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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

01
Abr23

Uma verdade inconveniente


Pedro Azevedo

Informação útil para os dogmáticos da idade que se extrai do bilhete de identidade e restantes detractores de CR7: o cidadão Cristiano Ronaldo marcou 67 dos seus 122 golos (54,9%) ao serviço da Selecção Nacional após completar 31 anos. Mais, tendo no total 122 golos em 198 jogos por Portugal (0,616 golos/jogo), a sua média de golos pela “Equipa de todos nós” cresce exponencialmente se considerarmos apenas os seus números depois dos 31 anos: são 67 golos em 75 jogos, média de 0,893 golos/jogo. E se eliminarmos o ano de 2022, em que foi acometido de diversos problemas pessoais e profissionais que impactaram na sua forma, essa média sobe para mais de 1 golo por jogo (64 golos em 63 golos), números de acordo com os registados no Real Madrid. É só isto que eu queria dizer, para agora nos concentrarmos devidamente na recepção ao Santa Clara. Esperando que a realidade factual dos números não tenha provocado alergia a alguém. (Em caso de azia, é favor tomar nota que qualquer medicamento que a combata terá um efeito menos duradouro que cada novo feito de Ronaldo. É lidar.)

 

PS: Em 2016, com 31 anos, Ronaldo ajudou Portugal a vencer o seu primeiro grande troféu internacional (Campeonato da Europa). Em 2019, aos 34 anos, com ele a marcar 3 golos na meia final (3-1 à Suíça), Portugal ganhou a Liga das Nações. 

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27
Mar23

Tudo ao molho e fé em Deus

O Lux(o) de ter Ronaldo


Pedro Azevedo

Vivemos na era do homem que mordeu o cão. Numa época destas, o acessório ganha prioridade sobre o essencial, o que traduzido para a Selecção significa que o debate sobre a qualidade e forma como sopra o ar torna-se de maior relevância que os 198 jogos e 122 golos de Cristiano Ronaldo, ambos recordes mundiais. Por isso discute-se epistemologicamente o que é uma lufada de ar fresco (tese) em contraposição a uma aragem de transição (antítese), dialética hegeliana logo rematada com a conclusão (síntese) de que o Ronaldo está a mais e os colegas estão fartos dele, o melhor mesmo é estarmos eternamente gratos ao Engenheiro pelo único título de relevo conquistado por Portugal. Ora, eu penso que se calhar também deveríamos estar um pouco reconhecidos ao Ronaldo, não sei. É que não me lembro do Bernardo, do Bruno ou do Felix em França, mas posso estar enganado. Do que eu me recordo é de Portugal ter obtido os seus melhores resultados internacionais (1º e 2º lugares em Campeonatos da Europa) com Ronaldo na equipa, além de igualmente com ele termos repetido uma meia-final e atingido uns quartos e dois oitavos-de-final no Campeonato do Mundo. Com vários treinadores diferentes. Para quem sofre com o labéu posto por alguns portugueses de que só se preocupa com os seus feitos individuais, não me parece que o que atingiu colectivamente seja pouco. E já nem falo das 5 Champions que ajudou o Real e o United a conquistar. Apesar dele, segundo os detractores, ainda que sem ele ambos os clubes tivessem curiosamente passado a ganhar muito menos. (Comigo, os detractores "vão de carrinho"; ou de tractores, se assim o preferirem.)

 

Quem conhece minimamente o Ronaldo sabe que o seu forte nunca foram as palavras. Como bom português, ele vai aguentando as provocações, uma após outra, até que explode na pior altura e da pior forma, com uma arrogância que disfarça a frustração de periodicamente ser posto em causa. E quando a isso junta o reconhecimento do prazer que lhe dá regressar a uma certa casa, então o caldo está entornado com uma certa intelligentsia escarlate invejosa e orfã de um menino prodígio que pulula em jornais e televisões. Sim, porque são esses que não conseguem despir a camisola e permanentemente confundem a prima do mestre de obras com a Obra-prima do Mestre, levando alguns incautos, politicamente correctos e sedentos de mostrar imparcialidade, por arrasto. Vimos isso durante o Mundial. Não é que Ronaldo não se tenha posto a jeito ou estivesse isento de culpas no cartório, mas não merecia ter sido o bombo da festa e vítima da maior tentativa de assassinato mediático de que um futebolista foi alvo em mais de 100 anos de futebol em Portugal. Após uma perseguição pidesca, inédita em 48 anos de democracia, em que cada seu esgar facial foi analisado até à exaustão, recorrendo-se até à leitura labial. E é isto, tão isto, o que fazemos a um dos nossos maiores de todos os tempos, o português mais conhecido no mundo. A quem exigimos fora do campo a perfeição que nenhum de nós tem, como se das suas imperfeições - e não das suas virtudes - bebessemos o nectar essencial para seguirmos em frente e assim justificarmos o nosso próprio congénito inconseguimento. 

 

Posto isto, Portugal foi ontem a campo contra o Luxemburgo. Já se sabe que nestes jogos marcar cedo é fundamental. E o Ronaldo adiantou-nos no marcador. Parece fácil, não é(?), mas o nosso craque fez o mais difícil. A partir daí abriu-se o ketchup, para ele e para os outros. E foi bonito de ver o Bernardo marcar e assistir, o Felix concluir, o Palhinha nada deixar florir à sua volta e ainda ter tempo para meter um passe de 30 metros com GPS cujo destino final foi o golo. Depois, com espaço, entrou o Leão e pintou a manta, como se de uma palanca se tratasse, a todos envolvendo num turbilhão de velocidade e porte altivo. No final, foram meia-dúzia, que somados aos quatro com o Liechtenstein dão dez. Deixemos por isso o ar fresco para outras bandas - em Varsóvia as temperaturas são tão frias que um Czech-mate a mais ou a menos nem faz diferença -  e constatemos o óbvio: após dois jogos disputados, Portugal já lidera isolado o seu grupo de qualificação para o Europeu. Ainda e sempre com Ronaldo.

 

Podium - Ouro: João Palhinha; Prata: Ronaldo; Bronze: Bernardo.

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09
Fev23

E duram, e duram...


