Tudo ao molho e fé em Deus - E tudo o vento levou
Pedro Azevedo
Campeonato Nacional... check!, Taça de Portugal... check!, Taça da Liga... check!, Liga Europa... check! Tudo conferido, deve ser a melhor época dos últimos 114 anos. De quem jogue contra nós, bem entendido. Algo que promete piorar sem Bruno Fernandes. É caso para dizer que o nosso Brexit (venda de Bruno) em termos práticos se materializou numa saída da Europa ainda mais rápida que a dos ingleses.
Nem os turcos acreditavam, pelo menos a julgar pelo aspecto despido das bancadas, mas o Sporting conseguiu ser eliminado por uma equipa onde constam vários jogadores que segundo datações realizadas com Carbono-14 ainda são do tempo do império bizantino. É verdade, sob chuva e vento, os leões deslocaram-se a um parque geriátrico de Istambul e cedo começaram a ceder a vantagem que traziam da primeira mão. A tal ponto que ao intervalo a eliminatória estava perdida, cortesia de um golo de cabeça de Skrtel na sequência de um canto e de um livre directo batido por Aleksic cuja trajectória foi mal calculada por Max.
Na antevisão do jogo, Silas dizia que ia surpreender os turcos. A coisa soou-me apocalíptica. Confesso que este desejo do treinador leonino de espantar cada novo adversário sempre me assustou, principalmente porque quem geralmente acaba por ser surpreendido sou eu (e todos os adeptos leoninos). É que a continuar assim, de experimentalismo em experimentalismo, arriscamo-nos a experimentar ficar fora da Europa também em 2020/21, um tipo de Experiência Sporting que certamente não estaria nos planos de Miguel Cal quando aceitou juntar o seu projecto comercial ao projecto(?) desportivo desta Direcção. Todavia, sendo camaleónico, Silas tem pelo menos a vantagem de se poder confundir com o verde, camuflando-se aos olhos dos adeptos leoninos perante os enormes erros de preparação e gestão de temporada da Estrutura liderada por Frederico Varandas que dirige o futebol do clube.
O Sporting começou com Jovane como médio deslocado sobre a esquerda e Vietto no lugar de ponta de lança. Sporar estranhamente posicionava-se na ala canhota, a recrear o que Silas já tinha feito com igual inêxito com Pedro Mendes na Áustria. Porém, alguém ter-se-á esquecido de dizer a Bolasie para fechar um corredor direito leonino que se tornou uma via verde de fácil acesso para os jogadores do Basaksehir. Nesse transe, Battaglia desgastava-se em compensações a Ristovski e faltava num miolo do terreno onde Wendel voltou a adoptar o modo de samba carnavalesco. O intervalo chegou sem que o resultado pudesse ser considerado surpreendente. No segundo tempo o Sporting surgiu mais organizado, trocando mais a bola no meio campo turco e explorando as óbvias debilidades defensivas da equipa de Istambul. Assim, após um excelente centro de Acuña, Vietto surgiu no centro da área e repôs o Sporting dentro da eliminatória. Os leões tiveram então um período em que poderiam ter sentenciado a qualificação para a próxima fase, mas a deficiente qualidade da definição manteve tudo em aberto. Entretanto, Silas abriu nova autoestrada, agora no nosso flanco esquerdo, movendo para aí um inadapado Vietto (estava a ser influente ao centro) e deixando desamparado Acuña. Até que, já em tempo de compensação, novamente na sequência de uma bola parada, um golo de Visca obrigaria o jogo a ir para prolongamento, uma velha sina leonina já vivida no passado contra o Rapid de Viena ou o Casino Salzburgo. Com o prolongamento, o jogo partiu-se definitivamente. Ainda assim o Sporting foi sempre mais perigoso, muitas vezes faltando qualidade técnica de passe (Battaglia), remate (Vietto, Plata e Doumbia) ou recepção (Eduardo) para tirar partido de uma condição física melhor que a da veterana equipa turca. Até que um erro infantil de Vietto acabou por deitar tudo a perder, pois Visca não desperdiçou, de penálti, a oportunidade de bisar na partida e sentenciar a eliminatória a favor dos turcos, conseguindo assim estes cumprir o pleno de quatro golos marcados através de bola parada. E assim Basaksehir tornou-se "Basakseguir". Já nós, ficámos (por aqui). Acabou a "digressão europeia". E tudo o vento levou...
Crónica difícil. Agora é tempo de fechar o computador rapidamente e ir dormir, não vá o Silas me surpreender por aí e pregar-me mais um susto. Por falar em susto, talvez não fosse mau que quem tem a incumbência de zelar pelo futebol nacional pensasse na competitividade do campeonato português, seu número de equipas e condições mínimas, organização da competição e seu (bizarro) calendário. É só uma ideia...
Tenor "Tudo ao molho...": Acuña. Battaglia foi o segundo melhor (ou menos mau).