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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

03
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

As confissões de Schmidt


Pedro Azevedo

O futebol português tem várias tradições. Entre as que motivam um maior culto, destacam-se os xitos, quinhentinhos, cafés com leite, fruta e até mesmo as cavas em túneis. Outra tradição igualmente muito estimada, e do amplo conhecimento do seu treinador, é a de o Benfica, na hora do aperto, jogar contra 10. Ontem voltou a acontecer. O inusitado é que por uma vez tal não ocorreu por influência dos homens do apito. Não, foi mesmo o Sporting que foi a jogo com menos 1. Ou melhor, o Trincão autoexcluiu-se: enquanto os restantes 21 jogadores andavam à volta de uma bola, o Trincão andou aos toques em outra. Tal como o magala na tropa, sempre de passo trocado, sem nunca suspeitar que era o único que levava a bola errada. Por isso, não concordei com o Ruben Amorim quando no fim disse  que não tivemos jogo entre-linhas. Porque a bola chegou lá, a esse espaço, o problema é que tivemos um Trincão que voltou a ligar o complicómetro de 2023, que tudo aferrolhou, agrilhoou, fechou a cadeado. Em suma, foi um trincão, sim. Mas das Chaves do Areeiro. Ainda assim, o Amorim manteve-o 90 minutos em campo. Não por não ter visto o que todos vimos, mas por um "statement": como clube conservador que somos, connosco as tradições são para manter. E se não há uma "ajudazinha" dos árbitros ao rival, então dá-se um retoque do tipo Restaurador Olex, ou seja, uma bola só para o Trincão, para ele pôr os olhos no chão, não a passar a ninguém e acabar inevitavelmente por a perder, e finge-se que se joga naturalmente com 11. No fim, o orgulho: jogámos 90 minutos em inferioridade numérica na casa do rival e ainda assim sacámos um empate que valeu uma qualificação para o Jamor. Haveria melhor "mind game" ou factor mais desmoralizador para o adversário na antecâmara do match-point de Sábado? Claro que não. Mas, atenção: no Sábado temos de jogar com 11. Onze onde se pode incluir o Trincão. O de 2024, bem entendido, não o que ontem foi reviver o passado ao Estádio da Luz.

 

Por cada Trincão que cair, um Bragança se levantará. Foi com este mote, recriado do filósofo António Oliveira, que o Sporting se adaptou ao jogo e graças e ele não ficou apeado no intenso tráfego que se fez sentir ontem à noite na Segunda Circular. Porque foi o Daniel que assegurou os mínimos de circulação que evitaram a nossa morte por asfixia. Fornecendo o oxigénio que permitiu à equipa respirar e até ousar cortar a respiração ao adversário. Como no lance do segundo golo, quando encontrou Geny para o 1x1 contra Aursnes. Bem acompanhado pelo Hjulmand, que marcou um golo de bandeira e soube atrair a pressão nem sempre eficaz do Benfica para libertar companheiros sem oposição. Pelo que o problema surgiu a partir daí e não devido aos nossos meio-campistas. 

Se a solução tantas vezes testada a aprovada é pôr a bola em Gyokeres, não se entende porque deixámos tantas vezes o nosso melhor jogador sem bola. Mas com um interior adaptado como Paulinho, mais eficaz em tabelinhas perto da área, e outro, de espectro mais largo, completamente "fora dela", o sueco só apareceu na sequência de bolas perdidas a meio-campo ou de passes de longa distância como aquele em que St Juste o visou e acabou em golo. Ainda assim, na retina ficou aquela arrancada em que deixou dois pelo caminho e terminou com uma paulada na bola que a esta hora ainda deve estar a abanar o poste da baliza do Trubin. 

Não creio que as alterações ao intervalo tenham tido uma influência significativa na melhoria da nossa exibição ou sequer que a nossa exibição tenha melhorado por aí além. Até porque onde se deveria mexer não se mexeu, talvez por falta de confiança no Edwards actual (o de Bérgamo). E é preciso não esquecer que do outro lado não estavam 11 bidões. Não, havia um Rafa, um Di Maria, um Aursnes e, principalmente, um super João Neves. E o Schmidt, com a corda na garganta, confessou os seus pecados anteriores e desta vez ajudou a sua equipa. Pelo que o resultado do jogo, que não o da eliminatória, acabou por ser lisonjeiro, para tal contribuindo a elasticidade de Israel entre os postes, guarda-redes que curiosamente se sente melhor como um prisioneiro em solitária, enquadrado apenas por dois postes e uma barra, do que em cada saída precária. 


Quanto a Roger Schmidt, a Taça já se acabou, pelo que entre o campeonato e a Liga Europa que seja esta última a dar-lhe o balão de oxigénio de que precisa para ainda respirar. Assim saibamos nós ser competentes.

Tenor "Tudo ao molho...": Daniel Bragança

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15
Mar24

Tudo ao molho e fé em Deus

Extraído o apêndice


Pedro Azevedo

Caro Leitor, a boa notícia que emerge da noite é que estamos quase-quase a concentrar-nos exclusivamente no campeonato nacional. Assim, o apêndice da Liga Europa já foi cortado ontem a fim de evitar uma peritriunfite (inflamação generalizada de vitorias) e as amígdalas da Taça não deverão resistir ao bisturi da Luz, pelo que Ruben Amorim poderá por fim cumprir o seu sonho de só ter de pensar na bicha solitária da Liga. É isso(!), se com o Mourinho aprendemos o que é a periodização táctica, agora com o Amorim percebemos o conceito de priorização tácita. Graças a este brilhante pensamento, o Sporting continuará a posicionar-se num bloco médio baixo no que à tabela periódica (para nós, uma constante) dos clubes europeus mais significativos diz respeito, vendo-se assim obrigado todos os anos a vender os seus melhores jogadores, enquanto os seus rivais com melhor ranking continuarão a ganhar valores milionários pela simples presença no Mundial de clubes. Não se preocupe porém o Leitor, porque para o ano há mais. Isto é, para a época que vem podemos continuar a fingir que ligamos à Europa. Sugiro até que antes dos jogos europeus se troque "O Mundo sabe que..." pelo irónico "Portugal na CEE", dos GNR, e o símbolo do leão por um pedregulho (de Sísifo), só para que não nos esqueçamos que lidamos com a Europa com o mesmo empenho que os nossos governantes tiveram o trabalho de lidar com as nossas agricultura e pescas no passado. 