Pedro Azevedo

Acabado de completar 38 anos, Cristiano Ronaldo impressiona pela sua longevidade. Tal, inevitavelmente, remete-nos para outros casos míticos de durabilidade. E vêm-nos à cabeça os casos de Stanley Matthews e de Kazu Miura, ambos também curiosamente nascidos no mês de Fevereiro. Aos 38 anos, Matthews resolveu uma Taça de Inglaterra para o Blackpool, marcando os dois golos da final. Acabaria por jogar profissionalmente até aos 52 anos, tendo merecido a honra de ter sido o primeiro futebolista ainda em actividade a ser agraciado com o título de Sir pela rainha, regressando em final de carreira ao seu Stoke City e destronando o anterior detentor desse recorde, Billy Meredith, antiga glória do Manchester City e do United. Meredith despediu-se do futebol aos 50 anos, em 1924. Extremo direito, como aliás Matthews, Billy destacava-se pela sua habilidade no 1x1 e pela fiabilidade dos seus cruzamentos, pormenores que captavam a atenção do público presente nos estádios onde actuava. Mas seria por mastigar um palito entre os dentes(!) durante os jogos, como se de uma pastilha elástica se tratasse, que se tornaria facilmente distinguível para os menos impressionáveis pelas suas qualidades futebolísticas. Enfim, outros tempos, tempos de alguma ingenuidade que porém não impediram que Meredith fosse suspenso por 1 ano pela FA inglesa devido a uma tentativa de suborno. O alvo foi o capitão do (Aston) Villa e o objecto foram 10 libras(!). Após o cumprimento da punição, trocou o City pelo United. 

 

Recentemente, Matthews viu-se ultrapassado no seu recorde de longevidade profissional. E o novo detentor dessa marca, Kazu Miura, à beira de completar 56 anos, está em Portugal, assinou pela União Desportiva Oliveirense, actualmente na Segunda Liga. O nipónico, ainda adolescente, iniciou a sua carreira no Brasil(!) e depois teve uma passagem relevante por Itália, no Génova, o que não deixa de fazer sentido no currículo de um marinheiro de tantos portos. Regressado ao Japão, tornou-se um ídolo do Verdy Kawasaki, hoje Tokyo Verdy, entre mais curtas experiências em outros clubes japoneses e até uma participação num Mundial de Futsal. Globetrotter, passou também por Croácia e Austrália, só lhe faltando África no currículo profissional para completar os 5 continentes. 

 

Perante estes dados que aqui Vos apresento, CR7 aos 38 anos de idade é ainda um jovem. Formado no Sporting Clube de Portugal e retocado no futebol inglês por um artífice de primeira qualidade (Sir Alex Ferguson), Ronaldo tem uma carreira repleta de êxitos no Manchester United, Real Madrid e Juventus. Agora vive a sua experiência asiática, sem a mesma pressão e com a conta bancária bem recheada. Mas sente-se que é o amor ao futebol que o faz permanecer em actividade, assim como a perspectiva de se continuar a superar, de bater recordes. Por isso, pelo sim pelo não, o Miura que se cuide. É que se os miuras são conhecidos como bravos, o Ronaldo é bravíssimo. 

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21
Dez22

Ronaldo e Messi


Pedro Azevedo

No futebol, como na vida, há várias formas de procurar o sucesso. Messi e Ronaldo tiveram um acompanhamento díspar (Ronaldo, aos onze anos, sozinho em Lisboa, o adolescente Messi acompanhado pelos pais na capital catalã) mas uma formação semelhante, no Barcelona e no Sporting, que lhes moldou a arte e o engenho no um-para-um. Acontece que cedo Ronaldo migrou para Inglaterra, sob a influência de um treinador britânico que lhe depurou as qualidades de explosão e finalização e o fez abandonar o apêndice circense e tudo aquilo que não tivesse golo como código postal. Tornou-se assim um jogador diferente, ainda que diferenciado, produto da visão prática típica da cultura da Grã-Bretanha. O que teria sido, melhor ou pior, se em vez de Ferguson tem encontrado orientação num outro tipo de treinador, nunca o saberemos, mas nos livros de ouro do futebol mundial estará muito bem assim, ele que chegou ao United e apanhou uma equipa já oleada mas teve o mérito de ser a cereja no topo do bolo que fez toda a diferença no título europeu obtido pelos ingleses. Se Ronaldo foi desenvolvido para ser um motor altamente rotativo, Messi cresceu com um sistema de transmissão instalado da cabeça aos pés, incluindo embraiagem, mudanças, eixo cardan e diferencial. Produto de uma escola de futebol onde a vertigem é preterida pelo pensar do jogo, o seu futebol é feito de acelerações, travagens súbitas, mudanças de direcção, desmultiplicações e alta aderência em curvas sinuosas que só umas passagens de caixa perfeitas lhe poderiam dar. Mas também tem passe e repasse, tabelinha, controlo do jogo, sentido colectivo e uma cultura táctica superior que é herança dessa casa, cultura essa que associada à atractibilidade do clube lhe permitiu crescer sem pressão na sombra de Ronaldinho, Deco, Xavi ou Iniesta antes de se tornar o seu timoneiro. No fundo, o futebol de Messi foi desenvolvido para potenciar a ginga e esconder as limitações físicas, o que faz com que tenha a necessidade de pegar na bola mais atrás, em zonas onde o povoamento não é tão intenso, tendo desenvolvido no proceso qualidades de armador de jogo. Já Ronaldo também podia ter ido nesse caminho, mas Ferguson, ao deslumbrar-se com as suas características físicas, apontou-lhe um atalho. Durante anos, o seu futebol não necessitou de caixa de velocidades, era só pôr a potência no chão, independentemente da zona de onde partisse. Perdida alguma da explosão, adaptou-se, continuando a fazer a diferença pelo killer-instinct associado a características como a capacidade de impulsão ou a qualidade do remate, dentro ou fora da área, com o pé esquerdo ou o direito, quando não de cabeça. 

 

Dois grandes jogadores, ícones da modalidade, que nasceram semelhantes e se desenvolveram em direcções diferentes, com Ronaldo mais aventureiro e sempre a procurar novos desafios e Messi mais acomodado na Cidade Condal. Pena foi que ao longo das suas carreiras nunca tenham jogado juntos, porque, egos à parte, teriam sido perfeitamente complementares no que respeita ao plano técnico, táctico, físico e mental do jogo. Ainda assim, tem sido um prazer vê-los a competir um com o outro, mas principalmente com eles próprios, ao longo dos últimos 15 anos. Tão, tão competitivos que bem dispensam médicos legistas e cangalheiros apressados. 

