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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

06
Mai21

Tudo ao molho e fé em Deus

Sem espinhas


Pedro Azevedo

O nosso internacionalmente reconhecido artista Julião Sarmento, com quem uma vez coincidi numas férias caribenhas em Cuba e que  fisicamente parecia o produto da fusão entre o Eric Clapton e o Ray Manzarek, disse um dia que lhe interessava muito mais o desequilíbrio do que as coisas estáveis porque estas últimas não levavam a lado nenhum a não ser a uma pasmaceira de café com leite. Enquanto adepto de bancada, eu também vejo as coisas assim. Tal como a pintura, escultura, fotografia e instalação, ou o desenho e filme para o Julião Sarmento tinham de estar à beira do precipício, também eu gosto de sentir a vertigem e de ver em campo os jogadores que não têm medo de arriscar e ir no 1x1. Todavia, o futebol já não é um espectáculo, mas sim uma indústria, um negócio onde estão muitos milhões em jogo. Com isso, a estética foi substituída pela eficácia e os treinadores são os tiranos que transportam o relvado para laboratórios onde engendram burocracias tamanhas capazes de matar o romantismo do jogo. No elenco actual de técnicos poucas são as excepções, e quando as há geralmente acabam vitimas do pragmatismo dos seus adversários. Deveremos conformarmo-nos com isso? No futebol, quem paga não é tido nem achado e o próprio adepto hoje quer é ganhar e pouco gosta do jogo, o que talvez explique o exacerbar de fanatismo e de violência à volta do futebol. Estaremos no caminho certo? Duvido, mas é o que temos. Nesse aspecto, o nosso Rúben não é melhor nem pior que os seus pares, e é por isso que estaremos condenados a ver o Jovane jogar uns poucos minutos. E a ficarmos desiludidos de cada vez que não marca ou não assiste, como se não estivesse a cumprir o seu papel de Walther de 9 mm que secretamente vem do banco com a bala na câmara pronta para disparar para a baliza. 

 

Paradoxalmente, a fobia aos desequilíbrios que caracteriza os treinadores contemporâneos não encontra depois razão quando temos de aturar com o João Mário 70 minutos em campo. O Palhinha que o diga, obrigado que esteve a ser ominipresente, jogando por dois e esfolando-se e estafando-se para equilibrar a contenda a meio-campo e assim evitar as incursões rioavistas. Não admira assim que tenha tido um período anterior de menor  fulgor, felizmente ultrapassado ontem com uma exibição de grandíssimo nível. Tirando estas embirrações, eu vejo o Rúben Amorim como superlativo. Para começar, a nossa eficácia defensiva é uma coisa espantosa, facto a que não é alheio a inspiradora ideia dos 3 centrais. Se é certo que o Sporting vai ficar a dever uma significativa parte do sucesso desta época a Coates, também não é menos verdade que "El Capitán" beneficiou enormemente do dispositivo que Amorim congeminou e onde se sente como peixe na água, sistema esse que lhe permitiu encobrir algumas deficiências e exponenciar as suas maiores qualidades. Depois, o regresso de Palhinha e a contratação de Pedro Gonçalves fizeram toda a diferença. Enquanto um funciona como uma espécie de gigante Adamastor, o outro é pura inteligência em movimento, sempre à procura de descer e receber entre-linhas e daí partir para interacções elucubradas em equações diferenciais que lhe permitem perceber e dar fluidez às dinâmicas no relvado. Como se já não bastassem estes tiros certeiros, ainda há a cereja no topo do bolo, a aposta na Formação. Gonçalo Inácio, Nuno Mendes, Matheus Nunes, Tiago Tomás, entre outros menos utilizados, todos foram tendo as suas oportunidades de uma forma continuada. É certo que eu embirro com a menor utilização do Matheus. Então o homem dá dois nós cegos sucessivos ao sabido do Coentrão, em duas ou três passadas já está na área adversária, tem técnica de filigrana associada a grande dinâmica e passa a maior parte do tempo a ver os jogos do banco? Não me conformo, não. Mas depois reconheço que o Amorim é que lhe pegou, com o Silas estava sempre a uma porta que nunca se abria. E deu confiança, posicionamento e escola a quem há menos de 3 anos era pasteleiro e gozava os bons ares da bela Ericeira. A tal ponto que eu agora o critico, como se o Amorim fosse o Dr Frankenstein e estivesse a ser vítima da sua própria excelsa e frenética criação. No fundo, são nervos. É que nós, Sportinguistas, sofremos tanto que o Marquês mais parece de Sade. E isto nunca mais acaba...

 

Caro Leitor, o Paulinho ontem marcou. E esteve na origem do primeiro golo. Eu bem que havia dito que o Paulinho iria marcar golos impossíveis e falhar muitos outros aparentemente fáceis. Confesso que o homem aparece aos meus olhos cada vez mais como um Postiga: é bom de mais para ponta de lança, a sua verdadeira vocação é de médio de ataque ou de "mezzapunta", aquele nove e meio do futebol italiano. Entretanto, vamos dormir esta noite com 9 pontos de avanço sobre o Porto. Porém, não estou com muita fé que o Porto não ganhe na Luz. Se estiver enganado, óptimo, mas talvez não fosse má ideia suspender o foguetório e mantermo-nos, nós e os jogadores, concentrados para o jogo com o Boavista. Nesse jogo vai ser preciso construir uma Ellis Island e não deixar ponte de comunicação entre o veloz e fisicamente potente, porém trapalhão, avançado axadrezado e as suas fontes de abastecimento preferenciais (Angel Gomez e Paulinho). O Benfica e Porto que o digam, incautos que foram na sua marcação. E, já agora, o Porro que no seu flanco ponha (Ricardo) Mangas curtas, que daí também geralmente surgem incursões terminadas com remates do próprio ou centros a propósito. 

 

E é tudo, que de Vila do Conde, terra piscatória, viemos com uma vitória sem espinhas. Tanto que o Adán manteve os calções imaculados. No fim, o Amorim deu mais um show de comunicação. É verdade, o homem não só é o nosso "coach" como podia fazer "coaching" a gestores públicos e privados. Uma máquina. Até me vieram umas lágrimas aos olhos, e garanto-vos que não foi das alergias da Primavera. Entretanto, já estamos na Champions. O resto? Está quase, mas é preciso continuar a não tirar os olhos da bola. É que para os nossos adversários isto tem sido um 31...

 

P.S. R.I.P. Julião Sarmento, interposto permanente de pessoas e de ideias como cada Homem deveria ser, sem ilhas. A Tate, o MoMA e o Gugenheim também não o esquecerão. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": João Palhinha, o melhor em campo. Mas o Homem do Jogo foi o Paulinho, que esteve nos dois golos. Menção honrosa para o Pote, um matemático do futebol. Destaque ainda para a titularidade de João Pereira, que jogou como se estivesse no Onze desde sempre. 

palhinha rio ave.jpg

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