 

Geralmente, depois de um jogo perdido, quem treine o Sporting vê-se na necessidade de conceder a derrota. Mas ontem não, foi a vitória de Ruben Amorim e da priorização tácita. E dos adeptos que ficam em êxtase quando veem o Sporting libertar-se de competições, o que leva à interrogação se nos querem sequer ver nesses certames. Será que podemos não nos inscrever? É proibido desistir a meio, se a coisa estiver a dar muito trabalho? A quem nos podemos queixar em caso de bullying? A ideia de fundo que estes entusiastas da derrota passam é que o plantel é curto para tanta competição. Nesse caso, um burro pensaria que a solução seria aumentar o plantel. Felizmente, temos inteligências raras em Alvalade que privilegiam planteis curtos para ser mais fácil gerir o balneário. Assim, ficamos com um balneário são... e zero títulos, Como na época passada, o que cumpre mais ou menos com o último lema conhecido do fundador, encontrado aqui há dias na etiqueta de um velho frasco de lixívia numa escavação ali ao pé do Lumiar: "Tão bons como os melhores balneários da Europa". Parabéns então ao Amorim por esta retumbante vitória. Com uma especial dedicatória ao Edwards e ao Paulinho, que tudo fizeram para  que este... êxito se confirmasse. (O St Juste ficou ligado aos 2 golos do adversário.)


É tal o desprezo que damos à Europa que nem se percebe o ênfase em sermos conhecidos internacionalmente como Sporting Clube de Portugal. Eu acho que até disfarçava se nos chamassem Sporting de Lisboa. Ou só Sporting, que podia ser confundido com o de Gijón (Astúrias) ou de Charleroi (Bélgica). Assim, como está, é que não, é impossível escondermo-nos. Sessenta anos após Alexandre Baptista (que recentemente nos deixou) e outros briosos leões terem trazido para Portugal a Taça dos Vencedores das Taças. Ultrapassando a Atalanta pelo meio (desta vez. quatro tentativas não foram suficientes para conseguirmos uma vitória). 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres. Ele e Hjulmand estão a anos-luz de todos os outros no poder físico e qualidade e constância da decisão. Menção honrosa para Franco Israel. Os restantes largaram a letargia a partir dos 10 minutos finais, o que significa que perderam 80 minutos num ritmo muito baixo para o padrão europeu. 

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24
Dez23

Tudo ao molho e fé em Deus

Le Duc


Pedro Azevedo

De Bragança a Tondela são 220 km de viagem, mas ao Daniel bastaram 17 minutos para chegar ao seu destino. Foi tudo tão rápido que só poderia ter sido produto de um overlap, com o médio a sobrepor-se aos avançados e assim aparecer isolado em frente à meta. Depois, fez a bola atravessá-la com pompa e circunstância, recorrendo para o efeito a uma acrobacia digna de qualquer um dos 2 Madjers que marcaram o futebol português (consta que o Tozé também tentou, mas ficou marreco no processo). Não ficou por aqui o Daniel: cerca de um quarto de hora depois, lá estava ele, no apoio frontal, com um toque de calcanhar delicioso que abriu caminho para o Paulinho disparar de pé direito para o segundo. Se o Gyokeres é o Rei e o Pote um Príncipe, este Bragança é um Duque, um senhor a jogar à bola! 

 

Enquanto 10 jogadores se envolviam num bonito "association" do qual resultaram dois belos golos, Trincão fazia um jogo à parte, como se com ele em campo houvesse duas bolas, uma só para ele e outra para o resto da equipa. Estaria muito bem, se ele fosse um Maradona ou Messi e lhe desse continuidade até ao fim. Assim não passa de um foção, um glutão que só vê bola e se esquece do contexto (jogo) e do modo envolvente (equipa e adversários).

 

Não gostei que o Quaresma não tivesse sido titular. Se o Rúben Amorim quer ter a certeza de que ele é capaz de fazer 2 ou 3 bons jogos consecutivos, então tem de o pôr a jogar de início e não fazê-lo entrar quando o resto da equipa já está em modo de descompressão, a trocar o jogo pela peladinha. A prová-lo, o Matheus Reis, desconcentrado e com sede a mais no pote, querendo antecipar aquilo que só o tempo certo dá. Ora, se, pelo contrário, o Quaresma soube esperar pela oportunidade ou momento certo, estreando-se a titular contra o Porto com uma grande exibição, agora seria de dar-lhe continuidade. Ou não? 

 

Com a vitória de ontem, o Sporting apurou-se para a Final Four da Taça da Liga. Segue-se Portimão e o regresso ao Campeonato, onde é ansolutamente necessário segurar a liderança. A Taça da Liga continuará lá para o fim de Janeiro, pelo que só jogo a jogo lá chegaremos mais fortes. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Daniel Bragança, "Le Duc"

 

P.S. No fim do jogo o Tozé Marreco foi ter com o Gyokeres para dizer-lhe que nunca tinha visto um ponta de lança assim em Portugal. Ficou-lhe bem a grandeza da atitude e o desportivismo inerente. Imaginem só o alívio que terá sentido ao não ver o sueco em campo, ao contrário da tristeza nutrida pelos Sportinguistas que se deslocaram a Tondela, mas estes jogos com equipas de escalões secundários parecem destinados para Paulinho encher as estatísticas com golos. Gyokeres voltará em Portimão. 