 

P.S. Durante o Mundial, Messi teve toda uma nação e uma equipa por detrás dele, acarinhando-o, dando-lhe força e impulsionando-o para que finalmente fosse coroado com o título mundial que lhe faltava. Enquanto isso, Ronaldo teve de lidar com a ingratidão dos portugueses e, por que não dizê-lo(?), do próprio seleccionador nacional. Ronaldo chegou em forma deficiente, faltando-lhe a pré-época, não foi utilizado no jogo de preparação com a Nigéria e não teve a rodagem suficiente em jogo para que conseguisse ganhar a confiança que lhe elevasse o patamar. Pelo contrário, foi sempre substituído, até perder a titularidade, apesar de ter sido importante dos 2 primeiros jogos e de, com ele em campo, a Selecção não se ter mostrado nunca inferior ao adversário no marcador (contra a Coreia saiu quando estavamos empatados, com Marrocos entrou com Portugal já a perder). Todas as polémicas - alegado toque na bola antes de golo, insatisfação ao sair prematuramente de campo, saída precoce após final dos jogos - foram canalizadas contra si e serviram para o ridicularizar perante o grande público, num julgamento primário que a todos devia envergonhar quando se trata de um ícone que nunca rejeitou a sua Selecção, antes por ela o vimos chorar com emoção ao som dos acordes do hino nacional. Não é perfeito? Não, longe disso. (Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.) Mas que se levantem então esses paladinos da perfeição, num país iminentemente corrupto e pouco meritocrático, de filiações, afiliados e afiliações, e cheio de falsos moralistas que logo se desenganam mal passam o adro da igreja.

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14
Dez22

"Argentina va a salir campeón!?"


Pedro Azevedo

Não deixando o futebol de ser um desporto colectivo, as individualidades têm contribuindo muito ao longo dos anos para a sua divulgação. Por essa via, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi dominaram como até aí ninguém no passado o panorama futebolístico na última década e meia, criando para si próprios um duopólio que só por duas ocasiões (2018 e 2022) foi quebrado, sendo Luca Modric e Karim Benzema esses intrusos quase acidentais dos prémios Ballon D'Or ou The Best FIFA Award. Sendo a hegemonia de Ronaldo (5 distinções de "melhor jogador do mundo", 5 Champions e 1 Campeonato da Europa) e Messi (7 distinções de "melhor jogador do mundo", 4 Champions e 1 Copa América) esmagadora, seria justo que ambos não terminassem a sua carreira sem um título de campeão do mundo de selecções, algo atingido no passado recente pelos Bola de Ouro Zinedine Zidane (1998), Ronaldo "Fenómeno" (2002) ou Fabio Cannavarro (2006). Embora outros grandes astros premiados no passado como "Melhor do Mundo" (Alfredo Di Stéfano, Eusébio, George Best, Johan Cruijff, Michel Platini, Marco van Basten ou Luis Figo) nunca tenham conseguido o máximo título planetário pelo seu país, nenhum elevou tanto a fasquia quanto Ronaldo e Messi. Assim, na impossibilidade do português levantar o caneco, gostaria que Leo Messi o fizesse, razão pela qual estarei a torcer pela Argentina na final do próximo Domingo. Não olvidando que o futebol é um desporto colectivo, mas querendo homenagear assim quem, tarde após tarde, noite após noite, procurou a superação e elevou a qualidade para um nível estratosférico, por pleno direito ascendendo a um olimpo de deuses onde até aí só estavam Pelé e Diego Armando Maradona, também eles campeões do mundo. Ganhe então Messi, não podendo ser Ronaldo. Pelo futebol. (Cruijff, pela conjugação do que deu ao futebol enqanto jogador e treinador, merece completar um quinteto muito exclusivo de deuses do olimpo do ludopédio.)

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11
Dez22

Tudo ao molho e fé em Deus

O (Fema)caos, um anagrama do vazio


Pedro Azevedo

A Selecção foi para casa e estou curioso para ler a imprensa especializada porque a culpa só pode ser do Ronaldo, que ontem esteve apagadíssimo durante os primeiros 51 minutos, nem tocou na bola. Parece impossível, não é? Faltou também intensidade ao Palhinha, o melhor recuperador de bolas da Premier League, que não ganhou uma única contra Marrocos. Incrível! Já para não falar do Matheus Nunes e das suas célebres transições, ontem circunscritas ao espaço compreendido entre o balneário e o banco de suplentes. Malandro! E depois houve um ausente omnipresente na cabeça do Engenheiro, o Moutinho. Só isso explica o que foi pedido a Bernardo neste campeonato do mundo. E não fosse Bernardo falhar, ainda avançou o verdadeiro clone do jogador dos Wolves, o Vitinha. Tudo na tentativa, gorada, de jogar pinball com os marroquinos, de meter a bola entre-linhas, algo infrutífero quando estas se apresentavam coladas com gesso (e ligaduras e adesivos, à medida que os já de si depauperados marroquinos caídos em combate iam sendo substituídos). Antes havíamos tentado a circulação em "U", o que também não tinha resultado, pelo que acabámos o jogo numa homenagem a esta rubrica, em "Tudo ao molho e fé em Deus". O jogo directo é que não passou do papel. Quer dizer, no papel, a entrada a titular do Rúben Neves unicamente visaria pôr a bola atrás das linhas marroquinas e suscitar segundas bolas, mas o ponta de lança esteve sempre desacompanhado, nunca houve alguém por perto que desse consistência a esse plano. E quando o houve, uns parcos 10 minutos, não só o Neves já não estava em campo (lá teve de recuar o Bruno para lançar a bola para a molhada, ele que depois, por não ser omnipresente, faltou com o seu bom remate nas imediações da área marroquina) como logo o Engenheiro se empenhou em matar a solução, fazendo sair o Ramos e voltando ao jogo miudinho que nunca preocupou os homens de barba rija vindos do Magrebe. Assim sendo, Portugal foi quase sempre uma equipa sem arte, com jogadores incapazes de desequilibrar no 1x1, com a honrosa excepção de João Félix. A esperança ainda renasceu quando Ronaldo começou a servir apoios, jogando muito mais para a equipa do que para si próprio, o que deve ter escandalizado os maledicentes e os seus inúmeros médicos legistas espalhadas pela imprensa. Só que faltou um atrelado, alguém por perto que aproveitasse uma segunda bola. Por curiosidade, o jogador com mais características para tirar rendimento dessa situação, o Pedro Gonçalves, ficara em Lisboa, pelo que não houve Pote de Ouro no final do arco-íris. 

 

Confusos? Tudo isto encontra explicação na Teoria do Caos tão do agrado do CEO da Femacosa. Esta trata de sistemas altamente complexos, difíceis de entender por um homem médio que não o Engenheiro, cuja dinâmica acaba por suscitar uma instabilidade que se denomina como "sensibilidade às condições iniciais", que os torna não previsíveis ao longo do tempo. Assim, ao alterar permanentemente o Onze titular, o Engenheiro vai introduzindo o caos determinístico, tornando impossível prever o que se passará a seguir. As correcções que de seguida efectiva no modelo não permitem regressar às condições iniciais, até porque já houve ocorrências intermédias que não podem ser apagadas, pelo que a dado momento o sistema afigura-se aleatório à vista desarmada, dada a sua profunda instabilidade. É o "Efeito Borboleta", como explica Lorenz, e as suas consequências, que em termos de Selecção podem resumir-se ao bater de asa de Ronaldo no Qatar vir a influenciar uma revolução no corpo técnico da Federação em Lisboa. Tão certo como a morte e... os impostos.

