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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

23
Dez24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O Auto da Barca do Inferno


Pedro Azevedo

Não sei em relação a vocês, mas eu não acredito em coincidências: o Big Bang não aconteceu por acaso, o meteoro que caiu na província de Yucatán, dizimou os dinossauros e criou as condições ideais para o desenvolvimento da espécie humana, idém. E se coisas tão complexas como estas que ocorreram no passado e influenciaram o mundo como o conhecemos hoje não foram coincidência, o Sporting ter encontrado ontem no Gil Vicente a barca dos infernos muito menos o foi. 

O Sporting navegava numa barca comandada por um anjo. O mar era calmo e o sol luzia, a embarcação seguia sem sobressaltos. Mas o anjo permitiu que os seus dons de timoneiro lhe subissem à cabeça e, qual Lúcifer, afrontou a vontade de Deus, logo se achou acima de todos e reclamou uma barca mais luxuosa, deixando a do Sporting à deriva em alto-mar, a naufragar num mar que logo se encrespou. Até que foi abordada por outras duas barcas que imediatamente disputaram as almas em presença, uma tripulada por um anjo não corrompido pela ambição desmedida e outra dirigida pelo diabo. Só que para muitos era tarde demais, a desidratação e falta de alimento já haviam produzido o seu efeito e na barca jaziam vários corpos, só escapando com vida os jogadores. 

Em sequência, os mortos começam a ser distribuídos pelas embarcações. O primeiro chama-se Frederico. É condenado ao inferno por soberba, preguiça e avareza. Arrogante, a sua alma reclama o Paraíso, alegando os muitos êxitos obtidos no seu mandato "fácil, fácil". O anjo recusa-o, com o argumento de que os méritos foram essencialmente de Rúben. Segue-se o próprio Rúben, previamente capturado em Manchester by the Sea pelo diabo e já condenado por ganância. Ainda tenta mudar novamente de barca e convencer o anjo a ir para o céu, mas, apesar dos seus méritos evidentes, não o consegue convencer pelos recentes prejuízos causados ao anterior clube e seus apaniguados. Também pede ao diabo que o deixe voltar a onde tudo começou (Sporting), mas é demasiado tarde para a redenção e acaba na barca do inferno. O terceiro a chegar é um ingénuo. Chama-se João. É tentado pelo diabo a entrar na barca do inferno, mas quando descobre que o seu destino é um presente envenenado vai falar com o anjo. Este, embevecido com a sua humildade e a "brilhante defesa" (do seu caso), fá-lo entrar na barca que vai para o céu. Depois, chega o que é já o fantasma de Viana, que tenta mostrar que não é deste filme. Mas o anjo não o leva, apoiado-se em tudo o que (não) fez quando não teve controlo parental. Os nomes de Bolasie, Jesé e Fernando são ecoados e imediatamente o diabo o puxa para a barca que segue para Inferno City, onde árbitros e VAR também têm lugar cativo. Finalmente, avança o Paulinho, o último a deixar a toalha cair ao chão, uma vítima inocente do despautério de outros. O diabo sente que com este não tem qualquer hipótese e logo o anjo o conforta e encaminha este verdadeiro leão para a barca que vai para o céu. 

 

Entretanto, os jogadores ficam num limbo, isto é, ainda sobrevivem, se bem que estourados física e psicologicamente, mas já não sabem se isso é real ou se estão no purgatório. E aquilo que poderia ter sido Um Cântico de Natal sobre os méritos da redenção e metamorfose do nosso Ebenezer Scrooge, virou um Auto da Barca do Inferno...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Hjulmand

resumo-do-livro-Auto-da-Barca-do-Inferno-500x500.p

15
Dez24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Regresso ao Passado com falhas de memória


Pedro Azevedo

Quando João Pereira pegou na equipa esta estava na iminência de bater o recorde de melhor início de campeonato, pouco mais de duas semanas depois jogámos para não estabelecer um novo recorde de derrotas consecutivas. Como se percebe, fomos do oitenta a oito, mas, assim como tudo o que sobe um dia inevitavelmente desce nem que seja pelo efeito da força de gravidade (que também bem graves são algumas decisões...), quando se atinge o nível do solo não se pode cair mais. Não só não descemos mais como, ou não jogássemos com uma bola redonda, ressaltámos da valente queda que demos. É verdade, a primeira hora de jogo da nossa parte foi ao nível do melhor de Ruben Amorim, com os interiores a partirem de fora para dentro (nem todas as coisas devem ser geridas de dentro para fora...), Gyokeres a ter espaço na profundidade e o regresso da geometria euclidiana com os inúmeros triângulos desenhados no rectângulo de jogo e abrangendo essencialmente as duas alas. Todavia, faltaram duas coisas para convencer definitivamente os adeptos sobre a retoma: a finalização, que foi desastrosa (Gyokeres só à sua conta perdeu 3 golos cantados, Geny, Maxi e Simões falharam outros tantos), e o comportamento defensivo, com falta de pressão sobre o portador da bola nos lances mais perigosos do Boavista e o erro claro de colocação de Debast como central pelo meio (o belga só olha para a bola, não controla o espaço nem a deslocação do avançado que lhe cabe marcar). E se da má definição final dos lances ofensivos dificilmente se poderão assacar responsabilidades a João Pereira, a insistência em Debast no centro da defesa após o desastre na Supertaça foi o mesmo que pôr-se a jeito para que as coisas não corressem bem (pior é o João Pereira quando fala parecer não ter noção da origem das coisas, como se estas ocorressem por obra e graça do Espírito Santo ou uma conspiração universal contra ele e o Sporting). Não é que o Debast seja mau jogador, que aquela capacidade de passe entrelinhas não engana e é do melhor já visto no futebol mundial, simplesmente não é um bom defesa, ou, melhor, pode defensivamente ser um razoável central pela direita e compensar com o que dá à equipa ofensivamente, mas actualmente não é um fiável central pelo meio. Senão vejamos o lance do primeiro golo dos axadrezados, em que em nenhum momento se preocupa com Bozenik, o tempo todo 1x1 nas suas costas, ou no segundo golo dos boavisteiros, em que não encurta em largura para Quaresma (este aproximou-se correctamente de Geny, que disputou um duelo de cabeça com um adversário em que a bola podia ter ficado por ali), afunda-se em relação à linha e tarda a reagir à movimentação do avançado à sua frente. 

O Sporting perder constantemente as vantagens que detém no marcador é coisa para enervar um monge tibetano, mas, quando cumulativamente temos de levar com o Fábio Veríssimo, então até o mesmo monge tibetano é levado à tentação de cortar os pulsos. E se nenhum adepto merece esta montanha russa em que se tornou o futebol do Spoeting, em relação ao Veríssimo a Liga Portugal tem o que merece (a UEFA é que não tem culpa nenhuma de levar com esta exportação lusa feita a martelo). 

Com um olho negro, um galo na cabeça e um frango entre os postes, o leão estropiado conseguiu os 3 pontos. Do lado do Boavista, uma palavra para Seba Perez, um grande jogador, um polvo cujos tentáculos se estenderam por todo o campo e também as pernas dos jogadores leoninos. Já Debast é o nosso Contreras do Século XXI: óptima saída de bola, mas erros defensivos de um principiante. Um jogador à primeira vista agradável aos olhos, mas que não enche a barriga. Tem de melhorar urgentemente o seu comportamento defensivo (no primeiro golo o Quaresma foi ao meio dissuadir um boavisteiro que seguia frontalmente com a bola e ao regressar teve de enfrentar um bloqueio legal de Reisinho e Matheus Reis deu algum espaço na largura a Agra com medo que este metesse a velocidade, mas é Debast que perde totalmente a sua referência de marcação, o eslovaco Bozenik). 

 

Vencemos o jogo e com isso ganhámos tempo. Só o futuro dirá se esse tempo foi ganho para ser desperdiçado ingloriamente, o que se sabe é que não se deve perder o tempo que custou tanto a ganhar. Ontem, João Pereira provou que até é capaz de entender os comportamentos e nuances ofensivas que Rúben Amorim criou no Sporting, falta perceber se algum dia compreenderá o que é necessário fazer defensivamente. Talvez ajudasse porém que Diomande ou Inácio jogassem como centrais pelo meio, uma lição que Amorim aprendeu com um custo elevado em Aveiro.  

 

Tenor "Tudo ao molho...": Francisco Trincão. Quenda realizou um bom jogo.

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11
Nov24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

A Última Ceia


Pedro Azevedo

Desde há duas semanas que sabíamos que o nosso futuro próximo não passaria por Rúben Amorim, mas de alguma maneira a administração do clube conseguiu estender o presente umas semanas, pelo que o Rúben continuou por aqui mais algum tempo e a sensação de orfandade ficou suspensa num tempo entretanto congelado para que o alimento de que todos os Sportinguistas precisam (as vitórias) não ficasse estragado e o novo treinador a anunciar não tivesse prematuramente de meter-se em refogados. Mas tudo tem o seu fim, embora esse fim só seja conhecido quando vem acompanhado de um prazo de validade pré-anunciado. A data escolhida para a cisão teve o seu quê de auto-explicativa, na medida em que foi coincidir com o dia de São Martinho, efeméride religiosa que celebra um soldado romano conhecido pela sua personalidade filantrópica: para nós, que sonhávamos com o título nacional há 19 anos, o Rúben será sempre o homem que nos veio matar a fome. E que, posteriormente, nos reparou o estatuto, nos ensinou a comer de novo e reiteradamente à mesa dos reis, que é algo assim a jeito de na sala do Gambrinus podermos degustar o empadão de perdiz com um bom vinho, enquanto arranjamos espaço para acamar um Crêpe Suzette ("pièce de la résistance"), em vez de nos quedarmos por uns croquetes e uma imperial na barra como um fidalgo falido. Como não há forma de indeterminadamente parar o tempo, ele teve de avançar. Inexoravelmente. De forma que Braga marcaria o fim de uma era. Os últimos dias haviam sido brilhantes, com vitórias sucessivas, a última face ao "mighty" Manchester City. Mas a cauda é sempre o pior de se esfolar, e havia um jogo final em Braga para ser disputado. Um jogo de emoções fortes para adeptos e jogadores, que uma coisa é saber-se que o treinador está de partida, outra é chegar a noite de véspera da data em que ele vai apanhar o avião (e nós bem traumatizados já estávamos com escapadas precárias de avião). Como iríamos todos nós lidar com a nostalgia do momento? 