Boas Festas!!!

daniel bragança.jpg

 

02
Fev23

Tudo ao molho e fé em Deus

O Tsubasa, o Copperfield e o Button foram à bola


Pedro Azevedo

Os amantes do futebol associativo passaram uma semana de grande ansiedade após terem visto o seu ícone, Paulinho, desassociar-se do resto da equipa, deixá-la em campo em inferioridade numérica e ser suspenso. Foi como se lhes tirassem um dos seus últimos argumentos, uma das suas derradeiras linhas de defesa contra a falta de proficuidade goleadora do nosso avançado centro. Na verdade, o associativismo do Paulinho estava para o ponta de lança como o charme está para os homens - "Ah, e tal, não é bonito mas é um homem muito charmoso" - , uma característica que lhe dava patine, o tornava interessante e fazia esquecer tudo o resto. Mas, o drama, o horror, a tragédia, o Paulinho estava de fora do jogo com o Braga e os últimos resistentes da intrépida devoção ao "Citizen Kane" português - "Como saberes o que é suficiente, se não souberes o que é demais?" Há excessos assim que nos abrem os olhos para delirantes percepções da realidade... - rezavam secretamente para que Amorim lançasse o trio dinâmico na frente, com Trincão e sem ponta de lança. (Se não se puder provar que um seu eventual substituto é melhor, então é mais fácil de conceder que o Paulinho, ainda que não goleador e divergentemente associativo, tem de jogar.)

 

Acontece que o Amorim decidiu operar uma pequena revolução. E, qual Salgueiro Maia, avançar para o quartel que já foi do Carmo (agora no Porto) com o chaimite, ou Chermiti, ou lá o que é esse menino que deslumbra tanto a cada toque na bola como a cada movimentação sem ela, ora servindo apoios frontais, ora arrastando marcações, com a vantagem adicional de não se inibir no jogo aéreo e disputar com quantos adversários for preciso qualquer bola nas alturas. Não é fácil para um menino de 18 anos saber quando deve soltar a bola rapidamente e desmarcar-se ou simplesmente a reter e esperar pelo avanço dos colegas, mas nesse aspecto o Cherniti pareceu um veterano, um Benjamim Button desfilando de chuteiras. E quanto aos arrastamentos dos centrais, bom, basta dizer que os segundo e terceiro golos do Sporting resultaram dessas movimentações, com a cereja em cima do bolo de o segundo ainda ter tido uma assistência à Madjer do nosso puto a engalaná-lo. Além disso, o nosso novo ponta de lança mostrou bom jogo de cabeça, ora antecipando-se a todos ao primeiro poste, ora vencendo a oposição de 2 adversários numa bola dividida. É claro, porém, que o Chermiti não jogou sozinho. Houve muito Edwards na condução e transporte de bola, naquele seu estilo de prestidigitador, que habilmente mostra a bola ao defesa para o iludir e logo a esconde com um rápido movimento de pés. E tivemos também, e principalmente, um grande Morita, o nosso Tsubasa, gregário no meio do campo e letal na chegada à área. Um espectáculo este japonês que a todos encanta pela sua generosidade, humildade, simpatia e, é bom não esquecer, qualidade técnica ímpar. Depois destes, destaco ainda Pote, St Juste e Esgaio (e o grande golo de Matheus Reis e a iniciativa de Fatawu que deu um penálti). O primeiro de volta aos golos e sempre em movimento, o segundo ímpar nas acelerações e com passes sempre precisos e o terceiro rejuvenescido, como que liberto de uma sombra opressora tutelar que o esmagava e confrontava com a sua própria realidade. 

Uma vitória muito importante do Sporting, que culminou uma semana em que o Braga foi servindo de exemplo de gestão para nós. Dez-a-zero depois (pouparam a visita ao museu), com um mês de intervalo, eu diria que o Braga deve mesmo servir de exemplo. Para o Rio Ave, o Porto e os restantes desafios que temos pela frente. Porque o único salvador de que precisamos está dentro da nossa casa. E quando faz as coisas certas, é certo que estamos mais perto de ser felizes. Jogo a jogo, Amorim. 

PS: O único senão foi a voluntária exclusão de Coates para o jogo de Vila do Conde. Os melhores disponíveis devem sempre jogar o próximo jogo (de acordo com a narrativa de "jogo a jogo"), e a ausência do uruguaio vai obrigar-nos a reformular toda a defesa (Inácio para o meio, Reis à esquerda). Aprender com os erros faz parte da evolução humana, e a ausência de Pote (a que se seguiu a opção por não colocar Nuno Santos de início) já nos custou 3 pontos na Madeira à conta de poupanças para o jogo com o Benfica (que não ganhámos). 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Hidemasa "TSUBASA" Morita

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01
Fev23

Pinheiro de Leiria


Pedro Azevedo

Desde que Dom Dinis mandou florestar o pinhal de Leiria, dito Pinhal d'El Rei, que se sabe que o pinheiro é influente na região.  Por isso não surpreendeu que, no Sábado, o Pinheiro tivesse aparecido à hora do jantar. Também ninguém caiu da cadeira por constatar que o Pinheiro afinal era bravo e abanava mais para um lado do que para o outro. O que não deixa de pasmar é a surpresa sentida nas nossas hostes. É que é sabido que os pinheiros têm muita sede, tanto que muitas edificações sofrem com a extensão e profundidade das suas raízes, o que se traduz num problema de urbanismo, que não deve ser confundido com um de urbanidade (ou falta dela). Por isso, da próxima vez falem. Antecipadamente. Ou então, não, e fiquem à espera da rainha Santa Isabel e do milagre das rosas. Correndo o risco de, assim, ficarem sem pão. 