 

Tenor "Tudo ao molho...": João Félix

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07
Dez22

Tudo ao molho e fé em Deus

Entre o eterno e os adversários que não são internos


Pedro Azevedo

Com a vitória de ontem, Portugal atingiu os quartos de final do campeonato do mundo, patamar unicamente alcançado pelos lusos em duas ocasiões (1966 e 2006) na história da competição. Eu vi o jogo ontem e fiquei com a sensação de que tínhamos ganho à Suiça. Mas hoje, ao analisar os comentários que proliferam pela blogosfera, parece que ganhámos contra o Ronaldo (Uma injustiça face à dimensão universal de um craque com uma ética de trabalho irrepreensível, a quem exigimos que seja perfeito.) Ou contra uns projectados aziados lesa-pátria, que isto de uns opinion-makers dizerem uma coisa e o seu contrário é uma arte só comparável à provocação gratuita destinada a criar uma agitação popular que se insiste em confundir com o sucesso. Pensando bem, é esta falta de unidade que nos caracteriza como nação. Por isso, quando Portugal vence em qualquer actividade é sempre contra outros... portugueses. Para essa singular forma de se ser português, ontem o Gonçalo Ramos ganhou ao Cristiano, olvidando-se que bateu essencialmente o Messi, o Gakpo, o Mbappé, o Kane, o Neymar, o Havertz, o Morata, o Mitrovic e todos os outros brilhantes e celebrados avançados que ainda não conseguiram fazer 3 golos num só jogo deste Mundial. Assim sendo, tenhamos noção das coisas: Portugal ganhou à Suiça, ponto. E Gonçalo Ramos tornou-se o mais jovem jogador desde Pelé a fazer um hat-trick em jogos a eliminar. Tudo motivos para festejar, colectiva e individualmente, o desempenho da nossa Selecção. Que é de todos nós, embora aqui e ali haja divergências entre os portugueses sobre a melhor forma de atingirmos o sucesso, o que é natural. (Já se sabe que para corrigir o que não é natural só há o Restaurador Olex, o resto são disfarces.)

 

Eu afirmei aqui que o Ronaldo ainda era melhor do que o Ramos e os factos da noite passada pareceram desmentir-me. Óptimo, digo eu. Porque muito mais importante do que as minhas razões é a razão colectiva. E Portugal ganhou, as pessoas estão felizes e mais felizes ainda ficarão se sobrepuserem Portugal ao jogador A ou B, ou ao treinador C ou D. Como o futebol é o momento, ontem o Ramos justificou plenamente a titularidade. Se já é melhor do que o Ronaldo é outra questão, até porque não há estatísticamente uma amostra com grau de significância relevante baseada numa única observação e as 118 observações anteriores de Ronaldo não devem ser desprezadas. Certo, certo é que no dia de ontem o Ronaldo dificilmente teria feito melhor do que o Ramos. Poderá uma Argentina dizer o mesmo sem Messi, um Brasil sem Neymar ou uma França sem Mbappé? Pois, feliz de quem substitui pontualmente um 5 vezes Bola de Ouro com aparente vantagem, o resto é conversa autofágica.  

 

Falando do jogo, que é o que essencialmente nos traz aqui, Portugal teve uma largura e profundidade até aí não vistas neste Mundial. Para tal muito contribuíram as prestações de Dalot e de Guerreiro, que assim permitiram a criação de espaço em zonas interiores tão bem aproveitado pelo João Félix, para mim o melhor em campo. [Eu sei, o Homem do Jogo foi o Gonçalo Ramos, com três golos e uma assistência (bom, na verdade duas), mas o Melhor em Campo é outra coisa.] Um destaque também muito especial para o Pepe. O Pepe é aquele jogador que qualquer amante de um clube gostaria de ter do seu lado e odiaria ter do lado oposto. A sua garra, concentração e atleticidade contagiam qualquer um, assim como o seu profissionalismo. Por isso, chega aos 39 anos aparentando estar fresco como uma alface, desafiando a perenidade das coisas e afirmando a sua eternidade na linha do que Ronaldo vinha fazendo até recentemente, o que lhe vem permitindo esconder o momento de forma menos exuberante do colega do lado que é 14 anos mais novo (Rúben Dias), pelo que surpreendente é que esta constatação ainda seja uma surpresa para alguém. Ontem marcou mais um golo pela Selecção, ajudando a consolidar a nossa grande vitória, tornando-se o jogador menos novo a marcar em jogos de mata-mata na história dos mundiais de futebol. (O mais velho a marcar em fases finais ainda é o Roger Milla, 42 anos, com a cortesia do escorpião Higuita.)

 

Como remate final, porque eu também tenho a tentação de marcar um golo, gostaria de dizer o seguinte: há por aí muito boa gente que vê o futebol como uma ciência. Pior, muitos até elevam-no a ciência exacta. Ora, o futebol não é matemática, certamente desafia qualquer silogismo aristotélico (por Portugal ter ganho por 5 à Suiça e o Brasil só lhes ter ganho pela diferença mínima, tal não significa que vençamos os canarinhos por 4 golos de diferença) e tem muitos novos amanhãs que permanentemente desafiam o presente e o estabelecido. Por isso é tão fascinante, e como tal suscita tanta curiosidade. Desde logo porque, sendo de aprendizagem simples, a sua complexidade traduz-se em que quanto mais se julga saber, mais se percebe nada se entender. E é bom assim, que pertença àquelas coisas que aparentemente estão ali à mão mas são inatingíveis. Como, aliás, a lua ou o sol. Talvez por isso gere tantos aluados e gente que parece ter apanhado sol a mais na moleirinha. É dos astros. [Dos astros, de quem se julga astro e de quem veste a pele de lobo e não é (Prof.) Astromar.]

 

Tenor "Tudo ao molho...": João Félix

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29
Nov22

Tudo ao molho e fé em Deus

The hair of God


Pedro Azevedo

Em 86, no México, Argentina e Inglaterra defrontavam-se nos quartos de final do Mundial. O palco era o Estádio Azteca e cerca de 115 000 almas dispunham-se nas bancadas sob um sol inclemente. Para apimentar ainda mais o ambiente, o jogo tinha um carácter extra-desportivo motivado pelas cicatrizes ainda abertas da Guerra das Malvinas, que havia oposto os 2 países uns anos antes. No fim, no campo, ganhou a Argentina, naquilo que poderia ser considerado a "revancha del Tango". Para isso muito contribuiu Diego Armando Maradona, o génio da lâmpada, que marcou um golo épico e outro ignóbil, cada um inesquecível à sua maneira, ambos porém produto da improvisação, expressividade, ginga, truque e carga dramática que caracterizam o tango. No fim, quando questionado pela imprensa inglesa sobre a legalidade do seu primeiro golo, El Pibe apelidou-o de "The hand of God", a mão de Deus. Quanto ao segundo, o "Golo do Século", Lineker afirmou ter sido a única vez na vida em que se sentiu compelido a aplaudir num relvado um golo do adversário.  