O primeiro tempo ficou marcado pela saudade de alguém ainda presente, um sentimento de perda que causou angústia e nervosismo à equipa e gerou alguma atrapalhação na definição dos lances. Eficaz, o Braga defensivamente nada nos concedeu e ofensivamente tudo aproveitou: se, lá atrás, os minhotos montaram a barraquinha do tiro ao Gyokeres e foram-se revezando com notável solidariedade nessa especialidade simultaneamente tão promotora quão idiossincrática da cultura de futebol existente em Portugal, mais à frente, o Bruma combinou com o Horta, numa espécie de Horta do Bruma, para nos dar cabo do apetite vegetariano. Resultado: ao intervalo perdíamos por 2-0. 

Com o segundo tempo veio a revolta do pasodoble sobre o fado e "pegámos o touro pelos cornos": a nostalgia ficou no balneário e passámos a "dar ao pedal" em dobro. As substituições também ajudaram a dar maior agressividade e vivacidade ao nosso futebol. Cedo, um dos que entrou (Morita) reduziu a desvantagem no marcador e com isso reentrámos no jogo. Com menos dois dias de descanso, o Braga procurou recorrer a todo o tipo de truques que escondessem o cansaço acumulado dos seus jogadores: cada pontapé de baliza a seu favor era usado pelo Matheus para reflectir sobre a sua própria existência, ao passo que uma queda no relvado do Moutinho exigia a presença simultânea do INEM, de um padre, de um médico legista e de um profissional de seguros com qualificação em avaliação de sinistros, antes do politraumatizado corpo poder ser removido do terreno de jogo para logo reaparecer todo viçoso por artes de magia negra. Tantas perdas de tempo iam quebrando o ritmo de jogo ao Sporting. Mas a vingança serve-se fria, ou não viesse da Dinamarca. E se Hjulmand com um foguete anunciou a revolução, o princípe Harder logo exibiu aquele par de huevos com que se fazem Hamlets.

 

A passagem de Amorim foi uma epopeia que só careceu de um Homero para que fosse fielmente retratada.  Como todas as epopeias poderia ter terminado em tragédia (Aquiles) ou glória (Ulisses), mas reza a lenda que Lisboa foi fundada por Ulisses e isso terá tido uma influência marcante no desempenho do alfacinha Amorim. Sendo para sempre, na mitologia leonina, o profeta e filho de deus que trouxe a boa nova, Amorim por fim reuniu 11 apóstolos naquela que foi a sua Última Ceia. E saiu em merecida glória, deixando para trás inúmeros crentes. 

 

"Sic transit gloria mundi!!!", que a luz ilumine João Pereira!!!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Conrad Harder. Hjulmand seria uma óptima opção.

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27
Out24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

La vie en rose


Pedro Azevedo

De um Evangelista espera-se que proclame a boa nova. Assim foi com Mateus, João, Lucas ou Marcos. O Armando quis seguir-lhes os passos, mas o Gyokeres ditou-lhe um novo testamento.

 

Em Tractatus Logico-Philosophicus, Wittgenstein descreve que uma proposição é tão figurativa da realidade quanto uma maquete o é de um edifício. Ora, se o Leitor se recorda, na minha última crónica eu já havia anunciado ser impossível parar Gyokeres dentro da legalidade. Ontem voltou a provar-se que tal proposição é representativa da realidade: assim como um pai que faz girar o filho numa roda de um parque infantil, empurrando ora num sentido, ora noutro, o Gyokeres deixou um defesa fanalicense almariado. De seguida, não deu hipótese ao guarda-redes. Para o Gyokeres, é tão fácil como brincar com meninos. Estava aberto o marcador em Famalicão. Depois, o miúdo Quenda fez-se grande e tornou-se o mais jovem jogador da história do Sporting a marcar na Primeira Liga. Não querendo ficar atrás, outro produto da nossa Formação (Inácio) fechou a conta.  

Se o verde original do nosso equipamento representa a esperança, ontem em Famalicão vimos "La vie en rose": 9 jogos, 9 vitórias, primeiro lugar isolados no campeonato. E a águia nem pia(f)...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres

 

23
Set24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

It's getting Harder


Pedro Azevedo

Havia várias hipóteses para o título desta crónica. Por exemplo, "O amor é fogo que Harder sem se ver", além do trocadilho armado ao chico-esperto, dar-lhe-ia o elo emocional da paixão que caracteriza a ligação dos adeptos ao clube. Porém, Camões e os seus contemporâneos desconheciam que o metanol também arde sem se ver, o que poderia ser redundante. Além de que em tempo de calamidade provocada pelos incêndios, de homenagem aos bombeiros e de solidariedade com todos os que perderam a vida ou bens materiais (neste último caso, como a D. Maria Elvira, ontem pela primeira vez no José Alvalade), qualquer referência associada a fogo, ainda que puramente metafórica, poderia ser visto como de mau gosto. Depois, pensei em "We try Harder", um toque internacional num clube com nome próprio inglês e apelido Portugal. Mas é um slogan bem conseguido da Avis e eu não quis confundir entradas de carrinho com alugueres de automóveis. Foi então que me surgiu o "It's getting Harder" (para os futuros adversários, claro, já consumidos pelo "pesadelo" Gyokeres e na iminência de levarem com um clone). Sem prejuízo de que a Pfizer possa ter encontrado aqui um reclame e um rosto para aquele produto que dilata o fluxo sanguíneo de um certo órgão que não o da igreja, embora já se tenha ouvido o órgão e o sino a rebate de igreja por causas relacionadas com mortes em que o falecido utilizador se apresenta de coração cheio e um sorriso na boca. 


Ontem, o Sporting jogou contra um clube que ninguém sabe exactamente como se chama e poucos têm a noção de onde mora. É verdade, nas televisões oscilam entre chamar AVS ou AFS a este clube com nome de empresa feita no hora (nomes como "Universo Lúdico", "Vibrante e Radiante" ou "Transverso Litoral" não deveriam estar disponíveis). "It's sad!" - diria algum inglês com disposição para a ironia... Mas há mais!!! É que esta SAD liderava um clube de Vila Franca e agora migrou para Aves, a 320 Km de distância. Será que os seus adeptos vilafranquenses são basculantes e gastam 6 horas (ida e volta), duas vezes por mês, para acompanhar a equipa? Ou pensam que isto assim é uma tourada, e para tourada toda a gente sabe que não vale a pena sair de Vila Franca? 

Sem Pote e sem Edwards que o substituísse, Ruben Amorim optou por "lançar Conrad Harder às feras". Quer dizer, fera é o Harder e por ser leão mais ainda, mas isso ainda estava no segredo dos deuses (do Scouting). Não tardou porém a não ser segredo para ninguém, nomeadamente para os jogadores daquela coisa (com nome) em forma de assim (ou assado) - obrigado, O'Neill -, que doravante não pararam de suar as estopinhas. Pelo que não tardou a sentir-se a influência do dinamarquês: primeiro, num remate de pé esquerdo que inaugurou o marcador; segundo, numa assistência para Gyokeres que dilataria o resultado, após um inicial desarme de Hjulmand (uma verdadeira invasão Viking à área do... "coiso"). 

Se o Harder deu o mote, logo o Gyokeres não quis ficar atrás. Marcou o segundo golo da noite e desatou a correr como se não houvesse amanhã e eternos fossem o seu coração e alvéolos pulmonares. Ora, quando o sueco está nesse modo, o que acontece dia sim, dia sim, o melhor é saírem da frente. A sorte do... "coiso" foi que o árbitro também pareceu ser feito na hora, primeiro não assinalando um penalty por braço na bola na sequência de um cabeceamento de Harder, depois negando duas faltas perigosas cometidas sobre o nosso Vik Thor. Ainda assim, pelo meio, o Gyokeres teve tempo para amortecer a bola no peito para o Trincão e depois fazer um sprint para agradecer a recepção e disparar um tiro indefensável até para o mítico Ochoa que defendia a baliza da "instituição", algo que motivou um comentário bem-humorado ao excelente comentador que é o Pedro Henriques, que afirmou que "qualquer dia o Gyokeres marca um canto e finaliza ao primeiro poste". Porque o homem é omnipresente, um deus dos estádios. Tanto que pode não valer o preço de 100 milhões para o mercado, mas, para nós, o seu valor intrínseco é certamente muito maior. Quanto valem 3-4 temporadas na Champions e uma possível qualificação para o Campeonato do Mundo de clubes? E quanto ajuda o Gyokeres a valorizar o restante plantel? Ah, pois é !!! E já nem falo da valorização da marca Sporting como um todo...

 

Tempo ainda houve para Fresneda e Esgaio jogarem uns minutos e para Maxi mostrar ser um bom jogador. No fundo, houve tempo para tudo, menos para o... "coiso" chutar à baliza, cortesia da pressão dos jogadores do Sporting que tanto gosto deu certamente a Amorim (e a este adepto) ver. 

Mais uma vitória, liderança reiterada do campeonato, venha o próximo. Que será o Estoril... É para ganhar, com certeza, que não queremos "canarinhos na mina de carvão" que a imprensa logo trataria de criar para dizer que a este leão lhe faltou o oxigénio. 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres (Harder seria uma excelente alternativa). 