09
Jan23

Tudo ao molho e fé em Deus

Poupar 3 pontos para o Benfica


Pedro Azevedo

Cada equipa presente no campeonato nacional disputa 102 pontos numa temporada. Cada jogo equivale a 3 pontos, não constando em nenhum livro de regras, pelo menos de algum que eu tenha conhecimento, que uma partida contra um rival para o título valha mais do que esses 3 pontos. Por isso, em cada jogo, cada equipa deve sempre apresentar o seu melhor Onze. E, quando digo melhor, não me refugio naquela semântica floreada a que certos treinadores recorrem quando se trata de poupar alguns craques, de que o Onze apresentado é o melhor por ser o que oferece mais condições ou garantias, et caetera e tal de prosápia encaracolada equivalente. Ora, assim sendo, não se entende por que razão o nosso jogador mais competitivo, aquele com mais fome de ganhar, o que não gosta de perder nem ao berlinde, o "ranhoso" (segundo o próprio Rúben), em suma, o Nuno Santos, tenha ficado de fora de início. Alegadamente por estar à bica de amarelos e isso poder vir a redundar num sinal vermelho à pretensão de o fazer alinhar contra o Benfica. Mas cada jogo não vale os mesmos 3 pontos? Agora percebo melhor a mentalidade que nos faz ano após ano ficar longe do título máximo doméstico. É que somando Benfica, Porto e Braga, já são 6 poupanças de véspera. Adicionem-se os jogos das provas europeias e, se calhar, só fazemos meio campeonato na máxima força. Repito, isto faz algum sentido? Principalmente quando é sabido que a rotação não é possível, por não termos 2 bons jogadores por posição, que no meio campo (após as vendas sucessivas de Palhinha e de Matheus) e centro de ataque nem sequer 1 à altura da dimensão das responsabilidades de um clube como o Sporting provavelmente teremos. E depois as sinistras substituições... Devemos querer entrar no Guiness como a equipa de futebol que mais troca de centrais durante os jogos num campeonato, só pode ser essa a justificação. Além de que a aposta na Formação não é tirar um miúdo que não estava a jogar pior que os outros (fez o passe para o penálti sobre Porro), como que o penalizando pela imprudência de uma penalidade anteriormente cometida. Não, a aposta na Formação sugere convicção. E assumpção de riscos. (Se é que era um risco ter Rodrigo Ribeiro, única alternativa ao ponta de lança por vontade de Amorim, no banco em vez de na bancada.) Trocar para quê e por quem? Por um jogador (Rochinha) que falha por metro e meio a baliza num cabeceamento frontal efectuado a 3 metros da linha de golo? Enfim, também é verdade, ou VARdade, que o Marítimo, ou VARítimo, beneficiou aos 50 minutos de um ataque de sono daquela equipa que vive numa roulotte na Cidade do Futebol (todavia, esta pode sempre refugiar-se na interpretação do árbitro, por ser um lance de ponderação da  tal intensidade imortalizada pelo Dr Pôncio Monteiro e, como tal, caber essencialmente à apreciação do chefe da equipa de arbitragem). Mas isso são outros poemas, de apitos e de inquéritos, aos quais anos e anos  de poupanças da melhor equipa deverão acrescentar algumas estrofes de justificação. Queremos respeito? Respeitemo-nos. Começando por aproveitar os pontos perdidos pelos rivais, não embandeirando em arco e concentrando o foco em nós e no adversário do dia. Infelizmente, até uma franja importante dos nossos adeptos parece retirar mais prazer da derrota dos nossos rivais do que das nossas vitórias. E isso é sinónimo de que algo está errado na nossa Cultura de clube. Os nossos adversários sabem-no. Há anos. Vamos mudar? Espero que sim. Se não, o nosso mundo continuará a ser do tamanho de uma ostra e haverá sempre uma pérola (do Atlântico) a "adornar" o percurso. 


PS: Antigamente a filosofia era jogo-a-jogo, agora é jogo-a-pensar-no-jogo-seguinte. Assim sendo, o próximo obstáculo será o Vizela. Já é concelho, eu sei, mas não aconselho (essa estratégia). 

PS2: O Sporting tem muito galo com o senhor Malheiro. Que o diga o Ristovski, expulso em Setúbal por reclamar a ausência da devida punição disciplinar para um adversário (depois de muito tempo caído no relvado com a complacência da inacção do árbitro), logo após uma agressão por si sofrida lhe ter provocado um hematoma na testa visível a partir da Lua. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Santos. Pedro Porro foi o melhor dos que entraram de início, secundado por Gonçalo Inácio. No plano oposto, o sumo que se extraiu da acção de Trincão foi nulo. Estranhamente, voltou a jogar os 90 minutos. (Eu entendo que o Edwards seja inconstante, mas do inglês ainda se espera um momento de brilhantismo que desafie o status-quo.)

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08
Dez22

Tudo ao molho e fé em Deus

Pescaria de rio, pescaria de mar


Pedro Azevedo

Ontem convenci uns nómadas digitais a trocarem o teclado por uma cana de pesca. Juntos, seguimos até às ruas de Alcântara, à pesca do achigã. Bom, saímos de lá com o saco cheio(!), razão pela qual já só vi um resumo do nosso jogo, tão resumido quanto o conteúdo desta crónica que aqui Vos trago. Os nómadas ficaram satisfeitíssimos, tanto que até sugeriram atrair para Lisboa outros tão nómadas quanto eles quando toca a não pagar impostos (ou apenas a taxazinha do achigã). A ideia pareceu-me boa, menos para o achigã, claro. O meu medo é que este acabe, porque depois quem se lixa é o mexilhão... Enfim, o que eu não faço pelo modelo de desenvolvimento(?) do meu Portugal...

 

Quem também alinhou na pescaria foi o Sporting. Mas no mar, mais concretamente em Vila do Conde. O Paulinho deitou a minhoca à água por 4 vezes mas acabou com o saco vazio. O Trincão não quis ficar atrás e logo devolveu ao oceano a faneca que tinha no anzol. No fim salvou-nos um peixe que faleceu por vontade própria ao atirar-se para o nosso barco. Isso e a cana do Inácio, que se passou dos carretos e apanhou um outro. 

Bom, peço-vos desculpa mas tenho o Uber Aquático a tocar-me aqui na balsa. Obrigado e um abraço para todos. 

25
Nov22

Tudo ao molho e fé em Deus

Doha a quem doer


Pedro Azevedo

A FPF delegou numa empresa privada, a Femacosa, a gestão da sua principal equipa de futebol. O gerente dessa empresa é o simpático Engenheiro Santos (santinho!), que em dia de treino ou de jogo adquire a personalidade do seu maléfico altar-ego, o senhor Femacosa, à boa maneira de uma novela gótica com elementos de ficção científica e de terror. (Sendo a Selecção Nacional a "Equipa de todos nós", na expressão feliz de Ricardo Ornellas, doravante tratemos carinhosamente a empresa que a gere por "Femacosa Nostra".)

