Flavia aurum, o ouro de Chaves
Pedro Azevedo
De entre os vários tesourinhos que o Sporting extraiu na mina de diamantes sita em Alcochete destacam-se Gonçalo Inácio, Nuno Mendes, Matheus Nunes (lapidado na última estação de produção da linha de montagem) e Jovane Cabral. Adicionalmente, Tiago Tomás e Daniel Bragança - o sistema de Rúben só o favorece quando o 3-4-3 transmuta num 3-5-2 - também vêm mostrando brilho, estando ainda em avaliação para apurar se são diamantes ou zircónia. Porém, é de um não formado em Alcochete que mais se fala entre os adeptos leoninos. Refiro-me a Pedro Gonçalves, ou simplesmente Pote, o Pote de Ouro do actual Sporting. O Pedro é um jogador extraordinário. Tão extraordinário que se pertencesse ao clube do outro lado da Segunda Circular já teria merecido inúmeras parangonas nos jornais envolvendo o interesse milionário de todos os gigantes deste mundo e do outro. Além da excelência que exprime em campo, o Pote é um jogador intrigante que deveria suscitar na crítica o interesse pela descodificação do seu ADN futebolístico. Afinal, estamos a falar de um avançado que pensa como um médio ou de um médio que age como um avançado? Eu diria que ambas as premissas são verdadeiras. Pote é essencialmente um mutante que remata como quem passa à baliza ou organiza o jogo desde trás, mas também serve apoios frontais ao portador da bola como se de um ponta de lança se tratasse e revela inteligência muito acima da média na leitura do espaço entre-linhas por onde melhor pode desequilibrar o adversário (típico de um categorizado "nove e meio"). Sim, se tivesse que destacar uma qualidade no Pote seria a sua inteligência superlativa. Os apoios frontais que oferece à continuidade das jogadas (vidé a sua primeira intervenção no segundo golo na Pedreira) ou a forma como estrategicamente desaparece do jogo para logo revelar a sua letalidade ao saber apresentar-se no momento certo assim o mostram à saciedade.
Melhor marcador do último campeonato nacional, primeiro colocado na corrida pela Bola de Prata deste ano e já decisivo na conquista leonina da Supertaça, o que precisa mais Pote de fazer para ser unanimamente reconhecido como o jogador de referência do futebol jogado em Portugal? Na verdade nada, pois tudo o que depende dele merece a nota mais alta. Já o que depende de terceiros é outra conversa. Fernando Santos que o diga. E assim o Pote arrisca-se a ser visto como um engraçado jogador de um tempo em que um Rafa cai mais facilmente em graça...