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16
Set24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O Limão-Mecânico


Pedro Azevedo

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Após o interregno necessário para o senhor Martinez (e todos os outros "senhores Martinez" das diversas selecções, ainda que na sua grande maioria muito menos bem renunerados) amortizar em trabalho de campo, e, no caso particular, na recuperação de salvados, uma pequena parte da bagatela dos 4 milhões de euros brutos anuais que a imprensa dá conta de ser o seu salário, regressou a Primeira Liga. O Sporting, líder do campeonato, visitava Arouca, pelo que o tema da semana andou à volta de como se poderia parar Gyokeres e, por conseguinte, o Sporting. O assunto logo à partida não mereceria o ruído que se fez à sua volta, pelo simples facto de que a única forma de evitar que Gyokeres faça estragos ser assegurar que ele fique em casa (e, ainda assim, acorrentado, pelo sim, pelo não...). Além de que levantava um problema: se todos os recursos tivessem de ser alocados ao sueco, que estragos poderiam fazer Pote ou Trincão? No fundo, a velha história da manta curta que ao cobrir os pés destapa a cabeça.  E foi exactamente da cabeça de Pote que nasceu o primeiro golo dos leões, em lance principiado por Gyokeres e continuado por Trincão. Confúcio um dia disse-nos que se um problema tem solução, então devemos concentrarmo-nos na solução, mas, se o problema não tiver solução, nesse caso não haverá razão para nos preocuparmos. Como o problema não tinha solução, os arouquenses iam trocando a bola desde trás, à espera que depois um milagre colocasse a bola num local promissor para um dos seus avançados facturar, mas Cristo foi ser profeta para outra freguesia (Arábia Saudita) e sem ele não houve o milagre da multiplicação dos lances ofensivos arouquenses. Nesse transe, o Sporting foi pressionando cada vez mais o Arouca, asfixiando o seu adversário: um auto-golo a nosso favor foi anulado pelo VAR por uma margem que seria desprezível para o John Holmes. Mas o que o VAR tirou com uma mão deu com a outra, mais uma vez na sequência de uma cabeçada de Pote que embateu num dos membros superiores do japonês Fukui. Chamado a converter, o Vik Thor Gyokeres mandou o guarda-redes para o vazio e a bola na direcção dos 3 pontos. Para o trabalho dos 3 Mosqueteiros ficar completo, só faltava Trincão molhar o bico: eis então que Gyokeres serviu um apoio frontal a Bragança e este logo meteu a bola em Trincão. O que aconteceu a seguir foi um momento de pura magia, em que dois arouquenses procuraram fechar o espaço e o ex-culé não lhes deu tempo, concluindo de forma indefensável. 

A mecanização do futebol do Sporting tem sido insustentável para os nossos adversários. Qual Limão-Mecânico, as rotinas de jogo do leão são altamente aromatizadas e vêm--se revelando amargas para os nossos sucessivos opositores, que têm sentido que a nova pele do leão tem casca dura e é bem difícil de roer. Segue-se o Lille, e com ele a possibilidade de internacionalizar este limão português que em boa hora Amorim desenvolveu num limoeiro mágico sito em Alcochete, local onde não se anda (ainda) propriamente a ver passar os aviões. 

Tenor "Tudo ao molho...": Francisco Trincão 

01
Set24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

São Gyokeres contra o Dragão


Pedro Azevedo

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A percepção muitas vezes não corresponde à realidade. Umas vezes porque está errada, outras porque a própria realidade está prestes a mudar (e a percepção só reage após o facto consumado): na antecâmara do jogo, o Sporting ia defrontar um treinador invicto de um clube da cidade invicta, uma espécie assim de invicto ao quadrado, que de sinergias se espera um efeito multiplicativo e não só a soma das partes - Essa era a realidade. Depois, entrava a percepção: a de que o Porto seria imbatível, que "Não há duas sem três" e os últimos 2 jogos haviam pendido por sortilégio para eles, o último de forma particularmente insólita e, pensava-se, traumatizante. Tal alimentava a lenda, o mito do dragão. Só que a essa percepção faltou um elemento: São Gyokeres. Igualmente lenda, no caso da mitologia leonina, este Gyokeres não veio da Capadócia e logo demonstrou não ser súbdito romano pela forma como desmontou um adversário com nome de imperador (Otávio). Mas foi ele que primeiro apontou a lança ao pescoço do dragão e depois matou as suas aspirações, criando assim uma nova realidade. 

 

O Porto começou forte, confiante no seu tiki-taka a meio campo, seguro da sua superioridade numérica nessa zona nevrálgica do campo. Mas depois o Sporting foi apertando as marcações, reduzindo os espaços, enlaçando o Porto num torniquete que só estrategicamente em alguns momentos se aliviava. Morita comandou essa revolta leonina, bem secundado pelo estratega militar de Ruben Amorim, o Pedro Gonçalves, o popular Pote, um mártir ou Santo Contestável (às mãos de Roberto Martinez), um rapaz proveniente da República do Alto Tâmega e recém-naturalizado (desde Sexta-feira) português. Com o decorrer do tempo, contida a aventureira epopeia portista, os dois, com o imprescindível apoio de Gyokeres, foram também encontrando os espaços no ataque e criando oportunidades para os colegas. Trincão, o jogador que para ser compreendido não dispensa a consulta do almanaque Borda d'Água, desperdiçou a sementeira e nada colheu. E fomos para o intervalo empatados, num jogo de futebol que bastas vezes imitou outros desportos: houve jogadas em cabines telefónicas que replicaram o futsal e a placagem de Varela sobre Trincão teve resquícios de rugby, vela (Trincão ia à bolina quando levou com a retranca portista) e bowling (no fim, três pinos no chão). 

O Gyokeres ameaçou no início do segundo tempo: o argentino Varela negou-lhe o golo em cima da cal que divide o sucesso do inêxito. O sueco voltaria à carga num lance em tudo idêntico ao duelo com Otamendi da época transacta: Otávio não se conteve, quis igualmente adivinhar a charada antes do tempo, falhou e ficou de fora. A emenda subsequente foi pior que o soneto: penalty, cartão amarelo e 1-0 para o Sporting. [O Gyokeres parece que voa baixinho sempre que perto de si há um(a) OTA.]

 

A partir daí o Porto só poderia voltar ao jogo através de uma bola perdida na área ou cabeceamento mortal. Consciente disso, o Vitor Bruno ainda lançou o Fran Navarro e o gigante Samu, mas a defesa de anti-aérea dos leões mostrou-se impenetrável à medida que o jogo caminhava para o fim. Com o tempo a escoar-se, espaços nas costas portistas apareceram com mais frequência. Bola então para o Geny bolinar a partir da direita e rematar com a canhota: o Diogo Costa lançou-se, esticou-se, cresceu em envergadura mas não o suficiente para parar o que não tinha defesa. O Estádio quase veio abaixo, a vitória seria nossa e já nada a poderia impedir. Agora será tempo de seleções. Entretanto, a liderança (do campeonato) assenta-nos muito bem, real e percepcionadamente. 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres (o "Vitór")

25
Ago24

Tudo ao molho e fé em Gyökeres

Entre o neo-realismo de Gyokeres e o existencialismo de Edwards


Pedro Azevedo

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Por motivos logísticos, essencialmente relacionados com a capacidade de armazenamento de golos, o Farense trocou o acanhado São Luís, em Faro, pelo mais amplo Estádio do Algarve, em Loulé. E o que se pode dizer é que as previsões farenses bateram certo porque Gyokeres e companhia só por uma ocasião (auto-golo) deixaram os seus créditos por mãos alheias (no caso, uma cabeça). 

Cedo a vertigem de passe e repasse Sportinguista, em progressão constante, deixou os algarvios almareados. E foi com esse enjoo que viram Gyokeres, uma e outra e ainda outra vez, abanar as redes de Ricardo Velho, que por acaso até é jovem, qual espécie de Plínio dois-em-um, ou não tivesse ele revelado a sabedoria para ser eleito o melhor guarda-redes da Primeira Liga da temporada 2023/24 ou sido suficientemente crítico da extravagância a ponto de evitar que os números finais tivessem de ser representados em potência de base igual a 2 e expoente igual a 3. 


Como em qualquer bolo bem confecionado, faltava a cereja no topo. Eis então que surgiu Edwards, O Existencialista. E lá pegou na bola a meio campo, naquele seu estilo sisudo, de quem se questiona sobre de onde veio e para onde vai, o que faz aqui, e nesse jeito vai procurando respostas pelo caminho. No fundo, alguém que no seu existencialismo se opõe a um Camus, que escolheu a solidão de dois paus e de uma barra para melhor chegar a conclusões (foi guarda-redes de uma equipa argelina). Bom, a verdade é que o Edwards deve ter encontrado respostas e com isso formulado uma tese. E como, para seu conforto, do lado dos algarvios não apareceu nenhum discípulo de Hegel capaz de apresentar uma antítese, foi andando e tirando adversários do caminho até marcar o golo. Uma jogada Maradoniana na sua forma, à qual não faltou conceptualmente a mão de Deus que despertou Edwards da sua letargia e lhe iluminou o caminho. 

3 jogos, 3 vitórias, 14 golos marcados e finalmente uma "clean sheet ", haveria melhor maneira de com confiança preparar o Clássico que aí vem? 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres. Menções honrosas para Morita, o maestro, e Quaresma, um outrora obscuro subsecretário de estado que se propõe para Ministro da Defesa. 

19
Mai24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Festa real em placebo de jogo


Pedro Azevedo

Há jogos de campeonato de fim de época que não estão no calendário para serem jogados, antes são para despachar o mais rapidamente possível a fim de dar lugar à festa. Uns porque são campeões, outros por garantirem a Europa, alguns por obterem a melhor classificação ou recorde de pontos, a maioria por se manter na Primeira Liga, no fim muitos clubes têm motivos de comemoração. Pelo que o jogo em si deixa de ser o prato-forte e passa a ser um aperitivo, um "amouse bouche" que prepara as papilas degustativas - fazendo crecer "água na boca" - do adepto para o que virá a seguir.  Um jogo assim não é para ser levado a sério, como sério não é o VAR intervir em lances de interpretação do árbitro - puxão do braço de Trincão por Vasco Fernandes ou pretensa falta discutível de Coates - ou não ser dada a compensação devida por inúmeras paragens de jogo. Enfim, uma brincadeira em forma de jogo e um árbitro em forma de assim, em consonância. Com uma excepção: Viktor Gyokeres. O homem que não sabe brincar, na observação acutilante de Neto, um dos nossos capitães e voz sábia e filosofante no nosso balneário, que ontem se despediu de nós. Por isso vimos o sueco à beira de uma apoplexia de cada vez que o jogo tinha uma interrupção e quando foi dado o tempo extra. Porque ele quer sempre mais, tem fome de mais: mais golos, mais assistências, mais correrias, mais suor na camisola. E de gente assim se fez o campeão. (Ou como um "underdog" à partida é à chegada um CÃOpeão, importante escalada numa cadeia alimentar onde não faltam as piranhas.)  