 

Ontem, a Femacosa Nostra foi a jogo. Os jogos da Femacosa Nostra são como os melões: tanto dá para empatar ou perder com as Ilhas Salomão como dá para empatar ou ganhar à França. Tudo na verdade obedece a uma aleatoriedade capaz de desafiar a epistemologia das coisas. Com a Femacosa Nostra ganha-se como se perde ou se empata: não desse o árbitro um penálti ou não escorregasse o Williams na hora de surpreender o Diogo Costa e estaríamos agora a lamentar um empate ou uma derrota num jogo em que tivemos tudo para golear. Mas não goleámos. Primeiro, porque demos uma parte do jogo de avanço, renunciando a provocar desequilíbrios que na mente do gerente da Femacosa Nostra nos desequilibrassem a nós. (A Louis Vuitton deveria deixar-se de Ronaldos e Messis e convidar o Engenheiro Santos para defrontar o senhor Femacosa no tabuleiro do xadrez.) Segundo, porque finalmente por cima do jogo, o senhor Femacosa decidiu aliviar a pressão no meio campo e fazer entrar um passeante, o William de Carvalho, permitindo-lhe assim fazer a digestão do almoço no relvado de Doha. Terceiro, porque ter Bernardo Silva e obrigá-lo a vir buscar a bola junto dos centrais desafia qualquer lógica de Jogo Posicional e desgasta desnecessariamente uma unidade que deveria ser resguardada para fazer a diferença na frente (e não atrás). Quarto, porque aos evidentes erros de casting do plantel, para uma competição com estas condicionantes de temperatura e humidade, seguiu-se as já habituais inações e atrasos nas decisões que viram Matheus não sair do banco ou Rafael Leão entrar já tarde no jogo, dois jogadores com aquilo que qualquer Selecção presente neste Mundial necessita para ter sucesso: explosão com bola. No entretanto, o Otávio e o Ruben Neves nunca pegaram no jogo, os laterais não arriscaram no 1x1 e os extremos fugiram das alas e assim afunilaram o nosso jogo. Defensivamente, os erros somaram-se, como é bom exemplo o primeiro golo ganês: a bola passou, primeiro, pela frente de Ruben Dias sem que este a interceptasse e, depois, por entre as pernas de Danilo. 

Foi já com Leão aberto na esquerda e Félix na direita que Bruno Fernandes encontrou espaço para si próprio no miolo do campo para endereçar dois passes açucarados para golo, com os africanos centrados na marcação a Ronaldo. Ronaldo que ganhou um penálti, viu um golo aparentemente limpo ser anulado pela precipitação do árbitro e ainda teve duas oportunidades negadas pela excelente acção do guarda-redes do Gana. Numa delas, sprintou em 30 metros, deixando um defesa colado aos blocos. Pelo meio, elevou-se e falou aos pássaros como só ele sabe. Nada mau para um ancião (dizem eles)... Ronaldo que deu sempre a sensação de ser o inimigo público número 1 para os géneses. Uma vez mais emocionou-se e emocionou o seu povo, pelo menos aquele povo que valoriza o mérito e não se revê na inveja e na perfídia. "Once Ronaldo, always Ronaldo" - os seus críticos ainda vão ter de "levar com ele" mais algum tempo. Entretanto, lá bateu mais um recorde, com golos em 5 fases finais de mundiais de futebol. Despedido por um clube à venda e injustiçado por uma narrativa de não haver quem o compre, Ronaldo simbolicamente ergueu-se sobre um Messi que o olhou embevecido. Não surpreendeu, porque os grandes sabem reconhecer-se entre eles. Força Femacosa, força Federação, uma entidade de utilidade pública. (Se fosse púbica, contratava-se o John Holmes e o problema estaria resolvido sem hesitações.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Ronaldo 

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08
Set22

Tudo ao molho e fé em Deus

Duas colheres de Edwards para curar a Kamada de nervos inicial


Pedro Azevedo

Os dois Sporting que há no Sporting teriam tido sempre ontem um dia de glória: o desportivo, porque regressava à maior competição à escala planetária; o do negócio, na medida em que visitava o maior centro financeiro europeu, sede do Banco Central Europeu, da Bolsa de Valores alemã e dos colossos Deutsche Bank e Commerzbank. Se os indicadores eram positivos, a verdade é que a realidade superou as expectativas e saímos da Alemanha com uma vitória importante e o reforço da marca Sporting. Não houve relatórios sobre se Zenha foi convidado ou não para tocar o sino da Bolsa de Frankfurt, mas o carteiro Edwards tocou duas vezes no umbigo dos teutónicos. Aliás, mais do que um carteiro, o inglês foi o remédio para o nosso proverbial problema do mau-olhado, para tal bastando a ingestão germânica de duas colheradas do seu já famigerado veneno. Outro jogador em destaque foi o nosso Oliver Tsubasa, o Morita. Já Vos tinha dito aqui que o homem era muito bom e ontem tiveram a confirmação. Com ele, a bola até pode vir em formato oval que ele logo a cóloca redondinha. Isso é que é técnica, que muitos confundem com habilidade... Gostei também bastante daquele atleta dos 110m barreiras que dá pelo nome de Pedro Porro. Esteve genial na jogada do terceiro golo, com um tempo de reacção à partida muito bom e uma técnica de transposição de obstáculos excepcional. Como os 3 Mosqueteiros na verdade eram 4, não esquecer o Adán. Como na Bíblia, ele esteve no princípio de tudo. A diferença é que não trincou a maçã que o Kamada por várias vezes lhe sugeriu.. [E também não enfiou nenhuma batata (ou salsicha Frankfurt).] 

05
Set22

Tudo ao molho e fé em Deus

Longa-amarelagem


Pedro Azevedo

O meu nome é Manuel Oliveira e tal como o meu homófono realizo longas-metragens, ou melhor, longas-amarelagens (já lá vou!). Vocês nem imaginam as fitas que eu faço... Mas tudo começa na direcção dos actores: é que o meu maior fascínio é  poder dizer "corta" através de um silvo. No fundo, especializei-me em apitagens a metro que visam o longo-prazo, a reforma. A ver se entro no "CAhiers du Cinema". No entretanto, vou aperfeiçoando a minha obra-prima. Coisa de mestre, mais concretamente de mestre-de-obras e sua prima. É que me falta em talento para um "Aniki" o que me sobra em fôlego para um... apito. Dito isto, na Sexta o dia foi bem produtivo. De tal forma que não houve viv'alma que não saísse do relvado amarelada. (E não foi só do equipamento.)

