatibilizam-se melhor com as de Bragança em jogos em que o adversário não mostra grande intensidade e o Sporting tem mais posse, ambos privilegiando um jogo de passe rápido e desmarcação constantes que foi baralhando as marcações dos austríacos, que nunca encontravam o momento certo de atacar a bola. Quando o meio campo funciona bem, logo aparecem espaços entre-linhas e nas alas e melhor se realçam as virtudes do modelo de jogo em boa hora implementado por Rúben Amorim. Assim também aconteceu ontem, embora a má definição na área nos tenha impedido de alargar a vantagem dessa forma, pelo que os golos acabariam por chegar no seguimento de pontapés de canto, com Inácio, que também só entrou no segundo tempo, a bisar. Pouco mais haverá a destacar, com a excepção da oportunidade concedida ao jovem Essugo de jogar fora da sua posição natural. Um clássico de Rúben Amorim, mas, enfim, também ninguém é perfeito, não é verdade?
Para quem já viu uma Valsa em Linz, que mais parecia uma Tragédia Grega, e Ópera Bufa em Viena e Salzburgo, este ensaio geral com a (S)turma de Graz até não correu nada mal. Aproxima-se agora o jogo grande que os Sportinguistas acreditam ser aquele em que a equipa se vai finalmente mostrar à altura do lema do seu fundador, respeitando o adversário mas segura do seu valor. Se jogador por jogador e mesmo colectivamente vejo o Sporting como superior, não se pode descurar o peso que os duelos individuais poderão ter. Principalmente quando as forças começarem a ceder e houver menos compensações. Pelo que na forma como Esgaio (e o Diomande na dobra) lidará com Galeno, ou Edwards conseguirá ou não desequilibrar pelo centro-direita, dependerá muito provavelmente o resultado final do jogo.
Tenor "Tudo ao molho...": Hidemasa Morita. (Matheus Reis merece uma menção especial pela jogada do primeiro golo, Gyokeres teve 1 minuto de sonho que valeu pelo jogo todo e Gonçalo Inácio já leva 3 golos nos últimos 2 jogos.)