 

Se o jogo foi uma brincadeira, os números de stand-up comedy entre o árbitro anafadito e o inefável VAR Rui Costa foram o ponto alto da diversão: as caretas, hesitações e falta de convicção geral de Manuel Oliveira de cada vez que foi chamado a ver o vídeo constituíram um momento de humor a jeito do sketch "A Ponte da Morte" de "Em Busca do Cálice Sagrado", assim como teve alguma graça a rebeldia demonstrada aquando da expulsão de um flaviense que não foi ao VAR - "Não, não me voltarás a julgar", terá pensado o árbitro enquanto fazia alegadamente ouvidos moucos ao Costa que o azucrinava no auricular pela quarta vez durante a primeira parte. Pelo que o jogo valeu essencialmente por dois momentos característicos de van Basten, curiosamente interpretados por 2 diferentes jogadores: a rotação de costas para o defesa, de Gyokeres, na origem do segundo golo, e o pontapé em volley de Paulinho para o terceiro. No resto do tempo pouco se jogou, entre paragens para entrada do massagista e médico do Chaves, bombeiros, INEM, peritos de avaliação de sinistros e de cotação de salvados e análise das câmaras de vídeo-vigilância. (Ou como trocámos uma época com um ponta de lança que se associava com os companheiros por outra com dois pontas de lança em associação com o golo.)

 

Feitas, as contas, o Sporting terminou este campeonato com uma dezena de pontos sobre o proto-campeão Benfica e dezoito pontos acima do Porto, estabelecendo um novo recorde pontual do clube na competição (90 contra os 86 de JJ). Quem acompanhou a pré-época e leu os jornais da altura,  sabia que o campeonato seria um pró-forma, um caminho que serviria unicamente para glorificar e incensar o Grande Benfica, do Rui Costa e do Schmidt, do Di Maria, Rafa e Otamendi e do puto maravilha. Uma coisa em forma de pescada, que, antes de o ser, já o era. Só que não, o Rúben Amorim, o Gyokeres e todos os nossos não o quiseram assim. E embora perdendo de goleada na sondagem junto das cassandras apressadas, no fim levantaram o caneco. Seguir-se-ão a Taça e mais uma pré-época com o Benfica campeão. Depois, rolarão a bola e, quem sabe, algumas cabeças... A caminho do 25 !!! [À semelhança do ocorrido com as Ligas Experimentais, há sempre a hipótese de futuramente a Federação passar a considerar os títulos (de jornais) de pré-época do Benfica. Tudo em nome do PIB nacional, que, já se sabe, ninguém pára o Benfica e, portanto, Portugal.]

 

Tenor "Tudo ao molho...": Viktor Einar Gyokeres (who else ??)

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11
Mai24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O Grande Ano


Pedro Azevedo

Caro Leitor, mais do que um leão, esta época em cada Sportinguista houve um ornitólogo. Um ornitólogo? - perguntará o Leitor. Sim, um zoólogo dedicado ao estudo aprofundado das aves. Senão vejamos: começámos por observar com sucesso uns gansos fora do seu habitat natural, largados em Rio Maior. Mais tarde, quisemos vê-los mais de perto, pelo que os desviámos de Pina Manique e atraímos até Alvalade. Acabámos por os classificar como espécie de... goleada. Seguidamente, contemplámos as águias, sempre muito furtivas, fanfarronas e com nomes como Vitória e assim. Precavidos, já sabíamos de cor os seus costumes e modos de vida. Para as controlar, enviámos um sueco perito em ornitologia, que logo tratou de as anilhar e lhes cortar as unhas. Para o efeito, bastou deixá-las pousar, que no nosso clube não resolvemos os problemas à chumbada e a única coisa que chumbamos mesmo são algumas práticas do futebol português. Com o sucesso desta missão, veio a festa. Que começou no Pombal, onde dezenas de milhares de Sportinguistas se reuniram a testemunhar, e chegou hoje ao lar dos canarinhos. Tudo isto depois de meses e meses a fio a vermos o Adán e o Israel a aviar frangos e perus... E já para não falar dos urubus do apito! Não é incrível? Pelo que nem Aristóteles ou "Plínio, o Velho", Pierre Belon ou Francis Willyghby, ninguém conhece tão bem as aves como um Sportinguista. 

Se um canarinho numa mina de carvão pode ser um sinal de falta de oxigénio, numa mina de ouro (para o imobiliario) como o Estoril é apenas um sinal de prosperidade. Pelo que lá fomos gozar a nossa prosperidade recente ao Estoril. Quem diz Estoril, diz canarinhos, diz Escrete, que é homófono de discreto, condição de quem não é pato-bravo, um tipo de ave diferente que gostaríamos que fosse pelo menos de arribação. Como andar na linha é coisa a que o Sporting se habituou desde a sua fundação, a ida à Amoreira foi como se jogássemos em casa. 

 

O jogo foi uma coisa em forma de assim, como diria o O'Neill. Quer dizer, não foi um jogo mas sim uma batalha. De wrestling. Nesse sentido, o Gyokeres foi várias vezes projectado ao chão pelo Pedro Álvaro e pelo Basso, que não é baço e pelo contrario tem maus figados. Quando não pegado de cernelha pelo Vital. Enquanto isso, do outro lado do campo, o João Marques batia por trás em tudo o que mexia. Paralelamente, o árbitro ia contemporizando, forma de procrastinação que se admite, que o dia era de sol e toda a gente sabe que o Estoril é Praia. Pelo que o jogo andou ali num rame-rame até que o Amorim trocou as pedradas para a área do Matheus pelos cruzamentos precisos do Nuno Santos. E chegámos ao golo, numa cavalgada do Gyokeres terminada com um passe no tempo exacto para o Nuno, que depois centrou para o espaço onde apareceu o Paulinho, também ele em campo há poucos minutos, a concretizar com o pé mais à mão - tempo e espaço, os fundamentos do futebol. Até ao fim, o Sporting esteve sempre mais próximo do segundo golo do que o Estoril do empate.

 

Depois do título da semana passada, agora concretizámos o recorde de pontos (87) do Sporting no campeonato. Pelo que para a semana o objectivo - todos os jogos têm de ter um objectivo, uma forma de motivação a fim da equipa não se perder em festejos e chegar muito relaxada ao Jamor - será atingirmos os 100 golos na competição, ainda que isso obrigue a marcar por 7 vezes a um já despromovido Chaves. Não será fácil, mas a acontecer daria um novo significado à expressão "guardado a sete chaves". 

 

Duas notas finais para a estreia de Pinto (Diogo), que talvez pela sua juventude não deu nenhum frango, e para o debute do menino Menino, o nosso André ao quadrado (Vitória), que no entanto parece já ter guia de marcha. Que um dia possa regressar em beleza!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Francisco Trincão. Nuno Santos e Paulinho seriam boas opções.

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04
Mai24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Romeiro, quem és tu?


Pedro Azevedo

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Num rigoroso exclusivo, "A Poesia do Drible" informa que esta semana o Amorim foi à Praça de Londres, tendo passado primeiro pela Avenida de Roma e depois pela de Paris, antes de entrar na Gago Coutinho, que como se sabe esteve intimamente ligado aos aviões e a travessias transatlânticas. Tudo isto oferece um sem número de possibilidades ao treinador, que toda esta actividade não foi inocente, embora tenha escapado ao radar do Correio da Manhã e seus trocadilhos tão inteligentes que capazes de fazer um homem são desejar falecer duas vezes. Pelo que desta vez o Amorim foi para fora cá dentro, o que, entre outras coisas, constituiu um bom tributo ao Turismo de Portugal. Ficam a aguardar-se outras iniciativas, como por exemplo uma colaboração com o Instituto de Socorros a Náufragos, que "há mar e mar, há ir e voltar", e sem ele o Sporting, além de orfão, é capaz de meter água. Enfim, algo deste género ou "uma coisa em forma de assim", que também é do O'Neill.

 

O que esta semana não deu notícia foi a seca de golos do Gyokeres. Quer dizer, a imprensa afecta aos donos disto tudo bem tentou criar um tema à volta de um não-assunto, como se o homem fosse latino e mortal e padecesse de estados de alma, mas ele é nórdico e semi-deus (Thor, filho de Odin) e ao puxar do martelo logo abriu um dique onde emergiu uma enxurrada de golos. Eu sei, o que a imprensa amiga do Glorioso queria dizer é que isto assim como está (no campeonato) é uma seca, mas puseram-se a jeito e acabaram por "pedir" chuva (de golos)... 

 

Na antecâmara do jogo, o mais desolado era o Paulo Sérgio. Então o homem anda há anos a pedir um Pinheiro, não se sabe se manso ou bravo, e em vez disso dão-lhe um Carvalho? Pelo menos esse é o nome que dão aos romenos no rugby, modalidade que o Paulo gosta de incutir no fio de jogo das suas equipas (tudo atrás da bola). Pelo que em Alvalade tivemos o senhor Va-si-li-ca, que é assim a modos de designação de pomada lubrificante. Fez jus ao nome: indicado para alguns deslizes, não fez muito atrito (com as bancadas), o que terá agradado à panfletária APAF. 

Como o Adán não estava em campo, o Paulo Sérgio não correu riscos de incorrer no pecado original e estacionou o autocarro da Eva. Com a inibição da Eva, procurando tapar a virtude (leonina), a primeira parte foi muita parra e pouca uva. Para tal também contribuiu o ninja Nakamura, que fez 4 defesas de grau de dificuldade muito elevado. Pelo que nesse período só marcámos por uma vez, cortesia de Paulinho após um trabalho perfeito de Nuno Santos. 

No segundo tempo o Sporting continuou a carregar e o Nakamura a defender. Até que o Paulinho teve uma jogada brilhante pela esquerda e o Trincão chutou raso e sem dar azo às artes marciais do Nakamura. 

O jogo estava praticamente ganho, mas eis que chegou o momento de fim de tarde: o Inácio meteu na área e o Bragança teve um momento globetrotter ou free-style, estilo foca do Zoomarine. Na ressaca, o Gyokeres aliviou a raivinha nos dentes e marcou o ponto. 

