Tudo ao molho e fé em Gyokeres
O Grande Ano
Pedro Azevedo
Caro Leitor, mais do que um leão, esta época em cada Sportinguista houve um ornitólogo. Um ornitólogo? - perguntará o Leitor. Sim, um zoólogo dedicado ao estudo aprofundado das aves. Senão vejamos: começámos por observar com sucesso uns gansos fora do seu habitat natural, largados em Rio Maior. Mais tarde, quisemos vê-los mais de perto, pelo que os desviámos de Pina Manique e atraímos até Alvalade. Acabámos por os classificar como espécie de... goleada. Seguidamente, contemplámos as águias, sempre muito furtivas, fanfarronas e com nomes como Vitória e assim. Precavidos, já sabíamos de cor os seus costumes e modos de vida. Para as controlar, enviámos um sueco perito em ornitologia, que logo tratou de as anilhar e lhes cortar as unhas. Para o efeito, bastou deixá-las pousar, que no nosso clube não resolvemos os problemas à chumbada e a única coisa que chumbamos mesmo são algumas práticas do futebol português. Com o sucesso desta missão, veio a festa. Que começou no Pombal, onde dezenas de milhares de Sportinguistas se reuniram a testemunhar, e chegou hoje ao lar dos canarinhos. Tudo isto depois de meses e meses a fio a vermos o Adán e o Israel a aviar frangos e perus... E já para não falar dos urubus do apito! Não é incrível? Pelo que nem Aristóteles ou "Plínio, o Velho", Pierre Belon ou Francis Willyghby, ninguém conhece tão bem as aves como um Sportinguista.
Se um canarinho numa mina de carvão pode ser um sinal de falta de oxigénio, numa mina de ouro (para o imobiliario) como o Estoril é apenas um sinal de prosperidade. Pelo que lá fomos gozar a nossa prosperidade recente ao Estoril. Quem diz Estoril, diz canarinhos, diz Escrete, que é homófono de discreto, condição de quem não é pato-bravo, um tipo de ave diferente que gostaríamos que fosse pelo menos de arribação. Como andar na linha é coisa a que o Sporting se habituou desde a sua fundação, a ida à Amoreira foi como se jogássemos em casa.
O jogo foi uma coisa em forma de assim, como diria o O'Neill. Quer dizer, não foi um jogo mas sim uma batalha. De wrestling. Nesse sentido, o Gyokeres foi várias vezes projectado ao chão pelo Pedro Álvaro e pelo Basso, que não é baço e pelo contrario tem maus figados. Quando não pegado de cernelha pelo Vital. Enquanto isso, do outro lado do campo, o João Marques batia por trás em tudo o que mexia. Paralelamente, o árbitro ia contemporizando, forma de procrastinação que se admite, que o dia era de sol e toda a gente sabe que o Estoril é Praia. Pelo que o jogo andou ali num rame-rame até que o Amorim trocou as pedradas para a área do Matheus pelos cruzamentos precisos do Nuno Santos. E chegámos ao golo, numa cavalgada do Gyokeres terminada com um passe no tempo exacto para o Nuno, que depois centrou para o espaço onde apareceu o Paulinho, também ele em campo há poucos minutos, a concretizar com o pé mais à mão - tempo e espaço, os fundamentos do futebol. Até ao fim, o Sporting esteve sempre mais próximo do segundo golo do que o Estoril do empate.
Depois do título da semana passada, agora concretizámos o recorde de pontos (87) do Sporting no campeonato. Pelo que para a semana o objectivo - todos os jogos têm de ter um objectivo, uma forma de motivação a fim da equipa não se perder em festejos e chegar muito relaxada ao Jamor - será atingirmos os 100 golos na competição, ainda que isso obrigue a marcar por 7 vezes a um já despromovido Chaves. Não será fácil, mas a acontecer daria um novo significado à expressão "guardado a sete chaves".
Duas notas finais para a estreia de Pinto (Diogo), que talvez pela sua juventude não deu nenhum frango, e para o debute do menino Menino, o nosso André ao quadrado (Vitória), que no entanto parece já ter guia de marcha. Que um dia possa regressar em beleza!
Tenor "Tudo ao molho...": Francisco Trincão. Nuno Santos e Paulinho seriam boas opções.