Tudo ao molho e fé em Deus
Bem-aventurado o génio de Pedro no evangelho segundo Matheus
Pedro Azevedo
Foi muito agradável para o adepto voltar ao José Alvalade após lhe ter sido aplicada durante 17 meses uma medida de coação que envolveu prisão domiciliária com obrigatória utilização da box electrónica da SportTV. Carpe Diem, quem lá foi desfrutou como pôde, sem saber o que acontecerá amanhã. Também aí vamos jogo a jogo como o senhor (o Mister) nos ensinou, ainda que o novo-normal imposto pelas autoridades sanitárias implique que a assistência nos estádios não possa ultrapassar um terço da sua capacidade máxima (antes da pandemia era de três terços, mas isso são contas, literal e metaforicamente, de um outro rosário).
E, já que falamos de terços e de rosários, na primeira parte seguimos o evangelho segundo Matheus. Através dele os nossos jogadores foram aconselhados a bem aventurarem-se no terreno, o que fez felizes os adeptos com fome e sede de bola que assim começaram a ser saciados. É certo que alguma inquietação nas bancadas emergiu do facto de o Jovane ter tentado novamente colocar um penálti no ângulo superior de uma baliza, obsessão trignométrica que se tornou secante para o adepto, e que o Harry Pote nesse período andou escondido e sem apresentar os seus habituais números de magia assentes numa Art Deco extraordinária. Todavia, folgadinho após um longo período de descanso que incluiu um mês de férias no centro da Europa, o Pedro estava só à espera do momento certo para abrir o livro de truques.
Após o intervalo, logo o Pedro e o Paulinho mostraram que não estavam ali para brincadeiras. Assim, após uma rápida combinação entre ambos, o Pedro passou a bola à baliza com aquela infalibilidade própria dos génios. O Charles seguiu a sua trajectória com a certeza de que nada haveria a fazer. Pouco depois, o Pedro fez lembrar um outro Pedro, o Barbosa (bem lembrado, José da Xã), e nas palavras atribuíveis ao Quinito pintou um Rembrandt. E por falar neste, a ronda da noite só terminou quando o Paulinho molhou o pincél, depois do Vinagre e do Nuno Santos terem combinado na perfeição para que a coisa não se ficasse pelas meias tintas.
Sem bifanas nem roulottes lá saímos de Alvalade. E se o corpo foi deixado à mingua, a alma estava cheia. Tão cheia quanto a lotação máxima que o orgulho nos pode dar após vermos 11 briosos e solidários jogadores vestidos de verde-e-branco evoluirem no campo. Isto, sim, é o Sporting: esforço, dedicação, devoção e glória. Obrigado!
Tenor "Tudo ao molho...": Pedro Gonçalves