- "Romeiro, quem és tu ?

 - Ninguém !"
Este diálogo (e o seu autor), extraído de Frei Luis de Sousa, de Almeida Garrett, tem muito mais a ver connosco do que o Leitor possa pensar. Primeiro, porque mais "Viagens na minha terra" de Alcochete (e não no estrangeiro) é aquilo que queremos ver no Rúben Amorim, depois porque evoca D. João, um nobre que acompanhou D. Sebastião em Alcácer Quibir e regressou, irreconhecível, cerca de 20 anos depois. Como o Sporting, sebastiânico durante 19 anos e transfigurado desde que Amorim assumiu o comando técnico do clube. (Rúben, que tal criar um ciclo, uma dinastia? Vamos.)

Está quase, quase, quase...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Paulinho. Nuno Santos seria uma boa opção. 

29
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Once upon a time in the West Ham


Pedro Azevedo

Com a vitória sobre o... Vitória, o Sporting ficou muito perto do título de campeão nacional. A instabilidade anterior à entrada de Amorim em Alvalade pareceu longínqua no tempo e definitivamente erradicada, com os resultados tinha chegado a famosa tranquilidade com sotaquezinho espanhol (língua do nosso grande capitão Coates) que no passado, entre outros méritos,  até normalizara o risco ao meio do Paulo Bento. Até que aconteceu segunda-feira, não um dia a seguir a Domingo semelhante a outros 51 que ocorrem durante 1 ano, mas aquele em que Rúben Amorim apanhou um avião (o avião criou imediato desassossego, se tivesse sido visto em Tires a andar de bicicleta ou trotinete saberíamos que não iria longe). A caminho de Londres. Para ir tratar de presuntos, na zona oeste da capital inglesa. Confesso que não entendi o empolamento. Quer dizer, já todos conhecíamos a ambição europeia de Amorim, mas o meu receio foi que ele se tivesse metido num vôo para Estrasburgo, à boleia de ser cabeça de lista da AD para o parlamento europeu. Porque o mandato é de 5 anos. Mas não, felizmente não, tal como o Montenegro, eu confundi alhos com Bugalhos: o Amorim só tinha ido a Londres. E sobre o assunto não adianta serrar mais presunto (há um campeonato para vencer). Ainda se fosse um Pata Negra talvez valesse a pena, mas assim...

 

Bom, mas isso foi na segunda-feira, hoje o Sporting jogava no Dragão (Oeste por faroeste, antes o último, ainda por explorar). Pelo que lá fomos nós à procura do Henry Fonda e de outros mauzões, só que o Fonda já havia sido mandado para casa por uma multidão em repúdio através de um escrutínio popular. Como o Mau estava de fora, tomou-lhe o lugar o Vilão-Boas (mas isso é um outro filme). Não tivemos Bronson, o que (não) foi uma gaita, mas Cardinal(e) não estava na linha, o que deu para revitar distrações. Assim, ninguém ficou de beiço caído... Sem Bronson, o herói foi Gyokeres. Amorim ainda deu 60 minutos de avanço ao Porto, facto de que agora deverá estar arrependido. Foi um erro, uma asneira, ter Inácio fora de posição e uma ala esquerda coxa, assim como a ida de Diomande (desastrado) a jogo. Só que Gyokeres foi para dentro de campo, Quaresma também, Nuno Santos entrou à hora de jogo, todas as peças finalmente encaixaram e o Sporting melhorou imediatamente. Até lá, valeram Hjulmand e Coates, que evitaram o naufrágio e deram fôlego a Amorim para corrigir aquilo que estava errado. 

 

O jogo e a semana resumem-se numa frase/interrogação de William Blake: "Como saberes o que é suficiente, se não souberes o que é demais?". Amorim pisou o risco, teve uma dose dupla de aprendizagem e crê-se que tenha compreendido a lição. Ora, lição rima com campeão. E Portimão, cidade do próximo clube que nos visita. É para ganhar, claro, qual a dúvida? Somos o Sporting, a Oeste nada de novo...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Viktor Gyokeres

 

P.S. Força, meu capitão! As melhoras, Manuel Fernandes, e que no Marquês celebremos também a sua recuperação. 

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22
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Todos à Praça da Figueira


Pedro Azevedo

No dia seguinte ao do Benfica ter sido eliminado da Liga Europa pelo Marselha, o jornal A Bola, na sua edição on-line, fazia manchete com a notícia de que os encarnados haviam sido o clube português que mais pontos obtivera na Europa nos últimos 5 anos (não se pode deixar cair o Benfica, nem que para tal seja preciso recorrer ao jogo da malha ou ao chinquilho). Ou seja, quem ingenuamente pensou que o Benfica havia perdido, afinal veio a deparar-se com mais um retumbante êxito das águias (ou como um êxito pela porta pequena das competições europeias pode ser também um grande êxito em si mesmo). Pensei nisso na antecâmara do jogo contra o Vitória e de como um potencial triunfo nosso seria sempre infrutífero porque certamente o Marquês já estará reservado para a comemoração do quinquénio europeu benfiquista. [Acho que a isto se chama A Bola passar o lustro (meia-década) ao Benfica.]

 

Ainda que ofuscado pela gloriosa gesta europeia lampiónica, o Sporting recebia o Vitória, em Alvalade, a fim de consolidar a sua pretensão ao título (menor, quando comparado com o quinquénio europeu escarlate, mas ainda assim um título). Com o seguinte dilema prévio: se, por um lado, ganhar ao Vitória era fundamental para mantermos a cadência, por outro, uma vitória em cima de Vitória parecia uma contradição nos termos. Pensei maduramente nisso e no que Amorim diria no balneário à sua equipa e cheguei à conclusão de que para saírmos vitoriosos contra o Vitória teríamos de nos disfarçar de vitorianos. O Amorim pensou o mesmo e fomos a jogo equipados de branco. O Álvaro Pacheco é que não foi na conversa de assumir o jogo à Sporting e começou por pôr as barbas de molho, definindo uma estratégia que passava por cautela e caldos de galinha. A quente, como o caldo era deles, esses primeiros 20 minutos não foram canja para nós, mas depois, mais a frio, o Bragança teve uma boa jogada e a equipa acertou o ritmo. Até que novo desequilíbrio causado pelo Bragança na área deu a oportunidade ao Pote de visar a baliza: o Pedro peyroteou com categoria e adiantámo-nos no marcador. E sobre o intervalo, o Gyokeres dilatou a vantagem após uma triangulação que envolveu também Bragança e Pote e fez lembrar o Sócrates, o Falcão, o Careca e o Escrete dos anos 80. Em sequência, o Álvaro foi pensativo para o balneário. Quer dizer, a boina, de griffe Yves Saint-Laurent, já de si lhe dá um certo ar de parisiense, intelectual, criando a imagem de um ser introspectivo, alternativo, um artista do Quartier Latin quiçá com influências de Rimbaud e Baudelaire, mas agora era a pressão dos números (e não da baguete esmagada debaixo do braço) que o fazia reflectir. Serviu de pouco, porque logo aos 4 minutos do reatamento o Gyokeres bisou. O sueco não voltaria porém a marcar, algo que já não faz há precisamente 41 minutos ou 2460 segundos, mais até se considerarmos o tempo que mediou desde que acabou o jogo e a hora a que entrego esta crónica. Pelo que, à falta de um saudoso Albarran que lhe dê o devido acento, se espera pelo menos que os jornais de mais logo continuem a pegar no tema desta imperdoável abstinência goleadora. [Na retina porém ficou um inacreditável slalom (gigante) do sueco, digno de um Stenmark ou Girardelli, que infelizmente acabou em derrapagem e queda (tipo Tomba) na hora da conclusão. Brutal! E a mostrar que, se cá nevasse, o Gyokeres faria por cá ski.]

 

E assim estamos cada vez mais perto do título. Com o Marquês tomado por um Benfica a reboque de uma imprensa amiga que seca tudo à volta, o melhor será mesmo o Sporting ir comemorar para a Praça da Figueira, assim a modos de recuperação de uma parábola célebre de Jesus Cristo (Mateus 21:18-21). Recordando-nos de que ao mesmo tempo que secou uma figueira, Jesus alertou os seus discípulos de que a fé pode mover montes até ao mar. Como a fé de um Sportinguista, que não só move montanhas como será sempre recompensada em milagres. [Só mesmo um milagre explica termos sobrevivido a ASD, Pinheiro, Godinho, Veríssimo e, pior(!), ao impacto negativo no PIB nacional produzido por a "instituição" não vencer.]

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pote. Bragança, em versão Telé Sant'Amorim, seria a minha segunda opção e os centrais estiveram muito bem. Gyokeres voltou aos golos e Trincão produziu uma assistência pelo segundo jogo consecutivo.

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18
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Romances de cordel escarlate


Pedro Azevedo

Caro Leitor, o drama, a tragédia, o horror é que o Gyokeres está em crise. Eu explico: o homem já não tem uma acção decisiva para golo desde as 20:35 de ontem, e essa longa espera ameaça ser capa nos jornais desportivos de hoje. Mas, para nós, adeptos, ontem foi mais um dia no escritório para o sueco: recebeu a bola de Nuno Santos, deixou-a rolar para tirar logo um adversário do caminho, atraiu outro para a bola antes de tocar para Trincão, abriu uma auto-estrada para este dar a Pote ao levar consigo um terceiro defesa para o espaço. O que queriam mais? Que o homem comprasse a totalidade da nossa dívida pública? Pelo que nas estatísticas figurará que marcou Pote e assistiu Trincão, mas o golo foi 60% do Gyokeres. 

 

Uma capa de desportivo alternativa de hoje (bastante mais possível) será o Gyokeres não peyrotear há 5 jogos. Vejo isso com muito bons olhos. Primeiro, porque, desses 5 jogos, o Sporting venceu 4+1, sendo o +1 um empate que soube a vitória (qualificação para a final da Taça). Em segundo, na medida em que arrefecerá um suposto interesse do Liverpool: depois da Sky Alemanha ter noticiado que os Reds haviam entrevistado Amorim, os media portugueses já estavam a esfregar as mãos de contentamento para informar que a Sky Azerbaijão acabara de anunciar a presença de Gyokeres (e Varandas, por inerência) em Anfield para um colóquio sobre venda(vai)s. Agora que se consolem com as notícias da Sky Nazaré sobre o famoso canhão Esgaio, se este tiver algum interesse (eu creio que não) em nos trocar para ir "vender o seu peixinho" para o cidade dos Beatles. Enfim, nesta mixórdia, razão tinham os Salada de Frutas quando cantaram: "Sky nevasse, fazia-se Sky ski".

