Tudo ao molho e fé em Deus - O sentido da vida leonina
Pedro Azevedo
A gente já sabe do que a casa gasta, que o presidente é o que é, o treinador idém (mais "marxismo-leoninismo" com a equipa sub-virada para a esquerda e a abrir crateras à direita) e os jogadores idém aspas aspas, mas também não é necessário enviarem-nos um médico legista com vontade de apressar o óbito, não é assim? Num dos filmes dos Monty Python, "O Sentido da Vida", um dador recebe a visita de uns médicos que lhe pretendem extrair os orgãos para transplante. Ele bem alega que a doação só estava programada para acontecer após a sua morte, ao que os médicos lhe garantem que estão lá exactamente para garantir isso, que ele morre, começando a remover-lhe as vísceras a sangue-frio. Acaba assim por produzir-se uma subversão: ele morre em consequência de ser dador, não deixando porém de ser dador em consequência da sua morte.
O filme dos génios de comédia britânicos é uma alegoria do que é o contexto do futebol português. Nesta fita do ludopédio tuga, Frederico Varandas, que por coincidência também é médico, desempenha o papel do incauto que julga estar a produzir um "statement" quando diz que há 3 formas de lidar com a derrota - com dignidade, histerismo ou cobardia - , não entendendo que está a dar luz verde(!) para que todo o tipo de diatribes ocorra sem que se possa pronunciar, refém que ficou das suas palavras anteriores.
Ontem, na Pedreira, o futebol português regressou à Idade da Pedra. Convenhamos que não haveria melhor local para tal acontecer, sendo certo que em Portugal a realidade supera muitas vezes a própria ficção. Nesse transe, foi possível ver um árbitro apitar uma falta de jeito a si próprio imediatamente após o avançado esloveno recém-contratado pelo Sporting se libertar de um adversário e se isolar para a baliza. O pobre do Sporar percebeu instantaneamente onde se veio meter, ele que abandonou a liga eslovaca para integrar uma liga eslovaca-louca onde há um boi à solta no Estádio Nacional que ninguém sabe bem quem é, e é impossível alguém que venha por bem ficar de pé perante a doença que se propaga à volta. A confirmá-lo, numa primeira fase os nossos começaram a ficar amarelados até que acabaram por sucumbir.
No fim do jogo, o Neto, aparentando falar para fora, falou para cima. O presidente, aparentando falar para fora, falou para dentro, para os sócios. Se por um lado é fácil compreender que sem orgãos que deem poder ao corpo isto não vai lá, também não podemos nós ser incautos ao ponto de não entender que a estratégia de Varandas falhou por completo. E em todas as frentes, desde as "contratações cirúrgicas" aos 5 treinadores em pouco mais do que 1 ano, não esquecendo o "unir os sócios" e o aumento da remuneração dos administradores da SAD aprovado contra o voto unânime de todos os outros accionistas da sociedade após Dost ter sido dispensado com o argumento de alívio salarial (situação que aliás nos deixou com um único ponta de lança inscrito para atacar a primeira parte da época). Deste modo, só nos restam duas alternativas: ou agimos, ou ficamos em casa à espera do dia em que nos venham remover o cartão de sócio. "Time to say goodbye"?
Tenor "Tudo ao molho...": Max