 

Pensei na "mão de Deus" ontem enquanto aplaudia o primeiro golo de Portugal contra o Uruguai. Não que tivesse havido algo de ignóbil no lance, aliás perfeitamente limpo, mas porque envolveu um outro deus do futebol mundial, o nosso Cristiano Ronaldo, que foi absolutamente decisivo no êxito da iniciativa conduzida por Bruno Fernandes. Logo se levantou a questão de Ronaldo ter ou não tocado na bola e as imagens televisivas pareceram concluir que não. Mas tendo o salto de Ronaldo sido fundamental para a inacção do guarda-redes uruguaio, que ficou na dúvida entre seguir a trajectória da bola ou precaver-se face a um hipotético desvio do avançado português, bem que o golo poderia ficar na história como "The hair of God", como se um fio de cabelo divino tivesse acrescido à cabeleira de Ronaldo e assim impelido a bola para as redes. ("Se no è vero, è ben trovato".)

 

O jogo para nós foi de uma forma geral sofrido, ou não fosse Portugal a equipa e Fernando Santos o seu treinador. Algumas debilidades em termos de intensidade defensiva do nosso meio-campo ficaram expressas num arranque de Bentancur no primeiro tempo ou na reacção uruguaia ao golo inaugural luso. Também ficou evidente que o nosso seleccionador atrasou demasiadamente as últimas substituições, especialmente as entradas de Palhinha e de Matheus Nunes (que classe!), submetendo a equipa desnecessariamente a uma forte pressão dos sul-americanos que o poste, a malha lateral e Diogo Costa impediram que se materializasse em golos. Antes assim, mas que não havia necessidade de sofrer tanto, lá isso também é verdade. Até porque um dia, nada se alterando, a história poderá acabar mal, que os deuses do futebol não estarão sempre connosco, como aliás já se provou em competições que sucederam à vitória no Euro-2016. (A maior vítima do caos organizado que caracteriza o nosso jogo desposicional, bem como da macieza dos médios, é o Bernardo Silva, que é obrigado a transpirar tanto que depois lhe falta oxigénio para inspirar... a equipa.) 

 

Com apenas 2 jogos disputados, Portugal já está nos oitavos de final do Mundial. E com grande possibilidade de terminar em primeiro lugar no seu grupo, evitando assim o Brasil, que com igual probabilidade deve finalizar no topo da sua poule. Para quem tem na Texas Instruments ou na Casio uns parceiros de uma vida, não deixa de ser reconfortante...

 

Viva Portugal!!! (A revolta do Fado.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes. Menção honrosa para Diogo Costa. Ronaldo esteve no golo e deu apoios no ataque, Pepe regressou a bom nível, Nuno Mendes foi o único a acelerar o jogo no primeiro tempo, Cancelo preocupou-se essencialmente em defender bem e teve um corte providencial e Bernardo lutou em todo o campo pela equipa.

 

PS: O Ruben Neves passou o jogo todo com mialgias a nível do rabo de cavalo...

 

PS2: A minha equipa para a Coreia: Diogo Costa (Rui Patrício); Dalot, Pepe, Rúben Dias e Cancelo; Palhinha, Matheus Nunes e Vitinha; João Mário, Ronaldo (André Silva) e Rafael Leão. Descansam o Bruno, o Bernardo e o Guerreiro (não temos outro). Os outros que jogaram com o Uruguai também, mas não são os melhores. 

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25
Mar22

Tudo ao molho e fé em Deus

Valeu o último terço... do campo


Pedro Azevedo

"Matheus, jogas muito pá!!!!!!!" - ele (Porro, nas redes sociais) sabe-o, eu também por aqui, embora uma leitura rápida do que se escreve por aí até faça crer que o luso-brasileiro não tem compromisso com o jogo e que o Guardiola não percebe nada disto. O jogo estava a pedir o Matheus desde o 2-0, mas Fernando Santos hesitou, hesitou, correndo o risco de ficar fora do Mundial. Ideal para as transições que a necessidade turca de chegar ao empate iriam originar, Matheus finalmente foi a campo nos minutos finais. E matou o jogo com uma recepção de bola de grande classe e um remate efectuado com a frieza de um matador. Antes, desmarcara-se como um Mustang pelo centro do terreno e não pela meia esquerda onde vem actuando no Sporting, beneficiando ainda de um meio campo a 3 que lhe permite sempre o resguardo de 2 homens nas suas costas. É isso que ultimamente a análise dos sábios às suas prestações no Sporting muitas vezes descura: num meio campo a 2, Matheus não arrisca tanto na frente porque precisa cuidar do seu posicionamento para reagir ao momento da perda da bola numa equipa que joga quase sempre em inferioridade numérica nessa zona nevrálgica do relvado.  Isto é que o condiciona, e não qualquer coisa que tenha subido à cabeça de um miúdo que aliás sempre deu mostras de ser humilde, atitude que lhe permitiu subir das profundezas das divisões distritais para a Selecção Nacional em apenas 3 anos. (Não é a toa que a exibição mais marcante do luso-brasileiro tenha ocorrido contra um Benfica que no tempo de JJ também jogava com apenas dois médios centrais, o que deu azo a que Matheus tenha tido oportunidade de jogar e arrasar no 1x1 contra Weigl inúmeras vezes.)

 

Apesar de tanta hesitação, as santas e os santinhos estão com o Engenheiro. É pelo menos uma explicação possível para os factos de o penálti falhado pelos otomanos ter evitado um banho turco ou os campeões da Europa terem ficado inesperadamente pelo caminho contra uma Macedónia à procura da glória perdida dos tempos de Alexandre Magno. Curiosamente, para combater os macedónios aos italianos terá faltado alguém também com nome de imperador, um Otávio, decisivo na vitória lusa de ontem à noite. Assim, nem foi preciso o Ronaldo de sempre, ontem particularmente inspirado na ligação de jogo a um só toque mas menos bem na finalização, substituído como matador por Jota, a moto de alta cilindrada que desestabilizou a organização turca. O sofrimento final é que não era de todo necessário, mas o futebol tem destes sortilégios e quando Fonte se juntou a Guerreiro, Danilo e Dalot, que tinham perdido bolas no primeiro terço durante a primeira parte, e fez uma falta desnecessária dentro da grande-área abriu o bar (ou VAR) para a entrada turca no jogo. Valeu-nos então a desinspiração do Yilmaz perante um Diogo Costa que revelou grande personalidade e bom jogo de pés, numa altura em que o Fernando Santos já estava envolto em banho-Maria, indeciso e à espera que Nossa Senhora o ouvisse no terço. Mas isso são contas de outro rosário, que no fim o Engenheiro até trocou o terço pelo cigarro em pleno relvado tal eram os nervos expostos naqueles já seus usuais tiques que abundantemente mostrou nos minutos finais da querela. 