Esta coisa das fontes é curiosa. Como o facto da Sky inglesa, tão perto do Liverpool, recorrer à sua filial alemã para dar a caixa de Amorim ter sido alegadamente entrevistado. Será que o treinador fez escala em Frankfurt para comprar umas salsichas? Ou, em alternativa, andarão os media a encher chouriços? Em todo o caso, não me pareceu nobre. Ou Nobre, tendo em atenção os artigos em questão. Pelo que nesta coisa de fontes eu só confio na Luminosa e na Pereira de Melo. E se for só para "dar troco" à malta, então escolho a de Trevi. 

Gosto tanto de ver destruir preconceitos quanto gosto de observar o Bragança jogar. Se ter pelo menos um bom pé e capacidade física são condições sine-qua-non para se ser um jogador profissional de futebol, a partir daí joga-se essencialmente com o cérebro, sendo esse o topo da pirâmide de satisfação de Maslow de como um adepto vê um jogador de futebol. Pelo que o nível que o Bragança vem exibindo não surpreende, como nunca surpreende ver a inteligência contagiar positivamente tudo o que a rodeia. O que surpreende, sim, é ver o Bragança contrariar a sentença de Einstein de que é mais fácil desintegrar um átomo do que destruir um preconceito, mas o Braganca até podia ser físico nuclear, se quisesse.

 

Menos artístico na acção, mas em modo omnipresente, apresentou-se o Hjulmand. Sobre ele, Hans Christian Andersen escreveria um conto de fadas, se ainda fosse vivo. O homem é um colosso, um digno sucessor de Holger Danske, não deixando porém de mostrar uma sensibilidade no campo digna do seu compatriota Kierkegaard quando este pronunciou: "A vida só pode ser compreendida olhando para trás, mas só pode ser vivida olhando para a frente". Assim é ele, no seu vai-vem, que dá organização e vida ao jogo do Sporting. E depois há ainda que falar de Quaresma: com Diomande em modo complicativo, com passes para o hospital e falta de velocidade para segurar o flanco direito, no primeiro tempo o Chiquinho cresceu para Chicão. Até que entrou o Quaresma e o Chicão ficou assim pequenino que nem um Chiquinho. Para caber na algibeira do calção do jovem leonino. E ver-se obrigado a mudar de flanco. Uma última palavra para o Trincão, que trabalhou muito ofensiva e defensivamente (o que ele cresceu nesse aspecto) e apenas teve o senão de ter permanecido 15 minutos a mais no terreno de jogo, esgotado, provavelmente devido à desconfiança de Amorim no rendimento defensivo de Edwards. 

 

Para somar à seca de golos de Gyokeres, o Sporting não vence desde sensivelmente as 22:00 de ontem. Pelo que até ao apito do árbitro para o início da recepção ao Vitória passarão exactamente 118 horas e 30 minutos desde a última vez que o Sporting ganhou. Com tanto tempo de hiato, não se poderá chamar a isto uma crise? E o Benfica, ganhará moral, agora que o Sporting além dos golos do Gyokeres perdeu também o joker de ter um jogo a mais? Enfim, boas questões para serem desenvolvidas na imprensa da manhã (ou manha).

 

Tenor "Tudo ao molho...": Daniel Bragança

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13
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Em terra de galos, o leão foi quem cantou cedo


Pedro Azevedo

Ontem, o Sporting jogou em Barcelos. A equipa está com uma óptima dinâmica, legiões de adeptos seguem-na para todo o lado e cheira muito a título. Mas um Sportinguista desconfia sempre e nunca está totalmente confiante antes de um jogo. Mesmo com 4-0 ao intervalo põe-se logo a pensar num cartão amarelo que resulte em suspensão ou numa expulsão. É como se os nossos jogos se escrevessem no céu e o guionista escolhido fosse especialmente trocista, começando os filmes em apoteose para que terminem em desgraça, só para que o espectador possa por momentos acalentar a expectativa de sucesso. Tem sido quase sempre assim nas últimas 4 décadas. Não foi porém  o caso de ontem à noite, ainda que muitos anos a virar frangos nos ensinem que jogos com o Gil possam sempre dar galo. Mas não, não desta vez, o Sporting foi muito superior, peyroteou cedo e em profusão foi acumulando mais golos, pelo que pôde descansar com bola no segundo tempo a fim de melhor preparar a ida a um Famalicão que se espera ter sido devidamente estafado pelo Porto esta tarde. Não sei por isso se esta equipa do Sporting improvisa com tanta categoria que dispensa guionista ou se este aproveitou o bom tempo e foi a banhos celestes, o que é certo é que pude assistir ao jogo com uma sensação que já não tinha desde os tempos em que o Paulo Bento esgotou a palavra: tranquilidade.  

Duas óptimas notícias da noite foram os reaparecimentos de Morita e de Trincão ao mais alto nível. Houve também a confirmação do Daniel Bragança (o lance em que ele recupera a bola e depois progride com ela e assiste magnificamente Trincão deveria ser mostrado em looping aos discípulos de São Tomé que insistem no preconceito e não querem perceber o óbvio). E o Quaresma regressou ao onze inicial. Sobre o Quaresma é preciso dizer que fez 15 jogos como titular a partir do momento em que jogou com o Porto. Desses 15 jogos, o Sporting venceu 12, empatou 2 e perdeu 1 (Braga, Taça da Liga), médias ligeiramente superiores às que a equipa tem esta época. E o Sporting, com ele desde o início, conseguiu 8 "clean sheets", só sofreu 8 golos no total e marcou 47, médias muito melhores que as da temporada. Ontem fez mais um jogo competente. Entretanto, o Gyokeres trocou os golos pelo bola na barra (ou no poste), o que é muito mais difícil, exige maior pontaria e deveria valer mais pontos. O homem pareceu abatido, ele que é quem geralmente abate os adversários, e o caso não é para menos e exige os maiores cuidados do nosso Departamento Médico: é que o excesso de ferro provoca hemocromatose e isso pode danificar órgãos importantes. Por falar em órgãos, eles hoje tocaram a rebate nas capelinhas do Dragão, a anunciar desastre. Ver o Porto acossado por Braga e Vitória não é bom para nós, pois obriga-o a dar tudo para ganhar ao Sporting. E nós já temos problemas de sobra: uma pessoa nem consegue desfrutar da expectativa do título com tanta notícia de vendas. A perspectiva é de ver o Amorim, o Gyokeres e o Paulinho (o técnico de equipamentos) a cantarem o "You'll never walk alone" e nós a caminharmos sozinhos. Pelo menos a avaliar pelo que os media dizem. Teremos ainda clube na segunda-feira? E, mais importante, na terça? Estou expectante e com os nervos em franja. Será que teremos 11 para Famalicão ou perderemos por falta de comparência? Irão todos para a cidade dos Beatles? Let it be? With a little help from my friends? Enfim, um desassossego...

 

Até terça! Se houver jogo. E crónica (para o caso do cronista também ir a caminho de Liverpool)...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Trincão

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07
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Geny ao volante do Chapa do título


Pedro Azevedo

O William Blake, que foi um poeta e filósofo importante do Século XVIII, escreveu um dia que há o conhecido, o desconhecido e no meio estão as portas da percepção. Com esta afirmação, o escocês pretendeu estabelecer uma fronteira entre a realidade e a sua percepção. Sendo certo que muito do que é conhecido é real, nem tudo o que é desconhecido só por isso deixa de ser real. Pelo que por vezes aquilo que algumas pessoas dão como real é apenas uma percepção que têm da realidade, não tendo necessáriamente de ser a realidade. Aliás, com a perda de independência de alguns media, os opinion makers enviezados e o spin da comunicação assente em agências, talvez nunca como hoje a realidade tenha estado tão longe da percepção que as pessoas fazem dela. 

 

Vem o arrazoado acima a propósito do Sporting-Benfica da noite passada. Na antecâmara do jogo, os analistas discutiam quem poderiam ser as figuras do derby. Do lado do Sporting falava-se de Pote, Gyokeres, Morita e Hjulmand, do Benfica emergiam Di Maria, Rafa, Aursnes e João Neves. Uma infinitésima parte eventualmente terá mencionado Daniel Bragança, ninguém (a não ser talvez em Moçambique) referiu Geny Catamo. No entanto, os dois foram decisivos para a vitória do Sporting. E no caso do Geny, mesmo em Moçambique, quem apostaria 1 cêntimo na probabilidade de este resolver o jogo com um remate de pé direito? Ninguém, porque a percepção das pessoas era de que ele só teria pé esquerdo e o direito só serviria para subir num Chapa. A realidade porém é que o Geny marcou com os dois pés. E deu o triunfo aos leões. Sendo que o golo do Benfica foi obtido por Bah, que até aí só tinha marcado um em toda a época, outro jogador improvável. Com o Bragança há mesmo uma dissonância entre a percepção e a realidade que vai muito além do mero cálculo probabilístico: o Dani é visto como um jogador macio, o que é uma reminiscência de um passado que não dá espaço para contemplar a natural evolução de qualquer ser humano. (Quando um actor como Ronald Reagan foi eleito como presidente dos EUA, as pessoas dividiram-se entre as que percepcionaram que a sua carreira anterior o havia ajudado nesse faz de conta essencial à política e os que acharam ainda mais extraordinário um actor canastrão se ter feito eleger para o cargo mais importante do mundo.)