Hehehe(!), depois não digam que eu é que tenho maus-fígados. [Notas soltas de um jogo onde o Elevador de St Juste nem precisou de subir para ser eficaz e o Edwards sent(enci)ou o adversário.]

28
Ago22

Tudo ao molho e fé em Deus

Desarmados contra os defensores de Chaves


Pedro Azevedo

O Sporting das últimas décadas é um bocado como os elevadores, umas vezes para cima, outras para baixo. Esta época parece estar para baixo e para o ilustrar até recorremos recentemente ao Elevador de St Juste, que, já se sabe, está em Baixa, tão em baixa que são mais às vezes que está em manutenção do que aquelas em que está no activo. Assim, não admira que acabemos à Bica. O estranho disto tudo é que nas duas últimas temporadas parecíamos ter estabilizado num patamar superior, afinal aquele mais fiel aos pergaminhos do nosso centenário clube. Mas, infelizmente, o nosso destino assemelha-se ao de Sísifo e acabamos sempre a viver num sem-propósito, subindo até ao topo da montanha para depois ingloriamente enviarmos o pedregulho ladeira abaixo, chame-se o pedregulho Matheus, Palhinha ou Nuno Mendes. E assim sucessivamente, num ciclo vicioso e viciante que curiosamente está absolutamente interiorizado e é aceite pelos nossos adeptos. Qual alegoria da caverna, estes vivem na cegueira de um clube que é essencialmente uma trader de jogadores que ao fim de semana tem a maçada de ir a jogo. Uma inevitabikidade, dizem-nos, como se a vida das empresas de sucesso não fosse a procura da maximização dos proveitos. Ordinários, que no futebol, já se sabe, até abundam...

 

Algo está mal quando uma equipa perde o trinco e arranja o único Trincão para tentar arrombar as Chaves do Areeiro, o que obviamente é uma contradição nos termos. O meu medo é que tenhamos atingido a Silas Season. Depois do Keynesianismo-Keyzerismo (o período em que a aposta na Formação não contemplava jogadores da... Formação) e do Marxismo-Leoninismo (do Pontes, com a equipa toda sub-virada para a esquerda, a entortar como o Titanic), todos vimos o período de Ruben Amorim como providencial. Nele, primeiro a Direcção depois nós todos, apostámos as fichas na senda do êxito desportivo. E ele disso tem sido amplamente merecedor. Só que à primeira contrariedade parece que nos esquecemos do que deveria ser o nosso objectivo e começamos a gerir o "day after" do insucesso, cada um aligeirando as suas responsabilidades e procurando o bode expiatório no outro. Contudo, como nas tragédias gregas ou nas farsas de Aristófanes, tal não ocorre em campo aberto. Não, há toda uma encenação prévia, um por baixo do pano como diria o Ney Matogrosso, onde se arquitectam essas estratégias em que quem representa são uns amanuenses que com zelo se dedicam à cópia. Sim, porque há quem faça valer a pena a pena com que escreve. Enfim, (in)dependências... 

 

No entretanto, ontem lá voltámos ao sistema dos avançados móveis. A nossa paixão pelo móvel é uma coisa tão enternecedora que um dia destes ainda mudamos a sede para Paços de Ferreira. Ou isso, ou tornamo-nos pontas de lança do IKEA. Por falar em pontas de lança, o nosso único que conta é muito bom sem bola, dizem-nos alguns com olhos doces, seguros de que seria melhor que os ouvíssemos quando nos dizem "vem por aqui" (olá, José Régio). O único problema é que as regras do futebol actual estranhamente ainda não contemplam golos sem a bola entrar numa baliza, o que talvez recomende alguém que não seja tão bom sem bola mas que seja minimamente competente com ela ou que, pelo menos, a saiba fazer passar pelo risco de baliza. O problema é que não há dinheiro, dizem-nos. Todavia, um cartão de crédito pode arrombar uma boa fechadura. Que o diga a seita do olho vivo. E seita do olho vivo é coisa que não falta no nosso futebol. 

20
Ago22

Tudo ao molho e fé em Deus

Campeões de inferno (do mercado)


Pedro Azevedo

Sem quem transportasse a bola a meio campo, consequência do tributo ao dízimo, o Sporting abusou da troca de passes, o que é coisa para ter custado uma fortuna em intermediáções do agente Mendes. (A única boa notícia da noite foi o Porro ter mostrado que não tem passe.)

 

O jogo do Dragão opôs um clube sempre assediado pelo fair-play da UEFA a um novo-rico do futebol português, pelo que só poderia ter terminado em goleada do Sporting ao FC Porto. Ora, somem lá comigo, por favor: 37 M€ do Nuno Mendes + 20 M€ do Palhinha + 5 M€ do Tabata + 45 M€ do Matheus Nunes = 107 M€. Do outro lado umas vendazinhas pelas cláusulas de rescisão (baixas) do Vitinha e do Fábio Vieira. Resultado final: uma goleada das antigas. Espanta-me porém que em vez de ver leões a comemorar no Marquês, o sorriso esteja, sim, estampado no rosto do Marques. Não percebo a que campeonato está gente liga... O meu, já sei, é a Premier League. 

Não percebo também o escândalo que se faz por se abdicar do melhor jogador antes de uma visita a casa do campeão nacional. Parece de gente sem memória. Tão desmemoriada que se esquece que se abdicou de 37 campeonatos nas últimas 4 décadas. É por isso normal abdicarmos de mais um. O desvio-padrão à normalidade das coisas chama-se Ruben Amorim. Dizem que ele faz de CEO, de CFO, de responsável pelo Marketing ou Comunicação e tudo o mais no clube, mas tal não é verdade. O que ele é na realidade é um adepto. Daqueles à antiga. E por isso quer ganhar no campo, o que contrasta com o novo-adepto-novo-rico que esfrega as mãos de contente com a nossa conta DO. Mete dó, não é? 