 

Venha a Macedónia! E depois o Qatar. Se tudo correr bem, o Engenheiro fica. Para ganhar o Mundial? Se Nossa Senhora assim o quiser. É que um Rosário são 3 Terços, tantos quantos os que dividem estrategicamente um campo de futebol. Haja fé! Avé Maria, cheia de graça, o Senhor é conVosco...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Otávio

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13
Out21

Um lux(o)!!!


Pedro Azevedo

Ronaldo ultrapassou ontem a barreira dos 800 golos em jogos oficiais, fazendo balançar as redes pela 801ª vez na sua carreira como sénior. Tornou-se assim no primeiro jogador da história do futebol mundial a superar essa marca redonda, deixando o rei Pelé, aquele que mais se aproxima, a uns já bem distantes 44 golos. Com os 3 golos que marcou ao Luxemburgo, obteve ainda o 58º hat-trick da sua carreira, o 10º se considerarmos apenas a sua prestação ao serviço da Selecção Nacional. Mas o mais extraordinário em Ronaldo é a sua sede insaciável pela superação. Ontem houve mais um episódio ilustrativo disso mesmo quando Cristiano ficou visivelmente contrariado após a brilhante execução de um pontapé de bicicleta por si próprio preparado ter sido negada pelos reflexos felinos do guarda-redes do Grão-ducado. Sempre à procura de novas oportunidades de figurar na história, até onde irá Cristiano Ronaldo? Que jogador extraordinário! (E que privilégio é poder ser seu contemporâneo.)

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11
Set21

Theatre of Dreams (só para alguns)


Pedro Azevedo

Com Ronaldo a bisar e Bruno Fernandes a marcar o golo da tarde, o Manchester United despachou (4-1) o Newcastle no agora ainda mais justificado "Theatre of Dreams" (Old Trafford). 


(À atenção de Fernando Santos e dos apologistas da teoria de que com Ronaldo na Selecção o Bruno Fernandes rende obrigatoriamente menos. Pelos vistos há quem veja nessa parceria um sonho, havendo outros em Portugal que insistem em querer ver um pesadelo, uma discussão que sempre me pareceu despropositada e digna de quem complica ao ver problemas nas soluções.)

 

04
Set21

Manchester by the sea


Pedro Azevedo

Ronaldo retorna a uma casa onde já foi feliz para tomar conta de um Manchester United orfão de Sir Alex Ferguson. Com uma última vitória na Premiership a coincidir com a despedida do lendário treinador escocês, o United procura em Cristiano o ingrediente a mais a nível de exigência ou profissionalismo que o conduza à redenção. A seu favor jogam 3 títulos consecutivos no melhor campeonato do mundo (2007, 2008 e 2009), o último na época anterior a sair para o Real Madrid. Não sei se será possível aos Red Devils chegar ao título no final desta temporada, mas que seria como um conto de fadas, lá isso seria. Ou um roteiro para um tocante filme, com Ronaldo perto do epílogo(?) da sua carreira a deixar mais uma marca incontorrnável na história do Man U. Seria uma bela fita, ou não? Depois, só faltaria que voltasse a equipar de verde-e-branco, o que ainda apareceria antes dos créditos finais. 

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03
Set21

A ver jogar Portugal


Pedro Azevedo

Demasiados jogadores a pedirem a bola no pé e poucos a procurarem o espaço, eis a selecção portuguesa de futebol. Some-se a proverbial falta de objectividade no remate por parte da maioria dos jogadores lusos - demasiados toques na bola na hora de chutar à baliza, a anos-luz daquilo que vemos qualquer inglês ou alemão fazer - e estão explicadas as dificuldades encontradas por Portugal para bater uma frágil República da Irlanda.

 

Com apenas Diogo Jota e os laterais a desmarcarem-se, Portugal torna-se uma equipa previsível e muito dependente do génio da lâmpada que uma das suas inúmeras individualidades pode libertar. Tal torna-se ainda mais evidente quando o adversário estaciona o autocarro, condicionante que geralmente é suficiente para bloquear a engrenagem por as nossas variações do centro de jogo não serem suficientemente rápidas (ou devido à ineficácia do nosso jogo interior). 

 

Não surpreende assim que o suspeito do costume tenha sido a solução para resolver o problema que os "leprechaun" irlandeses colocaram a uns gigantes lusos com os pés fartos do barro que Fernando Santos não há modo de libertar. Uma vez mais, foi Cristiano, em dois momentos de atleticidade tonitruante, que nos salvou, elevando-se nas alturas com a aura de um deus do Olimpo do ludopédio. O que choca, ou talvez não se considerarmos o país onde vivemos, é ver Ronaldo dado como acabado e atacado nos media e redes sociais. A tal questão da dependência negativa, dizem eles. Na quarta-feira viu-se... Temo, porém, que um dia lá para a frente ainda venhamos a lamentar a ausência dessa tal tão danosa dependência. Creio até que nesse dia seremos definitivamente independentes... de ilusões. 

 

P.S. Dos 111 golos (180 jogos) de Ronaldo, 59 (62 jogos) foram marcados depois de completar 30 anos.

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24
Ago21

Só faltava esta...


Pedro Azevedo

Leio um ex-presidente (2006-2009) da Juventus, Giovanni Gigli, afirmar que Ronaldo atrapalha o ataque da Vecchia Signora e chego à conclusão que há quem goste de viver numa realidade paralela. Aparentemente, para este senhor, bons, bons são os Dybalas e Moratas desta vida, o Cristiano é um estorvo. Ainda que com cerca de metade dos jogos de Dybala tenha marcado o mesmo número de golos (101) do argentino, 54 mais do que o espanhol Morata facturou numa maior quantidade de partidas efectuadas. 