 

A percepção dominante sobre Roger Schmidt também não deixa de ser surpreendente. Na época passada, durante muito tempo, o Benfica passou por cima dos seus adversários. Liderou a Liga desde o início até ao fim e chegou aos quartos da Champions. Além disso, a equipa sempre jogou um futebol vistoso. Mas o fim de temporada foi menos exuberante que o seu início e essa foi a imagem que permaneceu na cabeça das pessoas. Pelo que o treinador entrou pressionado nesta época e assim continua, entre acusações de mexer pouco na equipa e uma outra curiosamente conflitante com a primeira: a de que troca muito de ponta de lança. A verdade é que se mexeu pouco na equipa tal deveu-se a ter colocado quase sempre os melhores em campo. E se trocou muito de ponta de lança, está à vista de todos que nenhum dos pontas de lança dos encarnados é suficientemente bom. Sabendo-se que o treinador benfiquista não é totalmente responsável pelas aquisições, se calhar a percepção que os adeptos têm sobre o treinador deveria transferir-se para o presidente, mas na realidade é Schmidt quem paga as favas (que são verdes). 

Cono é fácil criar uma percepção, logo os jornalistas acenaram com o facto - o drama, a tragédia, o horror - de o Gyokeres não marcar há 3 jogos. Ainda que a realidade nos mostre que este continua vivíssimo da silva, explorando o espaço e simultaneamente ligando o jogo como pivô como antes nenhum ponta de lança do Sporting, e que só por manifesto azar e sortilégio dos ferros não bisou no conjunto dos derbies. Pelo que temo que a realidade se venha rapidamente a impôr à força a esses jornalistas e o sueco continue a ser instrumental na nossa gesta com destino ao título. Busca que hoje foi conduzida por Geny, o geny(o) da Lâmpada (para contrapor ao génio do Pote) ao volante de um Chapa moçambicano, autocarro onde todos andam de mãos dadas para não saltarem fora. Como é o caso dos jogadores do Sporting no que diz respeito ao título. 

Tenor "Tudo ao molho...": Geny Catamo ("O Nambauane"), secundado por Daniel Bragança e o grande capitão Coates. No plano negativo, Morita apresentou-se fora da forma, sem arranque e aquele controlo das situações que o caracteriza, e Inácio esteve bastante mal, mostrando imensas dificuldades em parar um jogador alto, louro e percepcionando como tosco (Tengstedt) que ontem lhe deu água pela barba ao se posicionar sobre o lado esquerdo da defesa do Sporting. Matheus Reis uma vez mais foi induzido a marcar o adversário errado e deixou novamente Bah sozinho.

 

P.S. Os meus parabéns aos nossos Leitores Sol Carvalho e José Pimentel Teixeira (emérito bloguista e autor do recente "Torna-Viagem", livro que não devem deixar de comprar, à semelhança de "Quatro Desafios de Escrita!", do igualmente emérito bloguista e nosso Leitor José de Xã), que neste momento certamente sentir-se-ão duplamente satisfeitos pela vitória do Sporting e contribuição decisiva de um jovem moçambicano. Haverá festa rija em Moçambique e esse é um efeito que só o futebol proporciona e deveria ser aproveitado por clube e país.

 

P.S.2. A percepção da realidade que o Artur Soares Dias teve do soco do Di Maria no Pote foi menos violenta do que a percepção com que ficou de os Super Dragões alegadamente lhe poderem vandalizar a pastelaria depois de uma certa visita à Maia. Porém, na realidade, aparentemente só a primeira se verificou, o que demonstra que a percepção muitas vezes não corresponde à realidade (ainda que haja VARs que nem perante a realidade cumpram o protocolo, perguntando-se então qual a sua utilidade e se essa passa pela criação de uma realidade alternativa).

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03
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

As confissões de Schmidt


Pedro Azevedo

O futebol português tem várias tradições. Entre as que motivam um maior culto, destacam-se os xitos, quinhentinhos, cafés com leite, fruta e até mesmo as cavas em túneis. Outra tradição igualmente muito estimada, e do amplo conhecimento do seu treinador, é a de o Benfica, na hora do aperto, jogar contra 10. Ontem voltou a acontecer. O inusitado é que por uma vez tal não ocorreu por influência dos homens do apito. Não, foi mesmo o Sporting que foi a jogo com menos 1. Ou melhor, o Trincão autoexcluiu-se: enquanto os restantes 21 jogadores andavam à volta de uma bola, o Trincão andou aos toques em outra. Tal como o magala na tropa, sempre de passo trocado, sem nunca suspeitar que era o único que levava a bola errada. Por isso, não concordei com o Ruben Amorim quando no fim disse  que não tivemos jogo entre-linhas. Porque a bola chegou lá, a esse espaço, o problema é que tivemos um Trincão que voltou a ligar o complicómetro de 2023, que tudo aferrolhou, agrilhoou, fechou a cadeado. Em suma, foi um trincão, sim. Mas das Chaves do Areeiro. Ainda assim, o Amorim manteve-o 90 minutos em campo. Não por não ter visto o que todos vimos, mas por um "statement": como clube conservador que somos, connosco as tradições são para manter. E se não há uma "ajudazinha" dos árbitros ao rival, então dá-se um retoque do tipo Restaurador Olex, ou seja, uma bola só para o Trincão, para ele pôr os olhos no chão, não a passar a ninguém e acabar inevitavelmente por a perder, e finge-se que se joga naturalmente com 11. No fim, o orgulho: jogámos 90 minutos em inferioridade numérica na casa do rival e ainda assim sacámos um empate que valeu uma qualificação para o Jamor. Haveria melhor "mind game" ou factor mais desmoralizador para o adversário na antecâmara do match-point de Sábado? Claro que não. Mas, atenção: no Sábado temos de jogar com 11. Onze onde se pode incluir o Trincão. O de 2024, bem entendido, não o que ontem foi reviver o passado ao Estádio da Luz.

 

Por cada Trincão que cair, um Bragança se levantará. Foi com este mote, recriado do filósofo António Oliveira, que o Sporting se adaptou ao jogo e graças e ele não ficou apeado no intenso tráfego que se fez sentir ontem à noite na Segunda Circular. Porque foi o Daniel que assegurou os mínimos de circulação que evitaram a nossa morte por asfixia. Fornecendo o oxigénio que permitiu à equipa respirar e até ousar cortar a respiração ao adversário. Como no lance do segundo golo, quando encontrou Geny para o 1x1 contra Aursnes. Bem acompanhado pelo Hjulmand, que marcou um golo de bandeira e soube atrair a pressão nem sempre eficaz do Benfica para libertar companheiros sem oposição. Pelo que o problema surgiu a partir daí e não devido aos nossos meio-campistas. 

Se a solução tantas vezes testada a aprovada é pôr a bola em Gyokeres, não se entende porque deixámos tantas vezes o nosso melhor jogador sem bola. Mas com um interior adaptado como Paulinho, mais eficaz em tabelinhas perto da área, e outro, de espectro mais largo, completamente "fora dela", o sueco só apareceu na sequência de bolas perdidas a meio-campo ou de passes de longa distância como aquele em que St Juste o visou e acabou em golo. Ainda assim, na retina ficou aquela arrancada em que deixou dois pelo caminho e terminou com uma paulada na bola que a esta hora ainda deve estar a abanar o poste da baliza do Trubin. 

Não creio que as alterações ao intervalo tenham tido uma influência significativa na melhoria da nossa exibição ou sequer que a nossa exibição tenha melhorado por aí além. Até porque onde se deveria mexer não se mexeu, talvez por falta de confiança no Edwards actual (o de Bérgamo). E é preciso não esquecer que do outro lado não estavam 11 bidões. Não, havia um Rafa, um Di Maria, um Aursnes e, principalmente, um super João Neves. E o Schmidt, com a corda na garganta, confessou os seus pecados anteriores e desta vez ajudou a sua equipa. Pelo que o resultado do jogo, que não o da eliminatória, acabou por ser lisonjeiro, para tal contribuindo a elasticidade de Israel entre os postes, guarda-redes que curiosamente se sente melhor como um prisioneiro em solitária, enquadrado apenas por dois postes e uma barra, do que em cada saída precária. 


Quanto a Roger Schmidt, a Taça já se acabou, pelo que entre o campeonato e a Liga Europa que seja esta última a dar-lhe o balão de oxigénio de que precisa para ainda respirar. Assim saibamos nós ser competentes.

Tenor "Tudo ao molho...": Daniel Bragança

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30
Mar24

Tudo ao molho e fé em Deus

A (mito)mania de falhar de cabeça


Pedro Azevedo

Se até Aquiles tinha um ponto fraco, não admira que Gyokeres, igualmente um herói da mitologia (neste caso, leonina), também o tenha. O "calcanhar de aquiles" do sueco é o jogo de cabeça. E não se manifesta só na área do adversário, onde porventura dará mais nas vistas, mas igualmente na nossa área: por duas vezes o Estrela colocou a bola na sua zona de acção, por duas vezes criou perigo. Uma deu golo, outra motivou uma boa defesa de Israel. Não é a primeira vez que acontece - assim de memória recordo-me, entre outros, de um golo do Gil Vicente em Alvalade e de outro do Portimonense em sua casa, ambos na sequência de bola parada - e deve ser urgentemente corrigido. Amorim, sem nomear jogadores, chamou a atenção para esse erro na conferência de imprensa e fê-lo bem, até porque de outro modo só ficaria na retina do adepto a saída fora de tempo do guarda-redes do Sporting. (Esclareço que não se trata só da forma como Gyokeres coloca a cabeça à bola, tem mais a ver com a falta de confiança neste gesto que o faz não antecipar os lances e atacar atempadamente a bola.)

Quer este arrazoado em cima pôr em causa o Gyokeres? Não, o sueco está tão ligado à nossa redenção e, quiçá, salvação (após um quarto lugar no campeonato que valeu a não presença na Champions desta temporada) que deve ser visto como um mito soteriológico: os 36 golos e 14 assistências, que o tornam o jogador na Europa com mais participações directas em golos, assim o demonstram. Ontem, Sexta-feira Santa, simplesmente absteve-se de comer de cebolada a carne toda picadinha do costume, mas o mais certo é ter guardado o apetite para a jornada dupla com o Benfica. A avaliar pelo estado em que fica após cada jejum, eu diria que estará em ponto de rebuçado nesse momento. Que então a fera se solte em todo o seu esplendor!...