Gosto muito do Ruben, mas há uma coisa que me incomoda: se é para só ter um ponta de lança suplente e se esse ponta de lança se chama Rodrigo Ribeiro, então por que razão o miúdo não joga? Alguém está a ver o Slimani ser opção ao Paulinho e na ausência deste o argelino não ser titular? Pelo menos escusávamos de passar 90 minutos a procurar o jogo aéreo do... Edwards, esse calmeirão de metro e meio e envergadura de vespa. 

Após uma semana marcada por um pecado original, não foi de estranhar que o Adán estivesse no centro das atenções por acções de proporções bíblicas. Enfim, como o povo sabiamente diz, o que nasce torto (gestão do mercado) tarde ou nunca se endireita. Por contraste, o Diogo Costa tirou 3 golos feitos ao Sporting, e isso no final fez toda a diferença. 

Tenor "Tudo ao molho...": Morita (foi o apagão após a sua saída) 

14
Ago22

Tudo ao molho e fé em Deus

Pote renascido e um Matheus para a história


Pedro Azevedo

Fitar o alvo, olho director apontado à mira, culatra puxada atrás e pum(!), golo. Não sei se o golo de Matheus Nunes valeu o bilhete ou se o remate em si foi um bilhete (de despedida?), o que sei é que levou um selo que o fez chegar ao seu destinatário, ainda que a violência do impacto o tenha feito saltar da "caixa do correio". 

O golo de Matheus foi o momento lusco-fusco de um jogo disputado ao entardecer, um render da guarda entre o dia e a noite, como se o pôr-do-sol anunciasse uma iminente saída do luso-brasileiro, muito pretendido em Inglaterra e a reservar-se para um City ou Liverpool. Se assim foi, a despedida ocorreu em beleza. Obrigado, Matheus, especialmente por todo o respeito que sempre demonstraste pela grandeza do Sporting. 

 

Mas o jogo não se resumiu ao golo de Matheus. Não, valeu desde logo pelo trio dinâmico da frente do nosso ataque, com Edwards e Pote en grande nível e Trincão à procura da melhor forma. Pedro Gonçalves que marcou 2 golos, esbanjando outros 2 pelo caminho naquele seu jeito em "souplesse" que às vezes roça o displicente. Todavia, é essa frieza, essa sustentável leveza do seu alter-ego Pote, que faz de Pedro Gonçalves o matador que é, disputando jogos a sério como se estivesse numa peladinha entre amigos. 

Uma palavra também para a nossa defesa, que ganhou com o comprometimento, concentração e atitude de Neto. O que demonstra que nem sempre é preciso ter uns pés de ouro, nomeadamente quando o coração é grande e a cabeça está no lugar certo (com a equipa). 


E assim terminou a première do Dragão, um ensaio geral para o que iremos encontrar no Porto. Onde também não haverá Paulinho- o drama, a tragédia, o horror... - , mas talvez ainda haja Matheus Nunes, uma espécie de milagre da multiplicação dos peixes (custou 1 e pode sair por 60 milhões), ou não tivesse passado toda a sua adolescência na vila piscatória da Ericeira.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pote

alvaladechalana.jpg

20
Jul22

Tudo ao molho e fé em Deus

Gladiadores de Roma


Pedro Azevedo

Ver gladiadores romanos enfrentarem feras do tipo de leões é coisa que não espanta desde a Roma Antiga. Tal era tão "amistoso" que geralmente terminava com a morte de alguém, fosse a fera ou o homem. Desse para o que desse, o necessário era animar a malta presente no Coliseu, um anfiteatro com uma capacidade de cerca de 50.000 espectadores. Sonhando com a glória, os pupilos de Mourinho devem ter-se lembrado desses tempos de fausto do Império Romano, e vai daí começaram a bater em tudo o que mexia. O palco era o Estádio do Algarve, que como se sabe pertence à classe dos dinossauros, ou seja, precede o próprio Império Romano. Não haveria assim melhor cenário para pôr em prática tal veia animalesca. Consta que o público presente curtiu bastante o espectáculo de pancadaria que lhe foi oferecido, só faltando mesma uma mordidela na orelha para a coisa ficar ao nível do combate Tyson-Holyfield. Ah, parece que tudo começou com um jogo, um pequeno "amouse-bouche" para o prato forte que se lhe seguiria. Aperitivo esse servido em Pote. De ouro, ao que parece. Está de volta o nosso menino! Para fazer "sangue"?! Não tanto porém quanto os Gladiadores vindos de Roma...

05
Abr22

Tudo ao molho e fé em Deus

A pele de Ugarte contra os Castores


Pedro Azevedo

Jogar de cadeirinha com um assento de Palhinha quando à volta há muitos castores tem tudo para dar mau resultado. A não ser que os roedores decidam "não mexer uma palha", o que anteontem não foi de todo o caso, ou que se mude o tampo (tampão?) para pele de Ugarte, uma espécie uruguaia verdadeiramente predadora de castores. Foi quanto bastou para que o Sporting levasse de vencida a equipa que viajou da Capital do Móvel, porque até aí a exibição leonina esteve muito longe de um cenário das mil e uma noitas, por muito que Paulinho tenha procurado ao máximo emular o persa Taremi enquanto estendia o tapete ao VAR de serviço. No fim, ganhámos como quase sempre. Depois de batermos 3 vezes na madeira. Os postes aparentemente resistiram, ou não fossem de Paços de Ferreira. Já quanto ao Ugarte... ninguém resiste. Nem o mercado, temo. 

Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Santos, pela regularidade a alto nível durante todo o tempo, e Ugarte, por ter mudado a face do jogo. 