 

Há quem perante os problemas veja soluções e também há quem veja nas soluções um problema. Nada de novo, Florentino Pérez, que o deixou sair do Real, também já o experimentou. E desde aí não voltou sequer a ameaçar ganhar a Champions. Ronaldo pode já não estar no auge da sua carreira, mas continua a ser um goleador temível. Ainda assim, no Real nunca se colocou a questão da dependência da equipa face ao jogador ser prejudicial, foram questões financeiras (compreensíveis) que estiveram na origem do timing de venda. Aliás, 4 Champions e 450 golos depois, seria uma cretinice ver o copo meio-vazio em Madrid. Todas as grandes equipas dependem dos grandes jogadores. DiStefano e Puskas no Real, Van Basten e Gullit no Milão, Messi e Neymar no Barcelona disso foram exemplo. E isso é bom, vidé o que ganharam para os seus clubes. Já os jogadores de nível médio nunca criarão dependência. Infelizmente, também não deixarão memória...

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30
Mar21

Exemplo devem ser os pais


Pedro Azevedo

Toda esta polémica à volta de Cristiano Ronaldo parece-me cabotina. Não só quando apressada e irreflectidamente se procuram argumentos para lhe retirar o privilégio de capitanear a Equipa Nacional, mas também ao invocar-se que o jogador deve ser um exemplo para os mais jovens em todas as suas atitudes. Atenção, eu compreendo que as agências de publicidade, os gabinetes de comunicação e as empresas de marketing procurem projectar uma determinada imagem ou narrativa que mais favoreça as pretensões das marcas que patrocinam CR7 e que este tacitamente assim o consinta, mas quem escreve ou fala sobre estas coisas deveria ter o afastamento suficiente para não se deixar contagiar nem perder a noção da realidade ou inverter as coisas. Quem deve, isso sim, constituír um exemplo na vida de um jovem e nunca se pode demitir da responsabilidade de o educar são primeiramente os seus pais, a quem cabe incutir princípios, valores e atitudes comportamentais, pelo que talvez fosse bom que esses críticos se focassem prioritariamente nas suas próprias casas e verificassem se estão a cumprir com as suas obrigações. Ademais, a um desportista, ainda mais de alta competição, compete ganhar, e isso, no calor da luta e fisica e mentalmente exausto, infelizmente nem sempre será possível compatibilizar com o melhor exemplo ou postura. Tal como ocorreu no pretérito Sábado. Desfrutemos pois até ao fim do extraordinário desportista Ronaldo e saibamos retirar apenas o essencial que o cidadão nos traz: no campo, o esforço contínuo e titânico na busca da superação, excelência e perfeição; fora dele a solidariedade para com os mais desfavorecidos. Isso, sim, será um legado de CR7, uma inspiração que qualquer jovem ou adulto retirará para a sua vida. Agora, perder tanto tempo com braçadeiras só assiste mesmo a quem não sabe nadar.

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15
Mar21

La Vecchia Macchina


Pedro Azevedo

Zurzido de alto a baixo por imprensa, antigos jogadores e treinadores de referência após a eliminação da Vecchia Signora aos pés do FC Porto, Cristiano Ronaldo respondeu à bomba: hat-trick perfeito na Sardenha (cabeça, pé direito, pé esquerdo), liderança alargada da tabela de "capocannonieri" da Serie A, 770 golos na carreira e recorde de Pelé superado. Nada mal para quem está acabado...

 

O problema da análise que muitas vezes se faz sobre Ronaldo é descurar que o futebol não é ténis, mas sim um jogo de 11 contra 11. Os seus maiores detratores não perdem uma oportunidade para o subalternizar a Messi, desvalorizando o trabalho árduo aliado a uma boa base de talento face ao talento puro extraordinário, como se o esforço de superação constante não fosse algo de valorizar. Quais abutres, qualquer desfalecimento do grande campeão português é logo aproveitado para servir uma determinada narrativa, o que não surpreenderá numa sociedade onde há demasiada gente mais preocupada com as suas razões do que em dar um sentido colectivo às coisas. Não que a apreciação do talento natural de alguém não nos remeta para os deuses e o Olimpo e não encerre em si suficientes elementos de sedução. Nesse sentido, é tão impossível ficar indiferente ao teto da Capela Sistina como à esquerda a uma só mão de Federer, ao toque de pulso de McEnroe ou ao íman com que Messi prende à bola à canhota, assim a sensibilidade esteja treinada para entender a excelência de qualquer um destes artistas, mas a obra de Ronaldo fala por si e ficará para sempre como um exemplo de tenacidade, competitividade e proficiência.   

 

Além do mais, olhando para o conjunto das 3 últimas temporadas europeias da Juve é mais fácil concluir que a Vecchia Signora perdeu apesar de Ronaldo do que por sua causa. Senão vejamos: em 18/19, a Juve encontrou o Atlético de Madrid nos oitavos-de-final da Champions e foi derrotada por 2-0 em Madrid. Os "colchoneros" eram os favoritos à passagem da eliminatória, mas um hat-trick de Ronaldo em Turim inverteu os acontecimentos a favor das "zebras". De seguida, o sorteio colocou a Juve frente ao Ajax. A Juve acabou eliminada pelos "lanceiros", mas Ronaldo marcou os dois golos dos italianos (1-1 e 1-2); em 19/20, a Juve foi eliminada pelo Lyon, valendo o critério do desempate pelos golos fora (1-0 e 1-2). Ronaldo bisou em Turim, ainda assim pecúlio insuficiente para permitir aos "bianconeri" vir a Lisboa disputar a Champions. Pelo que só nesta época Ronaldo não inscreveu o seu nome na lista de marcadores da sua equipa na fase a eliminar da Champions, o que não justifica de todo o conjunto de mensagens negativas que a seu respeito se leram durante a última semana. Não, o problema da Juventus não é Ronaldo, como aliás não o é a ausência de bons jogadores. É, sim, de uma política desportiva que gerou insuficiências numa posição vital como a de ponta de lança e multiplicou os clones no meio-campo, da falta de associação entre os jogadores e de um conceito de jogo mastigado e sem génio que tem hoje Pirlo como principal responsável.

 

De acordo com aquilo que temos vindo a permitir que se transforme a sociedade, a existência simultânea de dois craques do gabarito de Messi e Ronaldo não é festejada ou glorificada como deveria. Não, a mediocridade geral destes tempos leva-nos a procurar desvalorizar cada um deles em função do outro, situação a que nem um treinador de prestígio como Capello conseguiu fugir. Ora, é contra este tipo de narrativas bipolares que nos devemos rebeliar e perceber que nos foi concedido a distinção única de num só período termos a oportunidade de ver não um mas 2 jogadores que irão marcar para sempre os livros de registos do futebol mundial. Podendo cada um preferir o seu, naturalmente. Mas pela positiva. Agradecendo o enorme privilégio. E desfrutando. Até porque um dia irá acabar. Então sobrar-nos-á o consolo de transmitir às novas gerações que vimos jogar Ronaldo e Messi, sortilégio que lhes permitirá continuar a "jogar" na imaginação de cada um.