 

Não é que a estrela de Gyokeres tenha empalidecido, simplesmente não esteve ao seu nível. Ou ao nível altíssimo a que nos habituou (mal, para o nosso bem), fazendo apenas um jogo satisfatório. Pelo que a vedeta de ontem foi o Trincão, uma espécie de Lázaro ressuscitado por contacto com o deus Gyokeres. Explorando inteligentemente tanto o espaço entre-linhas como o existente nas costas dos defesas do Estrela, o Trincão fez um grande jogo. A que só faltou um golo da sua parte, que até poderia ter acontecido num par de ocasiões. E se numa o guarda-redes adiou momentaneamente os seus intentos (Nuno Santos marcou na recarga), na outra teve tudo para facturar quando o Kialonda Gaspar preferiu apostar as fichas todas na sua possibilidade de falhar face à inevitabilidade de golo que resultaria de lhe fechar o espaço interior e permitir-lhe a cedência de bola a um desmarcado Gyokeres - uma questão típica de uma cadeira de cálculo de probabilidades.

Outros jogadores em destaque foram Daniel Bragança e Hidemasa Morita. Muita qualidade de passe têm estes dois, que descobriram inúmeras vezes colegas entre-linhas. Jogando muitas vezes de primeira, não se deixando encurralar pela pressão da linha média do Estrela, sempre uns décimos de segundo atrasada face à velocidade de pensamento e de execução do meio campo do Sporting. Na mesma onda verde, Inácio, entrado para o segundo tempo, foi outro jogador que procurou jogadores soltos no espaço interior, criando perigo para o Estrela. Bem também estiveram os centrais, com a rapidez de St Juste a sobrepor-se a alguns "passes para o hospital" (conhece como ninguém o caminho) que fez e deveria evitar a fim de que males maiores possam emergir como no golo do Estrela. Nuno Santos também esteve ao seu nível, mais regular do que Geny. E Paulinho marcou um golo numa bela execução de cabeça, além de ter procurado sempre que possível ser opção para a ligação de jogo com o ataque. 

Não tínhamos necessidade de sofrer tanto, mas Sporting sem sofrimento seria paradoxal e desafiaria todo o conhecimento que os Sportinguistas foram adquirindo ao longo de seis décadas de estudos epistemológicos baseados na verdade e no nosso sistema de crenças. Por falar em crenças, a de que seremos campeões vai crescendo jogo a jogo. Depois de ontem, ficaram a faltar oito. Mas só precisamos de ganhar sete. Ou seis, desde que vençamos o derby. Bom, mas isso será para depois, porque na terça teremos Taça. Na Luz. Haveria melhor palco para uma equipa tão eminentemente renascentista? Então, que o eminente seja iminente e a nossa fluidez de jogo ilumine o rectângulo de jogo sito em Carnide!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Trincão 

18
Mar24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Um Gyokeres 3 vezes ao dia contra a dor


Pedro Azevedo

Ao contrário do Futebol Clube, que é do Porto, e do Sport Lisboa, que é do bairro de Benfica (mas habita num condomínio de Red Passes em Carnide), o Sporting é de Portugal. À partida, um clube que é a bandeira de uma cidade iminentemente bairrista e outro que representa mesmo um bairro (ainda que muitíssimo populoso) - assim a modos como Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia - deveriam entregar-se a tarefas domésticas, deixando as actividades europeias para o clube que leva Portugal no nome. Todavia, o problema é mesmo esse: levando Portugal no nome, o Sporting europeu faz o mesmo que o estado português na Europa, isto é, saca fundos comunitários aos países mais ricos (só por ter entrado), para depois não desenvolver nada, e nos momentos mais delicados joga sempre à defesa. 

De regresso à frente interna, o Esgaio e o Matheus Reis foram substituídos pelo Geny e o Nuno Santos. Além de que o Paulinho jogou com o Gyokeres na frente. Poder-se-ia dizer que pusemos a carne toda no assador,  mas é melhor não (não vá o Arthur Cabral sentir-se atraído pela possibilidade de aqui também haver picanha).  

O jogo tinha acabado de começar, o que já de si é um oxímoro, quando se produziu outra figura de estilo, no caso um paradoxo. E em dose dupla: o Geny, que devia defender, não quis ceder um canto, e o Israel, que podia agarrar a bola ou simplesmente deixá-la correr, socou-a para o único sítio na grande área (metropolitana de Lisboa) onde havia um jogador do Boavista àquela hora. Em consequência, o Makouta inaugurou o marcador da exactíssima mesma forma artística com que domesticamente costumamos encaixar golos. (Os golos que nos marcam e alguns que nos anulam têm imensa arte.)

O golo do Boavista teve o condão de, em vez de desanimar, animar todos os nossos jogadores, especialmente o Morita e o Gyokeres. E se o Morita desenhou logo com génio 3 lances de golo, o Gyokeres foi o protagonista de um "E tudo o vento levou" que teria deixado os boavisteiros à beira de um ataque de nervos, se os seus músculos não estivessem já demasiado retesados de tanto terem sido solicitados em correrias (não há dúvida de que este Gyokeres é um Clark Gable louro ou mesmo um "Clark Gamble", tão boa foi a aposta do Sporting nele). E, se no primeiro golo, o sueco mostrou dotes de finalizador a um só toque, antecipando-se ao defesa, no seu segundo partiu-lhe os rins com acelerações, travagens com servo-freio e derrapagens suaves - para o acompanharem, além de fortes e velozes os nossos adversários precisam de fazer um curso de pilotagem no gelo -,  antes de despachar o tema da baliza com um balázio mortal. Depois, ainda voltou a marcar, de penálti, só para mostrar que o desperdício com o Young Boys foi a excepção que confirma a regra. Não ficaria contudo por aí, levando tudo à frente numa diagonal na direcção da linha de fundo, levantando depois a cabeça antes de executar uma Quaresmada de pé direito directinha para o pé esquerdo goleador do Nuno Santos. No resto do tempo, dedicou-se a amassar os defesas, como uma jibóia que vai enleando as suas presas até as asfixiar. (Pelo meio, o Paulinho marcou um golo acrobático e no fim bisou, de cabeça, que o sueco estica tanto o jogo e cria tal desordem que propicia oportunidades suficientes para o Paulinho cumprir com a sua quota comunitária de produtor de falhanços e ainda conseguir falhar uns falhanços e marcar.)

 

O Shakespeare dizia que lamentar no presente uma dor passada seria como criar uma nova dor e sofrer novamente. Ora, há dores que são passíveis de cura, especialmente havendo um Gyokeres no presente. Ou, melhor dizendo, de presente. Para todos os sócios, adeptos e simpatizantes do nosso Sporting. Por isso, não criamos novas dores, como o comprovam o Casa Pia (8-0, após a nossa derrota na Taça da Liga) e agora o Boavista (6-1), pelo que se eu fosse do Benfica, sabendo que tinha 2 desafios seguidos, dava já como perdido o jogo da Taça de Portugal. Just in case... 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Viktor Gyokeres. Menções honrosas: Morita e Bragança. Que jogo fez o Daniel! Futebol de toque, perfume exótico, espalhando classe por um relvado que foi tela de um cenário revivalista onde coabitam Redondo e o samba de 82, o Bragança encheu as medidas de quem gosta de futebol e sabe que jogar simples e bem é sempre o mais complicado.

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12
Mar24

Tudo ao molho e fé em Deus

Agricultura desportiva


Pedro Azevedo

Tenho-me batido neste blogue por uma sã cultura desportiva e como a sua existência em Portugal poderia catapultar o nosso futebol para outro patamar, o que nada nem ninguém me preparou foi para o tema da agricultura desportiva. Ainda assim, procurarei em diante estar em conformidade com o que ocorreu ontem no campo das cebolas de Arouca, cidade onde o Sporting plantou as sementes do que se espera ser o título de campeão nacional. Tratando-se de um campo de cebolas, a colheita será lá para Maio, restando perceber se ao descascá-las vamos chorar de tristeza ou de alegria. Eu acredito na aleg(o)ria. E em comê-los (aos rivais) de cebolada. 

Na antecâmara do jogo só dava Arouca. Nas televisões falava-se de um trio, de ataque ou de cozinha (descasca da cebola), temível. De Jason, Mugica e até de Cristo, o que sem dúvida era coisa para meter muito respeito. Ademais, ter Cristo do lado de lá, sem já haver Jesus deste lado para empatar, deixava em aberto a possibilidade de um milagre arouquense de multiplicação dos golos. Enfim, segundo os sábios, a perspectiva para o Sporting não se afigurava nada católica. 


Consultado o Borda d'Agua, constatei ser Março o mês ideal para semear cebolas, o que contrariava a ideia original de que seria mau deslocar-nos agora a Arouca. O Amorim também olhou para o famoso almanaque e forneceu logo as sementes. Ora, se o objectivo com as cebolas é sacar-lhes o bolbo, no futebol a nossa meta é libertar a potência do nosso Volvo. A cavalo da tecnologia sueca, pois claro, ou não tivesse o Gyokeres nascido na pátria dos ABBA. Como o Gyokeres é o sol, com ele as culturas desenvolvem-se viçosas. Vai daí, começámos logo a facturar. 


Com o campo muito pesado, o Quaresma não podia usar a sua óptima progressão com bola e arriscava-se a perdê-la algumas vezes. Inteligente, o Amorim substituiu-o pelo Inácio. Assim começou o segundo tempo, período em que tivemos melhor controlo do jogo. Mas como o controlo é ilusório e o tempo caminhava para o fim, o receio de levarmos com uma batata, plantada ao acaso num campo de cebolas, avolumou-se. Eis então senão quando o Catamo esfregou a lâmpada e soltou o Geny(o). Com o 2-0, pudemos por fim respirar de alívio. Quer dizer, pudemos todos menos os nossos Vikings, que ainda agora estariam a semear se não os tivessem tirado do campo a tempo. Em consequência, o Hjulmand roubou uma bola, o Gyokeres a dividida e o esférico voltou ao dinamarquês para acabar dentro da baliza do Arouca. Mesmo a tempo do anúncio do furacão Chega, que virou tudo à direita (espero que a "desVentura" não prejudique as colheitas). Cá por mim, pedia já um subsídio (afinal, é de agricultura que falamos, não é verdade?). 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres

 

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