10
Mar22

Tudo ao molho e fé em Deus

Citizens vs Partisans


Pedro Azevedo

No futebol, quando a equipa teoricamente mais fraca traça um plano de jogo realista a diferença entre as forças tende a esbater-se. Foi o que aconteceu ontem no Etihad, onde os poderosos Citizens foram travados pelos resistentes Partisans. Definindo a zona de pressão em cima da linha de meio campo, e não à saída da grande área adversária como na primeira mão, os leões conseguiram evitar que o City tivesse os habituais latifúndios por onde jogar entre-linhas. Todavia, durante todo o primeiro tempo os leões apenas conseguiram condicionar onde e como o City jogava, nunca criando constrangimentos defensivos ao seu adversário. As acções sucessivas de sabotagem das linhas do opositor estiveram guardadas para a segunda parte, com Marcus Edwards como o elemento da resistência que pôs em constante sobressalto o último reduto dos ingleses, obrigando o City a reorganizar-se e a não sair já com tantos homens para o ataque. Paulinho teve então a melhor oportunidade de golo de todo o jogo, mas a bola embateu no muro chamado Scott Carson, o veterano guarda-redes que substituíra pouco tempo antes o titularíssimo Ederson. Em conclusão, Ruben Amorim mostrou ter aprendido a lição da primeira mão e a equipa cresceu e deu uma outra imagem de si. Porque há ainda um longo caminho a percorrer até poder enfrentar olhos nos olhos um adversário deste calibre. E, sendo assim, mais vale não ter mais olhos que barriga. (Principalmente quando do outro lado está um "Citizen Kane" catalão que tem o mundo dos petrodólares a seus pés.)

Tenor "Tudo ao molho...": Edwards. Menções honrosas para Neto e Slimani.

rodrigoribeiroDR1.jpg

06
Mar22

Tudo ao molho e fé em Deus

A Vida Natural e a unanimidade de Slimani


Pedro Azevedo

David Attenborough orienta o seu cameraman para captar a acção de um mamífero da família dos Pepus Sanguíneus. Nesse preciso momento, o predador ataca um Casquero em plena savana. Usando as suas patas posteriores, primeiro pontapeia-o, depois, com este já imobilizado no chão, pisa-o barbaramente ao longo da coluna vertebral, finalizando a sua acção com um golpe desferido pelas suas patas anteriores na nuca da presa. É um episódio fulcral da galardoado série "Life in Cold Blood" do consagrado realizador britânico, estrela do canal televisivo BBC. Anos mais tarde, Sir David regressa à savana de Castela, mas o Pepus Sanguínius já migrou para Norte. Incansável, segue o seu trilho até o encontrar. E descobre-o, constatando uma notável evolução da espécie. É que o Pepus é agora um animal domesticado cujas incursões no solo substituíram a imobilização das presas pela captura de bolas de golfe. Um verdadeiro "menino do coro". Nómada, o Pepus por vezes migra até ao sul. E a sua última aparição pública dá-se na pretérita quarta-feira em Alvalade. Simultaneamente nostálgico e entusiasmado, Sir David não resiste e interroga: ficaremos felizes em supor que os nossos netos nunca conseguirão ver um Pepus, excepto no Clube Estela ou em vídeos evocativos do comportamento do Homem de Neandertal? Surpreendentemente, ou talvez não, os avós Sportinguistas respondem que sim...

 

Bom, mas isto foi na quarta-feira. Como a vida não é só história natural, no Sábado o Sporting recebeu o Arouca em mais uma jornada da Primeira Liga, competição outrora também designada por Lampionato e que nos dias de hoje pretende glorificar uma espécie mitológica a que se dá o nome de Dragão (o nosso Campeonato é em si próprio uma figura da mitologia contemporânea). Foi dia de eleições em Alvalade e o mínimo que se pode dizer é que Islam Slimani - os futebolistas quando passam a dirigentes ganham sempre mais um nome - recolheu a unanimidade. Primeiro com cabeça, depois com os membros inferiores (a ausência de partes do corpo humano faz habitualmente a retórica do discurso dos presidentes do clube), Slimani conquistou definitivamente a exigente massa associativa leonina. Mostrando que não só os ponta de lança marcam golos (ah, espera...). Já agora, dizem-me que o Matheus Nunes jogou qualquer coisita, mas ainda não consegui confirmá-lo nas minhas leituras habituais. Será que estão com a cabeça no lugar? Ah, e o Essugo estreou-se a titular aos 16 anos. Uma história natural para os jovens enquanto Amorim estiver ao leme. Das boas, não é Sir David? 

08
Jan22

Tudo ao molho e fé em Deus

Maldição insular


Pedro Azevedo

Já se sabia que os termos nazareno e catolicismo andavam de mãos dadas, mas ontem tivemos a sua confirmação ao vivo e a cores num jogo de futebol quando o Esgaio incorporou de tal modo o espírito de Santa Clara que acabou a notabilizar-se por uma exibição de uma pobreza franciscana. Paradoxalmente, houve logo quem visse nisso um pecado, imagine-se, mas o Esgaio é um santo homem. Pelo menos, nos Açores. E em Assis, claro. Continuando na senda da dádiva, alguém deveria dizer ao Matheus Nunes que tem de rematar à baliza. São já incontáveis as jogadas que se perdem ingloriamente por optar por um último passe em detrimento do chuto. É uma pena, até porque toda a construção que antecede esse(s) momento(s) tem sido brilhante, mas o excesso de altruísmo do Menino do Rio à entrada da área está a prejudicar o seu desempenho e o da equipa. A ausência no banco de Ruben Amorim foi também uma benesse concedida aos açorianos. O seu adjunto, Carlos Fernandes, ouviu mais pelo auricular do que aquilo que viu com os seus próprios olhos no relvado. O que não viu, e nós também não, foi aquele tocar a reunir que nos caracteriza nos momentos difíceis, deixando que a equipa frequentemente partisse o jogo e deixasse avenidas para circulação pouco comuns em ilhas de pequena dimensão. Com Pote e Paulinho perdulários e a classe de Sarabia a ser sistematicamente mal-aproveitada através de passes em profundidade a solicitar uma velocidade que não tem, o Sporting acabou por deixar 3 pontos nos Açores neste início do ano. A fazer lembrar a eliminação (Taça dê Portugal) aos pés do Marítimo em igual momento do ano transacto, o que configura uma maldição insular de ano novo. Ele há coisas... Como dizem os espanhóis: "yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay". Terá sido por efeito da Madalena Aroso?

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