4 momentos que marcaram a época
Pedro Azevedo
Dezanove de Janeiro, o cenário é o Municipal de Leiria. Disputa-se a meia-final da Taça da Liga. Um golo trapalhão de (who else?) Marega havia adiantado o Porto no marcador. Faltam 2 minutos para se atingir o tempo regulamentar e a perspectiva é de que o Sporting obtenha o terceiro resultado negativo consecutivo, após eliminação aos pés do Maritimo para a Taça de Portugal e empate caseiro com o Rio Ave. Há, porém, um homem que não se conforma, não se resigna. Eterno patinho feio na visão de uns quantos, Jovane volta a mostrar que é afinal um belo cisne. Tudo começa quando, à entrada da área, imagina e executa um pontapé em arco que faz a bola passar por onze jogadores do Porto até anichar-se no ângulo inferior direito da baliza à guarda de Diogo Costa. Pouco tempo depois, como cisne que é, conclui de bico, na sequência de um passe de Coates que encontra Pedro Gonçalves entre-linhas para receber à vontade, progredir com a bola e desmarcá-lo no momento exacto. O Sporting ganha renovada confiança e acaba por vencer a Taça da Liga.
Um de Fevereiro, o Sporting recebe o Benfica na penúltima jornada da primeira volta do campeonato. Após grande polémica, Palhinha está disponível para o jogo, mas Rúben Amorim adverte com antecedência que Matheus Nunes treinou do lado dos titulares durante toda a semana e merece ir a jogo. Dito e feito, o brasileiro fará dupla no miolo com João Mário. O Sporting dá a sensação de ser sempre mais perigoso, mas o jogo já parece estar fechado quando a bola vai e vem, da esquerda para a direita e desta para o centro, até que Matheus Nunes lhe enfia uma cabeçada que viria a ser o início da tregédia grega de Vlachodimos. A jogada de Amorim sai-lhe na perfeição: não só prova estar atento à meritocracia como vence um pretendente ao título, vitória caseira que o Sporting já há algum tempo perseguia contra o rival.
Vinte e sete de Fevereiro, o Sporting desloca-se ao Dragão. Apesar dos 10 pontos de avanço, os observadores ainda veem este jogo como um teste à candidatura ao título do leão. E do Dragão sai a certeza de que há que contar com o Sporting: nulo no marcador, com a melhor oportunidade a sair dos pés de Matheus Nunes - uma brilhante arrancada desde o meio-campo que merecia uma melhor conclusão.
Vinte e cinco de Abril. O cenário é a Pedreira de Braga. O Sporting vinha titubeantemente perdendo gás. Para piorar o cenário, Gonçalo Inácio vê o segundo amarelo aos 18 minutos e é expulso. Mas em Dia da Liberdade o Sporting solta-se do fado do costume e com uma exibição que apela à resiliência sustém os braguistas. Até que Matheus Nunes aproveita um livre marcado por Porro, isola-se na meia direita e marca ao outro Matheus, de Braga. Um golo semelhante ao que valeu a Taça da Liga (obtido por Porro). O Evangelho segundo Matheus narra a vitória iminente na Liga. Coates faz um jogo enorme, constitui-se como um autêntico muro contra as aspirações do Braga e demonstra ser um grande capitão. De repente, todos pressentem que o título já não fugirá ao leão.
Todos os jogadores foram importantes pela sua regularidade, com particular ênfase para Pote, Coates e Palhinha, mas estes foram os momentos (e os jogadores) que na minha opinião foram decisivos num contexto em que a história poderia ter sido narrada de forma diferente.