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09
Set20

Ronaldo e a (in)dependência


Pedro Azevedo

Portugal é um país curioso onde até as poucas soluções (e excepções) são muitas vezes vistas como um problema. Caso isso carecesse de explicação, vidé o falatório à volta de Cristiano Ronaldo e a suposta maior fluência de jogo da selecção na sua ausência. Tal só pode ser uma brincadeira daquelas bem à portuguesa. 

 

Bastou um jogo particularmente bem conseguido contra a Croácia para Ronaldo ser prescindível para alguns. Já se sabia que nós, portugueses, somos peritos em sondagens com base em amostras com uma única observação, mas sempre pensei que 101 demonstrações de peso fossem suficientes para tal não ser levado a sério.

 

Antigamente a selecção era a "Equipa de todos nós". Foi assim aliás que o brilhante Ricardo Ornellas um dia a baptizou. Acontece que depois do baile aos croatas parece que se tornou a "Equipa do Félix". O Félix isto, o Félix aquilo, é o pormenor técnico aqui, a inteligência ali, ainda que o único golo marcado até hoje pelo menino prodígio tenha resultado de um frango do guarda-redes da Croácia. Foi neste contexto que o Ronaldo se juntou à equipa em Solna. E lá resolveu mais um jogo da selecção, pelo meio marcando mais dois golaços. (Evidentemente, o Félix é um bom jogador e terá um futuro radioso à sua frente, especialmente se não lhe colocarem a pressão de o compararem com o incomparável.)

 

Agora o discurso mudou: a equipa joga muito para o Ronaldo quando este está em campo. Parece-me bem, incompreensível seria a equipa jogar muito para o Ronaldo quando este não estivesse em campo, pois tal significaria uma utilização literal do chavão "jogar para o espaço vazio". Pergunto-me até porque razão não deveria uma equipa jogar para o "Melhor do Mundo". Haveria de jogar para quem? Para o Tozé Marreco? Ainda assim, não há como não gabar todo o jogo de equipa que permitiu ao Ronaldo marcar o primeiro golo. Aquilo é que foi procura da profundidade, basculações, transições, jogo entre-linhas e todo um novo léxico de futebol compreendido numa só jogada. Porém, é verdade que a bola parou à frente de Ronaldo e tal tirou fluência ao jogo. E após sair do seu pé direito voltou a parar. Nas malhas da baliza sueca. Não há o direito de um só jogador prejudicar tanta associação... 

 

Falar de Portugal sem Ronaldo faz tanto sentido como discorrer sobre o Brasil de 70 sem Pelé, a Holanda de 74 sem Cruijff ou a Argentina de 86 sem Maradona. Ainda assim é deixá-los falar. É que o Ronaldo depois fala mais alto. Em campo. E continuará a "falar" até que os joelhos lhe doam. E assim Portugal continuará a ser mais do que Ronaldo. Enquanto houver Ronaldo, claro, como brilhantemente o Rui Monteiro descreve no Insustentável Leveza de Liedson

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12
Jan20

Juventus powered by Alcochete


Pedro Azevedo

O turco Demiral abriu o marcador no Olímpico de Roma, Cristiano Ronaldo ampliou para o momentâneo 2-0. Com 2 golos de jogadores formados pelo Sporting, a Juventus venceu a Roma por 2-1. Um motivo de orgulho para quem diariamente trabalha na Academia e para a marca de clube formador que ostentamos, mas principalmente um alerta no sentido de que a equipa principal não continue a desperdiçar o talento que vai sendo produzido na nossa Formação e o utilize com rendimento desportivo que, mais tarde, se traduza também em rendimento económico/financeiro substancial para o clube. 

 

P.S. Suspeita-se que Demiral tenha contraído uma grave lesão no joelho. A confirmar-se, uma tremenda infelicidade para o turco que nos últimos 6 jogos "sentou" só um jogador que custou 70 milhões de euros (De Ligt) à Vecchia Signora.

demiral ronaldo.jpg

19
Dez19

Helinaldo!


Pedro Azevedo

Dadá Maravilha, grande goleador brasileiro dos anos 60 e 70, dizia que só havia 3 coisas que pairavam no ar: helicóptero, beija-flôr e... Dadá Maravilha. Este temível avançado, um dos únicos 5 jogadores do Brasil a ultrapassar a mítica barreira dos 1000 golos (amistosos incluídos) - conjuntamente com Pelé, Arthur Friedenreich, Túlio e Romário - , não esperava era um dia ter de acrescentar Cristiano Ronaldo à lista de levitadores, algo incontornável após o golo do craque luso à Sampdoria. Ronaldo ou Helinaldo?

 

#airronaldo

#ronaldoairlines

helinaldo.jpg

(Foto: Armada portuguesa; Vídeo: YouTube)

17
Nov19

Tudo ao molho e fé em Deus - Benilux semeou e Bruno colheu


Pedro Azevedo

Naquilo que se pode designar como "A lógica da batata" (N.A.: título alternativo), Portugal teve de depender de um batatal no Luxemburgo para entrar no Euro. Enfim, anda um país uma vida inteira a cultivar batatas e depois, devido ao impacto de uma Política Agrícola Comum (PAC) que seduziu a UEFA - o organismo máximo do futebol europeu parece confundir cultura (desportiva) com agricultura - , tem de as ir colher à Benelux... E ainda dizem que o futebol não se mistura com a política...

 

Milhares de emigrantes portugueses receberam a selecção nacional, mas a melhor recepção foi a de Bruno Fernandes: o jogador do SPORTING colou no pé um passe de Bernardo "Beni" Silva que foi um lux(o) e rematou de pronto para abrir o marcador. O golo disfarçou uma safra fraquinha durante a primeira parte da jornada, período em que os luxemburgueses se mostraram mais perigosos essencialmente porque a sementeira portuguesa se concentrava no meio e desprezava a largura do terreno. 

 

No segundo tempo Portugal melhorou. Ainda assim o espectro de um golo do Luxemburgo não deixou de nos atormentar. Até que, já nos minutos finais, Bernardo voltou a aparecer, desta vez a encontrar Jota sozinho na pequena área. O remate do jogador do Wolves saiu embrulhado, mas de um tipo de embrulho com que se acondicionam os presentes. O destinatário foi Ronaldo, que não resistiu a cantar o 99 Red Balloons (hoje Portugal jogou excepcionalmente de branco) da Nena, certamente por influência da proximidade alemã ao local do jogo.  

 

Com esta vitória, Portugal mantém o pleno de qualificações para europeus e mundiais neste milénio (agora 11 em 11).

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